A Garota das Minas: A História de Wiress escrita por Rob Sugar


Capítulo 11
O Desfile


Notas iniciais do capítulo

Obrigado a todos por terem lido até aqui, e espero que leiam capítulos depois destes também. Um agradecimento especial pro AlexandreTHG que foi meu primeiro leitor desta fic, um beijo seu limdo (é com "m" de "muito"). E outro para a Sincere Tears que recomendou a minha história. Um beijo sua limda (que também é com "m" de "muito"). Aproveitem a leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/451935/chapter/11

No dia seguinte, nós quatro nos preparamos para o Desfile dos Tributos. Vai ser a primeira vez que a Capital vai olhar direito para os tributos esse ano. Também vai ser a primeira vez que Blair e Charles verão a competição face à face. Entramos no elevador e descemos para deixar Blair e Charles nas carruagens. Charles veste um terno dourado repleto de cristais que captam a luz do sol e refletem-na em pequenos arco-íris. Ele está espetacular.

Andamos e vemos os tributos do Distrito 4 nas suas posições. O garoto usa um terno azul com calças combinando. Normal. A garota está usando um vestido azul transparente que se move como o oceano quando ela se mexe na carruagem. Quem quer que desenhou aquilo, esqueceu um pequeno detalhe.

Ela tem quatorze anos.

O vestido ficaria lindo em alguém com dezesseis ou dezessete. Nela ficou um lixo. Ela vira e olha para o vestido de Blair. Ela está boquiaberta e vejo a inveja palpitando nos seus olhos. Ela quer arrancar o vestido do corpo de Blair.

–A garota do 4... – sussurro para Blair – seu vestido... Inveja... é bom... Mate os de inveja.

Blair balança a cabeça, vira para a menina e rodopia fazendo seu vestido brilhar. A garota do 4 vira o rosto rápido, mas muito tarde pra esconder o ódio e a inveja. Blair sorri triunfante e sobe na carruagem.

Os outros tributos se enfileiram e vejo quais estão bons e quais estão ruins. A maioria está ruim, especialmente o Distrito 10 em suas fantasias preto-e-branco. Eles são vacas?

Todos estão nas carruagens, então é hora de sair. Voltamos ao elevador e vamos ao porão onde tem um carro para nos levar para as suítes no Centro de Treinamento. No meu carro estamos eu, Kog, os mentores do 5, e os mentores do 9.

Reconheço a garota do 9.

–Você matou Shayla – digo a ela quase indiferente e ela me responde com um olhar em branco.

–Desculpe?

–Ela mora... Morava de frente para mim... seis anos atrás... Seus Jogos... ela estava chorando quando... E você tinha aquela faca...

Os mentores do 5 estão olhando, e a expressão da garota do 9 se tornou azeda.

–Fiz o que precisava. – ela diz com veneno na voz. Kog põe a mão no meu ombro e me puxa para trás.

–Todos fizemos... – ele diz. O resto da viagem se dá em silêncio.

Os carros chegam ao Centro de Treinamento e todos vão aos elevadores. Ficamos com o mesmo grupo de mentores. Nosso andar é a primeira parada. Kog e eu saímos e a porta se fecha atrás de nós. Kog vai para onde ele sabe que é seu quarto. Eu fico no corredor. As memórias estão me abaionetando tanto que não consigo me mexer.

Memórias de Shayla, a garota doce que eu chamava de minha amiga. A garota que pegava as moscas e aranhas de sua casa e as soltava no quintal ao invés de matá-las como eu fazia. A garota que não poderia matar ninguém.

A garota que morreu gritando pela mãe.

Memórias de Girph. Como ele foi só um conhecido meu até entrarmos na arena. Como ele continuou positivo e operante até salvar minha vida. Como ele morreu na areia, só um ano atrás.

O quarto está girando. Estou tonta pelos calafrios que começam na minha cabeça e descem pela espinha até os dedos dos pés. Estou chorando. Chorando muito.

Por todos aqueles que se perderam.

Kog me agarra.

–Sai dessa, Wiress! O passado é o passado; você tem que focar em Blair agora! Esqueça Shayla, esqueça Girph, esqueça todos que morreram!

As memórias se esvaem rápido. Tudo que sobrou na minha cabeça é uma dor de cabeça. Do solavanco, não das memórias. Kog me leva até a sala e liga a TV no momento em que Blair e Charles estão rondando a praça. Eles estão fascinantes.

O processo continua, e a multidão grita baixo pela falta de criatividade nos outros distritos. As fantasias do 5, que está encarregado da eletricidade, tem relâmpagos costurados. Estariam arrebatadores se não tivessem queimado no momento que começaram a brilhar.

Claramente as luzes eram muito para a pequena bateria. Com as apresentações pobres nos outros distritos, Blair e Charles têm uma vantagem imensa agora. Os patrocinadores vão notar quais tributos tem mais visual, e os patrocinadores têm dinheiro, o que pode ajudar Blair e Charles na arena.

No fim do processo, não consigo deixar de pensar em como Blair pode vencer essa coisa toda. Alguns minutos depois, Blair e Charles passam pela porta da frente da suíte. Corro até Blair e a abraço.

Solto-a e digo o quão incrível ela estava e como ela fez um bom trabalho. Ela cora e me agradece. Ela vai para o quarto e se troca.

Amanhã é o primeiro dia de treino para os tributos. Tenho que falar com Blair sobre o que fazer e o que não fazer.

Blair sai do quarto com uma camisola simples. Aceno para ela vir e se sentar comigo, ela anda cambaleando um pouco. Explico a ela o que acontecerá amanhã no centro de treino.

–Vão ter... Muitas estações para... Escolher... Foque em sobrevivência... Não adianta saber... Lutar... Se não consegue... Comida... – Blair pergunta sobre alianças – Não... Se aproxime de ninguém... Se eles... Eles vierem... Aceite... Mas seja... Seja cuidadosa.

Blair concorda. Decido que já que estamos conversando, seria bom fazer dela uma garota correta. Não deve ser difícil. Praticamos sentar com as costas eretas, andar com graça e ser apropriada de uma maneira geral. Leva trinta minutos.

Decido pensar num tom para ela na entrevista com Caesar. Inocente? Não... Esnobe, talvez? Não, não esnobe. Enigmática? Talvez. Decidimos que uma personalidade encantadora com um motivo escondido é perfeita.

Blair será a garota que sorri para você, e corta sua garganta antes mesmo que você perceba que o sorriso deixou seu rosto.

Digo a ela para praticar ser carismática e agradável e a mando dormir.

Levanto do sofá e vou apagar as luzes.

–Wiress – ouço. Dou um salto de susto e me viro. É Kog – Tenho que falar com você. - ele diz. Sento de novo no sofá e ele me acompanha – Wiress... Você e eu sabemos que só um tributo pode vencer os Jogos. Isso geralmente escapa dos mentores novos. Um dos tributos vai morrer. Talvez os dois. Então temos que decidir se vamos trabalhar juntos para ajudar um, ou trabalhar separadamente para ajudar os dois.

Estou sentada insondavelmente por um momento, pensando. Então faço uma pergunta.

–Você acha... Charles ou Blair... Podem vencer?

–Blair tem uma chance decente. – ele balança a cabeça – Ela é veloz, ela aprende rápido, e todos vão gostar dela. Charles... – Kog nega com a cabeça e suspira – Vão gostar de Charles também, mas ele é um pacifista no interior. Ele não vai lutar. Ele tem medo de derramar sangue e não é rápido mesmo. Ele não tem chance de vencer.

Minha mente pula para Shayla, mas eu bloqueio e encaro Kog, me dando conta que ele já desistiu de Charles.

–Kog... Charles precisa... Ele precisa que você o ensine a sobreviver... Como Blair precisa de mim.

Kog franze a testa.

–Vou ajudá-lo até a arena. Mas não vou enviar nenhum presente de patrocinador se ele se recusar a lutar. Tenho um palpite que ele nem vai passar do primeiro dia.

Agora estou farta.

–Se minha mentora tivesse desistido de mim como você está fazendo, eu não estaria aqui falando com você! Eu era tudo o que Charles é agora! Lenta, pacífica, e ignorante em todo tipo de combate. Mas eu venci. Estou aqui. Charles pode vencer também! Até onde eu sei, Blair pode morrer nos dois primeiros minutos dos Jogos. Mas eu não estou desistindo dela! Você...

Sou acertada com uma dor de cabeça lancinante e grito o mais alto possível. Minha visão embaça e sou bombardeada com as visões dos meus Jogos que tanto evitei. Meus companheiros mortos.

Até os Carreiristas, que teriam me degolado se tivessem tido a chance. Vejo suas mortes. O sangue. O horror. Diferentes imagens dos Jogos que não queria ter visto. Ouço a voz de Kog no fundo, mas parece distante e está distorcida e baixa. Não consigo focar. Não consigo respirar. Nem sei se estou respirando.

Vejo Myrrh jogar uma faca em mim. Acerta meu coração.

E tudo fica preto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!