A entrada da casa era cercada por palmeiras, a estrada era dividida em duas, uma para entrada e outra para saída e entre as duas tinha uma piscina natural em toda a sua extensão e no final tinha um grande chafariz todo trabalhado no mármore. A casa, que na verdade era uma mansão, era de um tom bege claro e o telhado branco. Tinha várias janelas na frente, pelo menos quatro andares e uma grande escadaria que levava para uma varanda, onde ficava a entrada principal. A porta era como se fosse um arco, toda de vidro. O terreno da casa parecia ser imenso, demoraria muito tempo para conhecer tudo e todas as flores e plantas que tinham lá.

O motorista parou em frente à escadaria e assim que saímos do carro apareceram duas mulheres, que aparentavam ter seus 17 e 40 anos, na porta da frente. Pelas roupas que usavam deduzi que a mais velha era a governanta e a outra uma empregada da casa. Ambas desceram as escadas e vieram ao nosso encontro, pelo canto do olho percebi que um rapaz estava pegando minhas bagagens no porta-malas do carro.

– Bom dia senhorita! Como foi a viagem? – perguntou à senhora que aparentava ter 40 anos, a que parecia ser governanta da casa, com um inglês fluente, o que me lembrou de que eu deveria falar em inglês com ela também.

– Um pouco cansativa, mas estou bem. Por favor, me chame só de Amy. Sem formalidades. – sorri gentilmente e ela contribuiu com outro sorriso, um pouco forçado. – A senhora é a governanta, não é?

– Sou sim, me chamo Evelyn, e essa é Samantha, ela está aqui pra servir você qualquer coisa que precisar fale com ela que ela arranja pra você. – olho pra Samantha. Ela parece ter cerca de 17 anos, era ruiva e tinha algumas sardas no rosto, dando-lhe um charme. Seus olhos castanhos escuros estavam vidrados em mim, admirados. Sorrio pra ela que devolve o sorriso facilmente, mas logo para de sorrir e abaixa a cabeça. Franzo o cenho e olho para Sra. Evelyn. – Seja bem vinda, vou te deixar nas mãos da Samantha, ela vai te apresentar a casa e mostrar onde fica seu quarto, caso queira descansar. Sua mãe me contratou pra deixar a casa em ordem acima de qualquer coisa, então se tiver algum problema pode me procurar.

– Obrigada Senhora Evelyn. – respondi e ela voltou para a casa, voltei-me para Samantha que agora sorria de novo, empolgada. Escutei Liam e Belle sorrindo atrás de mim. – O que eu perdi gente? – voltei-me para meus amigos, falando em português mesmo.

– Você acabou de conhecer o carrasco, mal a conheço e já não suporto aquela mulher. – comentou Belle fazendo uma careta, o que fez com que eu e Liam começássemos a rir. Virei-me para Samantha que nos encarava com curiosidade.

– Samantha não é? – voltei a falar inglês, ela assentiu. - Sou Emily, mas pode me chamar de Amy. E nada de senhorita ou coisas do tipo, por favor.

– Sempre quis te conhecer, já ouvi muitas coisas sobre você. Você é igualzinha às fotos, até parece uma boneca de porcelana! – ela começou a falar rápido, muito empolgada.

– Er... Obrigada, eu acho. – sorri timidamente. – Quantos anos você tem Samantha?

– Tenho 19 anos.

– E por que está trabalhando aqui? – perguntei com curiosidade

– Preciso do dinheiro pra pagar a mensalidade da faculdade.

– Não atrapalha você trabalhar e estudar ao mesmo tempo não?

– Não trabalho o dia todo, normalmente não preciso vir quando tenho aula.

– Faz faculdade de que Samantha?

– Por favor, só Sam. Menos na frente da Sra. Evelyn, digamos que ela não permita que os funcionários tenham muita proximidade com os patrões. – ela disse nos encaminhando para a escadaria da frente, que dava para a entrada da casa. – Faço faculdade de psicologia. Minhas aulas são à noite, poucas são pela manhã.

– Entendi. – comentei baixinho. – Pode me mostrar meu quarto? Quero tomar um banho e descansar. Depois conheço a casa, terei bastante tempo pra isso. – comentei

– Claro! Isabelle, Liam, vocês vão nos acompanhar também ou vão ficar por aqui? – Sam perguntou parando na porta e voltando-se para meus amigos

– Eu vou ficar com Amy no quarto dela por enquanto, depois vou pro meu quarto. – disse Belle grudando no meu braço, o que me fez sorrir.

– Eu vou ficar na sala de televisão mesmo. – disse Liam, Sam fez menção de mostrar onde ficava, mas ele completou. – Não se preocupe comigo, sei onde fica. Pode ir mostrar onde fica o quarto de Amy, ela deve estar muito cansada. – ele passou por mim, me deu um beijo na testa e entrou na casa. Entramos logo depois.

A casa por dentro parecia bem maior do que vista por fora. O hall de entrada era imenso, com uma escada em arco de cada lado que levava para o andar de cima. O piso era todo de porcelanato branco e as paredes eram um bege clarinho, o que fazia com que o carpete marrom da escada e o lustre dourado que descia do teto e ia até perto do topo da escada se destacassem. Imaginei que aquilo seria obra da minha mãe, ela adora coisas grandes e chamativas. No inicio de cada escada tinha uma grande entrada.

– À esquerda fica a sala de jantar, a cozinha e o bar e à direita fica a sala de estar, sala de musica, biblioteca e o escritório do seu pai. – disse Sam encaminhando-se para a escada da direita. – No segundo andar ficam o quarto dos seus pais, três quartos de hospedes e a sala de televisão. No final de cada corredor tem uma escada que leva para o terceiro andar que é onde fica seu quarto, mais dois quartos de hospedes e o salão de jogos. – Ela disse seguindo o corredor da direita, o teto desse andar era rebaixado com gesso e com várias luzes de led, que davam um charme. Passamos em frente à sala de televisão e pude ver com o canto do olho Liam esparramado no sofá assistindo a um filme numa televisão enorme e comendo pipoca.

– Deveriam chamar de sala de cinema, você já viu o tamanho daquela televisão? – perguntei brincando pra Belle que me seguiu rindo.

Subimos a escada lateral que dava no andar do meu quarto. Esse andar também tinha o teto rebaixado a gesso e os leds estavam ligados, fazendo com que o interior tivesse uma claridade maior, já que todas as portas dos quartos estavam fechadas.

– Seus pais que escolheram esse quarto pra você, disseram que iria gostar da vista. – Samantha disse abrindo a primeira porta do lado direito e me dando passagem, entrei seguida de Belle e Sam que não paravam de sorrir.

Paralisei na porta do meu quarto, ele dava pelo menos dois do meu anterior. Tinha poucos moveis, mas era bem aconchegante. O chão do meu quarto era todo forrado com um tapete branco e muito macio, a cama era bem maior que a minha antiga, mas meus pais deixaram o quarto com o mesmo estilo do da minha outra casa, só que tudo maior. A televisão, o criado mudo, minhas estantes de livros e minha mesa de estudo com meu notebook, estavam tudo maior pra se adequar com o tamanho do quarto. O único móvel que fora adicionada foi um pufe do outro lado do quarto em frente à varanda. As paredes eram brancas, o teto tinha partes mais baixas que outras que eram marrons enquanto as outras eram beges.

No quarto tinha duas portas, fui até a primeira que dava no closet, que não estava tão cheio, percebi que minha mala estava ao lado de um sofá vermelho que tinha lá dentro. Acho que minha mãe estava me esperando chegar para encher meu guarda-roupa.

– Eu disse que você quase não tinha roupa aqui. – comentou Isabelle que já estava atrás de mim, fiz uma careta.

– Já aceitei ir com você no shopping hoje, não precisa ficar me lembrando disso. – comentei e ela sorriu vitoriosa sentando-se no sofá. Decidi olhar as roupas que minha mãe tinha comprado depois.

Dentro do closet tinha a porta do banheiro que não era tão grande e cujo piso era todo trabalhado no mármore bege. Agradeci mentalmente por pelo menos isso não ser tão grande.

Voltei para o quarto e fui para a varanda, abri a porta e me encantei com a vista. Nisso meus pais estavam certos, era uma linda vista. Minha varanda dava para a área da piscina e do jardim, a visão dos dois juntos era belíssima. Vi ao longe um balanço no meio do jardim, um lugar bem escondido. Ali seria um ótimo lugar pra ficar quando quisesse ficar sozinha, pensei comigo mesma. Percebi que tinha duas poltronas e uma mesinha de centro ali na varanda, para descansar aproveitando a vista.

– Senhorita Emily... - me virei quando escutei a voz de Samantha. – Quer dizer, Amy. Preciso voltar ao trabalho agora, se precisar de qualquer coisa pode me chamar. Ao lado da sua cama tem um interfone que apita na cozinha quando acionado, é só pressioná-lo que chego o mais rápido possível.

– Obrigada Sam, eu amei meu quarto. – disse sorrindo

– Eu também! – Isabelle pulou na cama e ligou a televisão. Eu e Samantha rimos.

– Ah! Seus pais disseram pra você dar uma olhada naquela porta depois, disseram que você iria pirar. – disse Sam apontando para a outra porta que eu tinha visto quando entrei no quarto, já tinha me esquecido dela. – Bom, deixe-me ir que tenho muita coisa pra fazer. Quando o almoço estiver servido aviso.

– Obrigada Sam. – ela pediu licença e saiu do meu quarto. Comecei a sentir o cansaço da viagem pesar, até que me toquei de uma coisa. -Que horas são Belle? – perguntei, voltando a falar em português.

– Agora são, - ela olhou no celular. – 9:48 no horário daqui.

– Já tinha me esquecido do fuso horário. Pelo menos dá tempo de tomar um banho e deitar um pouco. – fui até o closet, peguei minha mala, tirei um shortinho folgado e uma regata de dentro dela, fui ao banheiro e coloquei a banheira pra encher. Belle sentou-se no sofá do closet e ficou mexendo no celular.

– Gente boa essa Sam, né? – ela perguntou enquanto eu pegava meu roupão no armário do banheiro e colocava perto da banheira.

– Também gostei dela, ela parece ser bem animada.

– Pelo menos eu sei que você não vai ficar sozinha aqui, já tem uma fã! – escutei Isabelle gargalhando, o que me fez rir também.

– O que você e Liam ficaram fazendo quando chegaram? – perguntei enquanto prendia meu cabelo em um coque alto. Tirei minha roupa e entrei na banheira, a agua estava morna e senti meu corpo relaxar instantaneamente.

– Nos instalamos nos dois quartos desse andar, que também são lindos, diga-se de passagem, eu tomei um banho e depois fui encontra Liam na sala de televisão. Ele também já tinha tomado banho e tava assistindo um seriado lá. Como chegamos de madrugada não dava pra sair pra lugar nenhum, e você deveria chegar em 1 hora e meia, não sabíamos que ia atrasar. Até andei um pouco pelo jardim, ele é enorme, quase me perdi. – ela comentou rindo

– Cheguei era umas 8:30, vocês não saíram pra conhecer a cidade depois que amanheceu não?

– Saímos com seus pais, passamos pelo hospital que sua mãe tá trabalhando e a empresa que seu pai tá administrando. Ele não tava brincando quando disse que o governador queria investir nas ideias do seu pai. A sede da Johansson’s and Associated está em um enorme prédio comercial bem no centro da cidade. Seu pai tá tinindo de animação, na boa. – ela sorriu de novo. A Johansson’s and Associated era o nome da empresa do meu pai, ele colocou esse nome em homenagem a mim e a minha mãe. Ele era engenheiro ambiental e fazia projetos pensando num futuro sustentável. Ele administrava obras de todo tipo, sempre visando o melhor para o futuro do mundo. – Ah! Seu pai disse que amanhã vai nos levar pra sua escola. O governador cuidou da sua matricula e pediu pro diretor da escola mandar uma aluna te mostrar toda a escola, e é claro que eu e Liam vamos com você. Temos que saber quem serão as novas pessoas que você vai conviver e seus futuros amigos. Parece que eles só vão ter o recesso do natal e ano novo e já começam as aulas logo em seguida, ou seja, temos 4 semanas pra conhecer a cidade antes que suas aulas comecem.

– Só quatro semanas? – perguntei, queria mais tempo pra ficar com meus amigos. – E eu achando que esse seria o ultimo ano no colégio com gente falsa tentando se aproximar de mim. – comentei irônica. Saí da banheira e vesti meu roupão, estava me sentindo bem melhor. Vesti-me, abri o ralo da banheira e fui escovar os dentes.

– Deixa de ser dramática. Você é esperta, vai saber quando alguém quiser apenas se aproveitar de você. – Saí do banheiro e fui direto pro quarto.

– Se você acha quem sou eu pra discordar. – revirei os olhos, me joguei na cama e liguei a televisão e o ar condicionado. Já estava muito acostumada com pessoas que só se aproximavam pra tentarem se aproveitar do dinheiro que minha família possuía, sabia o quanto isso era comum. E sabia também que aqui não seria diferente. Isabelle deitou-se na cama também.

– Olha isso. – virei-me pra ela e a vi pegar um controle e apontar pras cortinas da varanda, apertou algum botão e elas começaram a se fechar. – Legal né? Assim você nem precisa levantar da cama quando estiver muito cansada.

– Amei essa ideia!

Ficamos deitadas conversando por mais alguns minutos, até meus olhos começarem a se fecharem sozinhos. O quarto estava pouco iluminado, já que algumas luzes de led estavam ligadas, assim como a televisão, e bem geladinho, o que me deixou com mais sono. Antes de deixar a escuridão completa me levar, escutei o voz de Belle distante dizendo que iria me deixar dormir e na hora do almoço voltava pra me chamar. Assim que ela saiu eu dormi.