Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 118
Sabatina - parte 2/2


Notas iniciais do capítulo

Será que a equipe azul vence?
Que castigo Lysandre vai aplciar?
Será que ele vai pegar leve com a sua cunhadinha querida?



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#01/04#

Nathaniel estava nervoso, não por ter que responder, mas por estar em suas mãos a vitória da equipe, e mais que isso. Um erro e ele podia dizer olá ao sermão do pai, pois se ele já havia ouvido "esforce-se mais da próxima vez" e "eu quero ver sua nota das outras sabatinas e espero que sejam melhores que essa" só porque ficou com 8,0 na primeira, um 7,0 seria o mesmo que perguntar ao pai "castigo agora ou daqui 1 minuto?" Ele transpirava.

— Calma, presidente. Você é nerd. Não vai errar. — comentou Pierre ao ver o fio de suor correr a face do loiro. — Além do mais você já pegou o esquema e ainda tem sua troca e a ajuda.

Nathaniel sabia que a chance dele errar era mínima, mas a voz do pai dizendo para ele aumentar sua nota não saía da sua cabeça e isso o deixava tenso. Maldita hora que ele deixou seu controle de notas a vista da irmã. Pior que tirar uma nota inferior a 10,0 era ter uma irmã gossip*, que adorava colocar em evidência suas falhas para assim tirar a atenção das dela.

— Vai, presidente, tranquilize-se e nos dê a vitória. — Raul o deixou mais tenso com aquela cobrança disfarçada de incentivo. — Me dá um 10,0.

Castiel apenas observava de longe, sentado, silencioso e com metade de um ball na boca, saboreando-o, sentindo-o desmanchar em sua língua.

— Vamos lá, Nathaniel. Escolha seu número. — pediu a Srta Arce ao loiro que analisou minuciosamente o quadro, tentando se manter calmo para não errar na escolha.

— Vai logo, presidente. Mata logo essa etapa! — Raul estava louco para finalizar aquela sabatina e ir embora. — Chega de ficar namorando o quadro.

— Deixa ele escolher com calma, Raul. Não o apresse.

— Mas ele esta enrolando demais, nevado. — disse Pierre. — E nós queremos ir embora. Há essa hora só deve ter a gente de aluno na escola.

— Vocês tiveram tempo para escolher e responder, então parem de forçar a barra! — pediu novamente, com calma, mas fazendo-se entender pelo olhar que aquilo era uma ordem. Pedindo em seguida ao loiro que esquecesse aqueles dois e mantivesse a calma.

Manter a calma... Nath até estava tentando, mas a lembrança da expressão do pai quando viu aquele 8,0 na planilha de notas era como o gatilho de uma arma qualquer apontada diretamente para ele, pronto para ser puxado, bastava subtrair um único ponto daquele 8,0.

— Vai logo, presidente, que enrolação! —Raul acabou desconcentrando o colega, que ia escolher a pergunta 32, mas confundiu-se com os números no quadro, dizendo 22 por seus olhos terem-no fitado enquanto falava. Castiel percebeu a burrada do ex-amigo, que se ligou e tentou trocar o número, mas não teve tempo, Arce já havia aberto a célula e exposto a questão.

— Não esquenta, Nathaniel, leia a questão com calma e se não souber, troque. — disse Lysandre que já havia lido a pergunta no quadro. — Ou peça ajuda se achar melhor.

— Sem falatório meninos. Deixem-no pensar sozinho. — pediu Arce. — ou já vou caracterizar como ajuda e tirar meio ponto da nota dele. — avisando-os.

Como em todas as perguntas, a Srta. Arce leu o enunciado com calma.

— Orfismo foi um movimento efêmero da pintura francesa que brotou do cubismo por volta de 1912. A palavra orfismo, que já fora usada com relação aos simbolistas, foi aplicada ao movimento por Guillaume Apollinaire; a referência a Orfeu, o poeta-cantor da mitologia grega, refletia o desejo dos artistas envolvidos de acrescentar um novo elemento de lirismo e cor ao austero cubismo intelectual de Picasso, Braque e Gris. Os orfistas faziam da cor o principal meio de expressão artística, e Delaunay e Kupka incluíram-se entre os primeiros artistas a pintar obras totalmente não-figurativas, perseguindo uma suposta analogia entre a abstração pura e a música. Quais fases teve o Cubismo e em qual delas surgiu o Orfismo?

Nathaniel sabia aquela resposta, pelo menos parte dela. Sua dúvida era apenas a fase em que o movimento surgiu. Ele poderia pedir ajuda e tirar sua dúvida, mas e se Lysandre resolvesse lhe dar o troco, afinal de contas ele também riu da cara dele, então preferiu trocar, por precaução.

— Cacete, presidente. Só tu mesmo para vacilar na sua própria teoria. — Raul já estava irritado e sem o menor pingo de paciência. — Vê se escolhe certo desta vez!

— CALA A BOCA, RAUL! — bradou Castiel do outro lado, levantando e indo até o grupo. — Deixa o mauricinho escolher e responder em paz! — pediu grosseiramente, parado a dois passos do presidente do grêmio.

— Mas ele está dem...

— FODA-SE! — bradou, desculpando-se com a professora de imediato, antes dela lhe dar uma bronca pelo palavrão proferido alto. — Você sabia aquela resposta? Não! Tá na cara. Então cala a boca!

— Será que podemos continuar, por favor? — Arce interrompeu aquela pequena rusga da equipe azul – mais uma.

— Claro prôh. E a resposta é cézannista, hemética e sintética e ele surgiu no sintético, assim como a seção áurea. — respondeu a pergunta sem ela nem mesmo perguntar e oferecer o prêmio. Ele adorou os alfajores.

Nathaniel teria se admirado do ruivo saber aquela resposta, mas sua mente estava voltada para a sua própria resposta e seus olhos para o quadro, tenso. Ele ainda tinha a ajuda, mas isso lhe comeria meio ponto e 9,5 não eram 10,0.

— Ele não esta aqui, CDF. — disse Castiel, parado ao lado dele, de braços cruzados, tendo deduzido o motivo do seu nervosismo, pois conhecia seu tormento. — Então desencana, escolhe e responde. — aconselhou-o, olhando para o quadro como se fosse indiferente a tudo aquilo. — Você sabe o quanto estudou, então encara e pronto!

Castiel e Nathaniel não eram mais amigos, mas o fim da amizade não apagou de suas lembranças o que conheciam um do outro. Eles podiam até ser diferentes, mas não eram indiferentes aos problemas um do outro, embora fingissem não se importar.

Sartre que manteve seus olhos fixos naqueles dois desde a hora que havia entrado na sala aprovou aquela atitude.

"Castiel tem razão, meu pai não está aqui.", foi o pensamento do loiro, que respirou fundo, voltou a sua analise de células e escolheu a de número 71.

— Qual escola artística teve sua pintura criticada a partir de meados do século XVIII, com a ascensão dos ideais iluministas, neoclássicos e burgueses, sobrevivendo até a Revolução Francesa, quando então caiu em descrédito completo, acusada de superficial, frívola, imoral e puramente decorativa? — perguntou Arce, lendo o enunciado em voz alta.

— E a Srta ainda diz que isso é fácil, professora? — questionou o ruivo num impulso, por não saber aquela resposta.

— Calma, Castiel. Deixa o Nathaniel pensar um pouco e com calma. — Lysandre, queria evitar que o loiro perdesse o foco e a concentração. — É fácil! — disse-lhe, com toda a calma do mundo.

— Fácil pra você que é uma enciclopédia humana da História da Arte. — ironizou saindo de perto do loiro, pois a professora podia caracterizar aquela conversinha como sopro, deixando-o apenas com um recadinho murmurado.

— Ele não esta aqui, CDF. — deixando o loiro com aquelas palavras que apenas os dois sabiam do que se tratava.

— Leia a pergunta novamente e pense com a lógica, Nathaniel. — disse Lysandre, querendo que ele se acalmasse e assim o loiro fez, buscou equilíbrio em sua mente e leu novamente o enunciado, ganhando um sorriso, pois a resposta lhe veio à mente. Foi só lembrar dos movimentos que ocorreram no século XVIII, eliminar o iluminismo e o neoclassicismo, e lembrar qual deles teve a pintura vista como imoral e frívola, o Rococó ou o Romantismo.

Nem precisou a professora dizer "certa a resposta" para a equipe comemorar. Assim que a palavra Rococó soou na boca do presidente do grêmio Lysandre deu um sorriso e todos souberam que ele havia acertado. O coitado nem teve tempo de respirar aliviado depois de responder. Pierre e Raul pularam sobre ele cantando a vitória, felizes pela nota.

Castiel riu disfarçadamente, pois não queria dar o braço a torcer que ficou tão feliz quanto os outros por aquele colega de equipe ter acertado a pergunta. Ele ficou feliz pelo seu 8,0, pois somado ao seu 4,0, já lhe rendia 12,0 pontos. Se ele acertar apenas uma pergunta na última sabatina já consegue se livrar da recuperação em Artes. Lys não teve o que falar, garantiu mais um 10,0 na disciplina.

— Então turma, vamos lá... Já comemoraram e pegaram seus bombons, então vamos organizar a sala. Coloquem os cavaletes a as cadeiras no lugar enquanto o Lysandre pensa no castigo da equipe vermelha. — disse Arce, desligando seu equipamento. Até Sartre ajudou a organizar a sala, pois já eram 17h38 e oficialmente a aula deles havia encerrado às 16h30.

— Por favor, Lys-fofo. Pega leve com a gente. — Rosa estava morrendo de medo do castigo, pois sacaneou os garotos na 1ª sabatina.

— Ah, Rosalya. Tá na cara que o Lysandre vai pegar leve. Você não conhece seu cunhado. Vocês são damas e ele um perfeito cavalheiro, um lorde. — comentou Álisson.

— Coff, coff, coff, divo, coff, coff... Aii, engasguei coff, divo, coff... com o alfajor... — Castiel não tinha jeito. Até criança fingia uma tosse melhor que ele.

— Depois não reclama da sorte. — disse Lys ao amigo ruivo e debochado, que enfiou o resto do doce na boca, cruzou os braços e cobrou o castigo das colegas de turma.

— E nada de ser bonzinho só porque é a Rosa, Yashiro*. — disse com a boca cheia, engasgando de verdade com o biscoito. Lysandre o acudiu com uns "tapinhas" nas costas.

— Porra, Lysandre... Vai socar a mãe, caralho! — reclamou da delicadeza dos "tapinhas" do amigo, saindo de perto dele.

— Desculpe-me. Eu devia ter sido mais "divo". — Até o sorrisinho de satisfação do rapaz era "divoso".

— Então, Lysandre. Diga. Qual o castigo das meninas? — Arce queria ir embora tanto quanto os alunos, então cortou aquela conversinha de amigos.

Lysandre olhou bem para as meninas e em especial para Rosa, encarando-a por uns segundos, sério. Ele já havia se decidido.

— Amanhã, durante o almoço, no refeitório, vocês cinco irão vestir um avental de doméstica e uma coleirinha, e vão nos servir. Devem vir de vestido com cumprimento até a altura dos joelhos e os cabelos presos com maria chiquinha!

— O QUÊ?????????? — foi o questionamento geral. Ele estaria pensando numa lolita?

— Você enlouqueceu, Lys? Ou então está de brincadeira? É isso, você está de zoeira, não? — Rosa não gostou do castigo. Ela não ia pagar aquele tipo de mico.

— Eu trarei os aventais e as coleiras. — disse ele, deixando todos perplexos com aquele castigo nada vitoriano, pois ele não estava brincando. Eles podiam esperar aquilo do Castiel, do Raul, do Pierre, do Leroy e até do Álisson, mas do platinado nunca.

— Explique melhor o seu castigo, Lysandre. — Arce não permitia castigos constrangedores, então preferiu se assegurar de que seu aluno preferido não estava querendo viver um fetiche.

— A senhora conhece as lolitas japonesas, professora? Seria isso. — respondeu, sem tirar os olhos da cunhada, que não estava entendendo nada, principalmente aquele olhar sério e incógnito sobre ela. — Mas se a senhorita achar que não é conveniente e que as garotas podem se sentir constrangidas, eu entenderei; mas deixaria que os outros escolham o castigo.

— Bom. O que me dizem garotas? Vocês acham constrangedor?

— Ah não, professora! — ralhou Castiel. — Na hora de depilar as minhas pernas com cera fria elas não pensaram no meu constrangimento, tampouco dos outros garotos, muito menos na dor que aquela por... — engoliu o palavrão. — que nós íamos sentir. Lysandre escolheu o castigo e ele deve ser aplicado! — exigiu, sendo apoiado por todos os garotos da turma e até pelas garotas, que não viram problemas, pois ele não exigiu nenhum traje inapropriado. E bastava pensar nas lolitas daquele estilo pra saber que eram comportadas e engraçadinhas. Peggy só conseguia pensar na super matéria que ia conseguir para o jornal da escola. Mesmo as meninas do grupo castigado não viram problema no castigo em relação a vestimenta, só não queriam bancar as serviçais.

— Bom. Como não há nada que realmente invalide o castigo, está aceito. Ele será aplicado amanhã no horário de almoço, no refeitório. Porém, se alguém, seja do grupo vencedor ou do castigado, aprontar, já sabem... a equipe perde todos os pontos conquistados hoje. — ficou decidido.

Assim como Arce fez com os garotos, fez com as meninas, perguntou se alguma delas não queria participar do castigo. Elas não eram obrigadas a cumpri-lo, porém, tinham que seguir as regras da atividade. A desistência do castigo resultaria, para a aluna desistente, a perda dos pontos conquistados pela equipe.

Elas olharam umas para as outras e apesar de não gostarem da ideia, aceitaram o castigo, pois não fazê-lo seria desonroso para elas. Uma vez no barco elas sabiam que podiam se molhar. Sem contar que perder parte dos pontos não era uma boa escolha.

— Eu trarei os aventais e as coleiras! — garantiu Lysandre, pegando seu material e saindo da sala.

Enquanto caminham pelo corredor, Sartre fez uma pergunta a Arce:

— Você não tem receio dos alunos proporem castigos inapropriados, que possam gerar alguma polêmica ou mesmo constrangimento aos colegas?

— Embora eu só valide os castigos que julgo estar dentro das regras e que todos concordem, não tenho esse medo. Eles sabem que temos limites e que o respeito sempre está acima de tudo, até das brincadeiras. Nós conversamos muitos sobre isso antes de qualquer atividade diferenciada. E o castigo não é obrigatório, é só uma diversão. Eles podem se negar a realizá-lo, ou mesmo a equipe vencedora pode abrir não dele. Eles já são grandinhos e capazes de saber brincar sem depreciar ou constranger ninguém.

***

Depois de revirar sua bolsa carteiro de couro marrom, presente do irmão assim que começou a estudar no S.A. - as mochilas tradicionais não combinavam com o estilo dele -, e os bolsos atrás do seu pequeno bloco de notas de capa dura e branca, Lysandre resolveu voltar para dentro do prédio da escola para procurá-lo no armário. Assim que passou pela porta dupla do bloco L.1 para acessar a escada - seu armário ficava no 2º piso - ouviu a voz da cunhada no corredor da secretaria. Ele teria subido, mas ao ouvi-la mencionar Paris, não conseguiu, parando no 1º degrau, querendo ouvir a conversa dela ao telefone, com o Leigh. Ela estava sentada numa das cadeiras do corredor, perto do acesso a escada.

— Daqui a pouco estou ai, vida. A sabatina de artes demorou pra terminar e pra piorar eu esqueci de imprimir o formulário de matrícula em casa, então vou imprimir aqui na escola. Você vai me ajudar a preencher, não vai, vida? — falou enquanto abria o anexo do seu e-mail. — Sim, eu estou com os documentos para você escanear pra mim.

Lysandre prestava atenção a cada palavra dela.

— Ai, vida. Eu não vejo a hora. No final do semestre eu estarei em Paris, cursando moda pela Dupont. — ela estava entusiasmada com a bolsa de estudos que conseguira.

— Aii, vida. Desculpa. "Nós" estaremos em Paris... E juntinhos, só nós dois. — comentou, sorridente e cheia de manha.

— Feliz é pouco, vida. Estou hiper, mega, ultra feliz. Eu estava com medo de você desistir.

— Pode esquecer isso, vida. Meus pais já deixaram claro pra mim que eu não vou poder morar com você lá em Paris. Eu vou ficar no apartamento de uma prima do meu pai.

PLOFT!

Lysandre deixou sua bolsa cair e o barulho chamou a atenção da Rosa, que levantou e foi ver o que era, por curiosidade.

Sem encontrar ninguém, deduzindo ter imaginado coisas ou que algum funcionário derrubou algo enquanto passava por ali, ela foi até o balc, pegou seu formulário, pagou a impressão e foi embora. Ela teria procurado por Lysandre para irem juntos, mas pensou que ele já tinha ido pra casa.

Lysandre, escondeu-se rápido no corredor do bloco L.2, pois não queria que ela o visse. Ele nem lembrava mais do bloco de notas, mas acabou encontrando-o, preso embaixo na porta do porão. Ele deve ter caído ali quando foi atrás da Sol. Ele tentou tirar, mas estava preso.

Nathaniel tinha o hábito de sempre verificar o porão antes de sair, pois tanto o Castiel quanto o Lysandre, às vezes esqueciam de fechá-lo. No passado ele havia compartilhado o lugar com o ruivo e apesar de terem brigado, ainda, sabe-se lá por qual motivo, guarda a cópia da chave no mesmo cantinho secreto que apenas os dois, e  depois o Lysandre, sabem qual é.

— O que você está fazendo, Lysandre? — perguntou ao ver o colega de turma agachado na frente da porta.

— Meu bloco de notas ficou preso embaixo da porta. Deixei cair mais cedo. — contou, mostrando-lhe o pequeno caderno de capa branca.

— Espera. Vou abrir a porta pra você pegar sem rasgar.

Com o bloco de notas recuperado, Lysandre o agradeceu, guardando o pequeno objeto no bolso frontal da bolsa. O objeto de lata floral dentro da bolsa do colega chamou a atenção do loiro.

— Você gosta destes cockies? — perguntou ao platinado, numa tentativa velada de saber se Sol esteve com ele, pois ela usava uma latinha de biscoitos igual àquela para carregar suas canetas, presente de um amigo da antiga escola.

— Ah, isso. Não é meu, é o estojo de canetas da Sol. — falou inocentemente, sem lembrar da sua desconfiança de que Nath era o tal garoto que a amiga gostava, até porque sua preocupação naquele momento era outra.

— De certo ela te emprestou e você esqueceu de devolver. — comentou, jogando verde.

— Na verdade ela esqueceu no porão.

— É... Ela é-é meio desligada, às vezes... — Nath até tentou disfarçar que aquela informação mexeu com ele, mas a mudança imediata no seu tom de voz e no olhar fez até mesmo Lysandre, tão desligado, perceber aquele brilho triste cobrindo o âmbar dos olhos dele. — É-É melhor nós irmos, antes que o inspetor nos veja e reclame por ainda estamos na escola.

Lysandre não tinha mais dúvidas em relação a identidade do tal garoto, era Nathaniel; mas até onde ele sabia, o presidente do grêmio não tinha namorada. Estaria Sol enganada com o loiro ou ele estava envolvido com alguém e ninguém sabia? Estas eram as perguntas que ele não ia fazer.

Nathaniel pegou o ônibus e foi para casa, pensativo, cabisbaixo. Como ficou mais tempo na aula de Artes não pode falar com a Sol depois da aula e ela não fez questão nem mesmo de lhe deixar um recadinho que fosse dizendo que não podia esperar, provavelmente porque não queria esperar, tampouco falar com ele. E tudo por causa da Mel. Ou não. Talvez ela não os tenha visto juntos no cinema, talvez ela nem tenha ido ao cinema. Ela podia muito bem ter saído com o Castiel, visto que o ouviu comentar com Lysandre que havia ido a pizzaria e ele não estava com cara de ter tido um final de semana ruim. Mas e o Lysandre? O que ela fazia no porão com o Lysandre? E sozinhos provavelmente. Aquelas dúvidas o estavam enlouquecendo. Seu coração apertou quando pela 3ª vez sua ligação caiu na caixa postal. Ele não queria acreditar, mas este lhe dizia que Sol não atendia o telefone de propósito; ela não queria falar com ele.

— Olá, senhorzinho Nathaniel. Que bom que chegou. Acabei de colocar algumas fatias de pão de iogurte com queijo, tomates e orégano no forno, para sua irmã.  Quer que eu faça igual pra você? — Ele sempre entrava pela cozinha, pois gostava de ser recebido carinhosamente. — Comprei o queijo de búfala que você gosta. — Ela adorava fazer os gostos do patrãozinho.

— Desculpa, Clarinha. Não estou com fome. — Clara conhecia muito bem aquela voz. Ele estava triste.

— Como assim? Eu faço questão de fazer seu pão de iogurte todos os dias, só pra você come-lo fresquinho quando chega da escola, sempre compro seu queijo favorito, e agora você vem e me diz que não está com fome. Sinto muito, senhorzinho Nathaniel, mas eu não aceito isso. Você vai comer sim, nem que seja uma fatia fininha! — foi firme, sabendo que ele nunca ficava numa única fatia, mesmo quando se dizia sem fome.

— Tudo bem, clarinha. Não te farei essa desfeita. Eu vou tomar banho e logo desço. — esboçou-lhe um leve sorriso, feliz pelo carinho da sua empregada, embora triste por dentro.

Naquela noite ele não ouviu os sermões do pai, mas também não ouviu elogios. Tirar 10,0 nada mais era que sua obrigação, afinal de contas, ele não tinha outras responsabilidades a não ser estudar.

Já Lysandre, ao chegar na loja pediu dispensa, alegando estar com dor de cabeça. Como o caçula nunca se mostrava indisposto para o trabalho, mesmo quando tinha muitos deveres da escola para fazer, o irmão o deixou descansar naquele dia, certo que ele realmente estava indisposto. Até estava, mas não pela sabatina como Rosa achou que era.

O rapaz se enfiou no quarto e de lá não saiu mais.

— Você está melhor, Lysandre? — perguntou Leigh, preocupado, sentado ao lado dele na cama, pouco depois das 20h00, logo depois de ter fechado a loja. — Rosa e eu vamos comprar alguma coisa para jantarmos. Quer que eu te traga algo em especial? — passando-lhe a mão no rosto, querendo ver se estava febril, ficando um pouco mais aliviado por sua pele não estar quente.

— Eu já jantei! — respondeu, num tom de voz estranho até para Leigh, que não soube identificar se ele estava indisposto ou triste.

— Como já jantou? Comeu o que se hoje você não preparou o jantar?

— Eu esquentei o restinho do seu almoço no micro e comi. — contou, deixando Leigh mais preocupado, pois além do fato do caçula não apreciar comida requentada, ainda mais pela 2ª vez, ele havia deixado só um pouquinho de arroz com brócolis na geladeira, nem metade do que o irmão costumava comer.

— Mas só aquilo?

— Eu fiz uma salada. E eu não estava com muita fome.

— Bom, eu vou comprar alguma coisa para você mesmo assim. Que tal uns sushis?

— Faça como quiser, só me deixe dormir, por favor. — ele virou de costas para o irmão, que estranhou aquele comportamento, mas não questionou, deixando-o sozinho.

— Você sabe o que aconteceu com o Lysandre, Rosa? Por que ele esta assim, estranho e até arredio?

— Ai, vida. Eu acho que a culpa é minha. Ele estava com a Sol, num momento que parecia bem íntimo, e eu os interrompi. Mas foi sem querer, eu juro. Hoje foi dia de sabatina na aula de Artes e eu tinha que chamar o Lys-fofo para a aula. — contou entrando no carro. — Ele ficou zangado comigo, ao ponto de me ignorar.

— Você tem certeza que é só isso Rosa? Você não o deixou em nenhuma situação delicada de novo por resolver dar uma de cupido, não é? — impossível não desconfiar da namorada alcoviteira.

— É claro que não, vida! Eu prometi que não ia mais fazer isso. Lembra?

— Olha lá em Rosa, eu te conheço. Não quero ter que ficar te pedindo para não se meter na vida amorosa dele.

— Eu juro, vida. Eu não fiz nada; a não ser quebrar o clima, mas foi sem querer.

Enquanto isso, no quarto, Lysandre, sem sono, conversava com seu bloco de notas, perdido em seus medos, dúvidas e desconfianças.

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Notas finais do capítulo

[1] Gossip: fofoca em inglês. Lembram do Gossip Girls?

Cast sendo Cast... 1º bate depois assopra...rs
Nath sendo Nath... inseguro
E Lys... bom... vamos esperar pra ver...rs