A última primavera escrita por Valerie


Capítulo 10
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Fui atrás deles e sentei no sofá, ele continuava em pé, cheio de vergonha. Puxei-o pela blusa até ele sentar do meu lado. Lukas enfurecido se trancou no quarto. Mamãe provavelmente preparando algo na cozinha para comermos mais tarde.

Conversamos por um longo tempo, até Lukas sair do quarto todo sorridente, mas aquele não era um sorriso comum era: “o sorriso malicioso do Lukas”. Eu conheço bem a cobra criada e adestrada que ele é pelos seus olhos vi que ele estava tramando algo. Passaram-se alguns minutos de risos até tocar o interfone.

– Eu atendo! - Gritou mamãe da cozinha.

Por mais que eu quisesse ouvir o que Paolo achava sobre os efeitos especiais de Matrix, fiquei curiosa por saber quem era no interfone. Pedi licença ao Paolo e fui até a cozinha e perguntei a Sandra:

– Quem era mãe?

– Um amigo do Lukas está subindo, abre a porta pra mim? Estou fazendo mais bolinho de chuva.

A campainha tocou e eu fiquei me perguntando qual dos amigos dele seria. Talvez o Thiago... Abri a porta e para minha surpresa não era o Thiago, era o Lorran. Ele estava de cabeça baixa com uma flor na mão, e daquela flor eu lembraria sempre, a mesma do buquê que ele me deu quando eu estava doente.

– Olha, eu sei que vacilei com você, mas eu queria te pedir...

Antes de ele terminar, minha mão escorregou da maçaneta e a porta se abriu dando a ele uma visão ampla da sala, o que não era bom pra mim. Ele entrou em casa e seu tom de voz calmo e baixo se transformou. Arrisquei a perguntar:

– Pedir o quê?

– Pedir para você ligar pra Lívia, porque ela quer falar contigo.

Seu tom era seco e sarcástico. Agora sim tinha se transformado de água para esgoto. Eles ficaram se encarando como dois machos brigando pela fêmea. Até Sandra aparecer e acabar com aquele silêncio mórbido.

– Para quem é a flor, Lorran?

– Pra você, tia. - Disse ele entregando a flor a ela, indo em direção ao quarto do ser repugnante que tinha tramado tudo aquilo, Lukas.

A alegria nas palavras de Paolo desapareceu:

– Clara, sei quando não sou bem vindo. Você sabe melhor que eu que o Lukas não foi com a minha cara e o seu amigo também não...

Resolvi ficar quieta, ele estava se sentindo deslocado e eu sei bem como é isso.

– Eu vou falar com a sua mãe que estou indo pra casa está bem?

Por mais que eu soubesse da verdade, insisti com meu ultimo argumento:

– Mas, Paolo, minha mãe vai ficar chateada se você não provar o bolinho de chuva dela.

– Por favor... - Ele suplicava.

Não resisti e fiz que sim com a cabeça, aquela carinha me fazia derreter.

– Então espera eu ir falar com a minha mãe, eu vou te acompanhar.

Ele assentiu e foi até a porta. Corri até a cozinha, o lanche estava servido, Lorran e Lukas logo chegariam na cozinha, pude ouvir seus passos no corredor. Chamei Sandra no canto e expliquei a situação e para minha surpresa ela entendeu, mas ainda assim enrolou alguns bolinhos e piscou pra mim. Ela me levou até a porta, mas ele já não estava mais em casa.

Despedi-me correndo e apertei o botão do elevador tantas vezes, pois pensei que isso pudesse me ajudar a chegar mais rápido (santa burrice). Na frente do portão do prédio ele me esperava inquieto andando de um lado para o outro. Não iria me meter mais em seus motivos, mas a curiosidade não me deixava em paz. Eu não tinha idéia de onde ele morava, então andei a passos lerdos para poder aproveitar o tempo com ele, mesmo que fosse naquele silencio.

– Estraguei tudo com a sua mãe não foi?

– Não, que isso! Ela te entende, até mandou bolinhos pra você.

Ele pegou o embrulho da minha mão.

– Deixe que eu levo isso pra você.

Estranhei a distancia da minha casa, tínhamos passado da pracinha.

– Onde estamos indo? – Perguntei.

– Para minha casa, não acredita?

– Claro que sim! - Respondi rápido demais o fazendo sorrir.

Chegamos num prédio alto e antigo, entramos no elevador (eu entrei obrigada porque estava morrendo de vergonha). Chegamos ao último andar e ele tirou do bolso uma chave, abrindo a porta e dizendo num tom frio:

– Cheguei.

Ouvi uma voz masculina vindo de outro cômodo do apartamento:

– Qualquer coisa estou no escritório!

Parei encalhada na porta, não queria incomodar.

– Entre Clara, eu quero te mostrar uma coisa.

Ele não respondeu ao homem e foi direto ao meu ponto fraco, me olhou com aquele jeito que só ele tem, pedindo que eu entrasse.

– Está bem, mas não posso demorar.

Fomos em direção à porta trancada, e novamente ele tirou o mesmo chaveiro do bolso e abriu a porta.

– Não repare na bagunça, mas esse é o meu quarto.

Quando entrei não vi nada a não ser uma grande e ampla janela que tinha vista para a pracinha. Ele catou várias coisas, escondendo embaixo da cama e dentro do armário.

Logo Paolo viu que eu não estava nem um pouco preocupada com a arrumação do quarto, simplesmente me sentia envolvida por aquela vista maravilhosa, até ele parar de arrumar o que quer que fosse e se debruçar na janela ao meu lado.

– Cara eu poderia ficar aqui o dia inteiro, minha paixão por janelas é estranha eu sei. - Comentei.

– Lembra que eu te contei da minha tentativa de suicídio? - Perguntou.

– Lembro e daí?

– Foi aqui que eu tentei, mas o chato do Kaylon não me permitiu.

Ele ria.

Afastei-me da janela chocada com o que ele tinha falado.

– Já está falando mal de mim pra menina? Eu sou o Kaylon, muito prazer, você é a...? - Disse um homem alto, de óculos, com o cabelo castanho com cara de gente simpática.

O Paolo não me deixou responder e tomou minha frente:

– Essa é a Clara, e por falar nisso sua mãe já deve estar preocupada. Eu te levo até a porta.

Estranha atitude, aquele não era o Paolo que eu conhecia. Quem seria aquele homem que ele tratava tão mal, talvez pudesse ser o pai, mas eles não se pareciam nem um pouquinho.

Despedi-me e voltei pra casa pensativa e com sentimento de culpa, só quando entrei em casa pude perceber que ainda não tinha levado Sean para passear e conhecer o bairro. Mamãe e Lukas já tinham saído com ele, mas eu não. Fui direto para o quarto e brinquei com ele.

Lorran já tinha ido embora, Lukas não está em casa, mamãe limpando a cozinha e na sala, caída no chão a flor que Lô teria levado para um possível pedido de desculpas, que não foi como o planejado.

A semana até que não foi tão ruim, não era lá um bicho de sete cabeças, eu não podia sair de casa, usar o telefone, ou falar com o Paolo pela janela. Pessoalmente o que eu mais tinha odiado foi a terceira proibição.

Por todo esse tempo não ouve nenhuma ligação de Lorran, ou Lívia. Sinto saudades dos dois, mas eu odeio uma coisa em mim que me impede de fazer as pazes com eles que se chama: “temperamento forte”. Mamãe sempre fala que eu puxei isso da minha família paterna, isso me fez parar para pensar onde meu pai estaria agora.

Depois da separação ele viajou para diversos lugares, deu notícias nos primeiros anos, mas quando descobriu minha doença parou de mandar cartas e os telefonemas acabaram.

Será que ele lembra de mim? No momento isso não vem ao caso. Não dei o braço a torcer e o mês de julho acabaria logo. Nem sinal de vida do Paolo, tirando os bilhetes que ele tacava pela janela perguntando se eu estava bem. Ria sozinha ao ler, ele tinha medo de ser pego pela minha mãe quebrando regras e receio dela aumentar o castigo.

Logo meus últimos dias de férias estariam se aproximando e o Paolo poderia voltar e conversar comigo. O mês de julho passou mais rápido que o normal, mas se parar pra pensar é sempre assim, quando estamos felizes ou aproveitando o tempo, ele passa mais rápido e parece correr.

O dia que Paolo poderia vir me visitar chegou e a animação tinha tomado conta de mim.

Eu e meu sorriso enorme caminhávamos pela casa até ouvir uma discussão entre Sandra e Lukas.

– Você tem que levar sua irmã!

– Eu não tenho que ir a lugar nenhum, ela já é bem grandinha e pode muito bem ir sozinha.

Eles estavam brigando por minha causa, e eu como sempre, nem sabia do que se tratava então me intrometi:

– Me levar aonde?

– Tirar o gesso Clara, eu não posso te levar, estou indo numa emergência no hospital e seu irmão já tinha marcado algo com Flávia.

– Mas mãe, eu tinha marcado com o Paolo...

Tentei insistir, mas ela me cortou.

– Ótimo! Vá com o Paolo!

Aquela situação não era a das melhores, mas também não era a pior do mundo, era o que podemos chamar de meio termo.

Todos saíram de casa as pressas e eu fiquei com Sean esperando Paolo na janela. Passaram-se alguns minutos e ele apareceu, o difícil seria contar que ele tinha uma missão.

– Onde está todo mundo?

– Saíram, posso te pedir um favor?

Eu morria de vergonha, mas se não pedisse agora iria me atrasar.

– Pode, mas olha lá o que você vai e pedir.

Abaixei a cabeça, senti meu rosto corar.


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