Yellow escrita por finch


Capítulo 4
Se você não parar de chutar minha poltrona, eu chuto sua cara


Notas iniciais do capítulo

uma recomendação?????? sério???? agradeço muito mesmo por você ((que recomendou)) acreditar na minha fic tão cedo assim, logo no 2° capítulo. sério mesmo espero que acompanhe até o final e você não tem noção do quanto estou absurdamente feliz com seu gesto.

o capítulo já tava pronto faz tempo mas só agora tive tempo pra postar, desculpa. e eu amei os comentários do capítulo passado, estão todos respondidos.



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“Mas o Paraíso está trancado e enclausurado... Precisamos fazer a jornada ao redor do mundo para ver se uma porta dos fundos talvez esteja aberta.”

A Propósito do Teatro de Marionetes, Henrich Von Kleist

...

Capítulo III – Se você não parar de chutar minha poltrona, eu chuto sua cara

Annabeth

– Se você não parar de chutar minha poltrona, eu chuto sua cara. Estamos entendidos, garoto? – disse, olhando com um olhar absurdamente maníaco para o menino na poltrona atrás da minha. Ele engoliu em seco, mas disse:

– Eu tenho só onze anos, tia – ele tinha um sorriso meio sarcástico, meio vitorioso, por isso disparei:

– Eu sei que essa não é sua mãe. Na verdade, você nem sequer a conhece. Está sozinho, ninguém da sua família vendo... – disse com um sorriso maligno. O menino era meio cheinho, com o rosto saliente e cabelo escuro, mas os olhos eram verdes, muito vivos e seu sorriso tinha um brilho daqueles de “eu sou bem elétrico e provavelmente vou tacar algo na sua cara se você irritar, loira burra”. Eu obviamente não faria – nem se quisesse – nada com o garoto, mas ele pareceu se assustar um pouco com a ameaça. Ele estava do lado de uma adolescente que estava distraída demais mexendo no celular pra prestar atenção na minha conversa e do menino, então provavelmente não o conhecia. Deduzi que sua mãe foi a mulher que veio aqui e disse pra ele se comportar e não falar com estranhos, dizendo que estava algumas fileiras atrás. – O que você quer pra parar de me chutar?

– Hum... – ele pareceu pensativo com o indicador no queixo, uma pose um pouco exagerada, mas me olhou com os olhos brilhantes. – Doritos – disse animado, apontando pro saco de salgadinhos na minha mão. Sorri, irônica.

Chantagear crianças era fácil demais, principalmente porque elas respeitavam a chantagem e não pediam nada demais em troca. Imaginei por um segundo se fosse Thalia que tivesse a oportunidade de me mandar fazer alguma coisa e eu me sentisse obrigada a fazer: provavelmente me mandaria tentar tirar a virgindade de algum calouro.

Não que eu fizesse isso, mas Thalia vivia dizendo que adoraria me ver desvirginar alguém. Era doentio e sem-noção, entendo, mas, bem... era a Thalia, né? Doentia e sem-noção.

E aqui estou eu, dando as costas pro assunto novamente.

O Doritos podia estar bom – ainda mais com molho – mas se aquele era o preço da minha paz para o resto da viagem, eu aceitei de bom grado. Estendi cinco salgadinhos na mão e o garoto me olhou com um sorrisinho.

– Valeu! – exclamou, enfiando tudo na boca de uma vez. Eu ri com isso.

– De nada – respondi, me virando para sentar direito, ainda risonha. Mas ainda não tinha esquecido dos chutes (sem motivo) que o menino me dera. Mas resolvi tentar esquecer.

A senhora ao meu lado continuava lendo um volume da Jane Austen, provavelmente Orgulho e Preconceito, pelo aspecto da capa azulada e a gravura. Ela me levantou o olhar com um sorriso manso e disse:

– Bondade é importante – disse, com um tom sereno, me olhando com um brilho calmo nos olhos.

– Eu não fui “bondosa”, eu só dei um salgadinho pro menino – disse, retribuindo seu sorriso, mas ela apenas me olhou como se soubesse de algo que eu não sabia.

– Bondade é importante... – repetiu, pousando os olhos no livro, que a propósito já estava quase no final. – ...guarde isso.

Eu murmurei um “ahã” um pouco baixo e sem-graça, e não conversei mais com ela durante a viagem.

Depois de pousarmos em algumas cidades, chegamos no aeroporto de Manhattan. Olhei pela janela, curiosa, e a senhora me perguntou:

– O que quer fazer por aqui? – perguntou.

– Faculdade.

– Interessante... – comentou, fechando o livro e o guardando numa bolsa de couro marrom.

Só então reparei no traje da mulher, era uma calça jeans escura com um casaco branco de botões dourados, botas marrons e a bolsa da mesma cor. Seu rosto era de uma pessoa já com uma idade mais avançada, tinha entre cinquenta e setenta anos. Pelo que eu reparei, usava maquiagem clara e batom vermelho escuro nos lábios finos. Seu sorriso era sem mostrar os dentes e seus olhos eram castanho claro, e seus cabelos eram louros por tintura e se via partes castanhas dele. – Eu moro aqui. – completou, e quando punha seus óculos escuros e estava indo embora, eu falei, animada:

– Você pode me indicar... ah, você sabe... lugares bons pra comer, coisas divertidas pra fazer. Pode me mostrar um pouco daqui, por favor? Mesmo que seja apenas o telefone de alguns restaurantes...

– Claro, querida. Vou te indicar alguns lugares para comer... já tem lugar pra dormir? – perguntou. Seu tom de voz era simpático mas um pouco fino demais.

Ela começou a remexer a bolsa e me perguntei o que ela estava procurando. Até que ela pegou uma caixinha de óculos e pôs o fino objeto no rosto: um óculos com a armação extremamente fina com detalhes transparentes e em dourado. A mulher à minha frente obviamente tinha uma boa índole, portanto fiquei meio preocupada se os restaurantes que ela me indicaria seriam muito caros. Espantei o pensamento.

– Ahn... Sim, sim. Vou dormir nos quartos da faculdade. Senão sairia muito caro – falei, sem humor.

– Claro que seria, compreendo... – comentou baixo como que para si mesma. – Vamos então. – um sorriso ansioso iluminou sua face. Retribuí-o.

•••

Certo. Nunca confie nas velhinhas que ficarem do seu lado no avião. Elas não são confiáveis. Depois de assinar alguns papeis devido ao meu passaporte recém-nascido, pedi pra senhora esperar-me. Ela esperou. Estava indo tudo às mil maravilhas até a hora de pegar a mala: a mala dela chegou primeiro e ela disse:

– Vou beber uma água.

– Tá bom.

Minha mala estava demorando demais e fiquei pensando se ela não havia sido extraviada. Mas quando o pensamento veio na minha cabeça vi minha mala saindo da máquina estranha – era uma das últimas. Suspirei de alívio e fui pegá-las.

Pelo visto, a mãe do menino “chutador” não teve a mesma sorte que a minha. Ela praticamente esperneava que queria sua mala volta, que não podia ficar sem suas melhores roupas, e que as roupas do menino e dela estavam juntas. Descobri por meio dos berros dela que o nome do menino era Johnny. Senti remorso por eles dois, queria saber se de alguma forma poderia ajudar, mas pelo jeito com que ela gritava, não daria muito certo demonstrar “pena” por ela no momento.

Dois seguranças – um meio magro de óculos, loiro com a barba por fazer e outro moreno, um pouco mais musculoso e mais alto – tentavam acalmá-la.

– C-calma, é só exigir uma indenização, senhorita... – tentou amenizar a situação o guarda moreno, mas não adiantou.

– EU VOU PROCESSAR A COMPANHIA DE VIAGEM! – ela berrou.

– Sim, senhora. A culpa é da companhia de viagem, não do aeroporto – o segurança loiro disse, dando uma cotovelada no moreno por ter comentado da indenização, provavelmente.

Resolvi que aquele problema não era o que eu chamaria de “meu”, então saí arrastando minha mala grande e levando a pequena nos braços. Até que não aguentei mais e a mala caiu no chão, – o que era meio óbvio que ia acabar acontecendo, pois a minha definição de força é a mesma de um mosquito. Um outro segurança – dessa vez era muito bombado e usava óculos escuros – veio me auxiliar com um carrinho. Ri de leve.

– Carrinho legal – comentei, quando ele, sem dizer nada, pegou minha mala e depositou-a no carrinho. Fez um gesto para que eu andasse e ele me seguisse com o malão e eu comecei a andar.

A mulher disse que ia beber água, pelos deuses, onde tem um bebedouro nesse lugar? Procurei-a com os olhos, observando atentamente à cada detalhe do recinto. Era grande, maior que o de Liverpool. Tinha livrarias, papelarias, farmácias e mais opções para comer. Era sofisticado o mesmo tanto.

Depois de passar os olhos rapidamente pela praça de alimentação e me certificar que não havia nenhum sinal da mulher ali, perguntei pro segurança:

– Onde tem bebedouros? Minha amiga disse que ia beber água mas não sei onde... Sabe como é, não sou daqui.

– Se percebe. Seu sotaque americano forçado não engana ninguém – respondeu brincando.

– Não falamos tão diferente assim! – devolvi.

– Okay, pequena inglesinha, os bebedouros ficam ali, ao lado dos banheiros.

– Inglesinha é o... – eu ia dizer só brincando, mas ele riu e me interrompeu:

– Calma, calma. Eu sou o Frank, e você?

– Annabeth – respondi, e só então percebi que o segurança era tão novo quanto eu, reparando melhor nas suas feições.

– Nome legal. Então, Annabeth, não vai procurar sua amiguinha?

– Qual o seu problema? Eu posso processar você por desacato ao cliente, sabia? – falei de brincadeira.

– Se você não é autoridade nenhuma, não é desacato. – disse com sabedoria.

– Um cliente é uma autoridade – mas eu filosofei.

– Só porque você quer! – disse, irônico.

– Espera aqui. – ordenei.

– Não sou seu empregado, qual é! – disse, reclamão.

– Teoricamente você trabalha pra mim, eu sou a cliente, você o funcionário. – fiz ele fazer uma careta em protesto.

– Quero uma gorjeta por isso depois... – resmungou.

– Vai sonhando – falei alto o bastante pra ele ouvir, chamando a atenção de algumas pessoas.

E ele resmungou mais algumas coisas e eu só rolei os olhos. Ao lado de uma livraria tinha o corredor de banheiros e bebedouros e entrei lá. A mulher estava encostada na parede ao celular e parecia meio tensa ao ouvir o que a pessoa estava falando. Quando ela me viu pareceu ficar ainda mais tensa.

– Tenho que desligar, April. Tá bom. Aham, eu ligo depois. Beijo, querida – e guardou o aparelho na elegante bolsa e me esboçou um sorriso. – Algum problema? Eu vim beber água e aproveitei pra usar o banheiro e avisar minha filha que já cheguei aqui.

– Entendo, claro – respondi, não querendo me meter muito, porém curiosa.

Começamos a andar e ela me perguntou:

– Cadê sua mala maior? – ela perguntou, me olhando com curiosidade.

– Pedi pro Frank cuidar dela para mim por um tempinho – disse, indiferente.

– Quem seria Frank? – ela tinha uma sobrancelha levantada.

– Ah, nossa, o segurança – disse, me dando conta que ela não fazia a mínima ideia de quem era Frank.

– Ah, sim. Hum, quer comer algo? – perguntou.

– Pode ser. – meu sorriso era ansioso. Um dia inteiro e eu não havia comido nenhuma refeição de verdade: tomei um copo de suco antes de sair de casa, depois comi naquele Starbucks do aeroporto, depois um sanduíche no avião (que parecia mais de plástico) e a viagem demorou quase dez horas. Quase dez horas com só um lanche de plástico no estômago não é pra qualquer um esfomeado como eu. – Mas você não comeu nada? Eu não quero atrapalhar, sabe...

– Ei, você acha que eu comeria aquela comida carbonizada de astronauta que eles servem? – perguntou, fazendo uma careta.

– Pelo menos as bolachinhas devem ser boas – a fiz rir sonoramente e assentir levemente.

– Acho que o Frank vai perder a paciência se você não for buscar a mala logo – ela brincou, mas o pior é que era verdade. Apressei o passo deixando a moça (que só agora havia me dado conta que não tinha tido a decência de perguntar-lhe seu nome e me apresentar) um pouco pra trás.

Frank estava no mesmo lugar de quando eu o havia deixado, debruçado no carrinho com uma cara pior do que a do meu pai quando eu deixei ele plantado por quase meia hora antes de ir pra sala de embarque.

– Nossa, por que você não demora mais um pouco? – perguntou ironicamente, me fazendo rolar os olhos.

– Acho que obrigada, de qualquer forma – disse, com um sorrisinho. Ele, mesmo com a cara amarrada, retribuiu minimamente. Ouviu-se um barulhinho de celular tocando. Percebi que era o dele. Era Have you ever see the rain, um clássico do Creedence Clearwater Revival. Ele atendeu rapidamente e eu fiquei acompanhando a conversa:

– Alô? Hazel, eu tô trabalhando. Não. Mussarela ou quatro queijos. Manda ele ir pro quinto dos Infernos e sentar no trono do capeta pra ver se apaga esse fogo no rabo dele. Não é isso, Hazz. Calma! EI, HAZEL, PERA, NÃO DESLIGA... – e isso foi tudo o que o Frank falou durante a ligação, e não pude ouvir o que a pessoa do outro lado da linha (pelo que ele falou, Hazel) disse, porque não estava no viva voz e a pessoa não falou alto em nenhum momento. Ri fracamente, Frank pareceu um pouco estressado depois da ligação.

– Pega sua mala logo – disse, impaciente. EI, EU AINDA TENHO DIREITOS DE CLIENTE.

– Sabe, eu detesto parecer indiscreta ou curiosa... – comecei, meio sem-graça mas ainda sim meio risonha – ...mas sua namorada não parecia estar muito feliz. – ele pareceu um pouco envergonhado.

– E-ela não é minha namorada. – que meigo, ficou vermelhinho. Sinto cheiro de amor reprimido.

– Hum-hum. Entendo. Ah, e a propósito, você fica tão bonitinho corado – provoquei-o, fazendo beicinho de brincadeira.

– Eu fico gay corado – falou, me fazendo revirar os olhos.

– Você parece mais legal quieto – eu disse.

– Você parece menos chata quieta – revirei os olhos de novo. Impertinente.

– Ah, vê se cala a boca – reclamei sem paciência. – Licença, será que dá pra você me dar minha mala?

– Com muito prazer. – falou, tirando a mala do carrinho com uma facilidade incrível. Ele a colocou no chão e a empurrou para mim. A velhinha do avião estava sentada em uma mesa de uma lojinha de doces com o nome Soulmate estampado em vermelho numa placa, na frente.

– Frank... – comecei no meu melhor tom de “oi, eu sou muito legal mesmo, agora faça o que eu pedir” que eu pude – Leva a mala até ali? – perguntei, apontando pra mesa do lugar onde a mulher do avião (cujo nome eu ainda não sabia) estava.

– Tsc, tsc, longe demais.

– Ei, vamos lá, você pode carregar muito bem até sem o carrinho! – resmunguei alto. Tem como resmungar alto? O termo certo não seria reclamar? Enfim.

– Esse é o ÚLTIMO favor que eu faço pra você na vida, garota – falou.

– Annabeth Chase – disse meu nome. Odiava ser referida como garota, menina, pirralha, fedelha. Era desagradável ao máximo pra mim.

– Frank, mas isso você já sabe – disse com um meio-sorriso. – Frank Zhang. Mas o sobrenome não aparece no crachá dos seguranças.

Depois disso, ele só levou a mala até a mesa e se despediu com um aceno.

– Fez um amigo? – a mulher do avião perguntou com um sorriso malicioso, não pude conter um riso meio escandaloso.

– Não faz muito o meu tipo. Qual seu nome, a propósito? – perguntei, tentando ser discreta.

– Céus! Mil perdões, eu esqueci completamente das devidas apresentações. Judith Collins. – falou, com a mão na testa dramaticamente.

– Annabeth Chase – respondi-a. Eu estava socializando muito naquele dia, já tinha dito isso pra três pessoas e agora para ela.

– Chase é um sobrenome um tanto conhecido, seu pai trabalha com ciência ou aeronáutica, não é mesmo? Puxa, não me lembro bem... – ela disse, fazendo uma feição pensativa.

– Sim, Frederick Chase... bem, ele é meu pai. Trabalha com aeronáutica e ficou um pouco conhecido por trabalhos científicos e mínimas parcerias com a Nasa, coisas do gênero. – disse num fôlego só, ela me olhou sorridente.

– Deve ser de muito orgulho ter um pai inteligente assim – suspirou, passando a mão no coque de seus cabelos.

– De perto não é tão legal assim – resmunguei pra mim mesma, porém ela pareceu me ouvir e ficou com a testa franzida, e eu pude praticamente ver uma interrogação exposta na sua cara. – Esquece.

– Como é sua família? – indagou para quebrar o gelo – Aqui, por favor! – fez um gesto com a mão para a atendente, já que as garçonetes deveriam estar de folga ou algo assim.

– Uma... família comum – falei, mas minha voz saiu meio estrangulada e ela pareceu notar isso e analisou meu rosto com atenção. – Ahn... – pigarreei. – Temos problemas e discussões como qualquer família. Minha mãe vive brigando com os vizinhos e meu pai passa a maior parte do tempo trabalhando com as coisas dele. Meu irmão mais velho saiu de casa faz dois anos e minha irmã mais nova cria caso comigo pelas coisas mais desnecessárias imagináveis. Enfim, problemas que todos tem.

– Compreendo. Seu irmão saiu de casa por que? – indagou, me olhando com curiosidade.

– Faculdade. Moramos em Liverpool e ele queria ingressar em Londres. – respondi com indiferença, mas um enorme nó se formou em meu peito. Sentia muita falta de Paul. Ele nunca foi do tipo responsável e quase nunca nos visita, mas diz que é por falta de tempo. Ele era uma pessoa maravilhosa, porém a responsabilidade estava bem longe dele.

– Então vocês são três... você, este seu irmão e a mais nova?

– É – concordei, transparecendo desinteresse no assunto.

– O que vão querer? – peguntou uma moça de cabelos escuros e sorriso de “eu tenho 32 dentes”, com o uniforme da loja, cujo crachá dizia Sally Jackson. O nome me fez lembrar mais que imediatamente o cara do Starbucks e eu fiquei refletindo sobre quantas famílias no mundo inteiro tinham o sobrenome Jackson.

– Sally, querida. É sempre muito bom a ver – Judith falou, sorrindo.

– Acho que posso dizer o mesmo – disse a atendente, retribuindo levemente o sorriso. – Mas, então, vão querer o que?

– Dois cafés comuns e cupcakes maravilhosos que só tem aqui.

– Recheio rosa, amarelo, verde ou azul? – perguntou distraída, anotando algo no bloquinho.

– Você sabe que sempre será azul. – falou, piscando para a tal Sally, com um ar brincalhão.

– Certo – respondeu com um sorrisinho, arrancando a folha com anotações do bloquinho e se afastando.

– Se conhecem? – indaguei retoricamente. Tenho certeza que ela esperava ouvir essa pergunta.

– Tempos de faculdade. – deu de ombros, como se não fosse nada importante. Pensei em como, sendo formada, Sally trabalhava como garçonete. Bom, Judith explicou sem eu precisar perguntar – Éramos eu, ela e Katie. Eu me formei em pedagogia e depois de cumprir o tempo para me aposentar, me aposentei como professora. Katie estudou moda e foi para a Itália, para quem trabalha com essa questão de estilismo, na Europa as oportunidades são mais extensas. Já Sally... sinto muito por ela até hoje. Fez faculdade de ciência da computação mas não pôde receber o diploma. Engravidou na época dos últimos trabalhos, e o homem se separou dela. Ainda a manda um dinheiro, mas nem uma babá a salvou da reprovação. Sinto realmente, muito por ela, até hoje. – interrompemos a conversa por um momento, pois Sally tinha chegado com a comida e parecia distraída, nem imaginando que o assunto era ela.

Quando se afastou, recomeçamos a conversa:

– E então? – perguntei, com curiosidade.

– É isso. Uma gravidez por falta de cuidados resultou na reprovação dela. Eu realmente sinto muito por tudo que aconteceu na vida daquela mulher. Ela é muito batalhadora – repetiu.

– Por que ela não tenta fazer uma faculdade hoje em dia? – perguntei, com a cabeça tombada no ombro, como se analisasse a mulher encostada no balcão, anotando algo no bloquinho.

– Faculdades encarecem mais a cada ano. – respondeu simplesmente.

– Por que ela não tenta uma faculdade pública? – indaguei com a sobrancelha arqueada. – É bem melhor, até.

– Porque a faculdade pública tem uma complicação de provas na hora de entrar e Sally não teve a exata educação pra isso. A admiro pela sua humildade, paciência e otimismo. A admiro muito mesmo. Ela é uma mulher muito especial. De verdade. Mas simplesmente precisa de mais cursos pra uma faculdade, e se recusa. – seu tom era manso e cheio de orgulho. Sorri com isso. Mirei a mulher distraída encostada no balcão com mais respeito.

– Sei. Ãh, então, ela teve mais filhos além deste? – perguntei distraidamente.

– Não. Não teve muitos relacionamentos depois deste, na verdade. Namorou por um tempo com alguns homens, mas... nada deu muito certo. Apenas está casada agora com Gabe Johnson, eu acho. Uma relação instável e com separação de bens. Acho que Gabe pretende se separar dela e não quer ter que dividir nada. É horrível. Ele não é muito inteligente, cheira mal, não tem dinheiro e ainda é feio. – ela fez uma careta. – Mas o pior... é que eu não sei se Sally realmente gosta dele. Acho que ela merece coisa bem melhor.

Examinei melhor a mulher, ainda encostada no balcão. Era morena e tinha olhos escuros com olheiras arroxeadas bem notáveis. Sua feição era cansada e sua testa parecia enrugada pela preocupação. Seu rosto estava enterrado nas palmas das mãos e ela estava escorada no balcão. Ela era muito magra e não tinha muita abundância de curvas. Era tão baixa quanto eu e seu sorriso – pelo que eu já havia visto – era radiante. Seus dentes eram brancos e alinhados e tinha um batom claro em seus lábios finos. Era difícil encontrar garçonetes de idade.

Mas diferentemente de Judith, que aparentava uns 60 anos, eu daria para Sally uns 40, e até mesmo uns 30. O nariz não era arrebitado, ele era meio reto e ela usava brincos de lua. Seu uniforme era uma legging e um tênis, junto à uma camiseta com a mesma estampa da placa e um avental branco por cima.

Seu rosto, no geral, era definitivamente muito bonito para a idade que devia ter (se havia mesmo feito a mesma faculdade que Judith na mesma época), e seu corpo magro era invejável para muitas pessoas. Não tinha coisas como pelancas ou rugas, apenas a expressão preocupada, que era composta de testa franzida e olheiras eram o que a deixava mais velha.

Então veio uma coisa à minha mente.

***

Enquete:

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Notas finais do capítulo

foi o pior capítulo, o mais chato, né? foi simplesmente pra vocês conhecerem a história da annabeth e do percy melhor.
...
no mais, acho que sem outros avisos. ah, o próximo não tem data pra sair. porque nem sempre consigo acompanhar o ritmo de um cronograma e tal, portanto tem essa de falta de criatividade e tempo ainda por cima. ainda por cima, as aulas estão chegando. não se esqueçam da fic e, por favor, ponham nos acompanhamentos pra não deixarem ela de lado e saberem das atualizações. por fim, agradeço novamente à Letícia pela lindaaaaa primeira recomendação.
xoxo see you