Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 138
Uma cliente venenosa


Notas iniciais do capítulo

Melindre de Rosa à parte, Leigh precisa trabalhar.



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— Olá, Leigh. — cumprimentou-o a moça com animação. Sua voz fez Rosa correr para a loja e apesar desta estar acompanhada apenas da chineisinha, seu coração disparou ao pensar que ela estaria ali para fazer intriga. — Desculpe o nosso atraso, mas tivemos um probleminha na escola. — elas ficaram na detenção das 16h30 até as 17h30. —Você ainda pode nos atender?

— Tudo bem, Ambre, eu não tenho ninguém mais agendado para hoje. Eu posso atendê-las. — disse Leigh que havia agendado para atendê-las às 17h00 daquela 3ª feira. — Venham. Vamos ao meu ateliê. — convidou-as ao seu espaço sagrado, indicando-lhes o caminho. — Rosa. Por favor, cuide da loja. — pediu à namorada que respondeu com um sorriso amarelo, lembrando da agenda de atendimentos do namorado para aquele dia.

Mesmo que o motivo de Ambre e Li para irem a loja tenha sido os vestidos de formatura, Rosa ficou temerosa. Elas eram amigas da Charlotte e na certa tramavam algo.

Ambre já conhecia o espaço, pois era cliente da Lemaitre desde sua inauguração, sendo que seu pai foi cliente da alfaiataria que ali existia antes de Leigh comprar o espaço. Mas Li, apesar de comprar suas roupas na Lemaitre, era a primeira vez que teria um traje sob medida. Ela estaria empolgada se não fosse por um pequeno detalhe: em sua bolsa, preso a sua agenda com um clipe de papel rosa metálico, uma convocação a ser entregue a seus pais, mesma convocação que Ambre recebera, mas esta não parecia preocupada e se estava não demonstrava.

O prazo final para Leigh aceitar encomendas de peças exclusivas para a formatura do Sweet Amoris era até o final da 1ª semana de abril, depois disso ele não aceitaria mais nenhum pedido, pois no ano anterior ele quase enlouqueceu por conta dos pedidos que aceitou faltando pouco tempo para o evento, tendo que virar as madrugadas acordado para dar conta e pagar mais caro pelos serviços de três costureiras da Cooperativa - as melhores na visão dele - que o ajudavam nos momentos de sufoco.

As alunas do Sweet Amoris não eram as únicas que desejavam usar um modelo sob medida feito por Leigh no dia da formatura, – por Rosa estudar na escola elas tinham informação privilegiada, antes das garotas de outras escolas, que só sabiam das coisas quando anunciadas no site da loja, na própria loja e por mala direta no email cadastrado – então ele estabeleceu algumas regrinhas para si mesmo, para não correr o risco de falhar com nenhuma cliente. Ele só atenderia uma quantidade "x" de clientes no serviço "sob medidas" e teria em sua loja alguns vestidos exclusivos prêt-à-porter para que as atrasadinhas pudessem escolher. Estas só não teriam o broche especial da Lemaitre, exclusivos apenas nos modelos de alta costura "sob medida".

— Por favor, Li. Preencha esta ficha enquanto eu verifico as medidas da Ambre. — Leigh mantinha um cadastro digitalizado de todas as suas clientes de peças exclusivas, com dados para contato e dados de estilo e modelagem, inclusive com imagens dos croquis feitos com exclusividade para cada uma delas. Desta forma ele conseguia apresentar à cliente as melhores opções de tecidos, cores e modelos para o gosto delas.

— Eu não vejo a hora de ver meu vestido pronto. — disse Ambre enquanto Leigh passava a fita métrica envolta da sua cintura e anotava as diferenças no seu tablet. Ele tinha as medidas dela no cadastro, mas sempre verificava para saber se havia alguma alteração. — O que você está anotando ai? É alguma medida nova? — perguntou ela.

— São apenas algumas alterações na sua tabela de medidas. — respondeu, salvando as novas informações.

— Com certeza eu emagreci. Tenho comido menos ultimamente. Devo estar com medidas de modelo, de certo. — referiu, envaidecida. Li segurou o riso.

— Na verdade você engordou um pouco, sua cintura está um pouquinho mais larga. — contou o estilista, deixando Ambre sem graça por um instante. Mas antes que ela dissesse algo ele massageou seu ego. — O que é bom. Seu corpo ficou mais harmonioso e você está mais com medidas perfeitas para o seu biótipo. — Ele sabia conquistar suas clientes. Ambre sorriu de canto a canto da boca e Rosa mordeu o lábio inferior do outro lado da porta, tendo ouvido o elogio por estar atrás da cortina.

Sempre que Leigh estava com alguma cliente no ateliê a cortina da porta daquela sala ficava fechada, para evitar que as demais clientes da loja vissem o que se passava lá dentro. Ele usava a cortina ao invés da porta para evitar mal entendidos com suas clientes. O barulho na loja, quando movimentada, o incomodava, mas nada que interferisse na sua capacidade criativa. Ele só fechava a porta de madeira quando estava sozinho, criando ou confeccionando.

Rosa arrancaria a cortina se pudesse, só para poder visualizar o que se passava dentro do ateliê sem ter que entrar lá dentro, pois estando sozinha do lado de fora não teria como arranjar uma desculpa convincente para justificar querer se enfiar dentro do ateliê. Se ela se aproximasse um centímetro mais da cortina Leigh lhe perguntaria o que ela fazia dentro do ateliê, de tão colada que estava no tecido azul royal que fechava aquela passagem. Pela primeira vez ela teve medo do que Ambre diria ao seu namorado e seu medo não era à toa.

— Ah, Leigh. Antes que eu esqueça. A Charlotte pediu para eu entregar aquela sacola ao seu irmão. — Ambre apontou para a sacola que estava com a Li.

— Obrigada. Eu entregarei para ele assim que o vir. — respondeu o estilista, que por não ser curioso não perguntou o que havia dentro da sacola preta, nem a abriu. Apenas pediu a Li que colocasse sobre a mesa de desenho para que ele não esquece de pegá-la depois.

— Ela mesma teria vindo devolver, mas depois do que aconteceu na escola acho que ela vai ficar um bom tempo sem vir a sua loja. — comentou a loira com expressão de pesar. — Tadinha. Ela ficou muito abalada.

— Como assim? O Lysandre fez algo à Charlotte? Ele foi desrespeitoso de alguma forma? — questionou, preocupado e incomodado. Ele não ia aceitar nenhum tipo de conduta errada do irmão em relação a uma garota, fosse ela como fosse.

— ENTÃO, MENINAS. VOCÊS QUEREM UMA BEBIDA GELADA? — perguntou Rosa, entrando no ateliê às pressas, falando alto. Vê-la assustada foi como dar a Ambre um troféu dourado. Li só conseguia pensar no platinado. Ambre tinha lhe prometido que não comentaria nada sobre o que aconteceu no refeitório. Leigh estranhou, mas não disse nada. Ele sabia manter a linha na frente das suas clientes.

— De você eu não quero nada a não ser que fique longe de mim e das minhas amigas. — falou Ambre, mostrando-se indignada, mas na verdade dando o bote na albina, sem dó. — O que você fez à Charlotte não tem perdão!

— P-Por favor, Ambre. I-Isso é assunto entre a Charlette e e-eu. Depois eu resolvo com ela. — Rosa tremia de nervoso. Ela não sabia como reverter aquela situação.

— Pois eu espero é que você peça perdão a ela. — enfatizou a loira. Leigh apenas observava as duas, tentando entender o que estava acontecendo antes de perguntar alguma coisa. — E fique você sabendo que ela só não vai contar aos pais dela que você a agrediu, ao ponto de machucá-la, porque ela não quer que essa história se espalhe e gere bochicho na escola. — Ambre podia não matar ninguém com sua saliva, mas que esta era venenosa e que a loira sabia dar o bote, ninguém podia negar.

"Clunc!" Foi o som abafado que o tablet do Leigh fez ao cair no chão. Por sorte ele ficava numa capa de proteção emborrachada e sua película era de vidro, do contrário ele teria tido um pequeno prejuízo naquele minuto. Rosa tremeu por dentro; ele nunca a havia olhado daquela forma.

— Por favor, dê-me licença por um minuto. — pediu o estilista após pegar o tablet do chão. Ele precisava digerir o que acabara de ouvir e para isso tinha que se afastar daquelas três por um instante.

— L-Leigh... — Rosa tentou tocá-lo quando este passou por ela em direção à porta do ateliê, mas este, sutilmente, puxou o braço. Os olhos dela lagrimejaram.

— Por favor, Li. Você se incomodaria se Rosa anotasse suas medidas enquanto eu vou até a máquina de bebidas preparar algo para Ambre e você? — perguntou à chineisinha. Ele estava tão confuso que nem sabia o que estava fazendo. Ele deveria pedir que Rosa o esperasse em casa e não que atendesse aquelas garotas, mas na sua mente ele só queria respirar um pouco, longe das três.

— Claro que não, Leigh. Pode ir. — Ambre olhou feio para Li, pois esta deveria ter dito que se incomodava sim, mas Li só pensava numa coisa, agradar Leigh, afinal de contas ele era o seu sonho de cunhado e todo ponto com ele era válido.

Leigh agradeceu a sua cliente e entregou o tablet para Rosa, encarando-a por um breve instante, sem dizer nada, saindo em seguida, indo direto par o banheiro de clientes, entrando no feminino, pois sua mente estava agitada. Ele lavou o rosto, respirou fundo umas 3 vezes para controlar os ânimos e repetiu a si mesmo que tivesse calma.

— Deus, dai-me paciência neste momento para terminar meu trabalho de hoje de forma tranquila. — pediu ele numa oração rápida e simples. Ele não era um homem religioso, mas tinha fé em Deus. Tendo sido criado numa cidadezinha pequena e rural, assim como o irmão, cresceu indo as missas aos domingos, fez catecismo, crismou-se e depois, quando foi para Lions, deixou tudo aquilo de lado, focando-se apenas nos seus estudos. E como grande parte das pessoas, sempre pedia serenidade a Ele quando esta estava prestes a lhe faltar. Por sorte ele era um homem tranquilo e sabia se controlar.

Depois de sair do banheiro Leigh foi até sua freestyle e preparou 4 bebidas, sendo duas misturas simples a base de soda para Ambre e Li e a mistura preferida dele e da Rosa. Por alguns minutos ele permaneceu sentado na sua poltrona, sob a sombra do ar condicionado, e tomou sua bebida, nervoso, mas não tanto quanto Rosa imaginou que ele ficaria, pois ele conhecia aquelas três jovens o suficiente para saber que não eram santas. Sua reação foi por não aprovar aquele tipo de comportamento numa garota e de certa forma por aquilo acabar chegando ao seu trabalho.

"Eu só espero que você não tenha nada a ver com isso, Lysandre!" pensou ao lembrar do irmão que até aquele momento não tinha dado sinal de vida. "E que você não esteja fugindo de mim!"

Enquanto isso Rosa fazia seu trabalho. Ela conferia as medidas da Li e anotava no tablet, fungando e se esforçando para evitar que seus olhos transbordassem, mas uma ou outra lágrima escapava, para felicidade da loira que baixinho alfinetava a garota.

— Eu acho bom que você esteja conferindo as medidas da Li corretamente, Rosalya. Você não vai querer que ela se queixe com o Leigh da sua incompetência. — disse ela, "chutando cachorro manco".

— Você não precisa se preocupar cascavel. Eu sei fazer o meu trabalho. — Rosa podia estar triste por causa do Leigh, mas não era de se deixar pisotear por ninguém, ainda mais na TPM, quando suas unhas ficavam mais afiadas. Li não queria se arriscar a se queimar com Leigh, então se manteve calada.

— É, Rosalya, o Leigh merecia uma namorada melhor que você. Uma chahut não combina em nada com um cavalheiro como ele. — comentou Ambre com deboche, falando baixo para sua voz não atravessar a cortina, apegando-se ao fato do estilista estar a poucos metros dali, sendo assim a albina não ia se arriscar a fazer com ela o mesmo que fez com Charlotte. Rosa apenas ouviu calada. Ela não ia se deixar inflamar. Ela não queria se inflamar. Ela não podia se inflamar.

— Eu espero que ele te dê um passa fora depois dessa.

— O Leigh me ama! Ele pode até se chatear e brigar comigo pelo que eu fiz com a sua amiguinha, mas vai me perdoar. Até porque ele sabe que você e suas amigas são umas cobras. — Rosa levantou e Ambre deu um passo para trás, num reflexo. Após conferir a última medida da Li e anotar no tablet ela o colocou sobre a mesa de corte.

— Talvez ele te perdoe pelo que você fez a Charlotte, mas será que ele vai te perdoar pelo que você fez ao Lyzandre? Porque na certa você deve ter feito algo de muito grave para ele te ...

— Oras, sua cascavel... — Rosa se irritou e foi pra cima da loira, que arregalou os olhos achando que ia levar um sopapo.

— ROSALYA! — Por sorte Leigh entrou no ateliê e mandou que a namorada parasse. — Vem comigo! — ordenou, puxando-a pelo pulso, levando-a para fora do ateliê.

— Por favor, Ambre. Você prometeu que não diria nada sobre o Lysandre. — disse Li à amiga, assim que se viu sozinha com ela, mas Ambre ainda a culpava por Castiel ter brigado com ela, então não se sentia na obrigação de respeitar aquela ou qualquer outra promessa feita a Li, não enquanto esta não a ajudasse a fazer as pazes com o ruivo.

— Por favor, Ambre. Se você contar sobre aquele almoço o Leigh pode se zangar com o Lysandre e ele saberá que foi você quem contou e achará que eu também contei porque estou com você.

Com o Lyzandre, Li não tinha nada além de uma amizade regada a breves cumprimentos e meia dúzia de palavras trocadas em alguns momentos. Perder isso para ela seria como perder tudo.

— Você fala como se um dia ele fosse de dar alguma bola. Você sabe muito bem que o enjoado do Lysandre gosta de garotas certinhas, tipo a dissimulada da Emília, então para de ficar se iludindo, porque ao contrário daquela sonsa, que sabe fingir muito bem, você já está manjada. Ele sabe quem você é e não vai adiantar fingir ser santinha.

— P-Por favor, Ambre. E-Eu só posso ter a amizade dele. Não tira isso de mim. — Li praticamente implorou que Ambre não contasse nada ao Leigh, não só por ela, mas por não querer que ele sofresse de nenhuma forma.

— Ambre. Li. — ouvir a voz do estilista chamando-as fez o coração de Li acelerar. Ela olhou para Ambre com medo desta dizer alguma coisa. — Por favor, desculpe-me por hoje, mas terei que encerrar o atendimento. E-Eu realmente sinto muito, mas preciso resolver um assunto de família. — Leigh nunca havia passado por uma situação como aquela. Ele estava extremamente constrangido.

— Claro, Leigh. Nós entendemos. — disse Ambre, fingindo se importar. — Quando poderemos voltar para definir o vestido? — perguntou.

— Amanhã, às... — titubeou para pensar num horário — Neste mesmo horário de hoje. Pode ser? — ele não lembrava da sua agenda, mas sabia que depois das 16h00 não tinha ninguém agendado, pois por ser 4ª feira nunca marcava ninguém para depois das 16h00 para que o irmão pudesse curtir pelo menos o final de tarde do seu dia sem aula, sendo que o garoto abria a loja neste dia, deixando o irmão dormir até mais tarde.

Lysandre não tinha o hábito de sair sedo nas 4ªs feiras, ele ficava na loja com o irmão, e com a Rosa, até esta fechar, pois sabia que ele precisava daquele apoio, mas Leigh mantinha sua agenda de fim de tarde livre, para não prendê-lo caso ele quisesse sair com os amigos, descansar ou mesmo fazer alguma atividade domiciliar escolar.

Ambre concordou, assim como Li, e depois saíram do ateliê. Leigh as acompanhou até a porta da loja, desculpando-se novamente pela situação.

— Eu já disse para você não se preocupar, Leigh. Nós entendemos. — disse Ambre, voltando o olhar para Rosa, que estava parada diante da porta da passaderia, fitando-os, com cara de assassina de loiras. — Mas por favor, não brigue com o Lysandre. Ele nunca teria feito o que fez se a Rosalya não o tivesse provocado. Você sabe que seu irmão é um cavalheiro. — uma vez cascavel, sempre cascavel. Li virou as costas e saiu da loja com a sensação de que a partir daquele dia Lysandre nem mesmo a cumprimentaria. Ambre disse até logo ao estilista e apertou o passo para alcançar a amiga, que se debulhava em lágrimas.

Leigh não disse nada, nem mesmo um até amanhã. Ele apenas esperou aquelas duas adolescentes saírem para trancar a porta, voltando para verificar se realmente estava trancada após se afastar uns 2 metros, de tão atordoado que ficou. Seu coração estava batendo num ritmo mais rápido que o normal. As indagações de Rosa sobre a relação dele com o irmão voltaram a sua mente enquanto ele caminhava até ela, que o esperava na copa.

— Explique-se! — foi o pedido que ele fez assim que se aproximou dela, seco, sentando de frente para ela, do outro lado da mesa da copa da loja. — E não minta para mim, nem omita nada. Não me faça perder a confiança em você!

Rosa sabia que para Leigh confiança era a base de qualquer relação, sendo assim, aquele pedido foi mais que isso, foi um aviso, pois sem confiança não haveria mais uma relação. Ela desatou a chorar, sem conseguir controlar. Mas nem mesmo sua TPM lhe salvaria naquele dia.

— Quando você parar de chorar e estiver disposta a me contar o que aconteceu, vou estar no meu ateliê. E eu realmente espero que não passe pela sua cabeça ir embora. — dito isso ele levantou e a deixou sozinha. Uns 20 minutos depois ela foi até ele – ela podia estar com medo da reação dele, mas não era do tipo que fugia.

 

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Notas finais do capítulo

Mentira e omissão. Palavras tão pequenas, mas que Leigh abomina.
Assim é o Leigh e todos que o conhecem sabem disso...



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