A ruiva estava lendo seu velho exemplar de Hogwarts: Uma história, cujas páginas já estavam amareladas e algumas com cortes nas pontas. Enquanto virava as páginas desgastadas pelo tempo, enfiava na boca um fofo bolo de chocolate.

—Hey, parece que a minha irmãzinha está de volta! —Hugo beijou a testa da ruiva.

—O que quer dizer com isso? —Virou-se para o irmão já com uma panqueca na boca.

—Você está lendo, enquanto come e está na mesa da Grifinória. —Comentou entre uma mordida e outra.

—Eu sempre me sentei à mesa da Grifinória. —Rebateu.

—Sim, mas longe dos seus amigos! —Concluiu enquanto Tiago passava, sentando-se mais afastado.

—Agora quem está estranho é ele. —Disse em tom baixo e tristonho.

Hugo olhou para o primo cabisbaixo, comendo em silêncio e solidão.

—Ele ainda não aceita o fato de que está se tornando amiga dos Sonserinos. Mas tudo bem, daqui a pouco ele se arrepende e volta correndo para te pedir desculpas.

—Espero que sim Hugo. —Rose abocanhou outro pedaço de seu bolo. —Ah, você vai no jogo de Quadribol?

—Sim, fui liberado das aulas de hoje. —Suspirou com um olhar maroto.

—Kit mata aula? —Rose perguntou com desdém enquanto dava outra garfada.

—Sem dúvida. —Respondeu e abocanhou outra panqueca, misturando a massa em sua boca com suco de abóbora.

O sinal tocou e todos os alunos foram para suas respectivas salas de aula, aguentando o falatório de cada professor. Para Rose é claro que não era problema, já que gostava das aulas e de saber cada vez mais, já outros alunos, aproveitavam alguns momentos para tirarem um cochilo. Após o almoço todos os alunos do quinto ano já pareciam mais animados por alguma razão que os professores desconheciam. Assim que o último sinal tocou foi como uma multidão enfurecida, a maioria saia correndo para o jardim do castelo, enquanto poucos pegavam suas vassouras nos dormitórios.

Rose estava descendo do seu quarto, com a vassoura em mãos.

—Vejo que será artilheira minha cara ruiva. —Brincou Scorpius também com a vassoura na mão.

—Sim, não me sinto à vontade para mostrar meus dons como batedora. —Os dois riram.

E durante o caminho, conversaram de forma calma e tranquila, sem nenhuma ameaça ou discussão.

—O que ela está fazendo aqui? —Murmurou a ruiva com ódio no olhar ao ver a garota loira.

—O que acontece entre você e a Scoults? —Scorpius perguntou.

—Ela é um nojo. —Foi o que conseguiu responder.

Scorpius soltou uma risada abafada, e em seguida o sorriso em seu rosto desapareceu. Junto de uma Sonserina que sorria timidamente:

—Tiago? —Rose sorriu e caminhou até o primo, abraçando-o. —Achei que não viria!

—E perder uma partida de Quadribol? Jamais ruiva. —Bagunçou os cachos ruivos. —Podemos começar?

Algumas garotas subiram nas arquibancadas, os jogadores se posicionaram sobre as vassouras, e em segundos já cortavam os ares.

Tiago estava no time de Rose, e Scorpius juntamente de Luke no time oposto. A goles já fora lançada ao ar, junto dos balaços e o pomo de ouro, já fora de vista. Os pontos estavam cada vez mais acirrados, e uma pequena torcida já havia se formado, gritando e aclamando os jogadores velozes. Os balaços eram lançados contra os jogadores com cada vez mais força, talvez um pouco de raiva era usado pelos batedores. A ruiva para se desvencilhar de um balaço errante, soltou a goles, que foi pega por Luke, que velozmente marcou ponto.

—Deveria desistir de jogar Weasley! —A Sonserina loira gritava. —A propósito, deveria desistir de viver, já que nem o seu primo te quer por perto.

Rose apertava o cabo da vassoura, se usasse um pouco mais de força, a madeira se fundiria com a sua delicada pele. Para evitar qualquer ataque, pousou e saiu do campo — sem explicar — sob o olhar de jogadores e gritos de seus amigos.

Scorpius sem entender, continuou a partida e apenas quando terminou, resolveu ir atrás da ruiva. Já no corredor do quadro, percebeu o quão o temperamento estressado e imprevisível de Rose lhe atraia, e tinha que confessar, adorava quando a mesma retrucava do jeito que só ela sabia, lhe jogando uma resposta dura e igualmente feroz.

—Verde Galês! —Proferiu e o quadro se abriu instantaneamente. A sala estava vazia, sem nenhum sinal da garota, a porta do banheiro estava aberta, mostrando-se igualmente vazia. Em passos leves subiu as escadas, e pela primeira vez, bateu na porta timidamente.

—Entre. —A ordem foi ouvida com uma voz baixa e abafada.

Tocou a maçaneta sentimentalmente e virou-a, adentrando o quarto vermelho e dourado, sorriu ao ver como era parecido com o seu, invertendo as cores obviamente. Perto da janela, um travesseiro cilíndrico, grosso e vermelho, flutuava por um feitiço simples. Rose ao lado, com as mãos enfaixadas, socava o travesseiro como uma lutadora, intercalando entre chutes.

—O que está fazendo? —Scorpius entrou no quarto em passos lentos, como se entrasse em um lugar intimo e proibido.

—Batendo no travesseiro! Achei que fosse óbvio. —Ergueu a sobrancelha e socou mais uma ou duas vezes a almofada que mal se mexia.

—Espere, não é um travesseiro comum. —Deduziu o rapaz.

—É claro que não é, ele está enfeitiçado, nenhum travesseiro voa. —Respondeu firme, como se fosse ainda mais óbvio.

—Eu não quis dizer isso! —Se aproximou do travesseiro e o apertou, mexeu os lábios e com o punho cerrado socou-o. —Isso é um saco de pancadas. —Olhou para a ruiva. —Não me olhe assim, eu não fazia ideia que você usasse um desses.

—Eu enfeiticei esse travesseiro. —Explicou. —Enfeitiço quando... —Virou-se e encarou a lua quase eu seu pico. ...Quando preciso descontar a raiva em alguma coisa.

—O que aconteceu dessa vez? —Perguntou se escorando na parede ao lado da janela.

—Se importa? —Rose apontou para o saco de pancadas e o rapaz entendeu perfeitamente. Segurou a almofada e Rose voltou a socar. —A Scoults estava me irritando, e eu não queria pegar detenção por mandar alguém para a Ala Hospitalar, então saí.

Scorpius riu e percebeu que ao citar o nome da garota, Rose bateu mais forte contra o saco.