Cinza escrita por Ceres


Capítulo 1
Oneshot


Notas iniciais do capítulo

Hey. Fanfiction inspirada nos irmãos Al-Sayf! O que acham?
Bem, só espero que gostem, hum? Não tenho muito o que falar mesmo, só que foi uma experiência incrível escrever sobre eles. Eu estava quase chorando!
Pois bem, vamos lá.



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Aquele lugar era estupidamente abafado. Lama estava em todos os lugares. Ouviam-se goteiras ao longe e passos ecoando no nível abaixo deles. O fogo das tochas que iluminavam o corredor dançavam com o vento fraco que a caminhada deles fazia.

Eram três pessoas devidamente armadas e treinadas com espadas. Dois soldados, sendo um deles novato, e um mais experiente que os anteriores. Usavam capuzes que cobriam boa parte de seus rostos. Pesavam nas costas do rapaz, e como. Olhou por cima do ombro para seu irmão caçula. Parecia amedrontado. Era sua primeira vez em campo? Não conseguia lembrar...

— Malik!

Acordou de seu devaneio em um sobressalto. Olhou ao redor. As estantes e livros pelos quais tinha muito apreço mantinham-se intactos. Fitou sua mesa, o mapa que passava horas e horas por dia estudando e bolando estratégias com bonecos esculpidos em pedra era o mesmo, assim como as penas e pergaminhos que usava para escrever.

Suas atenções foram direcionadas para a entrada do bureau. Um homem de capuz branco entrou e acenou com a cabeça, abrindo um sorriso que não foi retribuído.

— Boa tarde, Altaïr — disse laconicamente.

— Alguma coisa pro dia? — o rapaz perguntou com ansiedade, sentando-se em um dos sofás de madeira que lá tinham.

— Nada — Malik voltou a observar seus bonecos de estratégia. — A cidade anda pacífica esses dias. Tire a tarde para descansar um pouco.

O assassino observou seu amigo por um longo momento. Aproximou-se dele e pôs a mão em sua testa.

— Estás doente? — perguntou em um tom de voz preocupado.

— Não! — Largou o pequeno general que tinha e bateu na mão de Altaïr. — Estou em ótima condição física!

— Você me mandou tirar o dia de folga. Isso não é típico de você, Malik.

Estou bem — insistiu. — Agradeço sua falsa preocupação, novato. Mas estou em plena forma. — O outro encolheu os ombros e cruzou os braços, enquanto o rapaz voltava-se para sua estante, procurando um livro. — A cidade apenas não precisa ser salva. Estamos em tempos de paz, meu caro. E espero que continue assim por um tempo, assim não preciso aturar as imbecilidades que você faz.

— É, você está saudável — o assassino sorriu com o canto dos lábios.

— Arrume algo para fazer — retrucou, observando-o por cima do ombro.

Malik ouviu o suspiro de Altaïr antes de este deixar o bureau. Voltou suas atenções à estante, retirando um livro já amarelado pelo tempo e com a capa desgastada. Não conseguiu segurá-lo direito e acabou por deixá-lo cair. Resmungou uma maldição para si e dobrou os joelhos para apanhar o objeto, jogando-o de qualquer jeito sobre a mesa.

“Isso não aconteceria se eu ainda tivesse meu braço...” pensou, olhando por onde o outro rapaz saíra.

— O senhor Altaïr é incrível, não é, irmão?

O rapaz fitou seu irmão ao virar-se. Kadar estava no auge de seus vinte anos e já vestia o manto cinza. Mais alguns anos — ou até mesmo meses — de treinamento e estaria fazendo missões junto da elite de assassinos.

Malik apenas não aprovava quem o rapaz escolhera para se espelhar.

Cruzou os braços e voltou a observar o treinamento.

— Ele é bom — limitou-se a dizer.

— Ah, vamos! Ele é um ótimo assassino.

O mais velho franziu o cenho. Não soube dizer exatamente, porém aquela conversa estava começando a incomodá-lo. Kadar apenas riu. Debruçou-se sobre a cerca baixa de madeira e encarou o centro do pátio do castelo, onde Altaïr treinava combate contra outros três assassinos novatos.

— Eu queria ser como ele — falou com orgulho.

— Não, Kadar — retrucou Malik ao virar-se bruscamente para seu irmão.

— Ora, por quê?

Fez-se silêncio, apenas quebrado pelo tilintar das lâminas encontrando-se durante a batalha amistosa. O rapaz mais jovem decidiu parar a conversa por ali. Seu irmão realmente parecia irritado e não queria que brigassem, visto a maneira como desviou o olhar para a muralha que os cercava.

Na verdade, nem mesmo Malik entendia sua antipatia por aquele assassino. Era apenas o mais puro desgostar, sem motivo. Achava-o arrogante, cheio de si e insolente. As poucas vezes que precisara interagir com ele foram detestáveis e, por alguma razão, o rapaz imaginava que Altaïr trazia consigo um mau agouro próprio, como se a qualquer instante o Credo se corrompesse por sua culpa. Realmente não fazia a mínima ideia por quê criara tal imagem. Aliás, estranhava: se ele nascera e crescera em Masyaf, qual o motivo para tamanha desconfiança? E por que a possibilidade de Kadar inspirar-se nele lhe incomodava tanto?

Talvez tivesse medo dele falhar e culpar-se. Sempre fora tão emotivo, afinal.

— Vá falar com seu irmão, Malik — uma das moças assassinas o aconselhou no ano seguinte. — Ele subiu na torre nordeste e não parece que vai descer.

O rapaz correu como uma bala em direção ao local mencionado. Escalou as paredes e ouviu lamentos infantis vindos do canto escuro da sala.

— Kadar?

— Vá embora.

Deixou uma risada escapar. Subiu com destreza e apoiou-se no parapeito da janela.

— O que aconteceu? — perguntou com uma voz terna.

— Eu... — O rapaz chorava copiosamente, o punho cerrado contra seu olho esquerdo, como se aquilo impedisse as lágrimas de rolarem. — Eu falhei. — respondeu em tom de confissão ao baixar o rosto. — Eu não passei no teste, não consegui cumprir a prova... Não peguei o manto branco!

“Uma criança adulta” Malik pensou ao abrir um terno sorriso. Agachou-se diante dele e mexeu em seus cabelos.

— Desculpe, irmão — Kadar murmurou sem fitá-lo.

— Desculpar pelo quê? Acontece. Não precisa desse drama. Tente de novo, oras.

— Mas... E se eu falhar de novo?

— Aí você deve tentar mais uma vez — o mais velho falou calmamente. — Eu estava em missão, infelizmente perdi seu teste. Mas tenho certeza que o único motivo para não passares foi o nervosismo. Estou certo?

Seu irmão consentiu e o coração de Malik encheu-se de amor. Parecia que aquele jovem havia rejuvenescido instantaneamente e ali estava seu “eu” de oito anos de idade.

Uma criança chorona e assustada. Pois era isso que ele era no fundo. Inseguro.

— Você será um grande assassino, Kadar. Não duvide disso. — afirmou, curvando-se um pouco para poder olhá-lo nos olhos. — Será Al Mualim como nosso pai, está em seu sangue. — Segurou o rosto do caçula e abriu um grande sorriso, a fim de confortá-lo. — Agora que tal limpar essas lágrimas e vir comigo falar com o Al Mualim, hã?

Ele manteve-se em silêncio. Seu rosto contraiu-se em uma expressão de dor e Malik não entendeu o motivo de imediato. Apenas o abraçou em consolo, batendo em suas costas, ouvindo os soluços de seu irmão.

Talvez sentisse-se pressionado?

Sim. Era a pressão de ter um pai mestre e um irmão exímio assassino. Mais tarde, Kadar confessaria a seu irmão mais velho que tinha medo de ser a decepção da família. Talvez fosse por isso que adotara Altaïr como seu modelo: era o melhor assassino do Credo, provavelmente espelhar-se nele pudesse dar algum resultado e, mesmo que isto não acontecesse, mantinha o rapaz determinado e focado em batalha. Era uma admiração tola e Malik aprendeu a lidar com ela com o tempo.

A Organização, por sua vez, não parecia aprovar a possibilidade do rapaz tornar-se um assassino plenamente. O manto branco, por muitos anos, manteve-se como apenas um distante sonho e isto preocupou o mais velho, que ficou com medo da reação de seu irmão caso não conseguisse cumprir sua meta. Ficou surpreendido ao notar que isto não o afetava em nada, mas sim o impulsionava a continuar praticando suas habilidades. Al Mualim, então, decidiu dar uma chance a ele. Até então lembrava-se o quão animado Kadar ficara ao receber das mãos do mestre o pedido para acompanhar Malik e Altaïr em uma missão. Não parou de tagarelar por semanas até que a fatídica noite chegara.

Solomon’s Temple.

Só o nome fazia o coração de Malik doer.

Ele ainda vestia o cinza e tudo aconteceu muito depressa. Estavam cercados por cinco templários e o irmão mais velho tinha a absoluta certeza de que as coisas não ficariam bem. O então líder da missão, homem em quem fora confiada sua vida e de seu caçula, Altaïr, focara apenas em alcançar o alvo, Robert De Sable, deixando seus companheiros para trás, à própria sorte.

Quando Malik deu por si, Kadar estava no chão.

E o cheiro acobreado invadiu seu olfato.

Gritou. Mais alto do que deveria.

Não conseguia lembrar-se direito do que havia acontecido, de fato. Apenas de ter se esforçado muito para ajudar Kadar a andar — “Ele está vivo!” sua mente berrava apesar da incerteza — enquanto fugia, entretanto a memória de ter matado todos os templários estava perdida no tempo.

Em seu coração, apenas manteve a culpa.

— Kadar? — chamou entre os arfares de dor. — Kadar, me responda.

Silêncio.

Os joelhos encontraram o chão de pedra.

O Sol parecia debochar dos dois irmãos quando conseguiram escapar.

Malik não soube por quanto tempo ficou parado.

Seu braço não movia.

E seu irmão também não.

— Olha o que eu achei!

Assustou-se mais uma vez com a intromissão de Altaïr, fazendo-o voltar ao presente. Deixou cair algumas coisas que estavam na mesa e logo baixou-se para pegá-las.

— Novato, não chegue mais me assustando assim.

— Eu sei, desculpe. Mas olha.

— O quê?

Quando ergueu seu corpo, sentiu seu sangue gelar.

O assassino trajava um manto cinza, não mais seu tradicional branco. Parecia alegre com sua descoberta, olhando as mangas escuras como uma criança que ganha um brinquedo novo.

— Achei no meio das suas coisas lá no depósito do bureau — ele logo disse com alegria. — Você me chama tanto de novato que acho que seria melhor eu começar a usar as roupas de um, não concorda? — Voltou suas atenções ao objeto — Fiquei foi admirado que uma roupa sua fosse caber em mim. Sempre me achei maior que você e...

Malik ouviu o discurso em silêncio, a expressão de seu rosto misturava raiva e dor.

— Tire esse manto — falou com rispidez.

Altaïr assustou-se com a reação de seu amigo.

— Tire-o — o mestre do bureau repetiu.

— Mas...

— São as roupas do Kadar.

O assassino sentiu seu rosto ruborizar. Observou o rapaz por um longo momento, aflito com tais palavras. Ficou desnorteado e logo o obedeceu, lançando a peça de roupa ao chão e logo caminhando para fora do lugar.

— Perdão — falou na porta.

Malik ficou a encarar a passagem por onde o outro assassino saíra, sem dizer uma única palavra. Apoiou-se contra a mesa e as lágrimas logo vieram.

De saudades e culpa.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Bom, ruim? Eu honestamente sinto uma pena terrível do Kadar. Queria ter tido a chance de conhecê-lo melhor. Quem sabe um dia a Ubisoft resolva fazer um spin-off focado no Malik, certo? Mas aí já sou eu sonhando...
Obrigada a você que leu. Eu agradeceria ainda mais se pudesse deixar um comentário, já que é a minha primeira vez neste fandom e logo pretendo voltar com um novo projeto. Se não, apenas agradeço por ter tirado seu tempo para ler e nos vemos por aí! ♥