Victor Night era um renomado pintor, seu rosto era desconhecido e seu nome também, suas obras representavam dor e medo de uma forma muito real. Suas pinturas eram moças muito belas com expressões apavoradas e cobertas de sangue e com a assinatura de uma pequena lua crescente. Todos queriam saber quem eram as modelos, conhece-las, mas nenhuma delas era identificada.

Certa vez, uma moça encontrou seu atelier e desenformada, lhe perguntou se poderia servir de modelo para sua próxima obra. Ele a analisou e entregou-lhe um cartão:

–Me encontre aqui no sábado, às 15 horas. - E se afastou.

No dia e hora marcada a bela jovem de cabelos vermelhos se dirigiu ao local combinado, localizado em uma parte deserta e afastado da cidade.

No começo, estava hesitante, mas com algumas palavras do pintor ela se acalmou. Victor passou o restante da tarde a pinta-la.

Na exposição seguinte, um novo quadro foi exibido: uma jovem de longos cabelos ruivos estava deitada em um sofá branco, seu vestido verde estava rasgado, sua expressão mostrava dor e desespero avassaladores. A pele alva estava marcada por filetes de sangue que escorriam, manchando as vestes e o sofá. O cenário mostrava objetos quebrados e uma sombra muito grande, que parecia aterrorizar a jovem com sua aproximação.

Uma de suas melhores obras!- Anunciou um dos críticos presentes na exposição.

Magnifica!- Afirmou uma mulher de voz aguda e maquiagem pesada- Como esse artista consegue expressar tão bem os sentimentos dessas mulheres? Quando olho para suas pelas sinto até um arrepio de tão realista que são.

Isso é um dom, um dom!- Falou a mulher batendo palmas.

Victor caminhava por uma praça, procurava por uma nova modelo, o dia estava extremamente quente. Pessoas riam e conversavam, enquanto devoravam diversos tipos sorvetes coloridos, crianças corriam por todos os lados.

Cansado do calor e do barulho se sentou em um banco distante, ao lado de um grande carvalho, seus olhos varreram os céus sem nuvens e o Sol brilhante, a fonte com um anjo rodeado de jatos de agua, a sorveteria lotada e ao longe ele viu uma moça, de longos cabelos castanhos escuros, olhos claros.

Levantou-se do banco como se uma fera o perseguisse e caminhou até garota:

Com licença, qual seu nome?- Perguntou sorrindo.

Vivian, e o seu?- sorriu, segurava um sorvete que aparentava ser de morango.

Victor. Sou pintor, você é tão linda, quer ser minha modelo?- Mostrou o mais amigável sorriso já visto na Terra.

Sim! Eu aceito!- os olhos verdes incrivelmente claros da garota brilharam radiantes.

Conversaram sobre suas vidas e hobbies, sobre a carreira de modelo que Vivian já havia começado há alguns anos e, quando o Sol baixou caminharam pelas ruas, olhando algumas lojas até chegarem à casa do pintor. Uma ampla casa laranja, com chão de madeira, móveis rústicos e uma grande piscina nos fundos. A jovem foi para um dos vários quartos da casa e vestiu um biquíni amarelo, frente única, que Victor havia comprado para ela no caminho. Assim que saiu do quarto onde havia se trocado, algo atingiu sua cabeça e ela desmaiou.

Quando Vivian acordou estava deitada de costas sobre uma toalha na beira da piscina, mal seus olhos se abriram sua cabeça foi mergulhada na água, a visão embaçada só permitiu distinguir alguém de cabelos negros, tentou se debater, mas a mão em seu pescoço não a soltava, seus pulmões estavam em chamas, uma dor lancinante no ombro esquerdo e então uma neblina vermelha surgiu perante seus olhos, tirando o que lhe restavam de oxigênio e consciência.

Em uma nova exposição, um quadro inédito chamava atenção. Uma jovem de cabelos castanhos boiava na piscina sobre uma enorme mancha de sangue que saia de pequenos cortes em seus ombros e um grande ferimento em seu ombro, havia um corte em formato de lua crescente em sua coxa, o biquíni amarelo estava manchado de vermelho, os olhos verdes mostravam o medo e a agonia que ela havia sentido. No fundo da piscina um punhal entalhado e na parte superior do quadro o céu azul sem nuvens e a Lua brilhante.