Chego exausta em casa. Ainda bem que hoje é sexta. Assim que entro corro até o sofá e me jogo. O vento que entra pela varanda bate no meu rosto e é uma sensação muito boa. Tudo que quero é tomar um banho e descansar mas lembro que tenho que ir para o jantar. Eu não sei o horário então pego o meu celular para ligar para Zu, vejo que tem milhões de chamadas perdidas dela. Meu deus será que aconteceu alguma coisa?

– O que aconteceu? – falo assim que ela atende.

– Eu não sei o que vestir!!!!!!!!!!!!!!!! O vestido que vocês escolheram não tá legal com o meu cabelo.

Essa é a maior frescura do mundo! Eu simplesmente não tenho paciência para isso mas não vou dizer isso para ela não ficar triste.

– Eu não sou a pessoa mais apropriada para te ajudar nesse momento, liga para Gisele, ela ia adorar de ajudar. - Gisele é uma amiga nossa de infância. Ela mora em São Paulo e é estilista. Ela vai ser mais útil pelo telefone do que eu pessoalmente.

– Ah é mesmo! Tinha esquecido! Vou ligar para ela.

– Ei que horas vai ser o jantar mesmo?

– Nove. – e desligou. Ótimo, ainda são sete e meia. Eu teria um tempinho para descansar. Tomo um banho demorado e frio para relaxar. Ao contrário de muita gente eu relaxo mais com um banho frio do que com um quente. Assim que termino coloco um roupão e vou para a minha “biblioteca”. É um quarto com estantes cheias de livros e com uma poltrona beeem confortável. As paredes são creme e o chão tem carpete. O quarto fica sempre trancado e só uma pessoa entrou lá além de mim, Nicole, minha amiga que também é apaixonada por livros. Ela é advogada mas escreveu um livro “An angel fell from the sky” é o primeiro volume de um trilogia, enquanto todos esperam o segundo eu já li o terceiro, as vantagens de ser amiga da autora. Pego “Coração de tinta” ainda estou no começo mas parece ser bom. Acomodo na poltrona e começo a ler. Um tempo depois começo a ter cãibra em locais não muito legais mudo de posição mas não acho uma confortável então me jogo no chão e leio deitada no carpete. Perco a hora e quando olho o relógio, faltam só vinte minutos para as nove!!!! Corro para o quarto, pego um vestido e um salto. Passo uma maquiagem de leve, me olho no espelho, até que tá legal mas Gisele teria um infarto se me visse. Como não ligo para aparência e estou muito atrasada, saio assim mesmo.

O restaurante já é longe e para piorar está tendo uma festa na Casa de Praia, uma casa de eventos na praia, ou seja, o trânsito está horrível. Cheguei meia hora atrasada, todas as minhas amigas de infância exceto Gisele (Gi) que não mora aqui. Aceno para todos e me sento em uma cadeira vaga entre Manu e Nic (Nicole). Fui alvo de muitos olhares devido ao meu atraso mas tem um rapaz que está me encarando muito. Ele deve ser bonito mas nesse momento está péssimo, o cabelo muito negro bagunçado, olheiras enormes sob seus (maravilhosamente lindos e misteriosos) olhos verdes-mar, ele usa camisa polo azul claro que deixa uma parte dos seus braços a mostra, não posso negar que ele parece muito sarado e gostoso. Cutuco de leve Manu que me ignora, chamo seu nome bem baixinho mas ela fingi não escutar e continua conversando com um amigo de Luís, Filipe, ela parece muito interessada. Como sou uma ótima amiga, deixo ela paquerar a vontade, mentira eu dou é um beliscão nela. Me arrependo no mesmo instante, ela me dá um tapa tão forte na mão que eu solto um grito baixo mas que atrai a atenção de várias pessoas para mim (de novo). Desisto de perguntar a ela e me viro para Nic.

– Quem é ele? – pergunto apontando de leve com a cabeça para o gato dos olhos verdes.

– Gustavo, um amigo de Luís, ele parece bem triste desde a hora que chegou, bem, até você chegar, ele não tira os olhos de você hein garota! – eu coro – Pensei que não acreditasse no amor. – ela fala.

– Não acredito, mas não sou de ferro! – ela ri e eu a acompanho.

O garçom aparece do meu lado perguntando se eu aceito vinho, respondo que sim e agradeço. Luís bate de leve na taça com a colher chamando a atenção de todos. Faz um discurso lindo jurando amor eterno e não consigo evitar me lembrar da minha mãe ela também dizia que amava meu pai, tento controlar as lágrimas mas é impossível, ela caem continuamente pelo meu rosto, ainda bem que ninguém está prestando atenção.

– Zu, casa comigo? – ele pergunta, ela não responde levanta e o beija, ela também está chorando assim como metade da mesa, inclusive eu mas meu motivo é outro, ele coloca o anel no dedo dela e todos começam a parabeniza-los eu me levanto e vou até eles, lhes dou os parabéns e saio discretamente de perto, vou para o jardim que tem na frente do restaurante lá tem um parquinho de madeira com um balanço, eu sento no balanço e as imagens começam a passear sem autorização pela minha mente.

– Emocionada? – alguém pergunta, viro para ver quem é e vejo Gustavo. Nego com a cabeça. – Não é o que parece. – ele continua.

– O motivo não é esse que você está pensando.

– Posso saber qual é?

– Não. – digo curta e grossa, eu realmente não quero que ninguém saiba o que aconteceu quando eu era pequena, nem minhas amigas sabem. Ele se vira e fica olhando para o nada percebo que ele está chorando.

– Emocionado – ele ri e... COVINHAS! As mais lindas do mundo! Ele nega com a cabeça – Não é o que pareceu – falo rindo.

– O motivo não é esse que está pensando.

– Posso saber qual é?

– Não e eu não quero que ninguém me veja chorando.

– Eu sou psicóloga, você não tem noção de quantas pessoas eu vejo chorando. Vem vamos voltar antes que morram de saudades. - ele ri, vou até ele e enxugo suas lágrimas – Assim tá melhor.