Effie e Haymitch - Desde o Início (Hayffie) escrita por Denuyn


Capítulo 2
2


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é ~Pov Haymitch ;)



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Acordei com a cabeça pesada, latejante. Enxaqueca. Não era de se surpreender; afinal, fora escolhido para morrer apenas no dia anterior e a mudança brusca de ambiente era quase insuportável. Me levantei e troquei de roupa, cambaleante, para depois me juntar a Pekinns e aos outros tributos na mesa. Sabia que estava carrancudo como nunca e me comunicava por gemidos e grunhidos, mas por alguma razão, isso não me incomodava. As únicas palavras que emiti durante o café-da-manhã foi quando uma das tributos femininas, Maysilee Donner, se não me engano, me ofereceu geleia de uva.

– Quer um pouco? Não se come nada assim lá no 12 – ela esboçou um sorriso.

– Eu sei que não – respondi – E obrigado, mas prefiro manteiga.

– Impossível – ela balançou a cabeça em desaprovação. Eu não pude evitar de levantar um dos cantos de minha boca.

O treinamento era ridiculamente agressivo. Um arsenal gigantesco para 48 adolescentes e uma professora da Capital que nada podia fazer contra os monstros do 1 e do 2. Eu é que não ia ficar por lá.

Depois de esfaquear alguns bonecos, fazer um estudo básico de trilhas e notar que uma carreirista do 2 estava quase partindo pra cima de Maysilee Donner, dei um jeito de escapar. Parece incrível, mas é só encontrar uma brecha no salão, distrair a supervisora por uns momentos e deslizar para a liberdade temporária.

Perambulei pelos corredores do subsolo até encontrar a saída dos funcionários e desembocar num beco iluminado pelo sol. Parecia que já era tarde dentro do prédio, mas era um pouco depois da hora do almoço. As calçadas estavam lotadas de pessoas com rostos lisos, sorrisos de plástico e roupas de arco-íris. De jeito nenhum que eu passaria despercebido. Voltei para o prédio dos tributos, mas fui direto para os elevadores. Subi até o telhado e me lancei na mureta, tentando me livrar de tudo que estava acontecendo.

Não sei por quanto tempo fiquei lá antes de ouvir alguém engasgando atrás de mim. Olhei para trás e vi uma garota de uns quinze anos de idade metida em um vestido verde brilhante e peruca amarelo ovo. Seus olhos azuis se arregalaram ao me ver e ela começou a gaguejar:

– Ah... e-eu... desculpe, eu não...

– O que você tá fazendo aqui? – perguntei, cortando-a.

– O quê... ah, mi-minha... minha mãe veio vi-visitar...

– Eu quis dizer aqui, na varanda – revirei os olhos.

– Eu... não sei. Ar fresco? – ela arriscou.

– Claro, mesmo porque o ar daqui é tão fresco quanto o que circunda uma usina nuclear. – suspirei, virando-me para a paisagem novamente.

Ouvi, no entanto, uma risadinha tilintante. Voltei-me para a garota e, no momento em que realmente botei meus olhos nela, percebi que tinha uma beleza singela que me lembrava das garotas do 12. Não da minha namorada; ela era da região mineradora, do Prego. Tinha olhos cinzentos desbotados e cabelos escuros, enquanto essa garota tinha a aparência das amigas de Maysilee Donner (pelo menos quando as vi com ela antes da Colheita), olhos azuis aguados mas bonitos, traços simples e finos, um pouco baixa e magra. Seus cabelos debaixo da peruca deviam ser loiros, supus.

– O que é tão engraçado? – quis saber.

Ela parou de sorrir e se aproximou alguns passos.

– Nem ideia. Acho que gosto do seu sarcasmo.

– Você é a única – resmunguei. Lembro-me de como minha mãe revirava os olhos sempre que eu era sarcástico e meus professores pediam que eu parasse com as ironias e prestasse atenção na aula.

– Acho difícil – ela respondeu, dando de ombros – Você é o Haymitch Abernathy, não é?

– Ah, sim - cerrei os dentes – Um do 12. Um dos “vai morrer”.

Ela ignorou meu comentário e continuou, com a voz anasalada e sotaque da Capital:

– Você não deveria estar no treinamento?

– Não, obrigado.

– Isso não respondeu nada – ela franziu a testa.

– Ah, não?

– Deixe-me reformular a pergunta: por quê você não está no treinamento?

– Acho difícil – dei de ombros, imitando-a – Eles iriam descobrir minhas habilidades e pensar em como me derrotar antes mesmo daquela droga começar. Se bobeasse, me prejudicariam antes do treinamento acabar.

– Mas é proibido machucar os outros tributos antes dos Jogos – ela observou.

Eu sorri, acho que de maneira maliciosa.

– Vocês adorariam que algo ilegal acontecesse nos bastidores dos Jogos, não é?

Vi seu rosto ruborizar imediatamente.

– Eu... eu não. Eles, talvez até pulassem de felicidade.

Eles? Bem, você faz parte disso. Pode não gostar da quebra das regras dos Jogos, mas é integrante do grupo dos entretidos por eles. Eu, no entanto, faço parte dos que não acha graça nenhuma nessa palhaçada toda e ou odeia, ou despreza ou sente ambos os sentimentos pelas pessoas da Capital.

– E o que você acha que sentimos pelos integrantes desse grupo que nos odeia e despreza?

Parei um pouco para pensar.

– Divertimento e pena.

Ela silenciou. Aproximou-se de mim e se apoiou na mureta do telhado.

– Você tem família?

Hesitei. Algo me fez parar para pensar. Eu tinha minha mãe, meu irmão e minha namorada. Se aqueles eram meus últimos dias, o que me impedia de mentir sobre minha vida? Encarei a garota. Ela era até que bonita e parecia ter um pensamento sólido. O que me impedia de beijá-la e pedir perdão pela traição quando estivesse morrendo? O que eu tinha a perder?

– Tenho minha mãe e meu irmão lá em casa. Não consegui me despedir deles direito.

– Eles vão ficar felizes quando você voltar.

– O quê?

– Quando você ganhar os Jogos. Eles vão ficar felizes que você voltou.

– Quem disse que...

– Ora, por favor – ela revirou os olhos azuis – Se você tem coragem de xingar e dizer a uma habitante da Capital tudo o que você acabou de dizer, tem fibra pra acabar com a raça aqueles tributos e vencer esse Massacre.

Parei por um momento. Se ela realmente acreditava que eu podia ganhar, será que algo dentro de mim se sentiria motivado e acreditaria também?

– Olha, garota...

– Effie – ela me interrompeu – Meu nome é Effie Trinket, não “garota”.

– Ah... – estranhei ao perceber que ainda não sabia nem o nome dela, enquanto ela sabia muito sobre mim – Então, Effie Trinket, não seja tão confiante em relação a mim. Os carreiristas são máquinas assassinas. Eu só sei usar a faca. Sei usá-la bem, mas apenas a faca.

– E a inteligência, como fica? Estratégia, esconderijo, fuga?

Dei um sorriso de lado, provavelmente malicioso novamente.

– E o que te faz pensar que eu sou inteligente o suficiente pra esse tipo de coisa?

– O modo como você fala, anda, age e pensa – ela respondeu, sem pestanejar.

Encarei-a.

– Muito bem observado – falei – mas, por favor, se for me elogiar, que não seja com essa voz aguda irritante.

Conversamos por mais cinco minutos e combinamos de nos encontrarmos no dia seguinte. Ela disse que achava minhas ideias interessantes e queria discutir sobre algumas coisas. Eu não disse nada sobre minhas razões de concordar em vê-la novamente, mas dei-lhe um aperto de mão e um sorriso que, espero, não saiu malicioso.

Como esperado, voltei ao arsenal e ninguém havia notado minha ausência. Notei certa tensão entre os tributos do 3 e do 9 e também entre do 1 e do 12. Ignorei todos e pratiquei arco-e-flecha, algo em que eu era certamente péssimo. No entanto, não havia jeito, eu teria de tentar esconder o que eu sabia fazer para pegá-los de surpresa na Arena. E, acima de tudo, eu tinha de me manter calmo e são.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que não teve muito romance Hayffie até agora, mas vai ser uma fic beeeeem longa, até porque eles só se encontram muitos anos depois dos Jogos que o Haymitch ganhou
Sejam pacientes, por favor :3