Acordo no meio da noite por causa da luz que invade meus olhos.
Algum tributo está passando muito frio, porque acendeu uma fogueira.Essa pessoa não deve ser nada inteligente, porque será caçada pelos carreiristas.Me encolho mais na árvore e escondo mais a mochila e é isso que acontece.
Cato, Clove, Marvel, Glimmer e o garoto do distrito 4 estão indo até a fogueira.
–Isso é uma armadilha. - ouço Cato gritar.
Quem tinha feito uma coisa dessas a essa hora da noite?Ouço um barulho na árvore e olho para cima.
–Hey, Prim! - diz Rue e depois ela some na escuridão.
Não sei qual é o plano dela afinal.
–Para lá, agora! - grita Clove.
O acampamento deles deve estar sendo invadido.Como Rue conseguiu fazer tudo isso nesse pouquíssimo tempo?Não faço ideia.
Os carreiristas não parecem ser muito bons de corrida, eles só pagam de valentões, mas sem uma arma, não sei o que seria deles.
Ajusto o óculos noturno para tentar ver alguma coisa, mas não consigo.Decido dormir um pouco mais.

P.O.V Katniss
Minha mãe vai se deitar, é melhor para ela.Perder o marido e depois ter sua filha mandada para os Jogos, até eu concordo que é cruel.
Ainda não me recuperei do choque de saber que Peeta gosta de mim, se eu soubesse antes, será que seria diferente?
Não sou um coração mole, mas aquela foi a única declaração que recebi na minha vida.Não posso perder um minuto dos Jogos.
Nesse momento está passando uma fogueira.Os carreiristas rumam para ela.
–Isso é uma armadilha. - grita o loiro.
Então aparece a menina da idade de Prim, Rue, e para minha surpresa, minha irmã também está lá.
–Hey, Prim. - diz ela e some.
A câmera fica um pouco em Prim, ela está encolhida em uma árvore com um casaco.Por um momento tenho a impressão de ver o meu tordo.

P.O.V Rue
Acendo uma fogueira no chão com um dos poucos fósforos que consegui pegar.Mas tudo bem, no acampamento deles deve ter muito mais do que isso.
Enquanto eles caminham direto para a armadilha, já estou na quarta árvore, só faltam 10 agora.Vejo que tem alguém embaixo de mim.
–Hey, Prim. - digo, mas logo depois começo a pular as árvores outra vez.
Minha mãe disse que isso é um dom que poucos podem ter.Eu quero ser livre como um pássaro e fazia isso para me divertir.Serviu para algo pelo menos.
Chego ao acampamento deles e já vejo que tem encrencas.Parece ter algum tipo de...esquema.Não sei de onde tiraram isso, mas aposto que poderia morrer explodida se pisasse em falso.
Daqui a pouco chegarão, tenho que fazer alguma coisa logo.
Vou me aproximar, mas então vejo FoxFace.Garota esperta, tirou proveito de minha armadilha.Espero para ver o que a ruiva vai fazer.
Ela dá uns saltinhos estranhos e agarra duas mochilas.
–Não sou de dever favores. - diz ela se aproximando, mas não muito perto.Ela joga uma mochila para mim e sai correndo.
Ouço um barulho.

Volta os P.O.Vs para Prim
Ouço um barulho de canhão.
Minha garganta seca...e se for Rue?Nunca tive uma conversa de verdade com ela, mas não quero que ela morra pelas mãos dos carreiristas.Eles são cruéis.Então penso em Peeta, pode ser ele também.Solto um gritinho agudo, mas depois tapo a boca.Que burra que eu sou.Por sorte, não há sinais de perseguição.
Posso continuar assim o resto dos Jogos, sentada nessa árvore, sem ninguém me pegar.Mas tenho que recolher água, e fazer outras coisas.É, será difícil.
Minha meta para amanhã será procurar um lago para encher a garrafa.Já sinto muita sede e a bolacha logo acabará também.Mas...como vou matar aqueles bichos inocentes?
Eles não são normais,Prim, penso.São modificados pela Capital.
Sei que chegará uma hora que terei que matar alguém, pode ser que isso aconteça ou não, mas é provável que sim.São os Jogos Vorazes.
Preciso dormir, essa reflexão não levará a nada.

Acordo e desamarro a corda.Guardo meus óculos na mochila e deixo uma faca nas mãos.
Na caminhada fico pensando em quem morreu naquela madrugada.
Não encontro uma possa de água sequer e já estou ficando suada.Isso está começando a ficar perigoso.
Vou olhando para o chão, procurando qualquer sinal de água e então escorrego.Lama.Tem algumas plantações no caminho de onde estou caindo.Finalmente paro e estou cheia de arranhões.
Vejo Thresh afiando a faca num canto.Ah, então é aqui que ele se esconde.
Qualquer pessoa que estivesse apenas vagando pelos Jogos, não entraria ali.Aquilo parece bem despercebido, é uma...parede falsa.
–Quem está aí? - pergunta ele.
Me escondo rapidamente atrás de uma das cortinas de mato.Ali tem um lago e tem vários mantimentos à vista.Boa escolha a dele.
–Quem está aí? - pergunta ele mais insistentemente com uma faca na mão.
Prendo a respiração, Rue aparece escorregando na lama também.
–Ah, é só você. - diz ele voltando ao seus afazeres.
Suspiro aliviada, Rue me nota.Gostaria de saber como ela consegue ouvir tão bem!
Porém, ela volta a olhar para frente.
–FoxFace me deu isso. - diz ela mostrando uma mochilinha.
–Foxface?
–Apelidamos ela assim pelo menos. - ri Rue. -Mas, Thresh, eu não vou dividi-la com você.
–Por que? - pergunta ele zangado.
–Porque fui eu que batalhei por ela e eu acho que eu tenho que ser mais 'livre' entende?Eu vou caçar por aí, tentar pegar mais mantimentos.
–Tudo certo, Rue, só cuidado.Tenho certeza que sabe se cuidar sozinha. - diz Thresh.
–Você tem tudo aí, não farei muita falta. - fala Rue. -Vou pegar um pouco de água apenas. - ela enche duas garrafas. -Boa sorte.
–Boa sorte. - fala Thresh.
E simples assim, ela acaba de desfazer uma aliança.
Rue sobe pela lama fazendo um caminho com os pés, subo atrás dela, ainda coberta pelo mato.

–Por que quis sair de lá? - pergunto bebendo um pouco de água.
–Thresh é muito violento, por mais que tenha me ajudado bastante e mesmo sendo do meu distrito.Bem, não sei, mas quero fazer outras alianças.Não quero ficar presa à Thresh, não quero que fiquemos por último e eu tenha que matá-lo. - explica Rue.
–Hum...entendo.Aquela sua armadilha ontem foi demais.
–Ah, obrigada.FoxFace é muito inteligente, ela conseguiu pegar as mochilas.Só me ajudou porque ajudei ela também.
–Pena que ela se esconda tanto, poderíamos ser aliadas. - digo.
–Somos aliadas? - pergunta Rue evidentemente feliz.
–Acho que está mais pra amigas do que aliadas. - digo rindo. -Mas acho que não existe amizade aqui na arena, só um pode voltar para casa, então aliada, está bom.
–Ótimo, porque queria me aliar a você.Sabe, temos a mesma idade e tudo mais, será menos chato.E onde está Peeta?
Me surpreendo por não ter me perguntado dele.
–Eu não sei.
–Ele não ia te ajudar?
–Acredite, Peeta já está ajudando, mas ele estava fugindo dos carreiristas.
Rue faz sinal de que entendeu.
Continuamos andando até que uma flecha é disparada na árvore que está na nossa frente.
–Que prazer revê-las. - diz Glimmer com um sorriso maldoso nos lábios.