Suas mãos estavam se tocando. Ele podia ouvir a respiração dela tão bem como se fosse a sua própria, e ficou com medo quando percebeu que estava tentando ritmar as inspirações para se igualarem às dela inconscientemente. Sentia os dedos grudentos, e não era só de manteiga, mas de suor.

Uma garota gritou na televisão. Armin aproveitou a distração para olhar de esguelha para a menina a seu lado, mas os olhos azuis de Annie continuavam fixos sobre a tela como se estivesse hipnotizada pela carnificina. O louro engoliu em seco.

Pôs a mão novamente dentro da bacia de pipoca. Remexeu um pouco, e logo os dedos de Annie tocaram-se com os dele, enquanto ela procurava pegar algo para si mesma. Ele a olhou de esguelha de novo. Sua atenção ainda estava fixa no vilão fantasiado de fazendeiro que seguia o grupo de mocinhos.

Olhou para a televisão. Não estava interessado no filme. Nem um pouco. Não gostava de terror. Annie gostava. Ela nem sequer parecia piscar. Seus dedos se tocaram outra vez. Ele sentiu as bochechas vermelhas. Alguém gritou na televisão novamente. Um barulho de motor de carro encheu seus ouvidos. Mas ele não estava realmente vendo o filme.

Remexeu-se um pouco para mais perto dela. Seu movimento foi tão ínfimo e imperceptível que parecia que tinha apenas se ajeitado melhor. Annie não aparentou se incomodar. Ela estava muito focada no filme.

Ele se mexeu de novo após alguns segundos. Dessa vez seus ombros se tocaram, mesmo por baixo dos casacos e moletons. Uma trovoada encheu a sala, mas vinha da televisão. A lareira estava apagada. Estava muito frio. Armin colocou a mão na tigela de pipoca novamente, e esbarrou a palma sobre a dela enquanto pegava um punhado.

Levou até a boca e colocou tudo de uma vez, mastigando rapidamente. Esticou os dedos, que coçavam para alcançar o pote, mesmo que não fosse à comida que ele quisesse tocar. O barulho de motor continuava e várias vozes gritavam em uníssono. O filme estava acabando. Provavelmente metade do elenco já havia morrido.

Remexeu-se um pouco, sentindo o friccionar de seus braços um contra o outro. Fingiu soltar uma pequena exclamação surpresa quando algo violento tomou a tela da televisão. Annie não fez som nenhum. Olhou-a de esguelha novamente. Seus olhos estavam fixos sobre o filme.

Era hora do show.

Inclinou-se e plantou um beijo rápido na bochecha dela. Foi tão breve que poderia dizer que fora só um acidente. Endireitou-se, fingindo que estava interessado na menina implorando por sua vida na televisão. Esperou alguns segundos e depois olhou de esguelha para ela novamente. Seus olhos estavam presos na tela.

Sentiu-se um pouco decepcionado. Olhou para o filme. Esticou a mão para pegar pipoca. Dessa vez, seus dedos não se esbarraram.

Se tivesse olhado novamente, teria percebido como ela estava corada.