Supernatural Christmas escrita por Eileen Vongola


Capítulo 1
Ho, ho, ho!


Notas iniciais do capítulo

Só mesmo um desafio desses pra me fazer escrever algo com mais de 2 mil palavras shaiouhdf -q
Tentei escrever algo "engraçado", para que a leitura não ficasse cansativa. Espero que gostem!



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Era quase final de Dezembro. Mais especificamente dia 23, véspera da véspera de Natal. A neve caía, de tal forma que o chão parecia um enorme tapete coberto de chantilly. Pingentes de gelo enfeitavam as árvores, lagos estavam congelados e serviam de ringues de patinação. Durante as manhãs, crianças brincavam construindo bonecos ou fazendo guerras de neve. Tudo estava no típico clima pitoresco natalino.

Sam e Dean encontravam-se num quarto de hotel naquela noite. Um lugarzinho barato, mas até que era aconchegante. Duas camas de solteiro, um banheiro limpinho, dois pequenos sofás de frente para a televisão, um frigobar no canto da sala, e uma lareira com o fogo já crepitando.

Dean apertava o controle remoto tediosamente, procurando por qualquer coisa que prestasse na tv.

— Sabe o que mais irrita nessa época do ano, Sammy? — Ele disse, carrancudo. A voz um pouco estranha devido ao resfriado.

— O que, Dean?

— Esses malditos filmes de Natal. São todos iguais! — E desligou a tv, enquanto resmungava.

Foi até o frigobar e pegou uma cerveja. Espirrou umas duas ou três vezes, assoou o nariz com um lenço de Sam e voltou para o sofá. Sam estava deitado na cama, com seu notebook no colo. Tinha os olhos focados na tela, como se estivesse procurando desesperadamente por algo.

— O que você está olhando com tanta curiosidade aí, Sam? Pornografia? — Perguntou Dean encarando o irmão, um sorrisinho sacana nos lábios.

— Poupe-me Dean. — Sam disse — Estou procurando por algum caso, e adivinha?

— O que?

— Nada!

E os dois bufaram. O tédio parecia ter se instalado no quarto junto com eles e não queria mais sair. Por fim, Sam desistiu de procurar um novo caso, deixou o notebook de lado, pegou uma bebida e sentou-se ao lado do irmão no sofá. Ligou a tv e procurou por um filme.

— Ei Sam, volta naquele canal!

Sam fez o que o irmão pediu. Estava passando O Grinch, pela terceira vez naquela semana.

de sacanagem, né Dean?

— Que foi? Esse é um dos únicos filmes de Natal que prestam.

— Eu sei disso, mas acontece que você já deve ter assistido umas quinhentas vezes. Só essa semana.

— Você é um chato, Sammy.

E mais uma vez o canal foi trocado. No final, Sam decidiu colocar num programa qualquer, desses de perguntas e respostas valendo prêmios.

Dean levantou-se do sofá e foi até janela, a neve caía lá fora. Espirrou de novo, e como estava sem lenço, limpou na jaqueta que usava.

— Você precisa dar um jeito nessa gripe, Dean. — Sam reclamou — Não quero me contaminar também.

Dean apenas ignorou o irmão. Voltou sua atenção para a cabeceira de sua cama, onde havia metade de um hambúrguer que comprara no dia anterior. Deu de ombros, comeu assim mesmo.

— Que tal você ir comprar torta, Sammy?

— Vá você Dean.

— Não posso, estou gripado.

Sam revirou os olhos. Levantou-se do sofá e decidiu ir comprar a querida torta para Dean, aproveitando que estava à toa naquele momento. Segundos depois, alguém bateu na porta. Os irmãos entreolharam-se, curiosos.

— Quem será? — Perguntou Sam.

— Só saberemos se você abrir a porta, irmãozinho. — Dean respondeu, enquanto saboreava o último pedaço do hambúrguer.

Sam abriu a porta, e ficou surpreso com o que viu. Estava ali parado um pequeno homenzinho. Era tão pequeno que Sam quase pensou que fosse uma criança, se não fosse pelas feições sérias e o terno risca de giz vermelho, especialmente moldado para seu tamanho, e uma pasta da mesma cor em mãos.

Usava sapatos verdes, tinha um nariz fino e um pouco comprido, orelhas bem pontudas e seu cabelo estava formalmente penteado de lado, e cheio de gel. Dean ficou curioso e postou-se ao lado de Sam para ver quem era a visita inesperada. Ficou tão surpreso quanto o irmão ao ver aquela criaturinha ali parada. O homenzinho encarava os dois, com uma leve expressão de desprezo.

— Senhores Dean e Samuel Winchester?

— S-sim, somos nós. — Sam respondeu, confuso pelo homem conhecê-los.

— Ótimo, finalmente o endereço certo. — E o homem olhou para o relógio — Eu poderia entrar por um momento, por favor?

— Oh sim, desculpe. — E os irmãos deram espaço para o homenzinho entrar.

Ele olhou em volta. Arqueou uma das sobrancelhas ao vasculhar o lugar, ainda com a expressão de desprezo na face. Deu um sorrisinho debochado, e falou baixinho:

— Deprimente.

Dean pareceu ter ouvido, e encarou o homenzinho. Não havia gostado do sujeito desde que colocara os olhos nele.

— Quem é você, um dos duendes do Papai Noel? — Perguntou Dean, também com um sorrisinho debochado nos lábios.

— Exatamente. — E o loiro foi pego de surpresa dessa vez. Sam parecia tão surpreso e confuso quanto o irmão.

O duende suspirou.

— Se não acreditam, deem uma olhada nisto. — E retirou um cartão do bolso de seu paletó. — Não gosto de ser confundido com a ralé.

Sam pegou o cartão, e leu em voz alta o que estava escrito:

— Steve, Secretário Sênior, Indústrias Noel S/A. — Os irmãos arquearam as sobrancelhas. — Um duende chamado Steve?

— Então...Você é o secretário do Papai Noel? — Perguntou Dean.

— Exatamente. — Respondeu o duende, ou melhor, Steve, com um sorriso vitorioso nos lábios e olhar de superioridade.

— Ah claro, estamos convencidos agora. — Dean falou sarcástico. — Mande esse maluco embora, Sam. — Sussurrou para o irmão.

— Ok, certo. Só um minuto — Sam falou. Virou-se para Dean, ficando de costas para o duende, que havia retirado um spray de sua pasta, e começava a borrifar a sua volta, como se quisesse desinfetar o ar. — Acho que ele está falando a verdade, Dean. — Falou baixinho para o duende não ouvir.

falando sério, Sammy? — Dean encarou o irmão, incrédulo. — Que ele é um duende eu notei. Mas secretário do Papai Noel?

— Olhe as roupas, Dean. — Disse Sam. — São muito natalinas. — Dean arqueou a sobrancelha.

— Isso foi tão convincente quanto o cartão do Steve. — Dean falou. — Mas tudo bem, já vimos coisas piores. — E os irmãos voltaram a encarar o duende.

— E o que exatamente o secretário do Papai Noel veio fazer aqui? — Sam perguntou.

— Este assunto que vim discutir com os senhores. — Steve caminhou até o sofá e sentou-se. Colocou a pasta em cima da pequena mesa de centro, e cruzou as pernas, deixando à mostra as meias brancas com listras vermelhas.

Sam e Dean espremeram-se no outro sofá, aguardando o que Steve tinha a dizer.

— Já ouvi falar da fama dos senhores — Steve disse, encarando os irmãos. — Soube que são os melhores no ramo. Sabe, toda essa história de caçadores e blá blá blá. — Bocejou, desinteressado na fama dos irmãos. — Entendam, já acionamos todas as autoridades mundiais, mas nenhuma obteve sucesso, o que restou chamar vocês. — O duende ainda tinha aquele ar de desprezo e superioridade. — Fiz uma longa e cansativa viagem do Polo Norte até aqui, para contratar os seus serviços.

Agora os irmãos estavam mais confusos ainda. Steve deu um suspiro.

— Não se preocupem, estou disposto a pagá-los muito bem. Se não acharem suficiente, posso entrar em contato com meus primos que trabalham no Fim do Arco-Íris e pegar um empréstimo.

— Ah... e o que exatamente precisamos fazer? — Sam perguntou, e no fundo, temia pela resposta.

— É o seguinte. — Steve descruzou as pernas, apoiou os braços nelas, e juntou as mãos em frente ao rosto. — O senhor Nicolau sumiu.

— Quem? — Dean perguntou, espirrando logo em seguida.

— O Papai Noel, Dean. — Sam respondeu com raiva, enquanto enxugava o rosto.

— Isto mesmo. — Continuou Steve — O Papai Noel sumiu.

— E desde quando ele sumiu? — Sam perguntou, parecendo levemente interessado no assunto.

— Desde hoje. — Disse Steve — Meia noite e meia, para ser mais preciso.

— Ah, sem querer ofender, Steve — Sam começou a falar. — Mas não entendo por que isso seria uma emergência.

— Será que é por que hoje é véspera da véspera de Natal, pequeno herbívoro? — Steve falou, massageando as têmporas. Sam ignorou ser chamado de herbívoro. E também de pequeno, visto que ele estava conversando com alguém do tamanho de sua perna.

Dean bufou.

— Vai ver ele foi dar uma voltinha de trenó.

— Devo dizer que não, senhor Dean Winchester — Steve disse, o tom de desprezo ainda estava ali. — Tanto o trenó quanto as renas estavam exatamente onde deveriam estar. E o pior. — Steve fechou os olhos, suspirou, e voltou a encarar os dois à sua frente. — Todos os presentes sumiram.

Os irmãos ficaram em silêncio.

— Pode nos dar outro minutinho? — Perguntou Sam.

— Hunf, claro. — Steve pegou sua pasta de cima da mesa e começou a organizar uma papelada que havia ali. Sam virou-se para encarar Dean.

— Agora isso já virando palhaçada. — Dean sussurrou. — Papai Noel desaparecido? Por favor né, Sam.

— Acho que devemos ir checar, Dean. — Sam suspirou. — Infelizmente é o melhor que temos agora. Estamos há três dias sem nenhum caso, vamos acabar enlouquecendo.

— Nós já somos malucos, Sammy.

E novamente voltaram sua atenção para o duende.

— Nós estamos dispostos a ajudar. — Sam falou.

— Mas que ótimo. — Disse Steve, fechando a pasta e levantando-se do sofá. Ajeitou a gola do terno e olhou no relógio. — Talvez os senhores queiram me acompanhar até a mansão do senhor Nicolau? Sabe, procurar por evidências ou seja lá como os senhores fazem.

— Claro, e onde fica essa tal mansão? — Dean perguntou.

— No Polo Norte, é óbvio. — O duende respondeu, achando que Dean era um completo idiota.

Sam e Dean encararam-se mais uma vez. Aquela história toda já havia virado um grande absurdo.

Recapitulando tudo, o senhor Nicolau, vulgo, Papai Noel, havia desaparecido naquele mesmo dia. Várias autoridades já haviam ido procurar, mas como não obtiveram sucesso, os irmãos Winchester foram chamados como último recurso. Agora, teriam de viajar até a mansão do Noel, que para facilitar as coisas, ficava no Polo Norte, para procurar pistas do possível paradeiro do bom velhinho.

É, eles já passaram por coisas piores.

— Como exatamente nós iremos até lá? — Dean perguntou, preocupado com a possibilidade de viajar de avião.

— De uma maneira rápida e eficiente, isso eu posso garantir. — Já dizia Steve, todo cheio de si, enquanto pegava alguma coisa em sua pasta. Alguns segundos depois, tirou de lá nada mais nada menos do que um pote cheio de um pozinho brilhante .

— Certo. — Disse Dean — Purpurina, já estou vendo a eficiência disso.

— Apenas observe, herbívoro. — Steve respondeu enquanto tirava a tampa do pote.

— Por que ele fica chamando a gente de herbívoro? — Dean sussurrou para Sam, que apenas deu de ombros enquanto observava o duende.

Steve postou-se de frente aos irmãos.

— Este é o Pó Mágico de Teletransporte. — O duende começou a falar. — Graças a ele que o senhor Nicolau consegue entregar os presentes para crianças do mundo inteiro.

— Tipo aquele pozinho do Harry Potter, né? Saquei! — Dean interrompeu, sorrindo como se tivesse dito algo inteligente. — Mas ele não fica doidão com todo esse pó?

Steve apenas ignorou, e Sam revirou os olhos.

— Tudo o que precisam fazer é colocarem em mente o lugar para onde desejam ir, enquanto eu jogo o pó sobre os senhores. — O duende prosseguiu. — E é claro, ter pensamentos felizes.

— Por que pensamentos felizes? — Sam perguntou, com curiosidade.

— Sabe-se lá, de repente alguma parte de seu corpo pode ficar para trás. Já aconteceu antes. — Steve respondeu.

Dean e Sam entreolharam-se. Talvez viajar com aquele pó suspeito não fosse tão eficiente assim.

— Estão preparados, senhores?

— Na verdade, eu... — Mas Steve não deu tempo para Dean terminar a frase. Soprou o pozinho brilhante, e em poucos segundos, os três haviam desaparecido daquele pequeno quarto de hotel.

***

— É agora que eu pego uma pneumonia! — Dean reclamava e espirrava enquanto andava com dificuldade pela neve. Tanto ele quanto Sam batiam os queixos e agarravam-se aos casacos devido ao frio. Andavam sem rumo por aquela imensidão branca, sem sinal algum do duende. — Aonde aquele maldito Stefan se meteu?

— É Steve.

— Tanto faz! — E continuava a resmungar e xingar.

Minutos depois, Sam e Dean ouviram um barulho de buzina. A poucos metros de onde estavam, um carro vinha na direção deles. Era vermelho e as calotas dos pneus eram verdes. Em cima, uma plaquinha escrito "Táxi" piscava em luzes coloridas. Os irmãos olhavam aquilo espantados.

— Que coisa mais brega. — Sam exclamou. Dean apenas concordou enquanto olhava o carro aproximar-se.

Então finalmente o carro havia parado de frente aos dois. Em seguida, o vidro fumê da porta de trás foi abaixado, revelando ninguém mais, ninguém menos, que Steve, o secretário.

— Onde você se meteu enquanto a gente congelava? — Dean perguntou, já querendo voar no pescoço do duende.

— Estava na Central de Pouso dos Viajantes de Pó de Teletransporte, é claro. — Respondeu enquanto lixava as unhas. — Os senhores vão entrar no carro ou preferem ir à pé?

Na mesma hora os irmãos entraram no carro. Ambos sentaram-se atrás, um de cada lado do duende mal encarado. O motorista virou-se para olhá-los — um duende de idade, com barba branca e mal feita, usava um chapéu coco engraçado —, sorriu e depois acelerou o carro. Sam estava se perguntando como ele conseguia alcançar os pedais.

Pouco tempo depois eles já podiam avistar a enorme mansão do Papai Noel. E era absurdamente... natalina. Toda a fachada era vermelha. As janelas eram brancas, sem contar com a neve que se acumulava no telhado. Ao redor múltiplos pisca-piscas coloridos já estavam acesos, e uma fumaça branca podia ser vista saindo da enorme chaminé.

— Por que eles usam essas cores em tudo? me deixando doente. — Dean falou, e espirrou em seguida. Todos já haviam descido do táxi e andavam em direção à mansão.

— Vai saber. — Sam respondeu. Embora não pudesse deixar de sentir-se enjoado com aquelas cores também.

Steve andava na frente. Subiu os degraus da frente da mansão e parou diante das portas, encarando os irmãos.

— Sejam bem-vindos à mansão do senhor Nicolau. — Ele falou de nariz empinado. — Por favor, não se esqueçam de limpar os sapatos antes de entrar. — E com um pouco de esforço, abriu as enormes portas de madeira escura, entrando logo em seguida.

— Até que é bem classudo. — Dean falou. Olhou em cima das portas, e notou que ali havia crescido um visco. — Opa! Não estou afim de beijar ninguém aqui não. Vá na frente, Sammy. — Sam fez cara feia, mas entrou na frente do irmão.

Quando já estavam lá dentro, tudo o que puderam fazer foi observar boquiabertos. Até que era bem incrível. A sala era grande, com móveis de mogno que davam um ar antigo ao local, e uma enorme lareira aquecia o ambiente. Meias decoradas penduradas em frente à lareira e outros inúmeros enfeites natalinos ao redor.

— Os senhores podem vasculhar a mansão à vontade, todos já estão cientes de sua chegada. — Steve começou a falar. — Só peço para que não baguncem nada e nem tirem nada do lugar. Sabe, não os culpo por se impressionarem, visto o estilo de vida que os senhores levam. — Suspirou. —E é aqui que me despeço. Até mais! — E desapareceu em um dos corredores.

— Finalmente ele foi embora. Já estava me segurando para não estourar os miolos dele. — O loiro exclamou. — Veja Sam, leite e biscoitos! — E apontou para a mesinha ao lado da poltrona, próxima a lareira.

— Dean, viemos aqui a trabalho. Depois você pensa em comida.

E puseram-se a vasculhar o lugar. Havia tantos corredores e quartos, que os dois cansaram-se rápido. Procuravam por qualquer pista que pudesse indicar para onde o Papai Noel poderia ter ido.

— Já estamos aqui há um tempão e não encontramos nada. — Sam falou. —Talvez devêssemos conversar com alguém. De repente alguém pode nos dar alguma informação.

Dean concordou com Sam, e eles continuaram a andar. De repente, deparam-se com um par de portas bem grandes. Havia uma rena entalhada em cada uma delas. Sam empurrou as portas e ficou impressionado com o que viu a seguir. Era uma sala gigantesca. E lembrava vagamente um estábulo. Só que tudo mais chique, e adivinhem? No clima do Natal.

Várias renas encontravam-se ali. Algumas faziam exercícios, caminhando em esteiras. Outras comiam biscoitos e torrões de açúcar. Outras apenas dormiam em cima de lençóis de seda egípcia e almofadas de penas de cisne.

— Até as renas tem a vida melhor que a nossa. — Dean sussurrou, amargurado.

Eles entraram na sala. As renas não pareciam nem um pouco interessadas na presença dos irmãos. No final da sala havia uma rena deitada em uma almofada grande e vermelha. Alguns duendes ofereciam biscoitos e suco para ela, que aceitava tudo de bom grado. Seu nariz era tão vermelho quanto a almofada em que estava deitada.

— Acho que devemos ir embora, só tem bichos aqui. — Dean falou.

A rena olhou para os irmãos Winchester e deu um sorriso maroto.

Hola señores!

— É impressão minha ou a rena acabou de falar com a gente? — Sam perguntou assustado.

— Não sejam tímidos, aproximem-se! — A rena convidou-os. Tinha uma voz estridente e bem engraçada.

Dean e Sam chegaram mais perto. A rena fez um sinal para os duendes se retirarem.

— Meu nome é Rudolph! — Disse a rena. — Mas é claro que vocês sabem, afinal, sou extremamente famoso.

Dean roubou um biscoito de uma bandeja próxima.

— Meu nome é Sam e este é meu irmão Dean. — Disse Sam. — Viemos aqui para investigar o desaparecimento do Papai Noel.

— Sim, estou a par da situação. — Rudolph disse. Havia um copo de suco em um suporte ao seu lado. Bebeu com o canudinho, fazendo barulho. — Se querem saber, estou achando uma maravilha.

— O que quer dizer? — Dean perguntou, a boca cheia de biscoitos.

— Ora essa, não é apenas no Natal que servimos de transporte para aquele velho pançudo. — Disse a rena, um toque de desprezo na voz. — A cada ano que passa aquele lá engorda mais. Acha que é fácil carregar quilos de banha para lá e para cá? Não há massagem que diminua a dor nas costas. Por mim, poderia sumir pelo resto do ano. — E bebeu mais um gole do suco.

— Ah, certo. — Sam disse, mas sem saber exatamente como responder àquilo. — Mas você o viu antes dele sumir? Ou melhor, tem alguma ideia de para onde ele poderia ter ido?

— Hum, vejamos. Ah! Poderia pegar um daqueles muffins? Sabe, faria isso eu mesmo, mas não tenho dedões. — Sam, um pouco sem jeito, colocou um muffin em cima do suporte ao lado de Rudolph, que comeu e depois terminou de beber o suco, fazendo muito barulho ao sugar com o canudo. — Mas então, como eu ia dizendo. O velho sempre dizia estar cansado da rotina, entende? Reclamava o dia inteiro, típico dos senhores da terceira idade. — Deu um risinho de deboche. — Falava que não aguentava mais só frio e neve, que o sonho dele era conhecer os países tropicais, passar férias numa ilha paradisíaca, ou coisa assim. — E deu de ombros.

— Entendo. Acho que isso já é alguma coisa. Ei, De..

— Cara, já provou um desses bolinhos? São demais! — Dean falava enquanto mastigava, com um bolinho em cada mão.

— Você ao menos prestou atenção no que o Rudolph disse?!

— Mas é claro, alguma coisa sobre férias e praia.

Sam revirou os olhos.

— Vamos sair daqui, talvez conversar com mais alguém.

E os dois caminharam para fora da sala das renas. "Adios señores, feliz Navidad!" ouviram Rudolph gritar, enquanto dois duendes apareciam, oferecendo mais muffins e suco.

***

— Já conversamos com renas, duendes e até com a própria Mamãe Noel! — Dean começou a falar, sentado na poltrona da sala — Que por sinal, era bem enxuta para a idade dela...

— Dean!

— Que foi? Bem que ela estava te dando umas olhadinhas ein, garanhão!

— Já chega!

— Ok, ok. Senhor-sem-senso-de-humor.— Dean deu um espirro. — Acho que isso é alergia ao Natal. — Arrancou uma das meias decorativas perto da lareira e assoou o nariz. — Mas sabe, olhando para a Mamãe Noel, ela parecia mais chateada por não ter ido junto com o marido, do que pelo sumiço dele.

— É, isso é verdade. — Disse Sam. — Acho que tudo nos leva a concluir que ele viajou por conta própria, Dean, e não que foi sequestrado ou coisa do tipo. Talvez nós devêssemos tentar um feitiço de localização.

— Bem pensado , Sammy. Mas precisaremos de outros ingredientes, além de um mapa.

— Ligue para o Bobby, talvez ele tenha algumas coisas. Só precisaremos levar até ele um objeto pessoal do Papai Noel para tudo dar certo.

Dean pegou seu celular, torcendo para ali ter sinal.

— Não tem sinal.

Os dois bufaram. Pouco tempo depois, Steve apareceu.

— E então, os senhores encontraram algo? Alguma pista sobre o paradeiro do senhor Nicolau?

— Na verdade — Sam começou a falar. — achamos que ele sumiu de propósito. — E explicou tudo ao duende, que ouvia calado e, como sempre, de nariz empinado.

— Devo dizer que não estou tão surpreso. — Disse Steve, e bocejou. — Mas como farão para acharem a localização exata? Lembrando que — olhou no relógio —, já passa da meia-noite, ou seja, hoje é oficialmente véspera de Natal. Precisamos que ele apareça a tempo.

Sam explicou sobre o feitiço que precisavam fazer e também de que teriam de sair dali para entrar em contato com Bobby, que provavelmente teria tudo o que precisavam para o feitiço dar certo.

— Não estou muito certo de que isto funcionará.

— Lá vem ele... — Disse Dean.

— E por que não, Steve?

— Porque provavelmente o senhor Nicolau está utilizando uma magia de proteção e invisibilidade, o que o impede de ser achado por outro tipo de magia. — Os irmãos agora prestavam atenção. — Sabe, a mesma magia que ele usa na noite de Natal, quando está sobrevoando com o trenó pelas cidades. E a mesma magia que faz com que tudo isto. — disse referindo-se à mansão. — não seja localizado por vocês, homens comuns. Vocês só estão aqui hoje pois nós, que moramos aqui, permitimos que estivessem. Caso contrário, estariam perdidos na neve até agora.

— Bem — Dean pôs-se a falar — então vamos torcer para dar certo.

Em seguida, Steve retirou de sua pasta o potinho de Pó mágico de Teletransporte, e pouco tempo depois, todos os três estavam de volta ao barato, porém, aconchegante, quartinho de hotel.

***

— Sim Bobby, o papai Noel sumiu... O quê? Não, não estou bêbado. — Sam conversava com Bobby ao telefone. Dean havia saído para comprar algo para comer em uma loja de conveniência 24 horas. E Steve, bem, apenas aguardava sentado no sofá, olhando a sua volta com cara de quem está com ânsia de vômito.

— Cheguei! — Disse Dean, enquanto colocava as sacolas numa mesinha próxima. — Como foi a conversa com Bobby, Sam?

— Foi estranha. Bobby perguntou umas três vezes se eu estava usando drogas. — Sam sentou-se no sofá. — Por fim, ele disse que não tem todos os ingredientes do feitiço. E o que está faltando levaria dias para ele conseguir encontrar.

— Quantos dias mais ou menos?

— Vinte dias aproximadamente e sem garantias.

Dean sentou-se no sofá ao lado de Sam.

— Acho que esse ano não haverá Natal, desculpe Steve. — Disse Sam.

O duende levantou-se do sofá.

— Já estava preparado para o pior. — Olhou para o relógio. — Bem, senhores, o Natal não acontece apenas porque um velho barbudo entrega presentes durante a noite. Desde que famílias estejam unidas festejando, o Natal acontecerá. — Sam e Dean arregalaram os olhos, surpresos com o que havia acabado de ser dito. — Tomem isto, caso ainda queiram fazer o feitiço. — E entregou um par de óculos de lentes redondas, que pertenciam ao papai Noel. — E isto aqui, caso vocês o achem. — E deu para eles um potinho cheio de pó mágico. — Adeus, herbívoros. — E sumiu.

Sam e Dean entreolharam-se.

— É, isso foi esquisito.

***

Era dia quatorze de Janeiro. Sam e Dean estavam na casa de Bobby. No dia anterior, Steve havia entrado em contato novamente, dizendo que o "senhor Nicolau" ainda não havia aparecido. Por sorte, todos os ingredientes do feitiço de localização já haviam sido encontrados, e agora os irmãos estavam prontos para executá-lo.

— Dê-me isto Bobby, por favor. — Sam pegou os óculos de lentes redondas da mão de Bobby, e jogou na pequena cumbuca de arroz junto com todos os outros ingredientes. — O Natal já passou faz tempo, provavelmente a magia do velho deve estar enfraquecida. Espero que dê certo. — E começou a recitar algumas frases em latim. Faíscas saíram de dentro da cumbuca, e o mapa colocado no centro da mesa começou a pegar fogo pelas pontas, e em poucos minutos, as chamas haviam consumido-o quase inteiramente, com exceção de um ponto.

— Deu certo! — Dean exclamou. Olhou para o pedaço que não estava chamuscado. — Ele está... no Brasil? Parece que está nessa cidade chamada Rio de Janeiro.

— Pelo visto, sim. — Bobby disse. — Já ouvi falar das praias de lá. Até que o Papai Noel tem bom gosto.

— Vamos Sammy, está na hora desse velho safado voltar pra casa. — Pegou o pó mágico e soprou. Depois, os irmãos haviam desaparecido, deixando um Bobby muito confuso para trás.

***

Dean e Sam andavam totalmente desorientados pelo calçadão de Copacabana. As pessoas olhavam-nos como se fossem alienígenas, pois usavam casacos em plenos 37 graus. Garotas de biquíni caminhavam pelas praias. Loiras, ruivas, morenas. Dean olhava-as como um lobo faminto.

— Pare com isso, Dean. Parece que está no cio.

— Fala sério, Sam! Isso aqui é o paraíso! — Disse enquanto uma morena passava ao lado deles. Ela olhou para os irmãos e deu um sorrisinho. Até mesmo Sam virou-se para olhar quando ela já havia se afastado.

— Certo, vamos manter o foco! — Sam tirou o casaco e Dean fez o mesmo.

Os irmãos passaram a caminhar pela areia da praia. Havia guarda-sóis de várias cores, pessoas deitadas na areia querendo pegar um bronzeado, outras jogavam vôlei e crianças construíam castelinhos de areia, que logo em seguida eram destruídos pelas ondas do mar.

— É como procurar uma agulha em um palheiro. — Disse Sam, torrando no sol.

Ao longe, avistaram um guarda-sol de praia extremamente brega e natalino. Branco com listras vermelhas e no topo, uma daquelas bolas de enfeites de árvores de Natal. Nas bordas, pequenos guizos balançavam conforme o vento.

— Só pode ser ele. — E os irmãos andaram até lá.

Havia ali um homem barrigudo e de idade, deitado em uma cadeira de praia vermelha. Usava um calção verde, com flores havaianas brancas estampadas, tamanho extra G. Tinha uma barba um pouco grande e muito branca, e dava para ver que estava ficando meio calvo. Usava óculos escuros e bebia calmamente seu suco de laranja com um canudinho.

— Ho, ho, ho! — O velho disse, enquanto uma mulata de biquíni passava ali perto.

— Com licença. — Os irmãos entraram na frente do campo de visão do velhinho. — O senhor é o Papai Noel?

— O próprio! — E tomou um gole do suco. — Quem são os senhores?

— Eu sou Sam e este é meu irmão Dean.

— Sem querer ofender. — Dean falou. — Acho melhor maneirar no leite com biscoito. As renas agradecem.

— Viemos aqui para levá-lo de volta para o Polo Norte. — Disse Sam.

— O que? Mas nem pensar! — E novamente bebeu o suco, fazendo barulho com o canudinho. — Isso aqui é o paraíso. E danem-se as renas. — Falou olhando para Dean.

— Senhor, entenda. Estão todos à sua procura. — Sam tentava convencê-lo.

— Escute aqui, garoto. — Disse enquanto retirava os óculos. — Por mais de anos, tudo o que venho fazendo é passar dias e horas a fio trabalhando, para no dia do Natal, voar por aí com um bando de renas ingratas entregando presentes, entalando-me em chaminés para virar motivo de piadinhas! Acho que mereço um ou dois meses de férias.

— Entendo. — Sam respondeu. — Muitas vezes também me canso da rotina e tenho vontade de abandonar tudo. — Suspirou. — Mas o senhor faz ideia de quantas crianças humildes acordaram pela manhã e viram que não havia presente algum embaixo de suas árvores de Natal? Consegue imaginar a tristeza que cada uma delas sentiu, só porque o senhor se cansou da rotina?

O velho parecia quase arrependido. Quase.

— Por falar nisso. — Dean manifestou-se. — O que aconteceu com os presentes? Lembro que Stefan disse que haviam sumido.

— É Steve.

— Tanto faz!

— Bom... — O papai Noel coçou a cabeça desconcertado. — Digamos que eu os tenha vendido para conseguir dinheiro para as viagens. — E riu sem graça.

— Como é que é? — Sam parecia chocado.

— Viu só, Sam? Eu disse que ele era um velho safado!

Dean apenas sacou sua arma.

— Hora de voltar para casa, Noel.

E o nem tão bom velhinho assim, decidiu que para o bem de sua saúde, era realmente melhor retornar ao seu lar.

É, havia sido mais fácil do que pensavam.

***

Os irmãos Winchester estavam em seu Impala, a caminho do Kansas. Dias haviam passado-se desde o episódio com o papai Noel, e desde que ele havia retornado à sua casa, e os irmãos recebido sua recompensa, não haviam tido mais nenhuma notícia. Apenas imaginavam o quanto as renas deveriam estar se lamentando com a volta do velho e que, com certeza, a mamãe Noel deveria ter dado um sermão nele a noite inteira. Seria bom para ele aprender.

Dean escutava "Eye of the tiger" da banda Survivor. Cantarolava enquanto batia as mãos no volante. Sam estava calado e pensativo no banco ao lado. Dean abaixou o volume da música.

— O que foi, Sam? Está muito quieto.

O irmão mais novo suspirou.

— Sabe, toda essa loucura de Papai Noel me deixou pensativo. Durante boa parte da minha infância, acreditei nele como um símbolo de bondade que buscava a felicidade das crianças, entregando-lhes presentes na noite de Natal. — Suspirou novamente. — Agora sei que é apenas um velho egoísta.

— Bem, acho que ele só ficou meio maluco. — Dean respondeu, sem tirar os olhos da estrada. — Passar tantos anos fazendo a mesma coisa deve tê-lo deixado assim.

— Acha que ficaremos assim também, Dean?

— Assim como?

— Meio malucos com o tempo.

— Já somos malucos, Sammy. — Os irmãos riram. — Mas sabe, acho que não é má ideia tirar umas férias às vezes. Definitivamente, precisamos voltar ao Brasil qualquer dia.

— É, concordo com você.

Dean aumentou o volume da música. Agora, ambos os irmãos cantavam e batucavam as mãos de acordo com a melodia.

Era boa a sensação de estar de volta à estrada.


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Notas finais do capítulo

E um prêmio de 1 milhão em moedas dos duendes do Fim do Arco-Íris para quem conseguiu chegar até aqui :D heuheuhe.
Espero que tenham gostado e, principalmente, se divertido com a história!
Adios, señores!