POV Rachel

Meu dia começou com os bipes do alarme. Eu acho que era o alarme. Ah, ótimo. Não era. Olhei pro relógio e já eram mais de 8h. Cassandra vai me matar quando eu chegar atrasada no estúdio. Porque este é um fato inédito; eu nunca chego com atraso. Resolvi comer alguma coisa bem rápida e sair correndo. Não podia perder a reunião para as discussões sobre meu próximo filme. Só comi e saí de casa rumo a um dia que eu previa que seria bem duro.

Cheguei a tempo dos produtores entrarem na sala de reuniões. Cassandra, minha agente pessoal – que mais parece uma segunda mãe pra mim, de tanto mandar em mim – quase me enfiou esôfago abaixo.

– Rachel, você está mais do que atrasada! Por acaso ligou o alarme?

– Pensei que minha mãe morasse em Washington, não aqui.

– Para de implicar, garota, e entra logo!

– Quer ver seu salário reduzido pela metade, Cassandra July? Porque parece. - ameacei.

– OK, não está mais aqui quem falou. Mas precisa entrar.

– Claro, vamos indo.

Naquela reunião, os produtores e o diretor me apresentaram uma personagem revolucionária para mim. Eu interpretaria uma jovem cujo maior sonho é se apresentar na Times Square na noite de ano novo, mas que teria que enfrentar a dureza de seu chefe, que a obriga a trabalhar no escritório de publicidade bem na noite da virada.

– Eu simplesmente A-D-O-R-E-I este papel. Com todas as letras! - exclamei.

– Ótimo. Ainda estamos enfrentando problemas para escalar quem vai interpretar o seu chefe. Gostaria de ver as alternativas? - O meu diretor favorito, Artie, me perguntou.

– Sim, claro. Vai que eu conheça um deles?

– Então, nós temos Ryder Lynn, Mike Chang, Blaine Anderson e Finn Hudson. Conhece?

– Conheço apenas o Blaine e o Mike. São meus amigos desde o Ensino Médio.

– OK então, reunião encerrada. Amanhã diremos qual destes quatro foi escalado. - Artie encerrou a discussão, e logo eu e Cassandra saímos rumo a um estúdio de fotografia. Desta vez eu tinha de tirar umas fotos para a campanha do filme. Seria apenas uma parte, já que o outro protagonista ainda não fora escolhido. Logo nos encontramos com a fotógrafa, Emma Pillsbury.

– Olá! Você deve ser a Rachel Berry. Sou Emma Pillsbury, mas me chame de Emma. - ela se apresentou gentilmente, mas a estraga-prazeres Cassandra pediu para adiantarmos logo essas fotos. Tanta arrogância em uma agente só.

– Então, Rachel, eu quero que você fique no meio, segurando este microfone antigo com a mão direita e uma pasta de papéis publicitários ao lado, para representar o conflito de sua personagem, a Katie. - Emma deu as indicações e logo tiramos todas as fotos em menos de 1 hora. Percebi que já havia passado das 13h, então resolvi parar para almoçar em algum restaurante aqui por perto. Cassandra finalmente largou do meu pé, então não havia problema nenhum me interrompendo na hora de comer.

Saí do restaurante. E enquanto andava pela calçada da rua, meu celular bipou. Ótimo, aposto que a Cassandra arranjou outro trabalho pra mim hoje. Estava contando com uma tarde de descanso. Enquanto procurava meu celular na bolsa, algum desavisado esbarrou feio em mim. Eu quase caí de cara na lama, mas o mesmo desavisado me segurou na hora.

– Cuidado! Não olha por onde anda, não? - E foi assim que eu agradeci o gesto do homem. Percebi que ele era alto, tinha belos cabelos pretos e era, no geral, bonitão (se controla, Rachel, você acabou de se meter numa discussão, volta à vida real!). Ele retrucou:

– Acabei de salvar seu lindo rosto de uma lama bem fedorenta e em troca ganho isso?

– Foi mal, seu convencido. Mas é que isso não teria acontecido se não fosse por você.

– Então quer dizer que eu não posso mais ouvir músicas no MEU fone de ouvido?

– Não disse isso. Ao menos você prestou atenção? - ele deu de ombros, sinalizando um “sei lá”. Homens, sempre desastrados e ainda jogam a culpa nos outros!

– Tá bem, discussão encerrada? - ele sugeriu.

– Com certeza. Espero não te ver nunca mais! - eu e minha boca grande.

– Eu também espero isso. - ele esbravejou e logo seguiu seu caminho.

POV Finn

Eu estava na lista dos possíveis protagonistas daquele novo filme chamado “New Year's Challenge” e torcia para que eu fosse escalado. Resolvi passear pelo quarteirão onde eu moro. Levei comigo um boné para ninguém me reconhecer como 'aquele famoso ator e cantor que é o galã da vez' e fones de ouvido para escutar músicas que em dias comuns nem tenho tempo de ouvir. Como eu fico meio desligado do mundo quando ouço música, não percebi que havia uma garota quase colidindo na minha frente. Nos esbarramos e ela se virou por acidente. A mesma quase meteu a cara na lama, mas por sorte puxei seus dois braços antes que isso acontecesse. Pensei que iria ouvir um agradecimento, mas em vez disso, a tal pessoa me veio com quatro pedras na mão.

– Cuidado! Não olha por onde anda, não?

Discutimos feio naquela hora, e depois esperamos não ver um ao outro nunca mais. Ainda bem, eu não iria aguentar ver aqueles cabelos pretos com mechas loiras e um rosto perfeito outra vez... Espera, o que eu acabei de falar? Se controla, Finn Hudson, ela foi apenas um erro na sua vida. Você mal a conhece pra saber disso!

Alguma coisa dentro de mim dizia que aquele foi apenas o primeiro de muitos encontros problemáticos que eu teria com aquela garota linda. Resolvi, então, ligar pro meu mais recente amigo, o Ryder.

– Alô? Ryder?

– Finn! Quanto tempo, né?

– Infelizmente eu venho andando com muitos trabalhos ultimamente. Estou numa lista pra um novo filme e você sabe como é uma loucura a vida de ator. Afinal, você também é um.

– Sei como é. Mas vamos sair um dia desses, bater um papo de amigo pra amigo...

– Com certeza! Tô precisando mesmo de um ombro amigo.

– Tá, depois a gente se fala. Tem uma outra ligação esperando.

– Tá bem, então. Tchau, Ryder! - desliguei o telefone, e minutos depois recebi uma ligação do próprio diretor daquele novo filme, o Artie.

– Alô? É Finn Hudson?

– Sim, sou eu. Saiu o resultado?

– Sim, e adivinha? Você foi o escolhido. Meus parabéns.

– Sério? Valeu, valeu mesmo! E quando eu posso ir ao estúdio?

– Na próxima semana teremos uma mesa de leitura para as cenas que envolvem o seu personagem, e na semana seguinte já iniciaremos as gravações. Esteja aqui na segunda.

– OK, então! Valeu mais uma vez!

YES! Consegui o meu tão sonhado papel. Poderia até ser um filme comum pra alguém que já estrelou uma famosa série de TV e já fez dois filmes do Jeffrey Hornaday, mas Artie Abrams é o diretor do momento. Atuar com ele dirigindo é como um Oscar pra mim. Se eu tivesse que enfrentar qualquer desafio, eu enfrentaria. Só que eu não sabia que o temido desafio era justamente enfrentar aquela garota outra vez...