A última primavera escrita por Valerie


Capítulo 4
Um raio, uma lembrança


Notas iniciais do capítulo

Não estou revisando os capítulos, é provável que esteja faltando muuuuitos acentos e vírgulas e enfim.



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Mostrei a mim mesma de que minha teoria está certa, contando nos dedos as evidências.

– 1º Eu faço exames todo mês, e eles não detectam nada. O que me faz pensar que se as dores não são causadas por algo dentro de mim, só pode ser algo externo.

– 2º A “coisa” tem que estar perto, porque eu estou começando a sentir de novo.

– 3º Não seria nenhum objeto, porque objetos não andam e eu não sinto dores em determinados lugares, são sempre variados.

– 4º A “coisa” não pode ser alguém que eu conheça, porque eu já teria descoberto.

– 5º Também não poderia ser um robô ou um alien porque essa idéia é ridícula.

Parei de numerar os fatos, isso só fazia minha cabeça latejar mais forte e se continuasse falando me empolgaria e acordaria mamãe. Mas eu tenho certeza de que a “coisa” é humana. E estava por perto e quem quer que seja estava me observando. Via-me com olhos famintos, desejo na boca e amor no coração. Não sabia como, mas eu podia senti-lo e eu tenho agora mais certeza, de que é um garoto. Tenho 16 anos e nunca me apaixonei, mas se eu pudesse vê-lo tenho certeza de que já teria caído em êxtase; Abaixei a cabeça triste e me permiti sonhar um pouco, montar um conto de fadas pra mim mesma e melhorar meu ânimo.

– Talvez ele fosse o menino que me esperava desde os seis anos. O menino que tinha certeza de que eu era dele.

A cada palavra que repetia num sussurro sentada na janela, sentia uma sensação de certeza, de verdade. Aproveitei para observar o topo da arvore, a chuva caindo em suas folhas, e o brilho de um trovão cortando os céus. E eu continuo quieta no meu canto repetindo meus pensamentos:

– Como posso senti-lo? Como posso saber que é um menino?

Eu estava prestes a começar a chorar, quando mais um clarão iluminou o céu com um raio. O bastante claro para me permitir vê-lo sentado, num galho da árvore (que eu dizia que era minha) que se encostava à minha janela, olhando pra mim, olhando dentro dos meus olhos.

Pisco uma vez e balanço a cabeça. Olho de novo, mas não o vejo. Talvez fosse somente uma ilusão, mas é real demais pra que eu deixasse ir embora. Atrevo-me a abrir a janela com uma mão, coloco meu corpo para fora e sinto a chuva gelada em mim; Ele se fora. A dor também. Ele estava indo pra longe, longe de mim. Olhei para os dois lados, esperando um sinal, mas não o vi em canto algum. Desiludida, fecho a janela, mas não antes de perceber um brilho no parapeito.

Pego o frasco e examino-o em cima da cama. Dentro havia um bilhete: “Parabéns, Clara”. E em seguida vejo mais alguma coisa dentro, viro o vidro de cabeça pra baixo e pego o que tanto brilhava: um colar.

Mas não era qualquer colar. O pingente era um raio tão lindo que parecia vivo. Um raio do céu, um raio de lembrança, um raio daquela lembrança.

Guardei o frasco por algum motivo. Coloco o colar no pescoço e me olho no espelho.

“Como ele sabe sobre os raios? Como ele sabe que eu amo raios?”

Muitas perguntas sem respostas se formavam. Olhei para o relógio. Já era tarde, mas não quero dormir. Quero saber quem ele é. Sinto o colar vibrar no meu pescoço, como um raio lá fora. Olhei novamente a árvore, o galho em que ele estava sentado. Percebi naquele momento que pronta ou não ia ter de encará-lo. Ia ter que conhecê-lo, cedo ou tarde, algum dia.

Minhas pálpebras estavam pesadas. Estava quase dormindo, tive um dia cheio, adormeci pensando nele, pensando no futuro, e em como seria nosso encontro.

Sábado, dia 15 de julho de 2009.

– Que dia lindo pra fazer aniversário!

Levantei da cama e abri a janela para que aquele ventinho de inverno circulasse pelo quarto. Não pedi nada a ninguém, muito menos avisei que tinha acordado.

16 anos já era! Agora eu tinha feito exatamente 17 anos, estou ficando mais velha, e pior encalhada. Será que o meu futuro seria “ficar pra titia”? Do jeito que o Lukas anda com a Flávia, vão acabar se casando! Nunca vi um casal tão grude.

Admirando o meu melhor presente de aniversário, meu colar, no espelho notei um estranho silêncio na casa, olhei para o relógio vi que ainda era cedo. Meu estômago roncou e imediatamente lembrei que não estava me alimentando bem.

Levantei da cama, me espreguicei e abri a porta.

Nossa! Foi uma surpresa engraçada. Mamãe e Lukas estavam de plantão na minha porta esperando eu acordar com velas de aniversário na mão e uns embrulhos. Aquela mania de Sandra de guardar as velas dos aniversários anteriores tinha agora uma resposta. Foi tão inesperado que me emocionei, mas ao dar passos para trás escorreguei em um ursinho de pelúcia e caí de bunda no chão. Esse susto fez que eu me concentrasse nos meus poderes de forma que pude perceber que não haviam somente três pessoas próximo a mim, e sim quatro. Levantei com ajuda da minha mãe e basicamente me arrastei até a janela. Eu o senti mais uma vez, eu sabia que ele estava me dando parabéns. Sandra e Lukas ficaram com uma cara de “viajando na maionese”, até eu dar uma risadinha e abraça-los.

– Vocês todos são demais! Amo os três! – Falei.

– Clara você está mal na matemática... - Tentou esclarecer Lukas.

Eu sabia que tinha falado certo, o importante era que ele tinha ouvido, e tinha gostado do que ouviu.

Podia ser esperto para esconderijos, mas não tão esperto quanto eu.

Sentei na cama com meus presentes e peguei primeiro o do Lukas para abrir.

Era um casaco da GAP preto e branco.

– Aí! Muito obrigada lukinhas, como você sabia que eu queria esse?

Abracei-o com vontade, até ele reclamar que eu estava o sufocando como o gesso.

Peguei a caixinha da mão da minha mãe e que surpresa, um celular novo! Mas tinha algo no fundo da caixa um envelope com uma graninha básica.

– Não acredito! Ah mãe, obrigada. Eu não sou nem uma filha que mereça isso.

Ela já estava coçando os olhos, mas pra disfarçar ela achou melhor não falar nada.

– Uhúl! Agora vamos comer! - Falou Lukas entusiasmado tirando o clima do choro.

Indo pra cozinha, meu irmão percebeu o colar.

– Quem foi que te deu essa bijuteria aí no seu pescoço?

Tentei mudar de assunto o mais rápido possível.

– E aí mãe? Comeu meu cachorro quente ontem?

– Sim filinha, mas quando passei no seu quarto você já estava toda enrolada nos cobertores.

Puxei o máximo de recordações de ontem, antes de dormir, eu não me lembrava de ter me coberto, mas, enfim. Tudo estava correndo perfeitamente bem até o bobo do meu irmão voltar à inquisição de como consegui meu colar.

– Ah, maninha dá pelo menos uma desculpa. Diz que o nosso cachorro trouxe pra você na boca!

Cara, quando o Lukas quer ser chato ele chega ao extremo.

– Nós nem temos cachorro, tirando você. – Respondi.

Sabia que aquele fora o deixaria quieto porque sei das besteiras que ele faz que ele não gostaria que a Sandra soubesse. Mas ele apelou, aquilo era golpe sujo, ele levou o caso para suprema corte.

– Mãe, você não vai falar nada?

Lukas estava passando dos limites, cavando sua própria sepultura. Se de algum modo ele fizer Sandra tirar o colar de mim ele irá se arrepender!

Ambos fomos salvos pelo telefone. E que estranho Sandra correr pra atender. Ela sempre diz que o simples toque do telefone a deixa em uma pilha de nervos.

Lukas e eu nos olhamos assustados e levantamos juntos para espiar com quem ela está falando. Um novo namorado?

– Cala boca, e cuidado com minha mão! - Sussurrei dando broncas no Lukas.

Ele parecia uma criança brincando de detetive, talvez ele estivesse tão preocupado quanto eu.

– Filha pode sair daí de trás, eu sei que você está aí. É o Lorran, quer falar com ele?

Por um segundo não acreditei no que tinha escutado, não é possível! Recompus-me e peguei o telefone. Agora eu estava realmente preocupada, como era possível ela correr para atender o Lorran?

– Oi, tudo bem? - Falei meio sem jeito.

– Parabéns pra você... – mais uma vez aquela música monótona, será que não dava pra mudar a fita? - E aí minha linda, como está se sentindo nas primeiras horas com 17 anos?

– Na verdade eu só nasci umas sete, sete e pouco. Mas eu me sinto velha.

– O que você vai fazer pra comemorar? - Disse ele rindo.

– Nada planejado... - fiquei frustrada e procurei uma solução rápida - Vem pra cá!

– Tudo bem eu vou só, er... seu presente... olha daqui a uns 10 minutos eu estou aí!

– Estou te esperando então!

Desliguei o telefone e fui para o quarto pegar o celular novo e começar a aprender os comandos, voltei para cozinha. Café da manhã farto de frutas, e suco de maçã, tudo que sempre adorei. Ainda bem que a Sandra não levou a sério a história do colar, porque eu não tenho idéia da desculpa que daria a ela. Comi e fui para o meu quarto procurar algo que ficasse bom com um gesso e uma tala de acessório.

Lorran chegou atrasado, com um embrulho nas mãos. Enquanto conversava com ele, Lukas não se cansava de me encarar apontando para o próprio pescoço, mostrando que eu estava com sérios problemas com Sandra. Lorran sentou no sofá do meu lado com o presente nas mãos.


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