A Lenda da Lua escrita por Paola_B_B


Capítulo 13
XII. A Primeira Rainha


Notas iniciais do capítulo

Olá! Como foram de páscoa? Espero que bem :D Trouxe hoje um novo capítulo, com muitos novos personagens, alguns deles terão participações importantíssimas no decorrer da história. Então, conforme as coisas forem acontecendo descreverei as características de casa um para se melhor entender ;)



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XII. A primeira rainha

A noite era fria como nunca e cada família reunia-se a volta da lareira de sua casa. As crianças eram encasacadas pelas suas zelosas mães e orientadas pelos cuidadosos pais para que não saíssem de casa enquanto o sol não voltasse a iluminar a Vila Elementar.

Antigas histórias eram contadas trazendo a leveza da infância para cada rostinho inocente. Nas casas onde a infância há muito fora deixada para trás outros tipos de lendas eram contadas, infelizmente não eram as que tinham um final feliz.

No alto do Pico Sagrado não seria diferente. A cabana construída inteiramente com pedras mantinha o calor vindo do fogo, tornando a ampla sala em um lugar extremamente confortável. Em volta da lareira, formando uma meia lua, ficavam grandes e confortáveis sofás que acomodam sem problemas 12 pessoas sentadas.

A mulher baixa e de corpo curvilíneo arrumava as xícaras sobre a mesa de centro. A expressão em seu rosto delicado era preocupada. Seria naquela noite que importantes decisões seriam tomadas e de acordo com as misteriosas palavras de seu amado Thalles nem todos ficariam felizes.

– As xícaras estão perfeitas desse jeito querida, não acho que nossos convidados se importarão com a posição de suas alças.

A voz repleta de doçura vinda da porta da cozinha fez Nina perceber que estava arrumando a louça há mais tempo do que deveria. Ergueu seus olhos castanhos para o elementar e sorriu nervosamente.

– É a primeira vez que haverá uma reunião dessa magnitude.

– Bem... Pelo menos com todos os nossos companheiros. – argumentou Thalles sentando-se ao sofá e puxando carinhosamente sua companheira para sentar-se ao seu lado.

Segurou sua mão e entrelaçou seus dedos aos dela. Observou como sua pele negra contrastava com a branca de Nina. Perguntou-se por um momento como a simples sobreposição de cores podia ser tão bonita aos seus olhos.

– Já houve outras reuniões com propósitos tão preocupantes?

Thalles ergueu o rosto para olha-la diretamente nos olhos. Por um instante perdeu-se na beleza delicada das maças de seu rosto que faziam seus olhos sorrirem permanentemente. Observou os cabelos castanhos que emolduravam seu rosto e terminavam no inicio de seus ombros.

Nina aguardou pacientemente seu companheiro observá-la com contemplação retribuindo o olhar transbordando sentimento. Porém a demora a responder começou a preocupá-la.

– Sim. Algumas grandes decisões foram tomadas nessa casa. A primeira delas foi logo após explorarmos o planeta e construirmos nossos abrigos. Depois quando as primeiras crianças caíram dos céus. Então quando as primeiras famílias decidiram por deixar a vila. Enfim quando o mal implantou-se nos corações de tantos semelhantes sem nem ao menos notarmos.

A boca de Nina abriu-se em espanto.

– Vocês não notaram?

– Não minha querida, o mal cresceu tão sutilmente que nem ao menos notamos. E então as primeiras guerras aconteceram. A loucura dominou muitos quando o sangue semelhante foi tomado. Assim como está acontecendo agora.

– Por isso a proibição sobre o sangue é tão forte.

– Sim... Mas infelizmente nos tornamos lendas entre o povo e nossos ensinamentos também. E nunca antes tanto sangue fora derramado.

– Isso é terrível Thalles, mas vocês conseguirão colocar as coisas em ordem novamente. Não vão?

– Não sei se será possível reverter essa situação sem danos permanentes Nina. – suspirou tristemente o elementar.

Sentindo a angustia e tristeza de seu companheiro, a mulher de doce personalidade envolveu seus braços em torno de Thalles e o consolou com um abraço repleto de amor.

– Tudo ficará bem. – soprou em seu ouvido dando ao elementar uma nova onda de esperança.

Neste exato momento leves batidas na porta fizeram-se presentes. Os primeiros convidados chegavam. Era Davi, sua companheira Úrsula e seus filhos, o mais velho Baco, Liam, o do meio, e a pequenina Ester, que vinha no colo de seu irmão mais velho batendo seus dentes de frio.

– Ora, entrem! Saiam desse frio! – disse Nina assim que abriu a porta. – Coitadinha, venha pequenina, aqui dentro está bem quentinho.

Os cinco entraram cumprimentando os anfitriões com sorrisos contidos. Nina serviu-lhes chá e assim que terminou se direcionou a porta novamente para receber Noemi e seu companheiro Arsenio. Segurando a mão do pai estava o pequeno Neo.

– Venha querido. Ester já está aí e eu separei um lugar bem legal para vocês dois brincarem.

A conversa seria séria demais para os inocentes ouvidos das crianças.

Os cumprimentos ainda estavam sendo ditos quando Nicolas chegou junto com Augusto e Michaella. O solteiro ainda tinha um sorriso zombeteiro nos lábios pela cena que presenciou quando fora atrás dos dois para avisar sobre a reunião.

– Boa noite a todos! – cumprimentou com um grande sorriso após beijar a bochecha de Nina.

Davi perguntou-se como ele poderia sorrir em meio àquela terrível situação. Mas a verdade é que o sorriso do elementar nada tinha a ver com a situação do planeta e sim os laços afetivos dentro daquele ambiente. Como era bom sentir o amor de uma família, como era bom sentir a reconciliação de seus amados irmãos, como era bom sentir todos juntos novamente!

Sorriu ainda mais largo ao observar Michaella ser abraçada por Thalles, Davi e as companheiras dos dois. Era recebida de braços abertos apesar de seus erros.

Após os abraços Michaella buscou a mão de Augusto. Precisava de apoio. Todos a receberam bem, porém isso não deixava que sua própria culpa a consumisse. O justiceiro beijou as costas da mão de sua amada e puxou-a para sentarem-se ao sofá.

Os próximos a chegar foram Agnes e seu companheiro Argos. Para enfim Maximiliano e Aurora se juntaram a todos.

– Louis já está vindo. – disse após abraçar Michaella. – Ele ouviu vocês dois conversando.

Augusto e Michaella trocaram um olhar preocupado.

– Não se preocupem, ele vai ficar bem. – Max sorriu convincente.

Ele conhecia o amigo, sabia que ele precisava de um tempo para organizar os pensamentos. Nunca vira Louis tão abalado e magoado. Mas sabia que ele ficaria bem.

– Eu soube sobre seu pai querido, sinto muito. – Michaella segurou as mãos do jovem que viu crescer diante de seus olhos.

Tinha muito carinho por Max, além de ser um ótimo amigo para seu filho, tinha um humor que alegrava qualquer ambiente.

– Mamãe está com ele agora. – disse o jovem com um sorriso forçado, não era fácil a situação que vivia.

– Podemos começar? – perguntou ansioso Liam sentado ao chão perto da lareira, era a primeira vez que participaria de uma reunião.

Completara a maior idade a pouco tempo de modo que queria mostrar a sua utilidade.

– Paciência Liam, começaremos em minutos. – orientou seu pai, Davi.

Enquanto Louis não chegava Nina fazia o caminho da cozinha até a sala várias vezes para servir o chá e alguns biscoitos que cozinhara. Levou os quitutes para as crianças e quando voltou a batida na porta soou tímida.

Respirou fundo aguardando que abrissem a porta. Sua mente estava repleta de pensamentos, mas ao mesmo tempo não conseguia se concentrar em nenhum deles. Estava cansado e tudo o que queria era que aquilo acabasse de uma vez.

– Louis!

– Como vai Nina? – cumprimentou com um leve sorriso.

O olhar caloroso da companheira de Thalles trouxe-lhe um pouco de paz.

– Estou bem. Entre querido.

– Obrigado.

Seu olhar foi de encontro ao da sua mãe. Michaella estava em pé com o olhar ansioso para o filho. Segurava ainda mais forte a mão de seu companheiro. Queria abraçar Louis, sentira tanta falta dele. Também queria esclarecer as coisas para ele. O jovem merecia uma explicação direta a ele e não uma ouvida por acaso. Mas a falta de expressão no rosto de seu filho a fez estagnar com medo de sua reação.

Naquele momento Louis não soube ao certo o que estava sentindo.

– Agora não mãe. – pediu em um sussurro e então se voltou aos outros desejando boa noite.

A tensão entre mãe e filho foi substituída pela tensão do assunto da reunião.

– Eu sei que todos aqui estão ansiosos para saber o porquê pela primeira vez companheiros, companheiras e filhos estão participando da reunião... – iniciou Nicolas.

Como era o único que ainda não possuía uma família foi escolhido para iniciar o assunto.

– A decisão que precisamos tomar envolve muito mais do que apenas nós elementares, envolve também vocês. O planeta nunca esteve tão doente e infelizmente ele não vai se curar com a nossa presença.

“O tremor das terras acarretou consequências muito maiores do que as que vimos em nossa vila. O núcleo do mundo está agitado tentando defender-se, terras ao norte já possuem grandes fissuras que em breve estarão repletas do sangue fervente do planeta. As batalhas que acontecem por lá estão acelerando ainda mais o processo de destruição. As temperaturas estão mudando. Em breve teremos que enfrentar tempestades como nunca enfrentamos antes. As mudanças climáticas não permitirão nossos cultivos e a comida acabará em pouco tempo. Se não agirmos nos próximos meses não só nossa espécie será extinta como também o planeta morrerá.”

O silêncio pesou no ambiente. A preocupação, o medo e o desespero misturavam-se nos corações.

– Porque isso está acontecendo? – a pergunta veio do mais jovem presente.

Liam não esperava que sua primeira participação na reunião dos elementares fosse sobre um assunto tão aterrorizante.

– Já aconteceu algo em menores proporções há milênios, muito antes de qualquer um de nós imaginar que poderíamos construir famílias assim como as crianças, que víamos crescer a nossa volta, construíam quando atingiam a maior idade. – explicou Davi suavemente.

Odiava ver o medo nos olhos verdes, como os de sua companheira, do filho. Mas então a esperança se fez presente.

– Se já aconteceu algo semelhante e vocês superaram o problema, ainda há esperanças. – argumentou Nina olhando ansiosa para Thalles.

O senhor do destino olhou para Louis fixadamente.

– O futuro ainda está obscuro. – murmurou. – Tudo depende de nossas decisões.

– Como evitaram esse terrível destino no passado? – perguntou Argos, companheiro de Agnes.

Ao contrário da maioria dos presentes não havia medo em seu coração, apenas uma vontade imensa de lutar pela vida, e não somente sua vida, mas sim a de todos.

– Houve um grande desequilíbrio quando um pequeno grupo começou a tomar sangue semelhante. O sangue lhes dava imenso poder, porém suas mentes ficavam suscetíveis às más energias. Achavam que todos à volta eram perigosos. Massacravam inteiros povoados achando que estavam destruindo o perigo. Matavam animais por puro prazer, destruíam inteiras paisagens porque gostavam do som da destruição e do cheiro do fogo. – explicou Michaella perdida em lembranças. – Perdidos em suas loucuras achavam que estavam fazendo o certo. A população caiu pela metade naquela época, buscávamos de toda forma uma cura, porém não houve tempo para testes. Tremores assolaram o planeta e Thalles teve visões terríveis sobre o futuro. Tivemos que destruir todos os infectados.

– E agora está acontecendo novamente. – concluiu Nicolas.

– Sim, mas desta vez é diferente. Caos não está juntando seguidores como aconteceu com Sadoc. É somente ela e uma outra mulher. – completou Michaella.

– É uma mulher?! – espantou-se Arsenio, companheiro de Noemi. – Geralmente são os homens que buscam o poder.

– Você está certo. – concordou a elementar do equilíbrio. - A maioria são homens, porém Caos não busca poder, ela busca vingança. E ela possuiu tanta ira em seu coração que por muito pouco não conseguiu me matar.

– Você lutou sozinha Michaella. – argumentou Agnes.

– Eu sei minha querida, a questão é que também lutei sozinha contra Sadoc e seus seguidores, mas em nenhum momento eu perdi o controle da luta ou senti que poderia perder. Aquela menina... – balançou a cabeça livrando-se de seus temores. – Ela realmente chegou perto de acabar comigo.

Todos dentro daquela sala sabiam o que aquilo significava. Michaella era a melhor guerreira junto a Augusto. Se fosse qualquer outro elementar a lutar em seu lugar talvez não teria sobrevivido.

– Você a chama de menina... Ela é tão jovem assim? – perguntou Argos.

– Ela não tem mais que meio milênio. E a outra não tinha nem um século. Mas seus olhos... O azul já estava comprometido com o contorno vermelho.

As palavras da elementar fizeram Louis prender a respiração. O rosto de sua Anna e de Aline invadiram seus pensamentos. Não era possível, era? Ela não parecia louca ou maldosa... Ela estava até doente. Sua irmã é quem demonstrava mais raiva. Então se lembrou de quando a mais nova os encontrou na caverna. Como se existissem puros de coração nesse planeta poluído! Ela tinha rosnado. Em seguida Anita a tinha segurado contra a parede. Naquele dia Louis imaginou que era apenas uma reação exagerada e considerou encargo da criação selvagem que as duas deveriam ter tido. Não sou quem pensa que sou, não perca o seu tempo. Apenas vá embora. Como gostaria que a última frase que Anna lhe dissera não fizesse tanto sentido agora.

– Louis... – chamou Maximiliano assombrado, sua voz não passando de um sussurro.

Ele estava abraçado a sua companheira bem ao lado do amigo. Os três em pé por falta de lugar para sentar. Max também teve fleches de Anna e Aline. O guerreiro devolveu o olhar mostrando que pensavam o mesmo. O coração de Max se apertou, pois sabia dos sentimentos do amigo pela mais velha. E se seus pensamentos estivessem no caminho certo ele temia por Louis, pois não havia maneira daquela história terminar bem.

Outra pessoa acompanhava a troca de olhares. Thalles notou o reconhecimento nos olhos dos dois jovens e repetiu as mesmas palavras que disse aos seus irmãos.

– Caos não é mais o problema e sim a semente que ele plantou.

Todos os olhares se voltaram para o senhor do destino que continuava com seu olhar fixo em Louis. Maximiliano captou a mensagem antes do amigo.

– Sua irmã... – Thalles assentiu.

– Do que estão falando? – Augusto interferiu incomodado com todo ar misterioso.

– Quando saímos da Vila dos Pescadores para vir para cá, demos a desculpa de que iríamos atrás de uma garota que Louis encontrou no dia anterior. Ele pensou que ela estaria indo diretamente de encontro ao Caos. – contou Max.

– Ela era claramente selvagem, mas tinha uma inocência sem tamanho. Ela sequer sabia o que era um assobio. Ela parecia só mais uma garota sozinha no mundo. – completou Louis com o tom indiguinado, ele ainda não podia acreditar que sua Anna era Caos. – Eu não podia simplesmente deixá-la ir de encontro à morte.

– Então antes de vir para cá, nós fomos atrás dela. Louis avistou fumaça negra nos céus e pensamos que Caos havia atacado novamente. Seguimos naquela direção. Sentimos cheiro do sangue de diversas pessoas, achamos que eram feridos, mas acabamos por encontrar uma caverna, era de lá que vinha o sangue. Porém não havia ninguém ferido e a quantidade era muito pequena para pertencer a várias pessoas. Nós encontramos a garota, ela estava doente. Acredito que o sangue que encontramos fora ela que expeliu. Mais tarde sua irmã apareceu e ela estava visivelmente irritada com a nossa presença. – Max lançou um olhar rápido para Louis antes de completar sua narração. – As duas tinham esse contorno vermelho em seus olhos, mas a mais nova estava com o contorno muito mais vibrante.

– Vocês estão tentando dizer que encontraram Caos por acaso?! – Aurora fez voz aos seus pensamentos.

Max deu de ombros assentindo.

– Mas Thalles está certo quando diz que o problema é a mais nova. Pelo que nós vimos ela não possui nenhum controle.

– A mais nova é fraca, será facilmente derrotada. – opinou Michaella.

Seu olhar estava fixo em seu filho. Não acreditava que ele fora enganado tão facilmente. O mal naquela garota era praticamente palpável. Sua raiva e amargura eram grandes demais para serem escondidos por inocência.

– Porém é a mais nova que está juntando seguidores. – argumentou o senhor do destino. – Ela é a semente de raiva plantada por Caos, cresceu assim como os maus sentimentos em seu coração e agora floresce atraindo seguidores. É a ela que devemos parar para não colhermos a destruição de nosso planeta.

– Isso quer dizer que temos uma guerra por vir. – concluiu Augusto.

– Uma guerra inevitável. – assentiu Thalles. – Nina minha querida, tem chá de camomila?

– Claro. Vou preparar.

A mudança de assunto foi proposital. Era notável a dificuldade de todos encararem os fatos como eles realmente eram. Nicolas entendendo a sutileza de seu irmão tratou de puxar um assunto mais calmo com Arsenio e Argos. As conversas paralelas logo tomaram conta do ambiente.

Michaella levantou-se juntamente com Noemi para ajudar Nina na cozinha. Agnes tomou o local de Michaella para conversar com Augusto. Aurora caminhou até os filhos de Davi ao perceber que Max queria falar com Louis. Davi e Thalles se mantiveram em silêncio.

– Louis, não tinha como você saber. – o guerreiro respondeu com uma careta.

– Acho que tenho que falar com a minha mãe.

– Sim, vá lá.

Louis caminhou até a cozinha onde as mulheres tagarelavam sobre as melhores ervas e sobre como fora uma boa sugestão a camomila para acalmar os ânimos.

– Mãe...

– Ah Louis! – Michaella correu abraçar o filho.

O guerreiro apenas fechou os olhos sem conseguir retribuir o abraço. As mulheres saíram da cozinha mansamente para deixá-los a sós.

– Me perdoe meu filho. – a elementar afastou-se o suficiente para segurar o rosto do mais novo entre suas mãos.

Louis trincou seus dentes.

– Eu escutei sua conversa com... Augusto. Mas eu ainda não consigo entender porque você não me falou sobre ele.

– O medo faz com que cometamos os maiores erros Louis. – abaixou seus olhos.

– Me desculpe, mas eu não consigo aceitar. É frustrante, é revoltante! Quando eu penso em como as coisas poderiam ter sido... Não estou reclamando da vida que tive, fui muito feliz na Vila dos Pescadores, fiz muitas amizades, uma delas considero como irmão. Mas eu não posso evitar pensar em como seria com ele. E o pior de tudo é que meu coração pede que o chame pelo que ele é e não pelo seu nome, mas eu simplesmente não consigo.

O desespero na voz de Louis não se devia apenas a situação em si, mas sim a agitação em seu coração.

– Louis. – chamou Michaella seriamente olhando diretamente nos olhos acinzentados como os seus. – Isso o que você está sentindo não está relacionado com sua vontade de chamar Augusto de pai. Essa agitação aqui... – pousou sua mão direita no estômago de seu filho. – É o equilíbrio do planeta que você está sentindo. Eu o sinto também. Entendo sua agonia. Essa vontade de correr e não parar nunca mais. Mas lhe garanto meu filho, não importa o quanto fujamos essa agitação vai continuar até que as coisas se equilibrem novamente.

– Como você consegue?

– Consigo...?

– Se manter calma.

Michaella suspirou e respondeu sincera.

– Há milênios eu não conseguia. Augusto me trás a calma que preciso para controlar meus poderes.

Louis quase chorou, pois sabia que encontrar Anna só lhe traria mais agitação. Então puxou sua mãe para um forte abraço. Tirou-lhe do chão e deixou-se ser abraçado e acalmado da maneira que só uma mãe poderia acalmar um filho.

Após voltarem à sala e acomodarem-se em seus devidos lugares a tensão voltou a reinar.

– Tio Thalles, o senhor falou que podemos salvar o planeta, mas será possível salvar a nossa espécie? – a pergunta foi feita por Baco, filho mais velho de Davi, que se manteve em silêncio até então.

– Essa é a decisão que precisamos tomar com o consentimento de todos vocês. Podemos nos manter no planeta, mas pouco a pouco morreremos, pois as terras não nos darão o sustento para o resto de nossas vidas. – Davi tomou a palavra. – Ou podemos ir para outro local. Iniciar do zero. Moradias, casa de saúde, posto de comando e principalmente o modo de vida.

– Que lugar? O sul? – perguntou Liam confuso.

– Não meu filho. Nenhum lugar neste planeta. Thalles viu uma pérola em nosso futuro.

– A Lua! – Nina assombrou-se e ao mesmo tempo deixou que um enorme sorriso estampasse seu rosto.

O senhor do destino não pode evitar compartilhar o sentimento e segurando carinhosamente a mão de sua companheira assentiu.

– Mas essa saída acarretará consequências. Não poderemos cometer os mesmos erros que cometemos neste planeta. Deveremos controlar a população, a Lua, como sabemos, é muito menor do que esse planeta. Não poderemos permitir que o mal se instale, pois dificilmente teremos uma terceira oportunidade. – alertou Nicolas.

– E a única maneira de conseguirmos evitar isso é nos separarmos. – continuou Augusto. – Michaella ter ido para o norte não foi o motivo por não termos agido a tempo de evitar tudo isso, mas sim nós termos deixado que as conexões entre todos nós elementares fossem deixadas de lado. Devemos nos separar e cuidar de cada região separadamente, mas sem deixar a conexão desaparecer, assim quando o mal ameaçar todos nós poderemos agir.

Fez-se silêncio por alguns segundos até Úrsula, companheira de Davi explanar suas preocupações.

– O povo não aceitará isso tão facilmente.

– O que quer dizer Úrsula? – perguntou Noemi confusa.

– Colocando minha visão fora desta sala, como se não convivesse com nenhum de vocês e não os conhecessem pessoalmente... Eu não confiaria em mais ninguém para julgar um crime, eu gostaria de ter alguém com poderes ao meu lado para me curar quando eu me ferisse, gostaria de um bom conselho quando estivesse confusa, gostaria de alguém para traduzir as palavras que meu coração tenta me dizer.

“Os estrangeiros talvez não se importem com as mudanças, eles estão acostumados com elas. Entretanto os moradores da Vila Elementar vivem aqui, pois sua confiança nos elementares beira a dependência. Se disserem ao povo que se separarão o medo os levará a más escolhas.”

Thalles assentiu.

– Você está certa Úrsula, posso ver claramente suas palavras se tornando realidade.

– Eu não me importo em dar um pouco do meu poder há um líder e me curvar a ele se isso assegurar a confiança do povo nesse líder.

As palavras de Michaella de repente acalentaram a todos os presentes. Sim, era uma saída.

– Um rei e uma rainha, na construção de um novo lar. Isso soa bem. – sorriu Davi sabendo exatamente nas melhores pessoas para aquele cargo.

Trocou um olhar rápido com seus irmãos antes de direcionar seu olhar para Agnes e Argos.

– O que! Porque estão me olhando? – arregalou seus olhos. – Nem pensar, eu não sou a melhor pessoa para isso. É melhor que seja Thalles, ele saberá tomar as melhores decisões.

– O povo não precisa de alguém prevendo o futuro Agnes, precisa de alguém que não desista nunca de tentar fazer o melhor para ele. E isso você não pode negar que fará. Ao seu lado estará um homem honesto e justo. Não vejo como isso possa dar errado. – argumentou Davi.

Agnes arregalou seus olhos para todos, mas só recebeu aprovação. Então olhou para seu companheiro que tinha a feição tão assustada quanto ela, entretanto naquele exato momento soube que ao lado de Argos tudo daria certo.

As decisões estavam tomadas e a esperança restaurada. Porém ainda havia uma ponta solta. Thalles levantou-se e caminhou lentamente até Louis.

– Será que podemos conversar Louis?

Antes que o guerreiro respondesse Augusto ergueu-se assustado.

– Thalles, não é necessário. Eu mesmo irei...

– Não cabe a você Augusto, cabe a Louis. É a decisão dele. – cortou o senhor do destino sem brechas para discussão.

– O que está acontecendo? – perguntou Michaella preocupada.

Não houve resposta.

Louis e Thalles se dirigiram para fora da casa. O vento frio os atingiu com força fazendo-os se encolher levemente.

– O que cabe a mim?

– A decisão de ir ou não atrás de Caos.

O jovem engoliu em seco.

– Caos ao contrario de Sadoc não bebeu a primeira gota de sangue pela ganância de poder, ela bebeu para proteger sua família. – explicou Thalles.

– Você viu acontecer?

O elementar apenas assentiu com um triste olhar.

– Porque você não fez nada para impedir? – Louis não conseguiu segurar a revolta.

– Ouça Louis, infelizmente eu não posso mudar todas as visões que tenho. Algumas acontecem simplesmente porque tem que acontecer.

O jovem passou as mãos em seus cabelos nervosamente. Eles disseram que não houve tempo para testar a cura.

– Eu vou poder salvá-la? – as palavras soaram tão baixas que Thalles quase não pode ouvi-las.

– Se ela quiser ser salva, sim, você poderá.

– Como farei isso?

– O sangue que você e Max encontraram na caverna fora realmente ela que expelira. Anna acostumou-se a só receber violência por tanto tempo em sua vida que quando você a tratou com gentileza algo dentro dela retornou a vida. A sua gentileza sincera é o que faz a bondade interior de Anna lutar contra o mal que por tanto tempo a dominou.

Louis assentiu com a determinação enraizando em seu coração. Iria salvar sua Anna, tiraria toda a maldade de seu coração e a protegeria de qualquer mal. E quem sabe no novo futuro na Lua os dois não pudessem formar uma nova família.


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Notas finais do capítulo

Próximo cap falarei das guerras no norte, sobre Aline e o encontro entre Louis e Anna, agora ele sabendo quem ela realmente é... Emoções a caminho ;)



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