The Legends of Hogwarts - O Legado de Slytherin escrita por Sídhe, Thiago, Pam


Capítulo 2
Leo


Notas iniciais do capítulo

Capítulo feito pela June.



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"Butch passa para Jake, Jake manda de volta para Butch, que deu um belo Passe de Revés para Charles Beckendorf. Charlie dribla Jason, capitão da Sonserina, enquanto Reyna tenta encurralá-lo. Será que ele conseguirá marcar encima de Sherman, senhoras e senhores? E whoa! Ele conseguiu, pessoal! 10 PONTOS PARA A-"

Três batidas ecoaram com força da porta. Ele estava sentado na cadeira da pequena escrivaninha bagunçada, cheia de cartas e lápis de desenho quando pôde ouvir:

– Tem pessoas que gostam de dormir aqui. – A voz da garota saia abafada pela porta fechada, mas ele poderia a ver claramente revirando os olhos. – São 6 da manhã, então faça-me a gentileza de calar a boca, Valdez!

Ele sorriu.

– Tudo que você quiser, meu bem! – Leo debochou e pegou novamente o microfone que segurava, antes fingindo estar narrando um jogo de Quadribol – "E agora com a nossa programação radiofônica, Nancy Bobifit com seu grande sucesso 'Me deixe dormir ou darei sua língua aos corvos'. Seguido de nosso intervalo comercial: Travesseiros Nancy, seus melhores abafadores de ouvido."

Pôde ouvir um grunhido irritado do outro lado, enquanto a garota ia embora e ele dava um pequeno riso. Leo voltou sua atenção para o malão aberto encima da cama, completamente ocupado por suas roupas dobradas com perfeição e meias organizadas por cores. Assim como haviam algumas embalagens de doces trouxas espalhadas pelo quarto bagunçado, e potes de Caldeirão de Chocolate que costumavam ficar escondidos entre suas roupas de cama na cômoda, para o caso de fome nas noites em que passava no Orfanato North Houston. Uma fraca chuva caía do lado de fora de sua janela, o tempo nublado deixando o tempo com um aspecto cinzento e frio. Como sempre na velha e chuvosa Londres. Ele já havia se acostumado com o ar puído e a sensação de um bairro pouco frequentado em relação aos outros, logo depois de chegar ali.

A verdade é que ele sempre ficara lá todos os anos após a morte de sua mãe, antes mesmo de descobrir o fato de ser bruxo, o que o fazia pensar que diminuiria a chances de ser insignificante naquele mundo. Tendo Nancy, um ano mais nova que ele e com cabelos castanho-avermelhados, como colega de porta desde os 14, Leo se sentava em sua cadeira durante o verão todo e começava a rabiscar coisas aleatórias em seu caderno. Na maior parte das vezes, vassouras de corrida criadas por ele mesmo com um amortecedor mais prático e confortável, ou até mesmo baseado em um tipo de airbag trouxa que ele tinha certeza que o Ministério da Magia reprovaria ao passar pelo setor de esportes mágicos.

Esticou-se para pegar os livros que precisava nas suas prateleiras, embutidas em todas as paredes. Dezenas de livros com capas falsas misturados aos trouxas, que ele nunca sequer tocara, a não ser os de física e engenharia mecânica. Apesar de não frequentar uma escola trouxa, as pessoas constantemente o perguntariam se era adorador do cara lá de baixo caso deixasse seus livros de magia à mostra num orfanato repleto de crianças, então tivera que comprar aquelas edições com um feitiço especial na Floreios e Borrões, mas não sem antes perder galeões para Travis e Connor Stoll ao tentarem fazer o feitiço eles mesmos no seu livro de Transfiguração (o que lhes custou sua integridade com a professora Lupa ao transformar acidentalmente a capa de Guia Para Transfiguração Avançada numa PlayWizard).

Jogou um livro dentro do malão, resmungando.

– Cinquenta pontos a menos por pornografia bruxa que nem era culpa minha, francamente... - Bufou.

Vasculhou a prateleira com a mão outra vez, mas derrubara algum tipo de papel e o pegou do chão. O papel era roxo, com um castelo medieval por trás de uma moldura e estrelas que pareciam brilhar de verdade. A figurinha com formato de pentágono exibia um espaço vazio na moldura. No rodapé dizia: Merlin. Sorriu, feliz por encontrar aquela figurinha. Não era só uma figurinha de Merlin, mas A figurinha de Merlin. Edição Especial de 2008, com detalhes em ouro e tempo extra do bruxo famoso em sua moldura. Aquela era a carta da primeira vez que comera um sapo de chocolate, à bordo do expresso de Hogwarts.

Talvez fosse loucura dizer, mas ele preferia voltar ao tempo antes de ganhar aquela figurinha. Alguma pessoas poderiam afirmar que ser bruxo deveria ser algo excitante e incrivelmente legal, mas não era bem por aí. Ele tinha uma vida melhor antes de tudo aquilo. O primeiro motivo era sua Tía Rosa, tão doce quanto o nome. O tratava como um rato, preso naquele quarto, a não ser quando estava fazendo algum serviço para ela, que era contra o fato de seu sobrinho ter matado a própria mãe, e pior, o motivo para a ter matado ter sido sua magia. Leo aprendera a superar aquele dia, mas ainda assim era difícil. Ele podia lembrar-se bem de todo o fogo queimando a casa, a garagem de sua mãe sendo trancada acidentalmente e ele batendo contra o metal da porta sem nenhuma ajuda. Tentou reverter aquilo, mas já era tarde.

Suspirou, colocando a figurinha na sua gaveta. Bateu os dedos numa mensagem em código morse que somente ambos sabiam. Não houve resposta.

Ele pegou alguns cachecóis e casacos a mais em seu armário, para a época natalina. Mesmo que pudesse optar por sair de Hogwarts naqueles dias, qualquer coisa era melhor do que ficar com sua Tía bêbada por eggnog e o forçando a cantar Noite Feliz. Então Leo escolhia ficar em sua escola, fazendo guerra de neve, aproveitando a comida e trocando presentes com seus amigos. Amigos como Hazel Levesque, a qual havia lhe escrito durante aquele intervalo entre seu 5º e 6º ano.

Várias cartas da garota estavam juntas numa pilha ao canto da escrivaninha, ao lado de seu videogame portátil, que nunca pudera levar à escola devido a ser um objeto tecnológico que não funcionava com toda a magia que havia ali. Ele decidira por jogar durantes algumas semanas, esperando uma carta de Jason ou Piper. Mas, desde o início do namoro dos dois no 4º ano, eles mal pareciam nota-lo, mandando uma ou duas correspondências toda semana. No entanto, ele e Hazel tiveram muito tempo e assuntos para discutir, levando em conta que ela também estaria hospedada com sua família adotiva no outro lado do país.

Leo pegou uma das cartas e passou novamente os olhos por um pequeno trecho dela, rindo para si mesmo.

"Espero que esse ano Travis não tente cantar Katie de novo no meio de um jogo, ela quase o matou com aquele feitiço quando ele voltou da enfermaria (Bom, ela o machucou mais do que o balaço)."

Ele não queria mencionar para magoá-la, mas estava se coçando de curiosidade sobre a morte de seu pai, Plutão Levesque, de meses atrás. Da noite para o dia fora torturado e morto em frente à seu local de trabalho, e nem mesmo um suspeito fora visto. Recolocou seus headphones trouxas que sempre ficavam nos seus ombros, escolhendo depois uma música qualquer de seu iPod para entretê-lo durante a organização de sua bagagem até o Caldeirão Furado. Pegou um pote de Caldeirão de Chocolate, esperando o colocar na bagagem.

Alguém bateu com força na porta novamente. Ele derrubou o frasco, que se quebrou em mil pedaços.

– Nancy, eu sabia que você não resistiria ao meu charme... – Ele começou, mas quando virou e viu quem abrira a porta, seu sorriso se apagou no mesmo instante.

Rosa também não tinha o maior sorriso do mundo quando entrou no quarto de Leo. Depois do dia em que ele incendiara a própria casa com magia acidental – a primeira vez que uma criança bruxa realiza um feito mágico, o considerava uma ameaça. Ela o culpava por matar sua irmã. Só de olhá-la o punho de Leo se fechou com força, os lábios se franziram numa expressão azeda. Ela usava um vestido antiquado de tecido gasto, com um avental branco e sujo por cima, os cabelos negros com vários fios brancos presos. Seus olhos eram fundos e vazios, duas covas em seu rosto, junto com o nariz pontudo e a pele latina.

A mão dela estava tensa na maçaneta da porta, o rosto mostrando puro nojo.

– Já deveria estar pronto.

– Sim, eu sei disso. Vou dar o fora daqui o mais rápido que puder. – Deu de ombros.

– Sim, 'Tía'. – Replicou, os olhos castanhos como os da irmã faiscando. Mas, diferente dos de Esperanza, os dela eram frios e cruéis, nada quentes e acolhedores.

– Você não é minha tia. Não quero que seja nada minha.

Ela o encarou do mesmo jeito que o obrigava toda vez, alguns anos atrás, a ir junto dela para o cemitério no Dia de los Muertos. Rosa o arrastava pelo braço com força, e eles tinham de fazer oferendas a um pedaço de pedra encima da terra.

– Nós concordamos em algum ponto – Falou - Mas sua mãe odiaria saber que você é um deles.

A cabeça de Leo começara a doer.

– Pare de falar de minha mãe como se soubesse o que ela gostaria ou não – Ameaçou aumentar o tom - Ela me amava. E ela odiaria saber como você me trata. – Apontou um indicador acusatório.

Rosa agarrou-o pelo pulso.

– Mal posso esperar para você completar dezoito anos e sair de cima das minhas costas. Todos esses anos eu aguentei você e essa sua esquisitice-

– Magia. – Grunhiu, tentando puxar de volta seu braço.

– Bruxaria! – Ela sibilou, apertando a mão com mais força – Escoria de la família, tu madre estás muerta. Tu...

– Qual é o xingamento desta vez? – A encarava duramente. Ele não poderia revidar fisicamente, da última vez que tentara fora mandado para o sótão sozinho durante meses. Era aquilo ou nada.

Tía Rosa rosnou para ele:

– Assassino.

Leo se soltou dela, apenas porque ouviram um leve som de passos chegando ali perto. Se não, continuaria a encarando de volta. Ele andou até sua cama e fechou o malão, fazendo questão de não deixar nada para trás naquele quarto, a não ser seus aparelhos eletrônicos, e pegou os desenhos encima da mesa, os guardando cuidadosamente numa pasta, junto da lista de materiais que vinham junto da anual carta de Hogwarts. Pegou sua varinha da cômoda e a colocou no bolso de trás do jeans, sem olhar para Rosa por um instante sequer. O saquinho com galeões, sicles e nuques foi colocado encima do malão.

De repente, ela falou:

– Tem um amigo seu aqui. Não demore, não quero gente do seu tipo no meu estabelecimento - Apontou para o frasco quebrado - E limpe isto, não vou tocar nas suas coisas de voodoo - Voltou a tocar a maçaneta da porta e a fechou com força.

Ele encarou a porta de madeira, com a pintura branca levemente desgastada.

– Um amigo? – Falou para o nada.

Leo andou até a maçaneta e a girou, esperando ver Jason ou talvez Charlie. Quando ela se abriu, o que ele vira fora um meio gigante de dois metros de altura, com a capa de chuva pouco seca e um guarda-chuva cor-de-rosa na grande mão. A barba negra, já com alguns fios grisalhos, fazia jus aos pequenos olhos brilhantes de besouro com as bochechas rosadas. Ele segurava um pequeno pacote debaixo do braço.

– Dia chuvoso, Valdez – A voz acolhedora não parecia nada com a imagem que ele poderia passar, junto da risada divertida. - Como vão as vassouras?

Um novo sorriso aparecera em seu rosto.

– Hagrid!

...

O Beco Diagonal estava cheio como em todos os anos anteriores, apinhado de bruxos excêntricos a meros adolescentes e crianças com os rostos grudados nas vitrines. Após deixar suas bagagens em seu quarto do Caldeirão Furado, Leo quase se sentia em casa ao ver todas aquelas pessoas iguais a ele, comprando penas especiais e livros de feitiços. Ele sentia falta do cheiro de pergaminho e da grama dos jardins de Hogwarts, assim como sentira falta de Hagrid. Claro que seus biscoitos não eram o que poderia se chamar de comestíveis, mas uma boa visita noturna à sua cabana com o fogo a crepitar em seus pés, e Jason e Piper fazendo-o rir como uma criança, fazia tudo valer a pena.

– Muito serviço para o Sr. D? – Perguntou, batucando as mãos nas pernas ao saírem pela passagem da parede do Caldeirão.

Ele o olhou nervoso e desviou, se mostrando um pouco incomodado com o que o garoto havia dito. Hagrid não era bom em guardar segredos, disso Leo sabia muito bem. Tossiu, se abaixando para a cabeça não bater numa plaquinha pendurada de uma loja qualquer.

– Estive fazendo alguns trabalhos. Hogwarts, sempre é Hogwarts. – Falou com aquele seu ar sem jeito de falar de algum assunto que não desejava – Mas teve um lado positivo, conheci um sujeito com Tom que... – Ficou atordoado, arregalando os olhos – Eu não deveria estar lhe contando isso!

– Hagrid, eu já lhe disse para não se envolver com pessoas que não mostram o rosto e te oferecem um ovo de diricawl. Da última vez era um caranguejo-de-fogo, até hoje tenho pesadelos com o traseiro de Octavian em chamas!

O meio-gigante ficou emburrado.

– Não é um sujeito qualquer. É um amigo de um amigo – Argumentou, como se aquilo fizesse a situação ser menos perigosa. Hagrid bufou, ainda sendo analisado pela arqueada sobrancelha de Leo - Como vão Jason e Piper, se divertindo muito com o casal?

– Eles estão tão colados que parecem uma só pessoa, e dessa forma não lembram nem que eu existo. – Suspirou - Mas então, apareceu no Houston apenas para dar um ataque na Tía?

– Não se pode mais querer visitar amigos? – Pareceu indignado, levantando o guarda-chuva cor-de-rosa, acertando sem querer uma senhora com um chapéu de um corvo entalhado, que dera arrepios em Leo. – Oh, senhora, me desculpe...

Leo levantou uma sobrancelha para ele. Hagrid pareceu derrotado ao se recompor.

– Está bem, Sr. D me pediu para ficar de olho em você. – Deu um olhar de esguelha para ele, segurando melhor seu pacote com papel de envelope – Só não me pergunte o porquê. Nem eu sei.

Deu uma risada seca.

– Nossa, ele ainda não superou o trauma de eu ter explodido o banheiro do terceiro andar? – Brincou, mas por dentro uma dúvida crescia nele.

Ficar de olho? Leo nunca havia feito nenhuma atividade suspeita. Está bem, no segundo ano ele já havia feito um feitiço desilusório e espionar o vestiário feminino, mas aquilo havia sido apenas um mês de detenção, não era nada que não tivesse sido feito antes. Ele pensou que pudesse ter algo a ver com Tía Rosa e seu relacionamento com ela. Talvez o expulsassem de casa, talvez ele nunca mais tivesse de vê-la. Não era como se não gostasse da ideia.

Hagrid o deu uma olhada.

– Não me diga que aquela velha rabugenta está te atormentando de novo – Hagrid falou, vendo a forma que o garoto olhava para a cena quando ambos passaram perto ao empório de caldeirões.

– Nada além do normal – Balançou os ombros. - É só que... Esqueça.

Eles chegaram em frente ao Madame Hebe - Roupas para todas as ocasiões, dizia o belo letreiro carmesim na vitrine. Leo pegou o pequeno saquinho de moedas bruxas, agradecendo por ter ido ao Gringotes antes mesmo de suas aulas terem terminado no ano anterior. Aquilo incluia o fato de estar economizando o possível para planos futuros. E com planos futuros, ele queria dizer a sua própria loja. Retirar umas moedas, fazer alguns serviços trouxas, tudo que pudesse. Ele ainda abriria seu estabelecimento para artigos de Quadribol.

Hagrid se aprumou e mostrou o pequeno pacote para ele.

– Eu vou entregar isso. Me encontre na Floreios e Borrões, está bem?

Leo assentiu e entrou. Um pequeno lustre estava na entrada, as paredes claras e refinadas contrastavam com as prateleiras escuras e que abrigavam todos os tipos de roupas e afins. A loja estava razoavelmente cheia, tendo estudantes que Leo conhecia de rosto procurando calças novas e crianças de 11 anos, que estariam começando seu primeiro ano, formando filas nos provadores de veludo. A vitrine côncava do local mostrava três modelos de trajes bruxos muito elegantes, mas Leo procurou se dirigir até o balcão. Após alguns minutos, estava sendo cuidadosamente atendido por Madame Hebe, uma mulher que tinha seus cabelos castanhos presos em um jovial rabo de cavalo, que tirava suas medidas para a capa escolar tagarelando o quanto ele havia crescido desde a última vez que comprara roupas ali. Ela fez Leo ficar com os braços levantados como uma estátua para evitar levar alguma bela alfinetada.

"Já posso descansar agora?" Ele murmurava eventualmente, mas tudo que ela fazia era grunhir um não em resposta. Pôde relaxar um pouco após a mulher sair para os fundos da loja, dizendo que logo voltaria com outros conjuntos de vestes. Leo deu uma olhada em volta.

Seus olhos se prenderam na seção de gravatas, onde uma garota alta de longa trança pegava uma gravata verde e prata. Ele reconheceria aquela trança em qualquer lugar e, esperando que Madame Hebe não voltasse tão rápido, andou até a garota com as mãos nas costas.

– Não sabia que o Natal tinha chegado mais cedo para mim. - Falou, próximo ao ouvido dela, vendo os dedos se fecharem com força ao redor da gravata. Ele não via seu rosto de frente, mas poderia ter certeza que ela estava crispando os lábios e xingando-o mentalmente - O que diria de um passeio romântico na Sorveteria Bóreas? Tudo por minha conta.

Reyna o dirigiu um olhar tão gelado quanto qualquer sorvete que ele pudesse propor.

– Eu diria que você deveria ser um pouco menos atrevido. – Disse, com um tom despreocupado.

Ele sorriu e se apoiou de lado na estante, sorrindo de uma forma que ele tinha total certeza que estava a irritando, mesmo que ela não demonstrasse. Reyna usava uma capa totalmente negra sobre os ombros, que se misturava a seu cabelo preto e destacava a pele bronzeada e os olhos de obsidiana.

Leo balançou os ombros.

– Ah, criatividade não nasce em árvores, eu devo ter gasto todas as minhas boas ideias com você.

– Nem sempre as pessoas conseguem o que querem, por mais que se esforcem. - Ela falou, altiva como sempre, sem soar com o tom de desprezo escondido.

– Ouch - Colocou a mão no peito, mas sorriu - Quase doeu. Sabe, precisa mais do que isso para me fazer desistir.

– Posso socar com mais força. - Ela revidou, dando um sorriso sarcástico sem mostrar os dentes. Reyna raramente sorria ou se mostrava mordaz, o que significava que ele já estava a deixando impaciente.

– Eu aposto que sim. Mas... - Levantou o indicador - Não veio aqui só para comprar uma gravata, certo?

Ela o olhou diretamente desta vez, franzindo um pouco o cenho. Leo notou pequenas olheiras escurecendo sua pele abaixo dos olhos.

– Assuntos pessoais.

Ele levantou as sobrancelhas.

– Tem alguma coisa a ver com você não parecer ter dormido muito por... uma semana?

– Preocupação sem necessidade, não é como se fosse meu amigo.

– Não quer dizer que eu não possa ser.

Reyna levantou as sobrancelhas.

– E não quer dizer que eu queira que seja.

A garota se virou e saiu pela frente da loja. Certo, aquilo doera. Ele pensou em segui-la, mas hesitou ao pensar que a dona não gostaria nada de saber que ele estava saindo de lá sem pagar e vestindo sua roupa sem ajustes para seu corpo magricela. Olhou para trás, esperando vê-la voltar, mas ela ainda não estava vindo. Quando se voltou para Reyna, ela já havia desaparecido. Leo olhou para a vitrine, voltando a identificar a garota. Reyna puxara o capuz negro sobre a cabeça, olhando para os lados antes de sair pela rua. Por que Reyna estaria agindo daquela forma tão suspeita, ele não sabia.

Dando uma última olhada para trás, ele seguiu a sombra que andava pelo Beco, tomando cuidado para não esbarrar pelo movimentado caminho ou sujar suas vestes. Reyna virou à esquerda com passos apressados, entrando num caminho que Leo odiava até mesmo lembrar. A placa da Travessa do Tranco só o fez ficar mais curioso para o que ela estaria fazendo num lugar como aquele. A Travessa era uma extensão mal cheirosa e sombria do Beco Diagonal, além de mal frequentada. As paredes eram estreitas e seus tijolos, sujos, com as lojas tendo artigos estranhos. Ele viu Reyna entrar numa pequena casa fechada de andares, ao lado de uma Borgin & Burkes em estado de deterioração.

A casa estava literalmente caindo aos pedaços. Baixa para uma casa de dois andares, era feita de pedras com gradeados de ferro negro em formas estranhas, como runas, as janelas em arcos. A porta estava gasta e as janelas abertas tinham suas abas fragilmente penduradas, tudo num tom de doentio e podre que só o deixava mais indignado, assim como a escuridão total em que se encontrava. Havia uma grande planta entranhando-se nas paredes, formando um cobertor verde e escuro.

Ele pensou ter visto um vulto no final da rua. Decidiu que seria melhor entrar antes que mais uma pessoa chegasse ali e o colocasse em problemas. Olhou pela janela da casa, estava completamente escuro, mesmo que ele tentasse forçar a visão. Tocou a maçaneta com cuidado, pensando que seria fácil quebra-la, mas a porta estava trancada fortemente. Forçou mais uma vez. Não abria. Um feitiço não adiantaria se ele sacasse sua varinha, não fora de Hogwarts.

Regra de merda, xingou olhando para cima e tendo uma ideia. Havia uma forte luz saindo pela janela do primeiro andar. Forçou os braços para alcançar a janela superior e se apoiou na do térreo após subir na mesma. Suspirou e decidiu pular, os dedos se prendendo no batente de ferro escuro com dificuldade, escorregando e xingando-se mentalmente outra vez. Havia uma planta trepadeira subindo pelas paredes, talvez fosse um tipo de hera. Era arriscado, mas poderia valer a pena tentar. Puxou-se um pouco para cima segurando nas raízes, esperando para ver se suportava seu peso e começou a escalar. Deixando apenas sua cabeça para dentro, com os pés nas raízes, viu que a cortina escura cobria boa parte do cômodo, tendo apenas uma fresta pela qual Leo poderia espiar. Vultos se mexiam no corredor; as sombras uma pessoa com capa e uma mulher entraram no quarto mal iluminado. A mulher fez um movimento com a varinha e o quarto foi iluminado pela luz de dezenas de velas em um alto lustre. O quarto era luxuoso demais para ser de um lugar tão horrível por fora. Poderia ser apenas uma camuflagem, como muitos lugares bruxos, feitos para esconder o que realmente havia por dentro. As paredes eram cobertas por um vermelho escuro, como cor de sangue, tendo vários caldeirões e prateleiras ao longo do quarto, contendo vidros cheios de todo material que se pudesse precisar.

Reyna abaixara o capuz, revelando-se para a mulher que lhe sorrira. A bruxa tinha os cabelos negros e longos trançados com o que parecia ouro, o rosto oval e a pele perfeita, com olhos verdes selvagens que poderiam arrancar a alma de qualquer um. Suas vestes estavam limpas, em perfeito estado, sendo elas um longo vestido negro de seda. Ela parecia muito jovem e bonita para alguém que demonstrara ser tão experiente e viver num lugar como aquele. Nenhuma das duas demonstrara perceber Leo em sua janela, mas ainda sim o garoto tinha um forte formigamento em sua nuca com a ideia de ser pego.

– Foi sua irmã que lhe mandou aqui? - A voz da mulher era firme e atraente, deixando-o num estranho estado de encantamento. Havia alguma coisa errada com suas palavras. No entanto, Reyna não parecia ser atingida por elas, ela apenas assentiu e retirou a capa, segurando-a sobre o antebraço - É um tanto divertido pensar que após tantos anos ela ainda se lembre de mim, e mais ainda que você esteja passando por problemas parecidos.

– Divertido - Reyna crispou os lábios, como se a palavra fosse amarga - Não em minha concepção.

A mulher deu uma pequena risada e a guiou para uma bela cadeira acolchoada num dos cantos do quarto.

– Ora, meu bem, não me entenda por sádica - Pegou a capa da garota e a colocou num cabideiro ali perto - Devo apenas prezar pelo meu trabalho e pela saúde dos meus clientes.

Reyna a encarou, descansando os braços sobre o apoio da cadeira.

– Vejo que continua da mesma maneira - Ela estava tensa, os ombros duros enquanto a mulher de vestido postava-se à sua frente - Ainda transformando seus casos em porquinhos da Índia quando lhe rejeitam, Circe? Não é uma surpresa que o façam.

Alguma coisa quebrara abaixo de Leo. Mas ele ainda estava firme ali.

Vamos, só mais um pouco...

– Não posso dizer o mesmo de você. - Circe respondeu, mas não à sua pergunta - Está tão alta, bonita. - Pegou no rosto dela com as longas unhas, mas Reyna sequer se distanciou, apenas continuara a olhando com desconfiança - Não é a mesma garotinha que conheci, por trás dos olhos da mãe. - A garota virara o rosto, se desprendendo da mulher. Seu rosto agora estava amargo, demonstrando dor pelo que havia sido dito a ela.

Circe inspirou suavemente. Ela levantou a varinha para o rosto de Reyna.

– Pois bem, vamos ver o que há errado dentro de você.

A planta sobre seus pés arrebentara.

Oh-oh.

Leo se sentia cair e estava prestes a decidir que iria sair dali morto mas, antes que sentisse a dor de se chocar contra o chão, ele estava pairando no ar a poucos centímetros do solo.

E caiu de cara.

– Madame Hebe vai me fazer de modelo por um ano depois dessa. - Ele tossiu por conta da poeira e se sentou, ainda no chão.

– Duvido que a Srta. Young gostaria de alguém tão... franzino como você trabalhando em sua loja.

Gemendo pela dor na cabeça, primeiro vira apenas os sapatos escuros e muito bem engraxados, mas notou que eles pertenciam a um bruxo com a barra das vestes negras e em fios de prata. Levantou os olhos, observando o homem de sobretudo o encarando. Ele já vira aquele homem antes, com Hazel na plataforma de embarque para o Expresso no último verão, por mais que nenhum dos dois parecesse feliz com aquilo. O homem tinha a pele branca e o cabelo negro estava cortado logo acima de seus ombros, com sua barba cuidadosamente desenhada sobre seu rosto fazendo-o ter um ar imponente com os olhos pretos iguais a ébano, e eles eram muito bem destacados pelas olheiras sobre seus olhos fundos e a estampa quase invisível e sombria de sua roupa: parecia mudar sempre, como nuvens no céu ou... almas.

Ele mostrou-lhe a bengala que segurava, com uma caveira de prata e olhos de esmeralda numa das extremidades, talvez para fazer Leo se levantar. Mas, após o insulto, ele não estava muito disposto a contar com a ajuda daquele senhor.

Hades recolheu sua bengala para mais perto de si e levantou uma das grossas sobrancelhas.

– Sua ingratidão é fascinante, Sr. Valdez, especialmente após minha sobrinha se tornar tão próxima de você - Disse ele, com uma pitada de sarcasmo na voz - Sabe, lá de cima cheguei a pensar que era uma menina, por conta de seu tamanho. Não sabe que Hera é muito fina mesmo para alguém do seu peso? Me parece muito sortudo por ter sido avistado em plena queda por alguém tão caridoso como eu a ponto de salvá-lo. Mas a Travessa do Tranco não é um lugar para crianças.

O garoto fez uma expressão de dúvida, claramente atuando.

– Criança? Não vejo nenhuma.

Um pequeno sorriso se formou nos lábios dele.

– Talvez precise de óculos. Ou melhor, uma fralda.

Ele não entendia como Hazel poderia ser tão diferente de seu tio, e esperava que seu pai fosse uma pessoa melhor antes de morrer, mesmo todas as vezes que o via não parecesse tão amigável com seu terno preto e rosto pálido. Olhando para o rosto de Hades, Leo conseguia claramente ver ali o pai da garota. Plutão nunca fora o tipo de pessoa que se deixara cativar. Era estranho pensar que o principal diretor do Gringotes tivesse sido morto justamente no seu local de trabalho, onde nenhuma pessoa poderia se esconder mesmo tarde da noite, encontrado com um corte profundo na garganta enquanto o sangue banhava os degraus do banco bruxo em uma cor rubra, como os rubis em seus dedos. Ele tinha arrepios apenas imaginar o homem à sua frente da mesma maneira, mas estava com raiva demais para admitir.

– E o que o senhor está fazendo na Travessa? - Leo revidou - Depois que seu irmão morreu, eu aposto que devesse tomar mais cuidado por onde anda.

O homem de negro apenas olhou para Leo de cima com um olhar mortífero. Sua mandíbula foi forçada.

– Digamos que sangues-ruim enxeridos como você não precisam saber os assuntos de um membro do Ministério. Não era eu quem estava espiando por uma janela.

Quando se levantou e estava prestes a xingá-lo, Leo sentiu uma mão do tamanho de sua cabeça tocando seu ombro. Se ele fosse apenas um ano mais velho, já poderia lançar um Furnunculus no rosto daquele senhor arrogante. Hagrid estava de volta, olhando para Hades com certo temor enquanto puxava o garoto mais para trás. O Sr. Di Angelo levantou o olhar para encarar o meio gigante numa expressão duvidosa.

– Eu disse para me encontrar na Floreios e Borrões, não deveria estar aqui. Não é lugar para crianças - Falou o amigo, fazendo Leo ficar rubro sobre ser chamado novamente de criança. Ele esperava que sua pele latina escondesse aquele rubor.

– Foi exatamente sobre o que eu o alertei - Ele tinha uma cara triunfante enquanto segurava sua bengala elegantemente com as duas mãos em frente ao corpo - E vejo também que está o acompanhando em seu passeio, Rúbeo. Como o esperado. - Acrescentou.

Leo franziu o cenho.

– Como o esperado? - Ele se voltou para o gigante - Quer dizer que ele sabe porque estou sendo observado?

– Eu mesmo dei a ordem para Hagrid o ajudar. - Falou Hades num tom travesso, mas que não revelava muito.

Hagrid o puxou mais para perto, tentando deixar claro que já deveriam ir embora.

– Vamos, Leo, não temos mais nada a fazer aqui.

– Sim, nada. - Resmungou.

Ele encarou o homem por uma última vez enquanto Hagrid envolvia o braço no seu ombro.

– E Sr. Di Angelo - Chamou - Cuidado com os monstros na ala escura. - Leo se despediu com um tom de ironia enquanto o homem sorria e levantava as sobrancelhas em resposta.

Garoto insuportável, pensou. Hades virou a cabeça lentamente a uma esquina onde um vulto voltou para seu esconderijo.

Sorriu.

– Os monstros já estão a solta há muito tempo.

E ele andou pela estreita rua mal iluminada até desaparecer na escuridão.


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Notas finais do capítulo

Primeiro: justificar porque o Hagrid está na fic. Essa fanfic foi criada com o objetivo de ter apenas os personagens de PJO/HdO para ser melhor elaborada e menos confusa, fora os fundadores como se pode notar pelo título. Não conseguimos imaginar Hogwarts sem Hagrid.
Enfim, espero que tenham gostado do capítulo, deixem reviews, e até o próximo! ^^
June.