Epílogo

A multidão perdia-se de vista ao redor do monte sagrado. Muitas pessoas tinham lágrimas banhando seus rostos enquanto observavam, sobre a pequena planície da montanha, a aglomeração de madeira que formava uma pirâmide. A frente de todos estava a princesa junto de seu companheiro.

Nenhum dos dois tinha lágrimas nos olhos, pelo menos não mais. Seguravam um a mão do outro com força. E apesar de seus corações doloridos suas mentes estavam em paz. Haviam tido uma longa e honesta conversa no escritório principal do castelo antes de caminharem em cortejo carregando os corpos dos soberanos da Lua.

O silêncio era gritante.

Passados alguns minutos de reza silenciosa Anna soltou sua mão de Louis e o olhou significativamente.

Os dois deram um passo para trás. Anita formava seu arco e flecha, Louis ergueu a mão direita formando uma lança de fogo amarelo. Então sem mais delongas as lançaram em direção a pirâmide onde se encontravam os corpos de Isis e Argos.

A princesa vacilou por um segundo e fechou seus olhos com força. Compadecido Louis segurou sua mão em mais um ato de apoio mudo. Ela respirou fundo tentando controlar a dor em seu peito até que abriu seus olhos azuis e fitou seu amado. Não pode evitar que algumas lágrimas lhe escapassem quando uma forte luz começou a brilhar sobre suas cabeças.

Aos poucos a luz tornou-se mais suave e deu lugar as coroas prateadas adornando as cabeças dos agora, rei Louis e rainha Anna.

Quando se viraram para o povo os observaram em seus joelhos em respeitosa reverência.

– Meus pais sempre governaram buscando a paz. Eles nunca desistiram deste objetivo, sempre perseveraram. Nós continuaremos neste caminho. – a voz de Anita soava firme como nunca antes. – Mas continuaremos com mais força. Com mais ação e menos tolerância. Então parem de reclamar de algo que nunca tiveram, aceitem nossa condição. O planeta azul era a casa de nossos antepassados, por pouco eles não a destruíram. Eles foram salvos e mandados para cá, uma nova casa. Aqui nós nascemos, crescemos e formamos novas famílias. A Lua é nossa casa então a tornemos nosso lar.

– Meu tio e sua companheira sacrificaram suas vidas para que nossa espécie perpetuasse, para que aqueles salvos pudessem continuar suas vidas. Para que um dia cada um de nós lunares pudesse nascer. Nós não permitiremos que esse sacrifício seja em vão. Se vocês enxergam a restrição de crescimento de cada família como uma maldição eu agradeço aos céus por este custo ser torpe em relação ao sacrifício feito para que hoje estivéssemos aqui. – Louis sentia-se emocionado, pois apesar de sua alma ser aquela do passado neste momento ele sentia-se apenas como o sobrinho do grande guerreiro filho dos justos. Então se permitiu sentir orgulho de seu antepassado e principalmente permitiu-se defender aquela alma que parecia esquecida pelo povo ao qual entregou sua vida.

Os lunares continuavam em seus joelhos, mas agora suas cabeças estavam erguidas em direção ao jovem casal soberano.

– Nós assumimos o governo com um gosto amargo em nossas bocas. – Anna olhou brevemente para as chamas azuis e amarelas que dançavam consumindo os corpos de seus pais. – E confesso que estamos assustados. – sorriu com suavidade. – Somos mais novos que a maioria de vocês e talvez vocês achem que não tenhamos experiência suficiente para guiá-los pelo caminho certo. Mas prometemos a vocês que faremos de tudo para não desapontá-los. Nós seguiremos o que aprendemos com nossas famílias. Vocês conheceram meus pais, os admiraram, então conhecem o caminho pelo qual seguirei. E conhecem a família dos justos. Eu não preciso falar sobre eles, sua fama os precede.

Anna e Louis ainda estavam de mãos dadas. A delicada coroa de prata adornando suas cabeças era muito mais pesada do que aparentava.

– Como nova rainha eu tenho apenas um pedido para vocês. – Louis beijou-lhe mão que segurava e sorriu em apoio. – Eu quero apenas que olhem as suas voltas e percebam tudo o que a Lua nos oferece. Valorizem. Valorizem nossa casa. Valorizem nosso lar.

Após alguns minutos de silêncio Louis tomou a palavra.

– Valorizem a família que tem. Porque nós valorizaremos as nossas. Honraremos seus ensinamos. Honraremos o que eles representaram. Honraremos o que eles foram e significaram.

Com um movimento sincronizado o casal voltou-se novamente para o monte sagrado e esticaram suas mãos em direção ao fogo. As labaredas dançaram em espirais azuis, amarelas e laranjas, subindo cada vez mais ao topo. Louis e Anita movimentaram suas mãos como um chamado delicado e então o fogo explodiu tornando-se milhares de pétalas de Lampejos Lunares sobrevoando e caindo sobre o povo.

Exclamações emocionadas e impressionadas soaram enquanto os lunares automaticamente saíram de suas posições respeitosas para se encantarem com tão distintas flores. Os soberanos sorriram principalmente com os risos infantis dos pequeninos que pulavam tentando capturar algum brilho.

E sem mais nada dizer eles caminharam entre a multidão seguindo de volta para o castelo. Os lunares iam abrindo caminho e os reverenciando com sorrisos em seus lábios.

Quando o casal já estava longe das vistas um pequeno grupo conversava discretamente enquanto observava o novo rei e a nova rainha. Os sete estavam sentados sobre algumas árvores do monte sagrado. Estavam um pouco mais acima da planície em que os antecessores de Anna e Louis foram sepultados.

– Esta foi a atitude mais doce que um casal monarca já tomou. Eles simplesmente suavizaram o luto. Trouxeram sorrisos para uma despedida. – sorriu Nickolas em jubilo.

Podia sentir as ondas do sentimento quase único vindo dos lunares.

– Tem certeza que nenhum de seus descendentes perpetuou seu sangue na família real, Nick? – perguntou a pequena Noemi com um sorriso triste nos lábios.

– Meu filho ainda não nasceu minha irmã. Ele ainda cresce preguiçosamente no ventre de minha amada companheira.

– Ele será aquele a fechar o ciclo. – murmurou Agnes. – Todos nós teremos descendentes.

– Mesmo que eles costumem ignorar nossa descendência. – resmungou Davi. – Eu não compreendo como nossos filhos, netos, bisnetos podem simplesmente desconhecer o próprio poder que vive dentro de cada um. Como podem ignorar a voz do criador que grita em seus corações?

– Eu compreendo sua frustração Davi. – comentou Thalles. – Mas lembre-se que toda ação tem uma consequência. Em breve nós não teremos mais corpo físico, voltaremos a nossa verdadeira origem. – apontou para o céu. – E será nesta hora que mais eles precisaram de nós elementares puros.

Michaella trocou um olhar preocupado com Augusto.

– Nossa filha é uma elementar pura... Ela...?

– Não, ela não irá conosco. Ela também tem algo importante para cumprir. – o Senhor do Destino tinha o olhar perdido no céu.

Então ele sorriu com suavidade.

– Não precisam se preocupar com isso agora. A profecia ainda demorará a se concretizar. Apenas sintam essa energia. – olhou para o povo lunar que começava a acalmar os ânimos. – Conseguem sentir essa pressão no estômago? Essa eletricidade correndo nas veias? Essa esperança imensurável que cresce e alarga nossos lábios em um sorriso? Esse é o início do reino dos justos.