Tínhamos sete dias para levar Atena Parthenos ao Acampamento meio-sangue, e por incrível que pareça, estávamos adiantados. Mas não poderíamos nos dar ao luxo de enrolar, porque Octavian e o exército de romanos estavam a caminho para atacar os gregos.
Reyna não estava mais no quarto quando acordei, depois de me arrumar, decidi tomar um café. O quarto era deprimente e meu estômago estava roncando. O salão de café estava quase vazio, no máximo 5 pessoas, contando com Hedge e Reyna. Eles pareciam chateados um com o outro, pois estavam na mesma mesa e nem se olhavam.
Peguei um prato e fui me servir, fiquei surpreso ao reparar que no final, meu prato estava cheio. Eu normalmente me alimento muito mal. A única palavra que troquei com Reyna foi "bom dia". Eu realmente não a entendo. Um dia ela conversa comigo como se fosse minha melhor amiga, e no outro, mal dirige a palavra a mim.
Pensando bem, o hotel não era tão ruim. Andar de um lado para o outro me ajudou a encontrar uma sala com uma lareira reconfortante. Fazia muito frio, então decidi ficar ali mesmo lendo Harry Potter pela quarta vez.
Uma mulher baixinha me serviu um chocolate quente, mas eu paguei, é claro. Estava tudo bem calmo, até uma garota irritada entrar batendo os pés com força na neve. Reyna tinha os cabelos soltos, e uma toca rosa de lã. Ela bufou quando me viu, e quase voltou para trás.
– Não vou lhe incomodar, Reyna. - disse, sem tirar os olhos do livro.
Ela entrou e sentou-se na poltrona ao lado do sofá onde eu estava.
– Hedge é um idiota!
– Por que diz isso? - perguntei, finalmente fechando o livro.
– Uma dracaenae nos atacou hoje de manhã, e ele quase não me deixa lutar, queria controlar tudo com seu taco idiota!
– Espere um pouco... Vocês lutaram sem me chamar?! - me senti nervoso.
– Você estava dormindo e...
– Nunca mais faça isso, droga! Eu não estou aqui só para conduzir, eu também posso lutar, tá legal?! - percebi que estava gritando, e Reyna iria provavelmente me partir em pedacinhos com sua espada, mas ela apenas deu de ombros.
– Está bem.
Assim que fui abrir o livro, um barulho ensurdecedor veio lá de fora.
– Mas que...? - comecei, mas uma figura quase humana invadiu a sala.
Cupido, meu velho amigo. Meio humano, porém vestido totalmente de branco e com asas enormes surgindo de suas costas. Engoli em seco, minha última aventura com ele não foi nada legal.
– O que está fazendo aqui? - perguntei, minha voz fraquejando.
– Eros?! - Reyna indagou.
– Romanos me conhecem assim, e os gregos me chamam de Cupido, você escolhe. - Reyna piscou, aturdida. - Como está, Nico?
Os dois olharam para mim, e minhas bochechas queimaram de vergonha. Ele não iria contar, iria?
– O que faz aqui? - perguntei, secamente.
– Percebi que algo inaceitável está acontecendo aqui. - ele respondeu. - Não concorda, Nico?
– Não sei do que está falando. - e eu realmente tinha minhas dúvidas.
– Não? Pois vou te explicar. Em um minuto você está se deprimindo por causa dele, e no outro está se divertindo com ela?! - ele apontou acusadoramente para Reyna.
– O quê? Do que ele está falando, Nico? - Reyna perguntou, estava claramente confusa.
– Pare! Não diga mais nada! Por favor! - supliquei, eu não suportaria se ela descobrisse.
– Por que? Ainda tem vergonha de si mesmo, menino?!
– Eu não... - tentei contestar, mas o que eu podia falar que não entregasse os pontos? - Vá embora, não tem nada aqui para você.
– Ela não sabe, não é? - ele riu. - Devia saber, Reyna, que o garoto por quem está se apaixonando, tem uma queda pelo...
– Não! - gritei. - Cale a boca! Eu não tenho mais! Você devia saber disso! Eu superei! E agora não é mais mentira! - minha garganta arranhava por causa dos gritos. Não sei como alguém não veio ver o que estava acontecendo, Névoa, talvez. - Eu não tenho uma queda por ele mais.- abaixei a cabeça, segurando as lágrimas. Eu realmente não tinha, sem dúvidas. Só que preferia que ficasse enterrado no meu passado. Não queria que a Reyna descobrisse.
– Ele? - ela repetiu. - Como assim "ele"?
– Nico teve uma queda pelo Percy Jackson.- Cupido falou. Solucei contra minha vontade. Reyna olhava pasma para mim. - Mas pelo visto não tem mais.
– Por que veio aqui? - perguntei, erguendo a cabeça, mas sem coragem de encarar a Reyna.
– Só queria deixar claro para ela. Ela vai se meter em um relacionamento complicado, com um garoto complicado...
– Você só veio estragar tudo. Veio estragar minha chance de... - parei, com medo de falar alguma besteira.
– De ser feliz? - ele zombou. - Mas não vim só para isso. Trago uma má notícia. Jason está morto. - e eu pensei que meu dia não podia ficar pior. Reyna caiu de joelhos ao meu lado, chorando. - Até mais. - e assim, Cupido desapareceu da sala.
Me arrastei até onde Reyna chorava e tentei tocá-la, ou consolá-la, mas ela me empurrou.
– Você devia ter me contado! - ela finalmente me encarou, e seus olhos estavam marejados. - Ele não pode estar morto, Nico... Como? Ele era forte e... - de repente, me ocorreu a ideia de que Reyna não tinha superado sua queda pelo Jason. Não é hora para ciúmes. Ele era meu amigo, o único que sabia do meu segredo, e ele não se afastou. Eu estava abalado com aquilo tanto quanto ela.
– Eu não sei... Vamos nos comunicar com os outros depois, mas você precisa se acalmar, está bem? - tentei bancar o forte, eu tinha que estar lá por ela. - Sei que gostava muito dele, Reyna, ele também era meu amigo, mas as pessoas morrem, e eu tenho certeza, certeza absoluta, de que ele morreu como um herói. - ela assentiu, e inesperadamente me abraçou. Aninhada nos meus braços, Reyna chorou como uma criança.
Não posso dizer que fui extremamente forte e consolei-a, eu tentei, mas acabei chorando também. Nem uma palavra sobre meu segredo escapou, na verdade, não conversamos. Apenas ficamos lá, abraçados e compartilhando sofrimento por um amigo.