Ardente Ilusão escrita por Guglinski


Capítulo 1
Situação


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/451775/chapter/1

Eu estava à deriva, em meio a uma grande tempestade, de raivosos sentimentos, e em alguns momentos sentia que meu barco era apenas, e nada mais, que um barquinho de papel que iria desmanchar, que tudo o que percorri até hoje teria sido em vão, onde todas as minhas experiências seriam afogadas junto a mim. Bem no centro de tudo havia uma mulher, a mais bela que eu já me conduzi a ver. Meu pior erro foi querer enfrentar este temporal por essa dama, eu havia avistado de longe, e mesmo assim, quis chegar perto dela, para poder chamar de minha.

Ter achado que nenhuma nereide seria capaz de me afundar foi outro engano, deixei-me escutar sua canção e segui teus caminhos. Hipnotizado, larguei meu próprio refugio por essa perfeição, perfeita só aos meus péssimos olhos que adoram ver o inexistente. Sem nada e nem ninguém, nem mesmo uma história, eu só sentia meu corpo flutuar sobre a trilha d’agua. A distância parecia ser menor enquanto eu estava em meu cruzador dos mares, talvez porque eu sempre passei direto e reto sobre qualquer curva em meu destino, mas pensei “jamais desistirei dessa ninfa do mar”.

Enquanto a fitava ela também olhava diretamente em meus olhos ilusórios, parecendo que queria ser salva daquele centro de destruição. A temperatura estava aumentando, a água estava ficando escaldante, cada passo sentia-me como se fosse cozer, mas eu queria salva-la, não por ela, mas por mim, ela era uma Divindade afinal, que mortal não a desejaria? E eu tive a chance de tê-la. A dor crescia assim junto a esperança, faltando poucos metros, eu me questionava sobre amor à primeira vista. Jamais teria me arriscado tanto se não o fosse, e logo afirmei “Sim, é amor”.

Até que fiquei bem a frente dela, com muitas queimaduras e um coração gritante. Olhei para trás. Tentei enxergar quanto eu ainda teria que percorrer para nos ver a salvo, mas infelizmente, não vi nem mesmo um resquício de meu conforto. Segui, lhe estendi a mão e afirmei “Venha comigo, rápido, irei te tirar desse Caos!” ela não me respondeu, simplesmente tocou no meu peito e cauterizou meu coração de tal forma que nenhuma de todas as nereides havia feito. Logo percebi que ela não era uma bela indefesa e que não precisava ser salva. Ela era a Deusa do Fogo.

Com meus sentimentos chamuscados, percebi que tudo ao redor dela era apenas uma consequência de sua existência. Dei um salto para trás. Nem sentia mais o calor infernal que estava me cozinhando. Olhei a minha volta e vi que o único que precisava ser salvo naquela situação era eu, o capitão desperto.

Meus sentidos estavam entrando em colapso e já não entendia mais nada. Só era capaz de escutar a sua bela canção, que se tornou uma sinfonia de desgraça. Com as forças de uma ultima ação gritei para que alguém me salvasse.

Meses se passaram, e a tortura já era cotidiana. Ficar estático e imóvel foi o necessário para que minhas forças voltassem a sua normalidade. Só que agora eu havia me tornado um ser a prova de fogo. Meu corpo sadio só esperava um comando para se livrar dessa tormenta, porém minha mente estava debilitada devido ao calor excessivo.

Mesmo preparado e capaz de partir sozinho, ainda esperava ser salvo. Até que comecei a sentir meu companheiro bater novamente, bater, bater sem limites. Meu coração, que eu pensei que tivesse morrido carbonizado estava rubro de valente.

Quando o olhei ouvi uma voz angelical sair. Uma voz tão linda que até os berserkers mais raivosos ficariam calmos para escuta-la. A voz me disse “Você é forte e corajoso, terá recompensas ótimas por ter tentado salvar a Dama da destruição.” E eu respondi “Mas eu iria salva-la pelo meu orgulho, pela minha reputação, eu não mereço ter nada.” Sem nem pestanejar a voz retrucou “Você receberá um grande espelho no qual o reflexo dos seus erros será a única imagem refletida.” Ignorante questionei “E de ver somente meus defeitos, de que isso me adiantará?” Sempre com o mesmo tom paciente e calmo ela exclamou “Fará você nunca se esquecer de que tem defeitos, fará que você nunca se esqueça de que é um humano, nem os divinos, por mais próximos à perfeição, não são perfeitos, nem a voz que vos fala é perfeita, mas olhar pros seus erros e concerta-los são os sinônimos de utopia.”.

Aquelas palavras bateram em mim e fizeram com que cada célula minha desejasse o movimento, continuo e constante, para tornar-me melhor. Ser um reflexo, mesmo que destorcido, da perfeição. Corrigindo os meus erros e mantendo os meus acertos. Meu último contato com a Deusa do Fogo me fez lhe dar um pedaço de meu espelho. Logo após nadei para fora da Tempestade.

Sem barco, mas com muito folego, sigo nadando até hoje nesse grande mar chamado vida. A voz-mãe continua dentro do meu coração, mesmo após todos esses anos. Um pouco quieta, porque agora consigo fixar meus problemas sem precisar do seu toque mágico, mas persiste muito importante para que eu nunca mais fique parado, esperando a sorte me guiar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostou? Sugestões? Críticas? Comente! :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ardente Ilusão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.