Disenchanted escrita por Diana


Capítulo 3
III - O conselho confuso


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Mais um capítulo! Espero que gostem (e comentem), afinal, quero saber o que vocês estão achando.

Boa leitura!



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III

O conselho confuso

“Tem dias que tudo está em paz
E agora os dias são iguais”

( Angra dos Reis, Legião Urbana)

Estava treinando, ou tentando treinar, numa parte mais isolada do Acampamento. Fazia uns dias desde que havia completado minha missão. Fazia uns dias que não falava com Annabeth ou os outros. Quer dizer, Tyson foi para o fundo do mar, convidado por Poseidon, Grover, bem, Grover estava por aí, perseguindo as dríades. Percy voltaria para sua casa e Annabeth...

Bem, Annabeth continuaria por aqui, como eu, mas eu não sei como seria. As coisas tenderiam a voltar ao normal. Disputaríamos, brigaríamos, implicaríamos uma com a outra. Como deve ser entre uma filha de Atena e uma filha de Ares.

Entretanto, algo em mim não queria isso. Sei lá o por que. Talvez Annabeth fosse diferente dos outros filhos da sabichona do Olimpo, ou talvez, após a missão, eu queria que ela fosse diferente dos irmãos.

Grunhi alguma coisa como para tentar afastar meus pensamentos que ultimamente tem se concentrado, e muito, nela. Golpeei umas folhas de árvores com o braço bom, mas não saiu como o esperado. Decidi sair dali. Se alguma dríade me visse treinando em uma árvore estaria em apuros.

Voltei à área central do Acampamento, onde os chalés ficam dispostos em forma de U. Sem querer meus olhos se desviaram para o chalé seis, o chalé de Atena. Suspirei. Desde o jantar após nossa volta Annabeth não fala comigo. Quer dizer, por que diabos isso importa tanto para mim? Já passei meses sem conversar com ela. Um dia ou outro sem a companhia dela deveria ser tranquilo.

Apressei o passo. Não conseguiria treinar e ainda tinha que me aprontar. Estremeci. Tinha que me aprontar para me encontrar com meu pai, Ares. Aparentemente ele queria falar comigo algo sobre a missão, me congratular. Não que eu não gostasse dele, o contrário. Mas, bem, quando seu pai é o deus da guerra... O relacionamento não é lá muito saudável.

Vi uma figura loira saindo do chalé de Atena, vestida com armadura. Era Annabeth. Ergui meus olhos e encontrei os dela no caminho. Ela estava linda. Os poetas costumam chamar isso de glória guerreira ou algo do tipo. Nunca tinha reparado o quanto ela ficava bem dentro de uma armadura. O peitoral ainda por terminar de ser posto, a saia, os braceletes e um elmo com uma crina vermelha em uma das mãos. Talvez ela ficasse bem porque fosse filha de Atena, sei lá.

Sem perceber, já tinha subido os degraus que davam para a entrada do chalé de Atena, onde Annabeth estava. Ela ergueu uma sombracelha, como se esperasse que eu fizesse ou dissesse algo idiota.

– Oi. – Foi a única coisa que consegui emitir.

– Olá, Clarisse. – Ela disse, me olhando um pouco fria, botando o elmo no chão para terminar de ajustar o peitoral. Ou talvez fosse o efeito da cor dos olhos dela.

– Patrulha? – Eu perguntei, querendo me dar um soco após. Era óbvio que ela ia para a patrulha. Após pegarmos o velocino, grupos de campistas se revezavam patrulhando a árvore para que nada acontecesse ao velocino ou ao Acampamento, uma vez que nossas barreiras ainda estavam fracas.

– Sim. – Ela não deu muita ideia. Ainda estava ajustando a armadura ao corpo.

– Aqui, deixe-me ajudar. – Eu disse e me pus atrás dela. Puxei uma das alças do peitoral e ela terminou de amarrá-las.

– Obrigada. – Annabeth disse meio sem jeito antes pegar o elmo, descer as escadas e ir para as bordas do Acampamento. Acho que ela tinha me agradecido muito essa semana. Não estava muito acostumada a ouvir essa palavra, especialmente dela. Apenas assenti com a cabeça. – E o braço? – Ela perguntou enquanto caminhávamos em direção à entrada.

– Está melhor. Talvez mais uma semana e já posso voltar aos treinos. – Respondi e ela pos uma mão no meu braço que estava na tipóia e o apertou. Deixei escapar um gemido abafado.

– Acho que uma semana é pouca. – Ela disse, com um sorriso desdenhoso nos lábios. - Mas não é como se você ouvisse as recomendações.

– O que quer dizer com isso? – Eu perguntei, realmente não entendendo a brincadeira e ela revirou os olhos.

– Você tem treinado. Em algum lugar escondido, mas tem treinado. – Ela disse num tom que mais parecia uma advertência. Como se estivesse me reprimindo. Não gostei daquilo.

– O que eu faço não lhe diz respeito, filha de Atena. – Eu disse e dei meia volta, batendo os pés. Trombei com Jackson que vinha atrás de Annabeth e fiz questão de bater meu ombro no dele e lhe dar um belo empurrão para trás. Ele fez aquela cara de idiota e continuou seu caminho.

Já era quase noite quando finalmente tomei coragem e decidi sair do chalé de Ares. Esgueirei-me mato adentro, perto de um local que eu considerava meu. Havia marcado a casca de uma das árvores com duas lanças se cruzando com canivete.

Recostei-me sobre essa árvore e brinquei com algumas folhas caídas antes de olhar para o céu. Consegui avistar Hércules, ajoelhado no céu, voltando sua imensa clava para o Dragão. É incrível o quanto as estrelas contam sobre nós, semideuses. Perguntei-me se um dia estaria na abóbada celeste, juntamente com tantos outros.

Suspirei pesado. Eu sabia que tinha algo me incomodando desde minha viagem até o Mar de Monstros, mas não conseguia identificar o que era. O velocino fora encontrado, a árvore de Thalia estava se recuperando, o Acampamento estava a salvo. O que diabos estava me dando essa sensação de... Vazio?

Ouvi passos se aproximando e rapidamente me pus de pé, com minha espada em punho. Olhei para o lugar de onde viera o barulho, mas logo baixei a guarda ao perceber que quem se aproximava era Silena. Meus olhos encararam os dela e voltei a me recostar no tronco da árvore. Silena chegou mais perto e sentou-se ao meu lado.

– Clarisse? – Ela me perguntou meio preocupada. Apenas a olhei.- Quíron está a procurando. Algo sobre uma visita. – Deuses! Eu me esqueci! Meu pai vai ficar uma fera. Silena deve ter percebido minha mudança, pois se levantou e sem uma palavra sequer ajudou a me erguer do chão.

– Obrigada, Silena. – Praticamente cuspi as palavras antes de tomar meu caminho para a Casa Grande.

– Ei, Clarisse! – Silena me chamou e eu me voltei, um pouco brava com ela. Se ela soubesse quem estava à minha espera, não me faria perder um segundo. – Essa confusão aí dentro vai passar.

Não consegui responder nada. Apenas fiquei lá, olhando para ela com cara de boba. Não entendi ao que ela estava se referindo. Eu juro que tentei elaborar uma resposta que não tivesse algo agressivo no meio, mas nada me vinha e a cada segundo eu me sentia mais idiota e ficava mais vermelha.

– Acho que você precisa ir para a Casa Grande, não? – Silena me poupou do trabalho. Acho que ela percebeu (ou até esperava, sei lá) minha confusão. Não tinha tempo para conversinhas agora. Simplesmente bufei e sai correndo. Tinha de me apressar.

Corri o máximo que consegui. Esbarrei em um ou outro campista, derrubei uma menina do chalé de Deméter, mas nem parei para pedir desculpas. Eu não peço desculpas. Já estava chegando à casa grande quando vi uma figura se aproximar cada vez mais rápido. Ia bater em mim! E eu estava rápida demais para parar. Bom,se fosse para colidir, que fosse em estilo.

Sou uma guerreira e adoro situações que estimulem o uso de força bruta. Quando percebi que não daria para evitar a colisão, joguei meu peso para frente. Sabia que alguém ia se machucar na brincadeira. Se fosse um dos meus irmãos ou algum dos garotos de Hefesto, certamente, eu sairia mais machucada por conta do braço. Mas se fosse um dos sabichões do chalé de Atena ou os exibidos do de Apolo, ou os espertinhos do de Hermes, eu ganharia o dia.

A colisão veio, certeira e destrutiva. Um barulho de algo de metal se chocando com o chão se fez ouvir até uma boa distância. Uma pequena nuvem de poeira se fez no local do encontro forçado. Senti minhas costas baterem no chão. Pela força do impacto, acho que atingi um dos brutamontes do meu chalé.

Como me enganara. Uma figura loira e feminina estava em cima de mim. E, para meu espanto, percebi que era Annabeth. E para piorar as coisas, ela ainda estava vestida com a armadura que a vira mais cedo.

Ainda atordoada, ela levantou a cabeça e rosto e percebi que ela tinha um corte fino na testa: apoiou as mãos no chão, saindo parcialmente de cima de mim. Seus olhos focalizaram meu rosto e, quando ela me reconheceu, pude ver uma tempestade se formando.

– Clarisse! – Ela bufou, levantando-se com alguma dificuldade graças ao peso da armadura. – O que diabos deu em você? – Ela praticamente gritou, indo pegar seu escudo que parara alguns metros longe.

Apenas me sentei. Parecia que todo o chalé de meu pai tinha caído em cima de mim. Annabeth meio que se apiedou de mim e me ofereceu a mão, mas acho que fiz outra besteira, pois, por impulso, dei um tapa na mão que ela me ofereceu e me ergui com raiva.

– Eu que te pergunto! Você que estava correndo como uma louca! – Respondi-a. Odiava pessoas gritando comigo. E odiava pessoas me oferecendo ajuda

– E você veio para cima de mim! – Mais uma vez estávamos na mesma posição quando chegamos à Miami após recuperarmos o velocino: De frente uma para a outra, os rostos praticamente colados, dentes cerrados e olhos exprimindo raiva. Alguns curiosos se aproximaram à procura de confusão.

Mas, novamente, algo baniu a raiva da minha cabeça. Só agora percebi que era a mesma sensação que tive em Miami. A de que eu não me perdoaria se encostasse um dedo nela. Bufei, realmente bufei, sentindo minha respiração bater contra o rosto dela, que não arredou um milímetro do meu. Normalmente, só o fato de eu fechar a cara para alguém já é motivo de sair correndo. Bufar em cima, então...

– Clarisse! Annie Bell! – Era a voz do Sr. D. Provavelmente ele deve ter escutado a colisão e a gritaria. Não que ele se importasse.

– É Annabeth. – Annabeth o corrigiu, com seus olhos ainda sustentando aos meus. A raiva ainda presente neles

– Tanto faz. Entrem. Tenho algo a discutir com vocês. – Ele deu de ombros e entrou, esperando que o acompanhássemos. Bom, acho que se ele percebeu que estávamos meio que num impasse, não deu muita bola. Meus pés estavam presos ao chão e meus olhos focados em Annabeth, como se ela fosse uma presa ou uma caçadora.

– Meninas. – Uma voz masculina nos chamou. Era Jackson. – O Sr. D. está esperando. – Ele dizia com todo o cuidado, como se temesse que toda a fúria retida entre mim e ela se voltasse contra ele. Não o culpei.

Vi Annabeth desfazer sua postura lentamente e se virar para a Casa Grande abrindo caminho entre os campistas que observavam a peleja. Olhei para Percy furiosa e ele estremeceu. Dei o mesmo olhar para os curiosos que ficavam. Todos arredaram e me deixaram passar. Mas não o fiz sem dar uns esbarrões propositais em um ou outro.


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Notas finais do capítulo

Obrigada!



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