She'd Fly escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 10
Capítulo 09 — Vergonha pertinente.


Notas iniciais do capítulo

Sei que demorei! Mas eu mal tive tempo para respirar nessa semana. Mais uma vez, coloco a culpa completamente na escola! E não é nenhuma desculpa esfarrapada, não... é de verdade! Sinto muuuuito por toda essa demora, mas aqui está o novo capítulo em que veremos as coisas começando a andar com beward... A partir daqui, as coisas só começarão a correr... Prometo, hahah *corações* obrigada por todos os comentários do capítulo anterior, mas não posso deixar de notar que apenas poucos dez por cento dos leitores comentam... Gente, plsss, eu adoraria saber o que vocês estão achando. Sério.
Enfim, vocês são demais *corações*



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Fevereiro de 2013.

Edward.

Eu estava voltando para casa depois de um dia exaustivo no trabalho, tudo que eu queria era tomar um banho e dormir até a tarde do outro dia. Eu tinha certeza de que não era pedir muito. E, por algum milagre divino, Isabella estava melhor. Meu medo de que ela se suicidasse dentro de minha casa era quase mínimo agora que ela falava e quase sorria para mim — na maioria das vezes quando eu falava algo muito estúpido com a intenção de ser uma piada.

Bella, antes, sempre sorria largamente para mim quando eu fazia alguma piada, algumas vezes ela chegava até a gargalhar. Agora, eu me sentia quase satisfeito por ter feito Isabella soltar um quase sorriso. Em breve, eu iria descobrir tudo que eu queria e, finalmente, poderia deixá-la ir para onde quisesse. Era isso. O grande — sarcasmo — plano que eu havia arquitetado só para sanar a minha curiosidade.

April havia ido para Los Angeles para ver suas filhas por aquela semana, por isso, ao sair do trabalho, peguei um chocolate quente para Isabella na franquia da Starbucks que ficava ao lado do Escritório Policial de São Francisco. Tudo para agradá-la. Tudo para saber o mais rápido possível.

Isabella, toda noite e, novamente por algum milagre divino — que eu desconfiava se chamar Charlotte April —, estava jantando comigo. Ela jantava em silêncio, era verdade, mas… ainda assim jantava! E ela estava comendo também, respondendo às minhas perguntas quando eu as fazia. Estava tudo quase sendo normal de novo. Ela estava prestes a se tornar humana de novo… só faltavam alguns passos. Poucos. Eu sabia disso.

Eu não costumava me orgulhar de muitas coisas, achava até perda de tempo pessoas que o faziam, no entanto uma soberba crescente surgiu dentro de mim quando eu percebi que eu também, por mínimo que tenha sido, fazia parte da melhora de Isabella. Quando eu a deixasse por conta própria, ela não tentaria se matar de novo ou voltaria a ser depressiva. Talvez ela voltasse a ser a Bella. Eu não sabia, não estaria lá para ver.

— Bella, cheguei! — Anunciei assim que abri a porta principal, a que ficava perto da sala.

Não era Isabella que estava na sala, era Tanya. Foi-me um susto, é claro, eu a havia visto dois dias antes e só a esperava uma semana depois, como de praxe, entretanto lá estava ela! Eu não estava feliz por ela estar sentada casualmente no meu sofá. Passava longe disso. Ela também parecia estar muito insatisfeita com a situação, eu podia perceber por sua carranca e seus braços cruzados com força.

— O que diabos você está fazendo aqui? — Eu perguntei lentamente, deixando o chocolate quente de Bella em cima da recente mesa de centro.

— Você me falou, no hospital, que não conhecia aquela garota! — Tanya gritou, estreitando os olhos e se levantando do sofá escuro que estava sentada, o mesmo que Isabella costumava se sentar quando assistia algum noticiário junto comigo. — E eu simplesmente a encontro aqui!

— Você não tem a porra do direito de divagar sobre a minha vida!

— Ah, é mesmo? — Ela ergueu as sobrancelhas.

— Onde ela está? Me diga! Onde ela está? — Eu sabia que tinha de abaixar minha voz, os vizinhos provavelmente iriam estranhar essa confusão toda em uma casa que, normalmente, não se era escutada nem sequer uma voz.

Tanya ergueu os ombros e os abaixou em sinal de negligência.

O sangue subiu até o meu rosto, esquentando-o da mais pura raiva que uma pessoa pode sentir em poucos segundos. Todo o cansaço e a passividade que eu sentia antes sumiram quando eu, em um ato colérico, avancei até Tanya estava, fechando minhas mãos com força em seus braços finos assim que a alcancei. Ela se debateu contra os meus braços, revoltada e, apenas para fazê-la parar, a bati contra a parede.

— Onde ela está? — Eu perguntei com o maxilar trincado.

— Eu não sei, droga!

Eu a soltei raivosamente, lançando-lhe um último olhar enojado antes de me sentar no sofá e colocar minha testa entre as mãos. Que ótimo! Isabella tinha ido para algum lugar e eu estava sem nenhuma ideia de onde ela talvez estivesse. Tudo culpa de Tanya. Eu tinha quase certeza de que ela havia falado coisas horríveis para Isabella e a mandado sair da minha casa como se fosse a maldita dona.

Todo o plano demorado que eu estava exercendo lenta e cautelosamente havia ido água abaixo. E mesmo minha prioridade sendo Tanya, Isabella também era… quase importante. Importante para a minha curiosidade crescente e esmagadora.

— Não fique com raiva, Edward. — Tanya sussurrou, pairando feito um fantasma à minha frente e pegando meu rosto entre as suas mãos que eu sentia vontade de decepar. — Ela só era um empecilho. E eu sinto sua falta. Eu preciso de você.

— Você precisa, é? — Eu sorri amarga e maldosamente, levantando-me do sofá e a empurrando contra a parede mais uma vez.

— Ardentemente. — Ela gemeu.

Levantei a saia que ela vestia brusca e raivosamente na mesma hora que ela abaixou a minha calça e a cueca apenas o suficiente para que eu pudesse a adentrar. Enquanto eu pressionava meus dentes, Tanya soltava gritos altos o suficiente para acordar o quarteirão inteiro só por causa de seu escândalo. E, normalmente, ela nem era assim. Se eu estivesse com paciência, eu a teria dito para se controlar e para parar de gritar tão alto. Mas eu não estava com paciência.

Eu nunca estava. Foi esse o meu erro.

Soltei Tanya assim que atingi o ápice. Fiz questão de ignorar o sorriso malicioso que ela me soltou enquanto ajeitava o seu cabelo e abaixava a sua saia.

— Por que não vamos para o quarto agora? — Ela propôs.

Bem no segundo que eu estava prestes a lhe mandar ir para o inferno, uma Isabella constrangida e corada até a raiz dos cabelos — os quais, eu sempre percebia, estavam cortados até metade de sua cintura fina por causa dos fios outrora queimados — passou em disparada pela sala, sem sequer desviando os olhos para mim ou para Tanya. Eu poderia tê-la chamado ou qualquer outra coisa que a fizesse parar, mas eu estava surpreso demais para ter uma reação decente,

O que ela estava fazendo lá? Ela não tinha saído.

Depois, em um pânico contido, percebi que era ela o motivo de Tanya estar fazendo tanto barulho. Ela queria que Isabella soubesse o que estávamos fazendo na sala, para tentar fazê-la ficar com raiva de mim. O pior de tudo era que eu sabia, sim, que ela ficaria com raiva de mim por mil anos. Era o óbvio a se pensar.

— Eu não…

— Saia da minha casa, Tanya. — Eu murmurei, tencionando o meu maxilar. — Saia por si mesma antes que eu a faça sair.

— Edward. — Ela chorou. — Eu não acredito que você está brigando comigo por causa daquela garota insignificante!

— Ela é menos insignificante do que você. — Eu gritei.

Ela abriu os lábios, incrédula.

— Eu não vou mais voltar.

— Não volte, então. — Eu disse, friamente.

Eu sabia que estava fazendo uma besteira, sabia que eu precisava de Tanya, no entanto o meu orgulho — ou até mesmo a minha própria vontade — não me possibilitava pedir desculpas e dizer que eu estava de cabeça quente. Era a mais pura verdade que talvez eu estivesse estressado, mas eu tinha consciência e certeza de tudo que eu havia falado. Era o que eu queria falar a ela há muito tempo. Mais do que eu podia imaginar.

— Quando eu voltar, eu não quero mais nem ver o seu rastro aqui! — Informei a ela.

Eu deveria ter ficado calado, eu sabia. Mas eu sempre fui de agir impulsivamente demais, sempre falando coisas que não deveria sempre que ficava com muita raiva. Sempre tive esse defeito. Bella sempre me alertou dele. De qualquer jeito, a coisa toda já estava feita e eu não voltaria atrás — eu sabia que, uma semana depois, Tanya imploraria para que eu a deixasse voltar e eu diria que, tudo bem, ela podia voltar porque precisava dela.

Saí da minha casa antes de Tanya, em pânico de que Isabella tivesse… sei lá, percorrido uma distância na qual eu não poderia alcançá-la. A minha situação com ela era igual a de Tanya — ou mais ou menos igual. Eu precisava dela. Não tanto quanto precisava de Tanya, mas mesmo assim… Isabella era mais agradável: Ela sequer falava! Ela não me estressava ou estava testando meus limites tanto quanto Tanya fazia.

Mesmo beirando a loucura, Isabella era mais agradável. Sempre foi.

As ruas estavam desertas, iluminadas apenas com as luzes públicas e, minimamente, com as das casas, por esse motivo eu pude ver que Isabella não estava mais naquele quarteirão.

Ela estava numa rua adjacente, uma que levava a um das várias praças de São Francisco e eu tentei me convencer a não correr feito um louco atrás dela. Ela não se lançaria contra a pequena floresta que tinha. Ela já havia passado dessa fase, estava melhor. Conformado e com as mãos dentro do casaco da polícia que eu ainda vestia, andei com passos largos e rápidos para conseguir alcançá-la.

Isabella poderia correr se quisesse, ela sempre foi mais rápida que eu, ela poderia desaparecer no quarteirão e virar outras esquinas. Eu não a acharia se fosse assim. Ela, naquela hora, só estava andando, as mãos enfiadas dentro do bolso da calça jeans que ela comprara junto com April, os cabelos soltos e esvoaçantes ao vento.

— Me deixe em paz somente por algumas horas, Edward. — Ela sussurrou quando eu cheguei ao seu lado, diminuindo meus passos para o de uma caminhada normal.

Isabella não me olhou. Era exatamente aquela indiferença que costumava acabar comigo.

— Não posso.

— Claro que pode. Você não tem obrigação nenhuma comigo.

— É verdade, mas…

— Nesse exato momento eu estou me sentindo mais sufocada do que quando estive no banheiro com os pés doendo e não conseguindo me levantar quando a casa estava queimando. — Ela disse. — Você está me sufocando.

— O que eu posso fazer…?

— Voltar para casa, voltar para o quarto como a mulher loira propôs. Eu não vou me importar. É sério. — Bella sempre soube mentir e eu nunca soube perceber isso, tudo que eu julgava como mentira vinda dela era um mero chute. Eu estava chutando no escuro, daquela vez.

Ela parou de caminhar para me olhar, provavelmente queria facilitar as coisas para mim: fazer com que o meu caminho de volta para casa não fosse tão longo.

— Está de noite e escuro, Bella. — Eu estava sem paciência, no entanto a minha voz foi calma e passiva. Como eu não era com ninguém. — Não posso te deixar andar por aí sozinha.

— É só por isso? — Ela ergueu as sobrancelhas.

Olhei para as persianas fechadas da casa que tinha atrás dela, evitando — como de costume — seus olhos que pareciam cinza na pouca luz que a rua emitia.

— Não. — Eu ergui uma mão mais uma vez, na direção dela.

— Não? — Seu tom era sarcástico quando eu coloquei minha mão em seu ombro, dentro de seu cabelo.

— Eu me importo com você. — Murmurei.

Ela colocou a mão em cima da minha e a pegou levemente. De primeiro eu pensei que ela fosse entrelaçar nossas mãos, mas que pessoa tola e esperançosa eu era! Isabella nunca faria aquilo. Ela nunca entrelaçaria a mão com a minha, o seu olhar enojado deixava claro. Isabella, como era de seu feitio, soltou a minha mão bruscamente no ar, arrancando-a de seu ombro.

— Tire essa mão de perto de mim.

— Por quê?

— Edward. — Ela franziu o cenho, desprezando. — Eu aescutei gritando. Pelo amor de Deus. Eu acho que até posso sentir o cheiro de sexo vindo de você.

Eu fechei meus olhos brevemente, sem saber o que falar e me sentindo seriamente envergonhado com aquela situação.

— Volte para casa e para a… seja qual for o nome dela.

— Não quero. — A olhei hesitantemente.

— Então pare de me sufocar só por hoje! — Isabella exclamou, arregalando os olhos com exasperação. — Você me segue para todo canto, não posso sequer dar um passo sem que esteja me perguntando para onde diabos eu vou. Eu não tenho mais doze anos e você não é o meu pai para ficar me vigiando desse jeito.

— Bella. — Eu roguei, suspirando. Tanya havia acabado com todos os meus esforços. Eu não podia culpar Isabella por estar sendo rabugenta novamente. — Eu só quero conversar. Juro. Depois disso, eu paro de “sufocar” — Fiz aspas com os dedos. — você.

Isabella sustentou o meu olhar por meio segundo inteiro, pressionando os olhos na minha direção como se estivesse me testando. Por fim, ela acabou suspirando e virando-se para continuar a andar na direção da praça. E o que eu poderia fazer a não ser ir atrás dela e me sentir ridículo por estar fazendo isso? Nada. Isabella sempre encontrava um jeito de se sobrepor. A capacidade era incrível — se não fosse usada comigo.

— Edward, eu acho que… — Ela franziu o cenho. — Não quero mais ficar na sua casa. Sou grata por ter… me tirado daquele lugar terrível, mas eu…

— É por causa de Tanya? Bella, eu… eu realmente não sabia que você estava lá. Pensava que tinha ido embora por causa de algo que Tanya falou a você. Eu sei que deveria ter conferido, mas…

— Eu sei. Eu escutei quando ela falou que eu tinha embora… — Ela enfiou as mãos dentro dos bolsos frontais da calça e desviou os olhos para o lago artificial que tinha na pracinha. Isabella respirou pelo nariz e se sentou em um banco. — Eu deveria ter saído do quarto… Mas eu… sabe… A situação não foi muito confortável. Eu estava com vergonha e arrumando as malas. Só iria sair do quarto quando ela fosse embora ou fosse para o seu quarto, sei lá.

Sentei-me ao seu lado, uma distância casual e que, com certeza, não a faria ficar desconfortável.

— O que ela te falou? — Eu perguntei, hesitante. Não sabia bem se queria saber ou não.

Isabella sorriu amargamente. Tive a impressão de ver um pingo de divertimento no seu sorriso, mas julguei que era apenas uma mera impressão.

— Ela me falou para ficar longe de você. — E então me olhou de lado, erguendo a sobrancelha e um canto dos lábios. — Acho que ela tem a mesma Síndrome Aguda de Chelsea. É a segunda mulher loira que manda que eu fique longe de você. De qualquer jeito, ela disse que não gostava daquela situação e que era para eu fazer minhas malas porque eu iria sair daquela casa hoje.

Eu sorri desgostosamente. Tanya era ridícula.

— Eu sou o dono da casa, portanto você ficará.

— April me chamou para ficar com ela. É uma boa ideia, Edward. Você poderá ficar com a sua namorada mais livremente e eu vou ficar mais confortável com April.

— Primeiro: Tanya passa longe de ser minha namorada…

— Você falou isso de Chelsea também. — Ela observou.

— É, eu estava falando a verdade assim como agora. — Murmurei. — Segundo: Você me conhece a mais tempo do que conhece April. Terceiro: Você sempre soube que eu nunca gostei da solidão e não é agora que eu vou me acostumar.

Eu tinha de arrumar argumentos mais convincentes, eu quase conseguia sentir o controle que eu exercia — ou achava que exercia — sobre Isabella escorrendo entre os meus dedos como se fossem grãos de areia finíssima. Ela sempre foi disso: Escapar quando eu ainda estava longe de terminar. Bella sempre soube se esquivar fácil e agilmente. Isso sempre me deu nos nervos — mais do que dava agora.

— Aquela casa fica mais solitária quando eu estou lá, isso sim.

— Não.

— Edward… — Agora ela era quem rogava, tentando ser paciente.

— Eu quero que você fique. — Disparei.

Ela sorriu brevemente, mais uma vez amarga.

— Não quer.

Mesmo estando mil vezes mais diferente de antes, Isabella conseguia me deixar sem saber o que falar ou fazer com facilidade. Tudo parecia frágil com ela… eu não podia sair disparando palavras aleatórias e achar que ela acreditaria: Isabella sempre foi mais esperta do que deixava transparecer, ela sempre esteve um passo a frente de antes. Tinha certeza de que essa característica não havia sumido em quatro anos.

Eu suspirei mentalmente, vagando meus olhos pelo ambiente iluminado apenas pelas luzes dos postes. Eu precisava falar algo, recuperar o que Tanya havia destruído tão facilmente logo quando as coisas estavam indo tão bem. O problema disso tudo era que eu não estava enrolado só com Isabella, estava enrolado com Tanya e sabia muito bem que teria de adiantar as coisas se eu quisesse ter êxito em tudo. Impossível. Impossível. Por que eu continuava a tentar?

— Bella… — Eu me virei para ela, calmamente. — O que aconteceu com você? Eu nunca soube muito bem…

— Você nunca soube. — Ela corrigiu.

— Me conte. — Pedi.

Ela respirou fundo, abaixando os olhos enquanto entrelaçava os dedos de suas mãos uns com os outros. Por um mísero momento, me arrependi de ter pedido para saber. Era cedo demais, ela não estava pronta para falar nada para mim — e eu ainda me perguntava como April tinha a capacidade de fazê-la falar com tanta facilidade, eu queria a possuir também.

— Minha mãe morreu… — Seus olhos moveram-se lentamente algumas vezes, como se estivesse procurando alguma coisa. — Eu a escutei morrer… E mais um monte de coisa.

— Eu tenho tempo para escutar um monte de coisa.

— Falando assim parece que não é nada.

— Confie em mim, Bella. — Não confie, eu sou um filho da mãe. Pode falar.

— Está frio aqui. — Reclamou, abraçando-se. — E não podemos ir para sua casa porque a sua… — Ela hesitou, sem saber a definição certa para Tanya.

Amante, eu pensei. Ou ex. Não sabia bem. Eu não falaria nenhuma das alternativas para Isabella.

— Ela não estará lá. — Eu garanti.

Voltamos para a minha cassa em total silêncio, eu a olhava de lado de vez em quando só para saber se ela estava me acompanhando mesmo. E estava. Isabella retribuía ao olhar com um ponto de interrogação em sua expressão e eu desviava os olhos. Como sempre. Eu era covarde e miserável ao máximo com ela. Arriscava dizer que sempre havia sido — as situações atuais só havia reforçado essa característica ridícula.

Como eu havia dito, Tanya tinha ido embora mesmo — a parte boa —, mas não sem antes quebrar um vaso contra a parede — a parte ruim porque fora April que colocara aquele vaso na mesa de centro — e bater a porta com tanta força que ela estava rangendo quando eu a abri. Quase gargalhei de seu descontrole. Se eu não soubesse quão ferrado eu estava teria o feito. Mas eu sabia — muito bem, por sinal.

— A despensa está vazia. — Eu murmurei. Um dia antes, eu me lembrei de ir ao supermercado e simplesmente me esqueci de realizar a proeza de colocar comida dentro de casa. Que ótimo. — Podemos pedir algo. — Sugeri. — O que você quer?

— Estou sem fome. — Isabella murmurou.

— Não me venha novamente com isso. Se April souber, reclama comigo para sempre.

Isabella esboçou um sorriso — ela sempre sorria quando eu mencionava April. Sorria por ela. Não para mim.

— Vou pedir uma pizza de frango. — Eu a disse.

Ela ergueu os olhos, surpresa, provavelmente duvidando da minha capacidade de lembrar seu sabor favorito de pizza. Era impossível que eu esquecesse uma coisa daquelas quando eu já tinha comprado pizza para nós umas mil vezes no tempo do colegial em que Esme saía de casa com Alice e nós não sabíamos cozinhar. Isabella, sempre que eu murmurava uma nova de Alice com Esme em feriados e fim de semana, sorria alegremente.

Eu ainda me perguntava como aquela garota havia se transformado tão rápida e radicalmente.

Enquanto eu pedia a pizza, Isabella arrumou outro jarro para colocar as flores que April havia me dado assim que a reforma na minha casa cessara. Ela me deu com a desculpa de que era para dar um pouco de cor à sala toda preta e banca. As ramificações com flores pequenas vermelhas pareciam destoadas na minha sala, mas eu não disse isso. Apenas deixei lá. Isabella passava bastante tempo encarando a planta como se tivesse algo superinteressante nela.

— Eu vou tomar banho e então continuamos a conversa, tudo bem?

— Edward, você não precisa justificar tudo que você faz para mim. Apenas vá.

Como ela estava de costas para mim, revirei meus olhos com impaciência por sua impetulância. Eu estava duvidando até da capacidade ser novamente gentil dela.

Tomei banho e demorei o máximo possível, sentindo-me quase enfadado para sair do banheiro e dar de cara com Isabella. Eu ainda não tinha me acostumado com aquela versão sombria da garota que eu costumava conhecer, ela não era mais fácil de conviver e conversar… eu tinha de pensar em tudo que falaria perto dela. Não era saudável. Mas talvez a culpa fosse minha… inteiramente, eu digo.

Isabella estava em seu quarto quando eu saí do banheiro, a porta fechada — como de praxe — e parecia cantarolar — isso mesmo — uma música. Cheguei até mesmo a parar, estarrecido com a percepção. Se tinha uma coisa que Isabella não fazia nos tempos sombrios era cantarolar.

As paredes da minha casa eram finas, eu conseguia escutar pessoas falarem da porta de entrada no meu quarto que era quase o último do corredor, e por esse motivo, não foi dificuldade nenhuma escutar a música que Isabella cantarolava para si. Era a mesma que ela, na noite em que eu a encontrei no prédio, havia me perguntado se eu conhecia. E eu conhecia, bem até demais. A diferença era que, agora, a música soava incrivelmente estúpida aos meus ouvidos.

Voltei para a sala quando percebi que a campainha estava tocando, era provavelmente a pizza. Claro que não era. No fundo, eu já sabia disso. Nenhuma pizza chegava tão rapidamente.

De todas as visitas inesperadas que recebi naquele dia, eu não soube definir qual era a pior.

— Edward! — John exclamou. O abrir de lábios automático dele poderia ser um sorriso, mas eu não sabia bem. Nunca se sabia quando ele estava sorrindo.

Reprimi a vontade de revirar meus olhos.

— Williams. — Eu cumprimentei. — Já voltou de viagem? — Era pra ter ficado mais tempo.

— Mas é claro que sim! Férias não duram muito quando se está na Polícia.

Eu assenti, extremamente entediado.

— Não vai me convidar para entrar? — Ele perguntou.

Eu não sabia quantas vezes eu o havia odiado e matado mentalmente somente só no pouco tempo em que ele passou ali.

— Na verdade, eu estou um pouco ocupado agora. — Murmurei.

— Claro que sim. Isabella está lhe ocupando mais do que Tanya deveria estar fazendo. Estou certo, não estou?

O sangue queimou em minhas veias, fazendo bufar um ar em forma de riso sarcástico e raivoso. Fazia tanto tempo que eu estava parando a imensa vontade de socar o rosto ridículo e presunçoso de John. Eu o odiava. Ele era um maldito que achava que poderia mandar na porcaria da minha vida só porque eu tinha concordado com uma coisa simples que não lhe dizia a respeito em nenhuma parte.

Se eu soubesse, nunca teria aceitado.

— Por que você não vai para casa, John?

— Tanya me ligou aos prantos hoje. — Ele informou, parecendo despreocupado. — Disse-me de que queria preparar uma surpresa romântica para você e você a tratou com uma… Como podemos dizer? Brutalidade terrível.

Eu revirei meus olhos. Tanya era outra maldita que eu não queria ver na minha frente por um bom tempo.

— Nós precisamos dela, Edward. — Ele apelou.

Você precisa. Eu estou fora.

O ridículo do John arregalou os olhos, teatralmente.

— Eu sempre soube que você sairia mais rápido do que todos os outros.

— Por que você não vai se ferrar, John? Já passou da hora.

— Sabe de uma coisa? Você e Isabella se merecem. São dois estúpidos. Sempre foram.

Ele sabia que se tivesse ficado alguns milésimos de segundos a mais na minha frente, teria recebido um murro que deixaria a sua cara pálida marcada por um mês. E quando as pessoas perguntassem o que diabos havia sido aquilo, ele teria que responder que tinha levado um soco, não teria como arranjar outra desculpa.

Quando eu me virei, após ter fechado a porta com força atrás de mim, vi que Isabella estava sentada no braço do sofá, os pés apoiados no assento e seu tronco virado na direção da porta. Seu rosto estava atento à minha conversa descontrolada com John e ela não parecia nem um pouco afetada pelas palavras ofensivas dele contra ela.

Parecia bonita e lúcida, sua expressão era quase divertida.

— Eu ainda não sei o que eu tinha a ver com a confusão toda.

Ela tinha escutado coisas demais, mas parecia alheia a todas elas.

— John é um idiota. — Isabella continuou. — Ele sempre foi e você nunca pareceu perceber.

Eu suspirei, tombando no sofá como se estivesse exausto.

— Como assim? — Depois de um tempo, eu perguntei.

— Antes, você parecia ignorar o quão idiota ele era. Claro que teve inúmeras brigas, mas você sempre continuava a andar com ele como se nada tivesse acontecido. E agora… bom, eu dou uma semana para você andar com ele de novo.

— Não estamos mais no colegial, Bella. — Eu disse, encostando minhas costas na ponta oposta do sofá e ficando de frente para ela.

— Sim, eu claramente sei disso.

— Ele trabalha no mesmo lugar que eu, não tenho como simplesmente evitar.

— Você não está entendendo. — Isabella murmurou.

— Me explique, então.

— Você agia como se estivesse se esforçando para falar com ele… Algo assim. Não sei se é desse jeito agora, mas eu não duvido nada. — Ela pressionou os olhos como costumava fazer quando estava organizando os pensamentos.

Ela parecia com a Bella naquele momento, juntando as mãos, franzindo o cenho.

Eu queria dizer que não era mais daquele jeito, queria dizer que eu não era o idiota o qual ela narrava tão facilmente, mas eu estaria mentindo para a minha própria mente e que tipo de miserável eu seria se fizesse aquilo? Não precisei sequer assentir para Isabella saber que estava certa. Ela sempre esteve.

— Então… — Eu ponderei por alguns segundos, olhando-a somente para saber se eu poderia fazer a pergunta que queria ou não. — Você ainda vai me falar sobre tudo que aconteceu?

— Eu não entendo por que você está tão curioso sobre isso.

Eu também não entendia e todas as explicações que passaram por minha mente eram patéticas demais para eu falar algo, então fiquei em silêncio, o cenho franzindo em confusão.

Mas, por incrível que pareça, ela me falou. Depois de termos comido a pizza — ela comeu, milagrosamente, dois pedaços largos e longos, e depois disse que não aguentava mais —, Isabella encostou a parte de trás da cabeça no sofá, fechou brevemente os olhos e suspirou. Eu a observei por mais tempo do que fazia normalmente — não precisava me incomodar em perceber se estava sendo adequado ou não, ela não estava me olhando.

Ela começou falando de Dean, o meu velho cachorro. Falou que ele havia morrido no incêndio e não tivera possibilidade de resgatá-lo já que havia sido puxada para fora da casa antes de ter a oportunidade. Sua voz, apesar de baixa, denunciava as apologias que ela queria deixar explícita. Teria tentado se pudesse. Eu sabia disso, não duvidava, Bella sempre foi próxima de Dean, quando ia para a minha casa passava o dia todo mimando o cachorro.

Ela também disse que achava que Dean não conseguira sequer fugir… Ele estava velho, mal andava ou enxergava… foi difícil para ele. Quando eu a olhei, seus olhos estavam marejados, mas ela logo piscou três vezes seguidas para afastar as lágrimas. Bella sempre tentou ser imponente. Tentou, apenas.

O incêndio da casa dela foi causado por um vazamento de gás que ela mesma havia causado.

— O que sua mãe estava fazendo na cozinha? — Eu perguntei, intrigado. — Ela descia para beber água durante a noite, normalmente?

Edward. Ela censurou. — Ela não se suicidou.

Eu não sabia como ela estava tão certa disso. A mãe dela tinha tudo para querer se matar.

— Ela não tentaria se matar e me levaria junto também.

— Ela poderia achar que você não estava em casa. — Murmurei.

Isabella negou com o rosto.

— Minha mãe sabia que eu estava. Onde mais eu estaria?

— Bella, eu sei que você… se recusa a acreditar nisso, mas eu só estou levantando uma possibilidade. — Eu a disse, levemente. — Quando você estava no prédio… o que me falou? Foi algo sobre estar delirando… Renée poderia estar desse jeito também. Achou que você não estava em casa e viu que era uma oportunidade perfeita para…

— Ela não me deixaria. — Ela sussurrou.

— Ela já havia deixado.

Isabella, estupefata, ergueu os olhos marejados para mim.

— Eu não deveria ter sequer…

— Não! — Eu a parei, pegando em seu pulso quando ela se levantou do sofá, revoltada, do sofá. Era normalmente a birra infantil. Ela se exasperava quando escutava coisas que não queria. — Eu sei que foi um pouco cruel da minha parte, mas… Bella, por favor, me conte o resto.

Eu detestava ter de pedir daquele jeito.

— Você costumava ser menos cruel. — Ela observou.

Estava certa também, eu concordava.

— Me desculpe.

Respirando fundo, ela me contou sobre a sua ida para uma clínica psiquiátrica por ela ter perdido o controle ao saber que havia matado acidentalmente sua mãe e Dean. Falou-me sobre os tratamentos terríveis com choque elétrico — eu ainda me perguntava se aquela merda ainda era legalizada — e, então, o resgate tardio e insatisfeito de sua tia.

— Fale-me mais sobre a sua mãe. — Eu pedi.

Não foi suicídio. Ela falou de imediato, defensiva.

— Eu só quero saber como ela estava.

— Acho que um pouco pior do que você se lembra. — Isabella franziu o cenho. — Um dia antes do acontecido, ela me perguntou se você viria para me levar para a escola. — Ela corou, abaixando os olhos. — Perguntou por Charlie, se ele já tinha chegado do trabalho… Parecia ter se esquecido de Dean e de todo o resto.

Mais ou menos quatro anos depois a mãe de Isabella ainda se lembrava de mim. Eu deveria ter causado uma boa impressão nas várias vezes em que eu a vi.

— E você? — Eu perguntei. — O que você fazia?

— Eu trabalhava no jornal local para pagar à psicóloga e a psiquiatra de Renée.

Eu abaixei os olhos para o pano do sofá, revirando minha mente a procura de mais perguntas. Eu sabia que tinha diversas dela as quais ainda não haviam sido respondidas e sabia também que tinha que aproveitar aquele dia. Não era sempre que Isabella aceitava conversar comigo como se fosse uma coisa normal a se fazer — mesmo depois de tudo que aconteceu naquele dia.

Foi por acaso que percebi as unhas médias de Isabella e depois os seus dedos… e então o seu fino pulso o qual era marcado por uma cicatriz avermelhada que eu tinha certeza ser uma das suas várias tentativas de suicídio.

— E isso? — Eu perguntei, pegando seu pulso em uma de minhas mãos.

Ela se retraiu a princípio, girando seu pulso entre a minha mão e eu a teria deixado sair do olhar especulativo se tivesse resistido por mais tempo. Isabella suspirou e corou.

— O que foi isso?

A linha era quase perfeitamente vertical e ao redor não tinha nenhuma marca menor de hesitação. Não naquele pulso.

— Você sabe o que é.

— Quando foi?

— No ano novo.

— Você já estava aqui na Califórnia? — Eu perguntei.

Ela assentiu.

— Você tentou se suicidar quantas vezes? — Não sabia por que, cada vez que ela respondia uma pergunta, duas a mais se formavam em minha mente. Tinha tanta coisa que eu não sabia e precisava saber.

— Edward…

Eu esperei enquanto ela abaixava seus olhos e corava mais uma vez.

— Três.

— Eu sei de duas, qual foi a outra?

— Você sabe de uma — Ela corrigiu. — Eu não estava tentando me matar quando estava aquela noite no prédio. Eu estava apenas tentando pensar direito… sem a minha tia reclamando tanto como ela fazia. Ela se sentiu culpada, foi atrás de mim e encontrou a porta para a sacada trancada. Entrou em pânico e chamou a polícia achando que se tratava de um suicídio.

Isabella era mais lúcida do que parecia.

— Além do mais, há crianças no prédio e eu cairia bem na portaria…

— E o que você estava pensando quando falou que se eu me aproximasse, pularia?

— Eu pensava que eu estava imaginando tudo aquilo. — Ela explicou, franzindo o cenho e dedilhando de leve a cicatriz do pulso que eu já tinha soltado. — Na minha mente eu… acordava quando, enfim, me suicidava. Se eu pulasse, o delírio acabaria e eu acordaria.

Eu franzi o cenho.

— Não faz sentido nenhum, eu sei…

— Não, faz sim. — O pior era que fazia mesmo.

— Sério? — Ela ergueu os olhos, mais uma vez surpresa.

Eu assenti. Então eu finalmente desviei meus olhos para o relógio digital que ficava ao lado da televisão, percebi que era mais tarde do que eu imaginava. Eram duas horas da manhã. Eu esperava que Bella não estivesse com sono… eu tinha disposição e curiosidade para passar o resto da madrugada perguntando sobre coisas que não me acrescentariam em nada, mas que, no entanto, eu tinha de saber.

— Amanhã você me fala o resto? — Perguntei quando ela bocejou, cobrindo os lábios.

— Claro. — Sua boca se levantou um pouco.

Era sem dúvida um sorriso e April não estava envolvida nesse.


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Notas finais do capítulo

Considerem todos os laços entre Tanya e Edward cortados a partir de agora, hein? E alguém sabe me dizer sobre o que o John e o Edward falava? O Edward está fora de quê exatamente? Me deem teorias, sim? Vou adorar ler, divagar e responder elas! Beijos! Obrigada por todos os comentários.
Venho postar logo depois do carnaval!