Virou Simplesmente Amor escrita por Mary e Mimym


Capítulo 10
Carpe Diem?


Notas iniciais do capítulo

Oi Gente! Primeiramente, gostaria de agradecer a Yakumi que nos presenteou com uma linda recomendação *----* Essas pessoas nos deixando sem palavras... Ai ai... Até que por um lado é bom, porque é o único momento que a Mary fica sem palavras e eu não tenho que ficar aturando ela tagarelando u.u Ér... Acho que falei demais '-' Voltando... Yakumi, ficamos sem palavras até mesmo para descrever nossas reações *----* Obrigada! Agora vou deixar vocês lerem ^^ Boa leitura õ/



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Já perto da Orla da praia, todos conseguiam sentir o cansaço abandonar a mente e o ânimo começar a brotar. Como se todas as dúvidas não passassem de meras partículas de lembranças.

O sol já brilhava instintivamente no céu.

A visão do céu azul e o mar da mesma intensidade proporcionava um prazer imensurável. A brisa... A calma... Sim, eles tiveram a sorte de chegarem à praia e ter uma quantidade razoável de gente.

O padrasto de Arme estacionou em um Posto na praia.

–Assim que quiser ir embora, é só me telefonar, o.k.? Saio da empresa e venho buscar vocês. – Comunicou ele.

–Pode deixar. – Arme sorriu, abrindo a porta do carro e saindo, segurando sua bolsa e um guarda-sol.

–Divirtam-se. – O padrasto olhou para trás e o pessoal sorriu.

Arme abriu a porta para que todos saíssem. Quando só faltavam Ronan e Elesis, o azulado sussurrou algo que só a ruiva foi capaz de ouvir. A viagem entre os dois foi em silêncio, só conversavam quando os assuntos os envolviam.

A ruiva deu uma pausa, mas não ousou olhar para trás.

–Elesis? – Arme a despertou e a amiga saiu do carro.

Ronan saiu sorrindo. Um sorriso travesso. O padrasto da baixinha buzinou e saiu com o carro.

Arme se aproximou de Lass e segurou a mão do rapaz.

–Te amo, viu? – E lhe deu um beijo na bochecha.

Lass sorriu e murmurou um “Eu também”.

Ryan estava ao lado de Lire, mas não mantinham contato. A loira tentou se aproximar, porém Ryan correu em direção ao mar, jogando a mochila e a camisa em qualquer lugar na areia.

–Mar, seu lindo, estou indo para selar nosso amor! – Gritou o alaranjado, causando risos em um ou dois grupos familiares que estavam beirando a água com seus guarda-sóis.

Ryan levantava areia à medida que se movimentava. Parou quando sentiu a água deslizando sobre a areia molhada. Banhou seus pés. Olhou para cima. Fechou os olhos.

–Dará tudo certo... – Murmurou para si. Não perdeu mais tempo e entrou no mar, quase se jogando nos braços gelados da água.

Lire, distante de Ryan, balbuciou um “Poxa...”, por não ter ficado ao lado do menino. Ela parou de andar e apenas observou Ryan.

Ronan e Elesis estavam fragmentados. Vinham um pouco atrás de Lire.

–O que você quis dizer com aquilo?! – Elesis puxou Ronan pela camisa e ele parou de andar.

–Deduza você mesma. – O azulado sorriu para provocar a ruiva.

Quando Elesis abriu a boca, Ronan saiu correndo na direção de Ryan, largando suas coisas junto onde o alaranjado havia deixado as dele. Tirou a blusa e correu até o mar de short.

–Idiota... – Elesis falou para si mesma. Não deixou de olhar Ronan nem um segundo. As palavras ditas por ele a perturbariam até que tocassem no assunto novamente. Por ora, ela tentaria esquecer.

A ruiva se aproximou de Lire assim que a menina voltou a andar. Arme e Lass já estavam abrindo o guarda-sol. Juntaram as coisas de Ronan e Ryan, para não ficarem espalhados no meio do caminho.

Lass tirou a camisa e Elesis começou a rir.

–Você é muito branco, Lass. Vai pegar uma cor, vai. – A ruiva o empurrou para fora da sombra.

Lass se virou e encarou Elesis.

–Não pense que sou que nem o Ronan para você me bater quando bem entender.

Arme resolveu não se manifestar. Abriu a boca, mas se calou. Retirou o protetor solar de sua bolsa e entregou ao namorado.

Elesis observava Lass.

–Saiba que não bato no Ronan quando bem entendo. Só o faço ser menos idiota, porque essa idiotice é contagiosa. Tanto que você, Lass, está ficando com sintomas. – Retrucou a ruiva.

–Elesis! – Arme repreendeu a amiga.

–Elesis, entenda uma coisa, eu não quero me intrometer na sua vida, mas você anda bem alterada. Vocês, aliás. – Lass olhou para a direção do mar; Elesis, na direção de Ronan.

Lass, a essa altura, já havia passado o protetor solar, não esperou por mais palavras e se juntou aos meninos.

–Elesis, está tudo bem? – Indagou Lire, esticando a canga colorida na areia, com a ajuda do vento.

A ruiva ficou em silêncio.

–Eu respondo, Lire. – Arme resolveu encarar os fatos – Elesis ama o Ronan, mas é insensível e ORGULHOSA – Frisou bem a palavra – o bastante para admitir!

A baixinha olhou incisivamente para a ruiva.

–O que disse?! – Elesis deu um passo para frente, ficando ao lado do ferro que prendia o guarda-sol na areia.

–Foi isso mesmo que você ouviu.

–Meninas, por favor. – Lire olhava para as duas amigas.

–Acho que agora teremos uma conversa, Arme. – Elesis ignorou a tentativa de apaziguamento da loira.

–Se quiser dar início a essa "conversinha", saiba que não terá mensagens de celular que façam voltar a trás.

–Você gosta de se sentir a dona da razão. A que sempre está certa em se envolver em assuntos que não te dizem respeito! - Elesis foi aumentando o tom de voz para demonstrar autoridade.

–Não que eu goste de ter razão, mas vai dizer que eu não tenho sobre você e o Ronan? E não estou me metendo num assunto qualquer, estou abordando sobre algo que está estampado para todo mundo ver.

–Gente, vocês vão mesmo brigar por isso? - Lire olhou para Elesis - Somos amigas. Se algo a estiver incomodando, pode contar conosco.

–Eu não tenho nada para esconder, Lire. Eu só... - A ruiva encarou Arme - Eu só acho que certas pessoas já deveriam ter se tocado que eu sei o momento certo para contar as coisas. E, se eu não falei nada, não deveriam se intrometer!

–Quer saber? Cansei de vocês duas! - Lire acabou se irritando, preferiu não se envolver mais com aquela discussão inútil.

Tirou a blusa e o short, jogando-os na canga estirada. Usava um lindo biquíni verde-água. Dirigiu-se até a água resmungando sobre as amigas discutindo por qualquer coisa.

Ryan estava saindo do mar com a cabeça baixa e tirando o excesso de água do rosto. Assim que levantou a face, viu Lire.

–O que houve? - Perguntou ele, parando em frente a ela.

–Queria ficar um pouco com você. As meninas estão discutindo e eu acho que vou enlouquecer. - Lire o abraçou.

Ryan se afastou segundos depois.

–Fica um pouco comigo, Ryan. - A loira o olhou, confusa pelo distanciamento.

–Eu estou com meus amigos agora. - Ele olhou para trás. Ronan e Lass estavam apostando quem nadava mais longe, na visão de Lire.

–Mas eu preciso de você.

Ryan a olhou.

–E eu preciso descansar.

–Descansar de mim? - Lire alterou o tom de voz, mostrava que estava ficando chateada com Ryan.

–Em nenhum momento eu disse isso.

A menina abaixou o rosto. O sol que batia em seu cabelo e iluminava-o com tanta intensidade, que parecia ouro. De fato, Lire era valiosa para Ryan, mas ele precisava ceder aos encantos e agir daquela maneira, que nem mesmo ele aprovava.

–Por que saiu da água? - Perguntou ela, voltando a olhar nos olhos de Ryan.

–Porque...

Passaram duas meninas e um rapaz atrás da loira. Lire bufou, pois sentiu a distração de Ryan.

–Quer saber? - Lire teve a atenção do namorado - Fique a vontade, Ryan!

–Lire. Lire! - Chamou o menino, mas a loira já havia saído de perto dele - Não precisa ser dramática!

Lire, já a 10 metros de distância, indo para um pouco distante de onde Lass e Ronan estavam, virou para Ryan com um olhar ameaçador. Lire voltou a se virar e entrou na água, mergulhando na primeira onda que quebrou.

–Nossa... Elesis anda ensinando as pessoas a serem agressivas e assustadoras. - Ryan ficou observando a loira e sorriu sozinho - Desculpa, Lire... Mas preciso fazer isso... - Murmurou palavras que só o vento ouviu.

***

–Só para deixar claro: não fui eu quem começou com o assunto. Foi você com a sua mania de não medir as atitudes e palavras que usa.

Elesis soltou um riso irônico.

–Agora a culpa é minha? - A ruiva olhou para o mar. A quantidade de pessoas já era bem mais quantitativa que antes. Elesis voltou a olhar para Arme - Você não entende o que é estar cheia de dúvidas e não saber para quem recorrer... Você não faz ideia do que eu sufoco para não sair descontando minha raiva em todo mundo. Arme, você deveria ficar calada, sabia?

–E você deveria, pelo menos, demonstrar que se esforça para sufocar essa sua raiva! - Nesse momento ninguém, de fato, conseguiria esconder a raiva. No auge da discussão e a raiva estampada nas faces.

O vento estava começando a ficar mais forte. A canga de Lire só não voou, porque a loira colocou o chinelo em cima e as bolsas.

Elesis afastou o cabelo do rosto e fechou as mãos.

–E você deveria tomar conta da sua vida, olha que legal! - A ruiva sorriu cinicamente.

–Tá sabendo não? Quero virar repórter. - Arme usou puro sarcasmo ao dizer. - Você diz isso o tempo todo para o Ronan?

–Por que você quer tanto falar do Ronan? É amor reprimido? Olha que eu alerto o Lass sobre isso. - Elesis provocou também - Vocês acham que eu gosto dele, mas... - Ela se calou por um tempo. Mentiria para si mesma? A ruiva preferiu não terminar a frase.

–Vai Elesis, fala... "Mas..." o quê? Espera! Eu estou sendo intrometida? Desculpa. Sabe, eu acho que vou mergulhar. E não se preocupe: não sou fura olho de amiga nem se eu quisesse. Sou feliz com meu namorado. Talvez seja este o seu problema. Talvez deva arranjar um e... É mesmo! O Ronan não está disponível? Aproveite sua queda por ele.

–Você acha mesmo que vou ficar aqui ouvindo suas ladainhas sobre o que eu sinto ou deixo de sentir?! Eu não sinto nada pelo Ronan! E se você é feliz por ter um namorado, ÓTIMO! Isso não muda nada na minha vida.

Elesis já estava sentindo seu rosto esquentar. Suas palavras não tinham uma ordem certa, tampouco algum nexo para o real assunto que começou entre as duas.

–Ainda insiste em mentir pra si tanto sobre seus sentimentos quanto sobre eu ter razão. Lastimável...

A ruiva abriu a boca. De fato, ela mentia para si mesma. Isso fez com que Elesis sentisse uma raiva sem igual.

–Argh! - Gritou e saiu dali o mais rápido que pôde.

***

Mari já estava terminando de arrumar sua bolsa para a praia. Canga, óculos, um chapéu, protetor solar e, claro, um livro. Na realidade, Mari decidiu levar dois, um deles era o que Amy lhe dera, imaginava o quanto a garota perturbaria para que ela lesse o bendito livro. A professora, de fato, já havia aberto o livro, mas fechou por repulsa logo ao ler a primeira linha.

“Smith Sullivan adorava suas fãs.”

Já estava começando a se considerar uma pessoa horrível. Não conseguia descobrir de onde tirara, recentemente, aquele péssimo hábito de julgar um livro sem antes analisar. Precisava parar com isso, a começar por ler o livro tão temido. Abriu o livro para tentar novamente, mas o táxi buzinou anunciando sua chegada. É, ela o leria na praia.

Até a chegada na praia, Mari ficara encarando a capa, como se tomasse coragem para abrir mais uma vez. Quando se deu conta, já havia chegado à praia próximo ao posto 3, como combinara com a rosada. Pagou o táxi e procurou uma sombra para esperar a garota, que pelo horário estava atrasada.

Vinte minutos se passaram, após sua chegada, e nada da garota. Talvez ela estivesse tomando banho de sol ou de mar, foi o que Mari pensou. Decidiu procura-la. Olhou para o horizonte. Nenhum sinal de cabelos cor-de-rosa na água. Sem sinal nas areias também. Começou a caminhar pela praia meio sem rumo. Olhando pro chão, percebeu uma bola de vôlei rolando ao seu lado.

–Senhorita, poderia pegar essa bola? – Ouviu um homem gritando um pouco atrás. Observou rápido pelo canto do olho e o viu correndo.

Se apressou em pegar a bola, já que ela continuava rolando para mais distante. Ao se virar para entregar a bola ao homem, a surpresa tomou ambas as faces.

–Mari?

–Oi Sieg... – Disse a professora completamente sem jeito.

–Eu... Pensei que fosse estar meio ocupada. – Dizia com os braços cruzados enquanto lembrava-se da conversa que tivera com Mari por telefone.

–Bem... Na realidade, uma pessoa... Ér... Uma...

–Amiga? - Sugeriu o moreno com uma sobrancelha arqueada.

–Não sei se o termo “amiga” se encaixaria melhor, mas vamos fingir que sim. – Sieg achou aquilo confusamente estranho, mas preferiu não comentar. – Ela praticamente me obrigou a vir à praia. Sabe-se lá o que ela faria se eu não aceitasse... Estranho que até agora não tem nenhum sinal dela.

O professor ainda achava a história estranha, mas acreditou. Pediu que Mari se juntasse ao grupo, pelo menos até a chegada da tal amiga. Já estava lá, então, que diferença faria? Se aproximou do grupo cumprimentando os quatro outros professores, dentre eles estava Zero e Elena.

–Você também é vítima dessa ideia do Sieghart? – Perguntou Zero em seu tom frio de sempre.

–Não. Sou vítima de outra pessoa que furou comigo. – Mari retribuiu o tom.

Zero se direcionou a uma caixa de isopor para pegar uma garrafa d’água.

–Olá, Elena. Pensei que Gyna também estivesse aqui. – Disse a azulada sentando-se numa cadeira vaga ao lado da professora de português, que estava lendo um mangá. Mari até arqueou uma sobrancelha, mas não comentou nada acerca.

–Não soube? Gyna se mudou. Recebeu uma proposta melhor e não perdeu tempo. - Comentou Elena.

–Hum... Oportunidades são mesmo irrecusáveis. - Mari olhou para o mar e fez uma careta. Já passara por aquilo. Já fora embora sem se despedir.

O moreno sugeriu que dessem um tempo no jogo de vôlei para curtir um pouco o mar. Todos foram, com exceção de Mari e Zero. A professora preferiu ficar lendo, ou tentando, o bendito do livro. Cerca de meia hora se passou e Mari já estava no quinto capítulo.

–"Perto de Você"... – Murmurou Zero ao ler a capa. – Isso é um livro adolescente? – Perguntou com a sobrancelha arqueada esperando a resposta óbvia.

–Infelizmente, sim. – Respondeu Mari curta e fria.

–Por que está lendo isso?

–A principio, porque me obrigaram.

–Alguém te obrigou a alguma coisa? – Espantou-se. – Se eu te conheço bem, você teria queimado esse livro logo se a primeira frase não lhe agradasse.

–Esse livro é diferente... – Mari fechou o mesmo e olhou para o mar. – Você não tem noção do que a pessoa que me deu isso pode fazer. Ainda mais quando há motivos para me obrigar.

–Você está estranha... Não costuma se entregar tão facilmente.

Zero colocou um boné e relaxou na cadeira. Pela posição, talvez fosse dormir. Mari suspirou e abriu o livro novamente, procurava uma cena específica que leu algumas páginas antes.

–Olhe Zero! – Exclamou Mari tão repentinamente que assustou o professor. – É incrível como alguns livros possuem personagens tão parecidos com pessoas ao nosso redor. O personagem principal, por exemplo, se parece com o Sieghart! Leia essa página! – Disse quase jogando o livro em Zero.

–Eu não vou ler isso. – Respondeu devolvendo. – Se for me perturbar com livros, que sejam descentes. Até suporto você me perturbando com Física Quântica, mas isso não.

–Eu já disse, é diferente. Você tem que ler! – Insistiu. Ela iria jogar o livro de novo, mas o amigo impediu.

–Se você tacar isso em mim de novo, esse livro já era. – Seu tom era realmente ameaçador.

–Mas você tem que ler!

Não foi uma boa ideia Mari continuar insistindo. Zero arrancou o livro das mãos da professora e o jogou pra longe.

–NÃO!!! ESSE LIVRO É DA AMY!!!

A professora correu para buscar, por sorte caiu ainda na areia seca. Quando se virou viu Zero correndo em sua direção.

–Me dê esse livro! Vou dar um fim nele!

A mulher dos olhos bicolores arregalou os olhos e colocou o livro para atrás de si. Foi automático. Era como se não tivesse controle de seus movimentos. Zero bufou.

–Já que você não quer me dar esse livro, vai pro mar junto com ele.

Espantada com as palavras do professor, virou-se para correr, mas Zero foi rápido pegando-a e jogando a professora em seu ombro esquerdo.

–Zero, me larga!

–Não. – Respondeu sem emoção alguma. – Talvez água, sal e areia façam você voltar ao normal e... Olha que legal! – Falava como se pensasse alto, e irônico. – O maldito livro da Amy vai se despedaçar. – Sorriu debochadamente.

Mari, após ouvir as ultimas palavras de Zero, parecia digerir toda a situação ainda: ela tentou perturbar Zero com um livro adolescente; tentava, inutilmente, proteger este; e, principalmente, estava no ombro de um colega praticamente de cabeça para baixo.

–Me põe no chão! - Gritava enquanto se debatia na tentativa ridícula de se soltar.

Algumas pessoas olhavam como se os dois fossem um casal brincando; outros, ficavam espantados.

Aquela cena não poderia passar por despercebida pelas pessoas ao redor... Nem por Sieghart que estava no mar. O moreno se sentia estranho observando aquilo. Estava sentindo uma raiva... Um ódio inexplicável... Ou não. Era explicável. Zero estava com Mari, a professora que ele sempre amou, lançando-a na água. Uma energia rodeava Sieg, que não conseguia tirar os olhos dos dois. Seu amigo começou a tentar tirar um livro da mão de sua amada enquanto a empurrava para cair na água.

Mari e Zero... Aquilo só poderia ser brincadeira, pensou o moreno, que parou ao ver os dois juntos. Pouco se importava com as ondas que colidiam em suas costas.

Chegando à nova escola que trabalharia e que reencontraria, depois de oito anos, a mulher que amou... Não teve como Sieghart estar calmo diante da situação recente.

–O que você faz aqui?! – Dirigiu-se a Mari, sem se importar com a Diretora da escola, pois estavam na sala da mesma.

Era de se esperar um encontro assim. Mas Sieghart estava com a cabeça quente, confuso.

–Estou exercendo a minha profissão. – Respondeu Mari.

–É isso que fala para mim depois de oito anos?!

–Eu só respondi conforme o dialeto da sua pergunta.

–Não tente ser humorista, Mari, isso nunca foi o seu forte.

–Não estou tentando ser nada.

Lothos observava. Já estava ficando saturada com aquela conversa e também estava surpresa com o jeito insensível no comportamento de Mari.

–Você tem noção do que eu passei?! – Sieghart não media o tom de voz, tampouco respeitava aquele âmbito – Você faz ideia – Ele apontou para a própria cabeça num ato automático – de como eu sofri depois da sua ida?! – Com o seu descontrole, parecia até que o moreno não se dava conta de que estava de frente da pessoa que poderia lhe ceder o trabalho ou lhe tirar.

–Você está sendo demasiadamente imaturo e dramático, Sieg. – Mari olhou para Lothos, que mantinha um semblante inexpressivo, e depois se voltou para o rapaz – Além disso, está se equivocando no meu ambiente de trabalho. Está sendo constrangedor da sua parte. Não seja tolo em agir dessa forma.

–Você não se preocupa nem um pouco comigo, né Mari? Você não se importa com o que eu passei longe de você... – Sieghart conseguiu controlar seu tom de voz. Abaixou o rosto e fitou o chão da sala.

Mari remexeu em alguns papéis de sua mochila. Retirou um pedaço de papel amarelado com o tempo. Deu uns passos até a mesa e o deixou ali.

–Peço desculpas, Lothos. O que aconteceu aqui não irá se repetir. – Disse a professora, que caminhou até a porta da Diretoria.

–Espero que não. Pois não pensarei duas vezes em substituir dois grandes professores por outros. Independente do quão difícil seja encontrar profissionais da qualidade de ambos, não hesitarei.

Mari assentiu e se retirou da sala. Lothos esperou um pouco até Sieghart levantar o rosto.

–Ouviu bem, Ercnard?

–Não me chame por esse nome.

–Então não se comporte como um adolescente sendo repreendido pelos pais.

Sieghart se deu conta de que realmente estava realmente sendo um tolo.

–Desculpas pela minha atitude. Isso não irá mais acontecer. Tem a minha palavra.

Lothos não disse nada e se retirou da sua sala. O moreno a acompanhou pelo olhar e depois se voltou para a mesa. Viu um pequeno pedaço de papel amarelado e com as extremidades rasgadinhas. O seu nome estava nele.”

Sieghart fechou os olhos fortemente. O sol brilhava em seu rosto e aquecia a alma gélida. Abriu os olhos.

Não aguentou...

O moreno se movimentou rápido como pôde na água - incrivelmente ele conseguiu uma velocidade que poucos conseguem – para aproximar-se dos dois. Ao chegar perto, pegou Zero pelo braço, girando o amigo e lançou a uns três metros mar adentro. A azulada aproveitou a oportunidade para sair da água e salvar o livro.

“Seu amigo-da-onça desgraçado de uma figa!!!” – Sieg vociferava mentalmente.

O moreno virou-se para a areia e viu Mari com uma toalha jogada sobre o corpo enquanto colocava o livro em cima da cadeira e no sol para que pudesse secar. Ele nem percebeu quando Zero se aproximou e o puxou para abaixo d’água.

–Esfria a cabeça. Era uma brincadeira, idiota. – Disse quando Sieg levantou-se, após ficar submerso no mar por uns segundos.

–Depois dessa, só lerei livros em casa, onde eles possam ficar seguros. Ora! Não se pode nem ler mais em paz na praia... – A azulada murmurava para si.

***

Depois do que disse para Arme e do que ouviu, Elesis andou muito. Quando sentiu a perna reclamar de dor de tanto andar pela areia, avistou algumas pedras e se dirigiu a mais próxima. Sentou-se. Encarou o mar. Não estava perto de onde seus amigos nadavam. Afastou-se o bastante para não encontrar ninguém. Estava com raiva. Precisava ficar só.

Onde a ruiva estava era composta por pedras grandes que davam para escalar. As medianas ficavam mais próximas ao litoral. Elesis estava sentada numa das pedras medianas.

A água batia com força. A areia era pouco vista onde a ruiva estava, pois a maré estava enchendo.

–Argh! – Gritou Elesis.

Colocou a mão no rosto e gritou de novo. Porém, foi abafado. O som quando a água colidia com a pedra era tão forte e alto, que se equiparava ao coração de Elesis e silenciava o choro que a sufocava.

Algo perturbava a menina. Um sentimento? Uma briga? O seu orgulho? A solidão? Ronan?

Algumas gotas salpicavam a pele clara da ruiva. Refrescavam o corpo cansado. Elesis ficou de pé. Tirou a blusa e a jogou na pedra. Pulou na água com a parte de cima do biquíni e com um short vermelho. O nível do mar chegava a tampar seu quadril.

Uma onda passou por ela e Elesis apenas a atravessou. Encarou o horizonte. A linha que dividia o mar do céu. A paisagem não estava tão bela para a ruiva quanto aos olhos de outras pessoas, estava amarga para Elesis.

A ruiva andou um pouco até a água cobrir sua barriga. Uma onda. Mergulhou. Não ousou abrir os olhos debaixo d’água, mas a vontade era imensa. Voltou à superfície e abriu os olhos e a boca. Pegou ar. Sentiu a água escorrer em seu rosto.

–Vamos ver até onde eu consigo ir – Disse, como se desafiasse o mar.

Outra onda. Elesis não teve tempo de mergulhar e foi empurrada para trás. A mão direita da ruiva se fechou em punho debaixo d’água.

Elesis olhou para o lado, onde era visível a areia. Viu uma quantidade maior de guarda-sóis. Não viu nenhum amigo.

Ondas pequenas passavam pela ruiva, mas nenhuma que a cobrisse por completo e a fizesse mergulhar. Elesis esperou um pouco. Andou para o lado, afastando-se mais ainda da pedra; porém, não percebeu.

–Essa é das boas. – Murmurou a ruiva ao ver uma onda se formar.

Quando se aproximou, Elesis mergulhou e ficou debaixo d’água por um tempo. Ao levantar, esticou os braços e nadou. Veio outra onda. A ruiva voltou a ficar submersa.

Quando tentou ficar de pé, percebeu que não tocava a areia. Estava fundo. Elesis ficou ofegante. Outra onda. Dessa vez, apenas encolheu o corpo e o impulsionou para baixo.

Ao voltar, olhou para frente. Buscou algum rosto conhecido. Quando se virou, mais uma onda. Abaixou-se. Abriu os olhos e, mesmo ardendo, os manteve arregalados. A água era clara, mas na profundidade se tornava mais escura. Menos frágil. Não que o mar fosse frágil, mas a água sendo mais fria e com pouca iluminação dava uma sensação de...

Elesis voltou a respirar.

Estava com medo.

Nadou para frente, mas a correnteza a puxava. Tentou esperar uma onda para ser levada por ela, mas nenhuma forte o bastante apareceu. Os músculos de Elesis começaram a queimar. Ela nadava na linha horizontal, para chegar, pelo menos, perto de onde seus amigos estavam.

Os joelhos queimavam. Os braços ardiam. As pernas já não tinham tanta força. As mãos não perfuravam o mar com tanta potência.

Elesis parou de nadar. Uma onda surgiu atrás dela. Grande. Engoliu-a.

A ruiva não teve tempo para fechar os olhos. Revirou-se debaixo d’água. Tentou dar impulso para voltar, mas outra onda a obrigou a continuar submersa.

Elesis relaxou o corpo.

Sentiu mais medo.

O ar lhe faltava

Voltou à superfície mais anelante. Abriu a boca e deixou que todo ar possível entrasse e revigorasse seus pulmões.

Elesis piscou os olhos várias vezes. Ardiam. Percebeu que já tinha mais a visão dos guarda-sóis do que das pedras onde estava.

Outra onda.

***

Ronan estava inquieto. Não conseguia tocar no biscoito que abriu.

–Ronan? – Chamou Arme.

Ele não a olhou.

–Ronan. – Ryan se levantou – Cara. – Ficou de frente do amigo – Deixa a Elesis. Ela...

–Não gosta de mim? – Ronan virou o rosto – Ela mesma já me diz isso, não precisa me lembrar.

–Então por que está se preocupando tanto? Ela sabe se virar. – Ryan tentou demonstrar segurança.

–Eu não sei... – O azulado olhou para o mar acima do ombro do amigo.

–Intuição feminina? – Ryan riu.

Ronan o encarou e começou a andar.

–Ronan! – O amigo abriu os braços ao ver o azulado se afastando.

Arme também se levantou.

–Eu trouxe vocês aqui para esquecermos qualquer estresse que estivesse acontecendo em nossas vidas, mas parece que piorei tudo... – A baixinha tinha uma voz de choro.

–O fato, Arme, – comentou Lire – é que não adianta o lugar que possamos ir, algum problema irá nos acompanhar. – A loira encarou Ryan, como se mandasse uma indireta.

–Isso é pessimismo. – Rebateu Arme – Qual foi, gente? Somos amigos, deveríamos... – A baixinha ficou boquiaberta, seus olhos se esbugalharam.

–Continua seu discurso. – Disse Ryan, vendo que a amiga paralisou.

–Elesis está se afogando! – Arme apontou para uma direção no mar.

Lass e Lire se levantaram.

–Temos que avisar o Ronan.

–Caraca, ele tem mesmo intuição feminina. – Ryan ficou abismado.

Lass passou por ele e lhe deu uma tapa na cabeça.

–Vamos logo. – Lass apressou os passos e Ryan o seguiu, massageando o local que foi desferido o tapa.

Os dois conseguiram alcançar Ronan, chamando-o.

***

Arme ameaçou ir atrás dos meninos, mas Lire a segurou.

–O seu desespero não vai ajudar em nada. Vamos avisar algum salva-vidas.

Arme não conseguiu responder. Admirava a cautela de Lire com a situação, mas via nas feições da amiga a preocupação.

As duas deixaram tudo e foram atrás de ajuda.

***

Ronan se virou.

–O que foi? Vieram tirar sarro da minha cara? – Ele cruzou os braços e encarou Ryan.

–Elesis está se afogando. – Lass foi direto, evitando qualquer contratempo entre os amigos.

Ronan deu um passo para trás e quase esbarrou num vendedor ambulante.

–Desculpa. – Virou-se rapidamente para o rapaz e depois voltou para os amigos – Isso é algum tipo de pegadinha?

–Não se faça de idiota, eu não viria aqui à toa. – Disse Lass.

O coração de Ronan começou a acelerar desesperadamente. Correu para o mar para ver se encontrava Elesis.

–Deus! – Viu a menina bem distante. Seu cabelo vermelho deixou claro que ela precisava de ajuda, pois aparecendo e desaparecendo da visão de Ronan.

Entrou na água e começou a nadar. Mergulhava em algumas ondas e voltava o mais depressa para a superfície, na intenção de não perder Elesis de vista.

–Deveríamos ajudar também. – Sugeriu Ryan.

Lass apenas assentiu e os dois correram para a água. Antes que Ryan começasse a nadar, Lass protestou:

–Fiquemos aqui. Não será de grande ajuda se nós quatro estivermos no fundo e não conseguirmos voltar. Seria tolice.

–Então ficaremos parados? – Ryan encarou Lass.

Ele não soube o que responder. Sua tese não estava errada, mas parados eles não poderiam ficar.

Lass começou a nadar. Nadou bastante. Tentou tocar o pé no chão e conseguiu. Chamou por Ryan e o menino fez o mesmo.

–Ainda está longe de Elesis e Ronan... – Assim que Ryan falou, uma onda passou por eles, obrigando-os a mergulhar.

***

Ronan nadou. Passou por ondas. Tentou ao máximo manter o fôlego, mas para se aproximar de Elesis sentiu que os músculos o trairiam e começariam a doer.

***

Elesis tentou manter o rosto erguido, mas estava sendo afanoso.

Ela olhou para frente.

Ronan sorriu. Parecia um anjo. Uma segurança tomou conta do coração aflito da ruiva.

Ronan nadou mais do que seu corpo suportava. Estava exausto, mas era pela Elesis. Só por ela.

–Elesis! Por Deus! O que deu em você?! – Perguntou, já próximo dela.

Onde estavam, as ondas não eram tão grandes, mas algumas faziam com que eles mergulhassem, como uma que impediu Elesis de responder aos questionamentos do azulado.

–Sério que você veio até aqui para ficar me fazendo perguntas?! – Elesis afastou o cabelo do rosto e pegou ar.

Ronan não respondeu e também não hesitou em segurar a mão da ruiva.

–O que pensa estar fazendo?

–Te salvando. – Ele sorriu.

–Nós dois iremos morrer, idiota! – Elesis olhou para frente – Eu não tenho… – Outra onda os fizeram ficar submersos. Elesis tossiu um pouco, pegou ar novamente e continuou: - Forças para nadar. – Reconheceu sua fraqueza.

Ronan também não tinha forças; porém, nada disse. Precisava demonstrar segurança.

–Iremos sair daqui. – Disse o azulado incisivo. Apertou a mão da ruiva e Elesis quase sorriu, se não fosse pelo seu orgulho.

–Duvido que tenha forças. – Elesis deu uma pausa – E, quer saber, eu não preciso da sua ajuda.

–É, eu vi… - Mais um mergulho. Ronan balançou a cabeça para afastar o cabelo do rosto – Você estava se saindo uma bela atriz fingindo se afogar, só faltou erguer os braços e gritar por socorro. – Ronan colocou a mão em concha na frente da testa, fingindo procurar alguém e complementou – Estou esperando o diretor dizer “Corta!” e alguém nos tirar daqui.

–Você tem sorte de estarmos nesta situação e não ter como dar um belo soco na sua fuça.

Elesis o encarou. Ronan tentou não rir. A ruiva puxou ar pela boca, estava sendo difícil manter a respiração controlada. Fechou os olhos. Batia os pés debaixo d'água e aquilo estava desgastando-a.

–Por favor, não entregue os pontos. – Ronan percebeu que Elesis estava quase desistindo.

–Eu… - Apertou os olhos – Eu não estou mais aguentando, Ronan. Meu corpo está muito cansado para tentar alguma coisa. – Soluçou – Eu não deveria ter nadado tanto.

–Eu estou aqui. – Murmurou. Aproximou mais o corpo de Elesis com o seu e começou a nadar, esticando o braço para frente e o puxando na água com força para dar impulso para frente.

A ruiva não ousou abrir os olhos. Deixou que Ronan a guiasse.

Ronan sentiu seu corpo protestar. A dor estava se tornando insuportável. Tudo queimava. Mas amar alguém que diz, com todas as palavras, que não gosta de você também é doloroso e, nem por isso, Ronan desistiu de Elesis. Não desistiria agora.

Lass e Ryan avistaram os dois um pouco mais próximo que antes. O azulado conseguiu chegar no ponto onde as ondas se formavam. Isso ajudou e atrapalhou, pois impulsionava os dois corpos cansados para frente, mas depois os puxavam.

–Ronan! – Gritou o alaranjado, indicando que o salva-vidas estava indo resgatá-los.

Quando toda ação foi feita, Ronan e Elesis já estavam na areia, uma multidão se formou.

Lire e Arme se juntaram ao grupo. Elesis se revigorava. Ronan não estava mais ao seu lado. Foi tudo tão rápido, que ele acabou se afastando dela, mas observava a menina de longe, vendo todo o cuidado prestado pelos salva-vidas.

A ruiva, por um momento, tentou se levantar buscando pelo azulado. Por que ele havia saído de perto de Elesis mesmo? Nem o próprio Ronan sabia responder.

–Elesis! – Arme apareceu pulando em cima da ruiva, deitando-a na areia.

Elesis se sentou novamente depois desse carinho exagerado e riu. A baixinha se afastou e levantou, batendo com as mãos nos joelhos para tirar o excesso de areia.

–Depois do que falamos uma para a outra, um abraço desses foi a última coisa que eu pensei receber de você, Arme.

Elesis colocou o braço a frente do rosto para que a luz do sol não a atrapalhasse de ver a baixinha.

–Quando eu te vi em perigo, nada mais me importou além da sua vida em risco. Afinal, você saiu desnorteada daquele jeito por culpa minha.

–Arme, a culpa não foi sua. – Disse Lire, que olhou para Elesis e a ruiva assentiu – Ambas se equivocaram. O que aconteceu foi uma consequência desesperadora.

–Não precisa filosofar tanto. Estamos apenas em uma praia. – Elesis conseguiu arrancar risos das amigas – Eu agradeço a sua preocupação, Arme, e peço desculpas pela minha atitude.

–Está tudo bem. – Arme suspirou aliviada – O importante é que você está sã e salva.

–Graças ao Ronan. – Acrescentou Lire.

Elesis abaixou o rosto.

–Tome. – Apareceu um dos salva-vidas, entregando uma garrafinha de água para a ruiva, que nem percebeu – Está tudo bem?

Elesis levantou o rosto e assentiu. Pegou a garrafinha e bebeu tudo de uma vez.

A essa altura, os meninos já haviam voltado para onde estavam as coisas abandonadas. Ronan sentou na canga debaixo do guarda-sol e observava o mar com cautela.

–Toma. – Lass estendeu o braço e entregou uma garrafa descongelando para Ronan.

–É impressão minha ou o Lass está sendo amigável demais? – Perguntou Ryan com uma sobrancelha arqueada.

Lass o encarou.

–Depois eu não faço nada e ficam reclamando.

Ronan soltou um breve riso. Abriu a garrafinha e bebeu aos poucos. Ryan sentou ao lado do amigo.

–Cara, você salvou a Elesis. Sabe o que isso significa?! – O azulado apenas colocou a garrafa na areia. Ryan estranhou a reação do amigo – O que foi?

–Elesis confiou a mim a vida dela. – Disse Ronan, sem tirar os olhos do oceano.

–Ela não vai gostar de você só pelo seu ato heroico, cara. É capaz de ela já sentir algo por você e você fica aí, achando que ela te odeia.

Lass fez uma careta antes de falar e, por fim, soltou:

–Terei de concordar com Ryan. Elesis é uma garota difícil de se lhe dar, mas você não terminou tudo com a Amy e não fez a burrada de enfrentar o seu pai para voltar atrás do seu objetivo. Afinal, você nem sabe dos sentimentos dela.

–Eu não voltarei atrás. – Ronan olhou para Lass e depois voltou a admirar o mar – Quando contei a vocês sobre o que aconteceu no almoço com o meu pai, foi para mostrar que estou determinado.

–Mas tem algo te incomodando, não tem? – Perguntou Ryan.

Ronan apenas assentiu. Tomou mais um gole de água e passou a mão no rosto para refrescá-lo.

–Lá vem a intuição feminina...

O azulado reprovou o que Ryan disse. Lass também balançou a cabeça e, cansado de ficar em pé, sentou-se junto com os amigos.

As meninas estavam voltando junto com dois salva-vidas.

–Já disse que não irei para hospital nenhum! Estou melhor! Só foi um susto. – Elesis quase socou os salva-vidas para mostrar que estava bem revitalizada, mas conseguiu se controlar.

–Então é melhor a senhorita não fazer mais arte. No mar não se brinca, é perigoso. – Disse um dos rapazes.

–E meu pai ainda diz que eu sou o arteiro do grupo... – Brincou Ryan, que recebeu um olhar ameaçador da ruiva – “Bem que eu disse que a Lire anda aprendendo muita coisa com essa amiga...” – Pensou.

O outro salva-vidas riu e reforçou o que o seu colega de trabalho disse:

–Só pedimos, então, que se hidrate bastante. Beba água e evite o sol. Se quiser nadar, - Ele se virou e apontou – fique naquela margem, pois é onde a correnteza passa bem fraquinha. – Depois voltou para a ruiva – Onde você estava era cheio de pedra. Ali a água é bem traiçoeira.

Elesis assentiu e estava começando a ficar constrangida.

–Pode deixar que eu tomarei conta dessa cabeça dura. – Disse Arme ao salva-vidas, que balançou a cabeça e se retirou com o companheiro.

Elesis e Ronan trocaram alguns olhares, que foram percebidos pelos amigos; ninguém se manifestou.

–Bem, acho que vou ligar para o meu padrasto, né?

Todos permaneceram em silêncio.

–Pelo voto da maioria, - Disse Arme ironicamente – ligarei para ele.

Caminhou até a sua bolsa e retirou o celular, que estava em seu short jeans.

–Estou com fome. – Protestou Ryan, passando a mão na barriga.

Arme, que estava pegando o celular, tirou um pacote de biscoito recheado e atirou em Ryan com raiva, que se defendeu instintivamente.

Ele ficou boquiaberto.

–Bem feito, você provoca... – Murmurou Ronan.

–Falo mais nada. – Ryan pegou o pacote fechado que caiu na areia e o abriu.

Arme fez a ligação e esperou.

Poucas conversas aleatórias quebraram o silêncio que se instalou entre os seis durante o tempo de espera.

***

Jin parou em frente à casa de Amy, era incrivelmente grande e linda. Muito bem arquitetada. A vizinhança em si tinha casas assim.

Aquele portão grande na entrada, uma câmera na parede, uma cabine para o segurança... Era isso que se resumia aquele bairro.

Nervoso por estar ali, apertou o interfone e torceu para que fosse Amy quem atendesse.

–Pois não? Quem deseja? – Era uma voz masculina.

–É... – O ruivo passou a mão no rosto – Aqui é o Jin, eu... – Hesitou – Eu queria falar com a Amy, ela está?

–Ah, sim. Creio que seja o namorado dela. Estou certo?

Aquela voz séria no interfone dava um ar mais apreensivo para o rapaz, que puxava a gola da camisa para pegar mais ar.

–Ela comentou de mim? – Jin deu-se conta de que não era o momento certo para falar sobre aquilo através de um aparelho eletrônico.

Silêncio.

–Sim, eu sou o namorado dela.

Silêncio novamente. Jin encarou o interfone e levou um susto quando viu um homem atrás do portão o encarando.

–Estava esperando pela a sua confirmação. Pareceu-me muito desconfortável como a minha pergunta, não é?

O ruivo colocou a mão no peito e deu um passo para trás.

–Perdão, não queria assustá-lo. – O senhor abriu o portão e tinha um sorriso humorado no rosto.

–Tudo bem... – Conseguiu dizer o ruivo.

–Entre, por favor.

–O senhor deve ser o pai de Amy? – Perguntou, ao passar pelo portão.

–Sim, meus olhos e os olhos da minha filha são bem parecidos, não é?

Jin sorriu e fez um sinal positivo com a cabeça.

–Amy nos falou muito sobre você, Jin. E, por favor, não precisa dirigir-me a mim como “senhor”. Não sou tão velho assim. – Riu.

–Desculpa. – Jin estava começando a suar.

–E não fique nervoso na minha presença. Deveria ficar assim ao lado de Amy, ela, sim, tem um dom de fazer isso com seu jeito serelepe de ser.

–É... – O ruivo concordou, afinal, o pai da rosada estava certo. Amy tinha um jeito dominador tão fofo, que dava certo nervoso estar em sua presença, pois nunca dá para prever o que aquela menina pode aprontar.

–Ela disse que ficaria para almoçar para nos conhecermos melhor, mas... – O pai de Amy olhou para o seu relógio, mesmo com o dia ensolarado, ele usava uma blusa social e calça – Acho que dá tempo de aproveitar a piscina. – Terminou, fechando o portão.

–Piscina?

–Sim, Amy não contou? – O pai parou um pouco para pensar – Por isso que ela saiu cedo com a mãe para fazer compras... E comprou um short e uma sunga.

Jin arqueou as sobrancelhas.

–Achei que não fossem para mim, eram pequenos.

O ruivo enrubesceu com o comentário e engoliu em seco, o que arrancou alguns risos por parte do pai de Amy.

Os dois caminharam pela entrada até Amy avistar Jin e chamá-lo.

–Acho que fico por aqui. – Disse o senhor, indo em direção a casa, antes de entrar, virou-se para o ruivo – Jin.

O rapaz desviou os olhos de Amy para o pai.

–Divirta-se com moderação.

–Claro, senhor... Digo, pode deixar. – Respondeu, quase gaguejando em todas as palavras, pois tinha entendido bem o que o pai de Amy queria avisar.

***

Alguns minutos se passaram. Arme recebeu uma mensagem no celular e era seu padrasto avisando que já havia chegado.

Todos arrumaram suas coisas e foram. Nenhuma palavra foi dita no trajeto até o carro, até que...

–Ai! Ai! Meu pé está queimando! - Ryan olhou para areia – Pequenas partículas de fogo, eu vou denunciar vocês! – Gritou com a areia branquinha da praia.

Alguns risos foram ouvidos e, em pouco tempo, silenciados. O padrasto de Arme buzinou quando todos já estavam bem próximos. A baixinha tomou a frente para abrir a porta. Ronan entrou primeiro sendo seguido por Ryan. Lire, Elesis e Lass ficaram na etapa de bancos da frente.

Arme entrou no lado do carona com o semblante emburrado e quase jogando a bolsa em cima do padrasto.

–Opa! Desculpa pelo atraso. – Ele riu.

–O quê? – Arme não entendeu, deixou a bolsa no chão do carro e colocou o sinto de segurança.

–Quando sua mãe joga bolsa em mim é porque eu cheguei... – Olhou para a baixinha e percebeu que ela viajava – Deixa. – Deu-se por derrotado e ligou o carro, saindo do encostamento e entrando na pista.

Parou logo no sinal.

–Pensei que vocês ficariam mais tempo na praia. Não deu nem duas horas desde que deixei vocês. – O padrasto olhou pelo retrovisor os rostos cansados e tristes.

O sinal abriu e a quietude se instalou no veículo. O rádio estava ligado, mas estava baixo.

–O.k! O.k! – Manifestou-se Arme, virando o corpo para trás com certa dificuldade, por causa do sinto – Esse passeio foi um fracasso. – Disse ela, admitindo para si mesma que deveria pensar em algo melhor. E pensou – Mas já planejei um próximo. Lá em casa.

O padrasto de Arme virou o rosto para a menina como quem dizendo “Lá em casa? Logo lá em casa?” e depois voltou a atenção no trânsito.

Arme apenas riu e continuou:

–Eu arrumarei meu quarto e ajudarei a minha mãe a arrumar a casa para recebê-los.

O padrasto da baixinha murmurou um “Ah, sim. Então pode.”, fazendo a menina rir novamente.

–E o que faríamos na sua casa? Brincaríamos de boneca? Olha que eu tenho uma quedinha pela Barbie e não brinco de Susie cabeçuda. – Descontraiu Ryan, com uma voz afeminada.

Lire, que estava um pouco ressentida com o namorado, não conseguiu prender o riso. Até mesmo o padrasto de Arme deu uma breve gargalhada, assim como a baixinha.

–Pode deixar, Ryan, eu deixo você brincar com a Barbie.

Caramba, eu falei de zoação, nem sabia que você tinha. – Riu – Desse tamanho ainda brincando de boneca.

–Cala a boca! – Irritou-se Arme, revirando os olhos – Posso continuar!?

–Pode, amiga. – Ryan continuou com um jeito debochado.

–ENFIM! – Arme se ajeitou no banco – Poderia ser uma tarde de jogos, um lanchinho.

–Opa! Que dia? Hora? Estação do ano? Condição climática? Falou em comida, já estou até lá.

–Ryan, fica quieto e deixa a Arme terminar, por obséquio? – Pediu Ronan.

–Tá bom, garoto com intuição feminina. – Foi inevitável, o azulado acabou dando um soco no braço de Ryan – Ai, cara.

–Calado.

–Obrigada, Ronan. – Agradeceu Arme – Pode ser amanhã, pois minha mãe e meu avô estarão em casa. Então, o que acham?

Lass deu de ombros. Ronan balançou a cabeça em sinal de sim, assim como Elesis e Lire. E Ryan...

–Não precisa nem falar duas vezes. Minha barriga até roncou depois desse convite.

–Ótimo! – Arme voltou a sentar direito, com o corpo virado para frente – Mandarei mensagem para vocês no grupo que eu vou criar, o.k.? Só para confirmarmos tudo com os pais de vocês.

–Era isso que eu ia comentar. – Acrescentou o padrasto – Se não der para todo mundo, é só remarcar.

–Tudo bem.

“Por onde andei, enquanto você me procurava?

E o que te dei, foi muito pouco ou quase nada.

E o que eu deixei, algumas roupas penduradas.

Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava?”

E ao som de Nando Reis, a viagem se seguiu em silêncio. À medida que o pessoal foi sendo deixado em casa, o desânimo ia deixando o carro. Por último, restaram: Elesis e Ronan. Chegando à casa do azulado, a ruiva pediu para que o padrasto de Arme a deixasse ali.

–Tem certeza? Eu te levo em casa numa boa. Nem estamos tão longe. – Disse ele.

Elesis negou. Agradeceu e desceu junto com Ronan. Arme observava tudo e organizava suas ideias. Estava começando a suspeitar que mais cedo ou mais tarde aqueles dois ficariam juntos. E, se eles demorassem muito para se resolver, ela daria um empurrãozinho. Até porque, não era possível depois do beijo que ocorreu durante a luta não despertasse nenhum sentimento por parte de Elesis.

–Até amanhã, gente. – Despediu-se a baixinha. Acenando para fora do carro.

Ronan acenou de volta e Elesis fitava o chão. Os dois caminharam até o portão do menino.

–Então... – Ronan tossiu arranhando a garganta, só para chamar atenção da ruiva – Você deveria ter ido com a Arme... Agora terá de ir andando...

–Pois é...

Os dois conversavam e terminavam suas frases com um suspiro.

–Ronan.

–Elesis.

Disseram ao mesmo tempo.

–Diga. – O azulado deu a deixa.

–Eu só... – A ruiva o olhou, abriu a boca e soltou: – Muito obrigada. Não é de hoje que você vem salvando a minha vida. Eu nem sei agradecer direito. – Concluiu, fitando qualquer ponto da rua que não fosse o menino.

–Não se preocupe com isso. Amigos sempre ajudam os...

–Não consigo te ver apenas como um amigo. – Elesis nem precisou terminar a frase que Ronan já transbordava sua felicidade com um sorriso encantador, fazendo com que a ruiva ficasse rubra de tanta vergonha.

–Eu também não... – Ronan piscou os olhos para ver se estava sonhando ou não. Era real.

–Mas estou com medo.

–Por favor, não se sinta obrigada a expor o que sente.

–Não é isso! – Elesis estava confusa. Não pensava, apenas agia. Afinal, ela era assim mesmo, até com seus sentimentos. – Estou com raiva, sabia?!

–Mas o que eu fiz? – Ronan recuou e espantou-se com o rumo da conversa.

–Você apareceu na minha vida, isso que aconteceu! – Elesis passou a mão no rosto – Poderia ter ficado na sua, com o seu “mô” rosado! Não deveria ter esbarrado em mim, para começar. Nem tinha que ter levado a culpa por mim na sala da Lothos. E ainda tem as palavras que me disse hoje de manhã! Você é um idiota!

Ronan riu.

–O que foi?!

–Calma, Elesis. – Ele se aproximou dela e a abraçou – Calma...

A ruiva não recuou. Por que não recuou?! Deveria ao menos ter recusado o abraço. Não... Ela já estava cansada daquilo. Já estava sofrendo bastante. Não tinha como esconder isso. Ronan mesmo não escondia de ninguém seus sentimentos pela ruiva.

O azulado passava a mão pelos fios avermelhados e apertava mais e mais o abraço com todo o carinho possível.

–Isso está me dando enjoo. – Disse Elesis.

–Por quê?

–É muito meloso. Não gosto disso. – Afastou-se.

–Desculpa. – Ronan olhou para a calçada e, mesmo com a visão cinza que tinha, seus olhos transbordavam uma felicidade cheia de vida.

Silêncio.

–Acho melhor eu ir.

O azulado encolheu os ombros.

–Te vejo amanhã, então...

Elesis assentiu, se virou e apressou os passos. Atravessou a rua e sumiu das vistas de Ronan. Ele, por sua vez, olhou para o céu azul e sorriu abertamente para que o universo imenso observasse sua alegria devastadora.

Uma senhora passou por ele assim que Ronan abaixou a cabeça e sorriu também ao vê-lo naquele estado. Foi contagiante.

***

Edel já tinha conhecido a casa e até mesmo o jardim. Sebastian lhe mostrara seu quarto e lhe entregara as bagagens. Já instalado, a menina resolveu falar com o Sr. Erudon.

Timidamente, bateu na porta de seu escritório. Ouviu um “Por favor, entre” e adentrou o local.

–Meu pai disse que ligaria para o senhor. – Disse ela, parada na porta.

–Sim, e já conversamos. – O Sr. Erudon ergueu os olhos dos papéis que examinava para a menina – Já conheceu o ambiente.

Edel balançou a cabeça.

–Gostei bastante da piscina. Será bom continuar meus treinos de natação.

–Uma campeã. É isso que seu pai tem em casa. – Disse o Sr. Erudon, soltando a folha em cima do notebook aberto – Ele me contou acerca dos troféus e medalhas que ficam estampados em seu quarto e no escritório dele.

Edel sorriu sem jeito, com as mãos para trás e os pés cruzados.

–Queria muito que meu filho pegasse o gosto por ser campeão. – O pai de Ronan olhou bem para Edel – Se é que me entende.

A menina parou. Encarou o chão e assentiu.

–Sim, eu compreendo.

–Ele é um ótimo esgrimista. Deveria... – Ele procurava a melhor palavra.

–Persuadi-lo a seguir o seu sonho? – Sugeriu ela, num tom ríspido.

–Gosto quando as pessoas conseguem assimilar o que quero.

–O seu querer nem sempre será o do seu filho. – Insistiu a menina.

–Suas palavras estão voando pela sala e saindo pela janela. – O pai de Ronan voltou a pegar os papéis – Se já entendeu o recado, pode se retirar.

Edel se segurou para não continuar com a discussão, mas se manteve firme. E, antes de sair, o Sr. Erudon acrescentou, ao ouvir o som do portão de sua casa ser aberto – Você disse que já conheceu a casa toda, mas faltou um cômodo.

Edel virou o rosto e deixou o ouvido na direção do pai de Ronan.

–O quarto de meu filho. Há uma espada linda pendurada na parede. Ou jogada na bagunça daquele lugar. Deveria ir lá, quem sabe não pego o gosto também. Soube que manuseia com muita habilidade uma espada, seu pai também era um bom esgrimista e lhe ensinou bastante coisa.

–O senhor anda bem informado.

–Mais do que imagina. – Ditas essas palavras por parte do pai de Ronan, Edel se retirou do escritório.

O Sr. Erudon sabia que seu filho havia chegado e que não poderia ser a esposa, pois a mesma só voltaria depois do almoço e ainda eram onze da manhã.

***

Ronan foi atendido por Sebastian, que também fora contagiado pelo sorriso do menino.

–Quem foi a donzela que encantou o jovem Erudon? – Brincou o jardineiro.

–Preciso dizer o nome, Sebastian?

O senhor riu. Fechou o portão e olhou para o rapaz.

–Agora você precisa ser forte, jovem Erudon. Pois a briga entre você e seu pai está apenas começando.

–Por que está me dizendo isso?

–Não queria estragar esse momento tão lindo de sua vida, mas... – Sebastian colocou uma das luvas de jardinagem – Você terá uma bela surpresa.

Ronan juntou as sobrancelhas e ficou pensativo. Conhecia seu pai, mas sempre se surpreendia com ele.

–Sabe se minha mãe está em casa.

–Chegará depois do almoço. – Avisou o senhor.

É... Ronan teria de enfrentar, caso fosse, seu pai sozinho.


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Notas finais do capítulo

Ah! Gente, como nós não somos normais (xD), estamos montando uma trilha sonora pra fic *u* Ficará disponível nas notas inicias ^^ Beijos!