Freddie paralisou de súbito. O que poderia dizer? Como poderia explicar o que tinha com Victoria? Será que ela aceitaria ou sairia correndo de sua situação caótica? Sam ainda o encarava, os olhos aguardando ansiosos por alguma resposta. Sam sentiu o coração palpitar um pouco mais rápido, enquanto o silêncio que precedeu a pergunta se estendia.

— Você está realmente noivo? – Sam a esse ponto não conseguia segurar as lágrimas. Não entendia e nem sabia o porquê, mas não estava a fim de contê-las. Freddie inspirou profundamente antes de responder, olhando para o vago da estrada a sua frente. Não tinha coragem de encarar a orbe cor de safira no momento.

— Sou. – falou por baixou de sua respiração, como um suspiro. Sam levou alguns segundos para absorver a novidade. Piscou algumas vezes em sinal de descrença. Por um instante, ouvia-se apenas o barulho do motor e um rap bem baixinho no som do táxi. Freddie começou a olhar a janela, sem saber como proceder. Contava? Sam com certeza não aceitaria.

— Por que... – Sam não sabia o que falar.

— Por que eu não contei? – Freddie completou, com um meio sorriso tristonho. Seus olhos castanhos pareciam mais escuros que o normal. – Porque é complicado.

— Você poderia tentar explicar.

— Você não entenderia.

— Tente...

— Não, Sam. – Freddie falou de forma autoritária – Não agora. Não hoje. – Disse por fim, pondo um fim aquela conversa.

Seguiram em silêncio até o apartamento de Freddie. É claro que a loira não protestou, afinal, tinha apagado cinco minutos antes de Freddie ter tempo de mudar sua rota. Deu graças por sua casa estar coincidentemente no caminho. Com ajuda do taxista – Carlos, como veio a descobrir – ergueu o corpo esguio de Sam nos braços. Com o cotovelo apertou o interfone.

— Alô? ­— Uma voz feminina atendeu.

— Denna, aqui é o Freddie, você pode...

— Freddie?

­­— Sim, Freddie. Seu novo vizinho do 8D.

— Ah, Freddie. Senti sua falta hoje. — Freddie ignorou. Não queria arrumar ainda mais problema para sua vida.

— Que bom, Denna. – respondeu, um pouco ríspido.- Pode abrir o portão por favor?

Assim que entrou em seu apartamento, depositou o corpo inconsciente de Sam em sua cama com cuidado. Observou-a por um instante. O vestido verde ressaltando seus cabelos loiros, o corpo bem definido pelas curvas acentuadas e as coxas grossas pelo treino... Com cautela, retirou os sapatos de Sam. Logo em seguida, deslizou o vestido verde para fora do corpo pequeno, deixando-a despida em sua cama. Esforçou-se para não olhar muito, temendo ter pensamentos não muito puros mais tarde. Caçou uma de suas blusas mais confortáveis e com uma certa dificuldade vestiu Sam. Quase teve um mini infarto ao achar que Sam tinha se acordado no momento em que escorregava um de seus braços por dentro da manga. Mas a loira permaneceu no mais pesado sono. Freddie a encarou mais uma vez, e antes de sair, depositou um beijo de leve na sua testa. Em resposta, Sam enroscou-se mais ainda ao seu lençol.

Freddie sorriu. Ao menos ali, estaria segura.

Sam sentiu a luz arder em suas pestanas. Piscou algumas vezes, ainda atordoada, enquanto esperava sua visão entrar em foco. Sentou-se na cama e percebeu uma aspirina e um copo com água no criado-mudo do lado da cama. Engoliu com avidez, enquanto sentia o sangue pulsar em sua cabeça. Levou alguns segundos para perceber que aquele não era o seu quarto. Remexeu-se no colchão até descobrir que aqueles lençóis brancos não pertenciam a sua cama. Olhou para as quatro paredes ao seu redor, pintadas em um tom azul pastel. Tudo milimetricamente organizado. Caminhou um pouco pelo quarto e parou de frente ao espelho para constatar que definitivamente, aquela não era sua blusa.

— Bom dia – Saudou Freddie, retirando um pouco os olhos de seu jornal e depositando a xícara na mesa. "Quem ainda lê jornal?", Sam pensou para si mesma. Estava com as calças moletom cinza que Sam havia emprestado e com o peitoral descoberto.

— Shiu – Sam sussurrou – Não precisa gritar. Freddie sorriu – Então...

— Pode se servir. Eu pensei em te esperar para começar a refeição, mas meu estomago discordou.

— Está tudo bem – Sam falou, esticando-se para pegar umas torradas um pouco mais distante na mesa. Sentiu uma pontada no crânio, mas prosseguiu – Eu não faria o mesmo.

Freddie a encarava com a mesma intensidade de antes. Sam o fitou fazendo o sorrir. Sorriu de volta em reflexo. Então lembrou-se da blusa do Darth Vader que chegava as suas coxas. Enrubesceu um pouco antes de prosseguir.

— Me diz... A gente... Cê sabe...– Freddie quase cuspiu o seu café. Sam respirou aliviada.

 - Não, não. Não com você naquele estado. Eu não sou um brutamontes. Você... Não lembra?

— Hum... De ontem a noite? - Sam esforçou-se mas isso só pareceu fazer sua cabeça doer ainda mais - Lembro de um loiro e só.

— Ah – Freddie parecia pensativo.

— Você está noivo. – Sam disparou, sem arrodeios.

— Estou.

— Quando ia me contar sobre isso?

— Sam...

— Quando?

— É complicado.

— Eu quero saber!– Sam já estava com a respiração alterada.

— Você não entenderia...

— Você nem ao menos tenta explicar! Como você sabe que eu não entenderia? Quanto tempo eu teria que esperar até acordar um dia e descobrir que você foi embora? Eu... – Sam foi interrompida por uma batida na porta. O ambiente caiu no silêncio.

— Freddie? – Uma voz feminina falou por trás da porta.