_ Mãe. – Grito de dentro do banheiro, eram seis horas da manhã, e eu ainda tinha que tomar banho.

_ O que foi filha? – Pergunta a minha mãe correndo em minha direção.

_ Como é que eu vou tomar banho com essa perna engessada?

_ Vai ter que banhar com a mangueirinha. – Diz minha mãe abafando uma risada.

_ É o fim do mundo. – Resmungo alto, eu não acredito que teria que fazer isso. – Ok Melissa, inspire e expire, é só durante algumas semanas.

Termino de banhar, o que foi um sacrifício e tanto e vou trocar de roupa, tive que me apoiar em apenas um pé e quase caio de bunda no chão.

Depois de ter me arrumado, me dirijo para fora.

_ Aonde você pensa que está indo? – Pergunta a minha mãe segurando em meu braço para me impedir de fazer qualquer coisa.

_ Indo para a escola. – Respondo.

_ O carro está bem ali, pode ir entrando.

_ E quem disse que eu vou de carro?

_ E quem disse que você vai andando?

_ Eu.

_ Mas você não vai, não desse jeito.

_ Vou sim.

_ Não vai.

_ Amor, deixa ela ir, se ela se sentir bem, tudo bem – Diz meu pai me defendendo, para a minha total sorte.

_ Você está louco? Olha o estado da perna dela – Diz minha mãe aumentando o tom de sua voz.

_ Pode ir Mel, deixa que com a sua mãe eu me resolvo.

Mal deixo ele terminar de falar e já vou andando, eu sabia que isso era muito idiota, mas eu gostava de ir andando para a escola, aquilo me acalmava, aquela brisa fria de manhã era reconfortante, e me ajudava a pensar sobre tudo e todos.

Enquanto tento manter a minha mochila nas costas e segurar a muleta ao mesmo tempo, sinto alguém tocando em meu ombro e dizendo:

_ Você é louca? Me daqui a sua mochila. – E é claro que era o Andrei.

_ Não obrigada, eu não preciso da sua ajuda, e para a sua informação eu não sou louca, ainda, mas se você continuar a existir vou ficar logo, logo.

_ Larga de ser marrenta e me dá essa mochila logo. – Diz ele puxando a minha mochila de uma vez, o que me faz cambalear, e se ele não tivesse me segurado pelo braço eu teria caído de cara no chão.

_ Isso é muito clichê sabia? – Pergunto tirando as mãos deles de cima de mim.

_ O que é clichê?

_ Eu quase caindo e você me segurando pelo braço, só faltava a gente ficar olhando um para outro com o rosto a centímetros e dado um beijo.

_ Se você quiser que eu faça isso? – Pergunta Andrei dando um sorriso, que por pouco não fez eu me derreter toda, eu disse por pouco.

_ Não, obrigada, estou esperando o meu príncipe encantado.

Ficamos andando durante alguns minutos sem falar nada, até que eu me viro para ele e vejo, além da sua mochila e da minha, o meu violão.

_ O que você está fazendo com o meu violão? – Digo parando de andar e tentando colocar as mãos na cintura, o que não deu muito certo.

_ Quando você foi atropelada. – Diz engolindo em seco. – O seu violão foi parar do outro lado da rua, você tem sorte que não quebrou nada, apenas arrebentou uma corda, então eu levei para casa e arrumei para você.

_ Obrigada, agora você pode me devolver. – Digo estendendo a mão.

_ Melissa, você acha mesmo que irá conseguir carregar essas muletas e o violão junto, larga de frescura e deixa que eu levo para você, quando chegar à escola eu deixo o seu violão na sala de teatro.

_ Olha só, não é porque você fez eu ser atropelada que tem que ficar o dia inteiro em cima do meu pé.

_ Melissa eu não estou fazendo tudo isso por causa disso, é que eu... – Não consigo ouvir o resto, pois todo mundo da escola vem em minha direção, eu nem percebi que já tinha chegado.

_ Melissa, como é que você está?

_ Ai meu Deus, doeu?

_ Como é ser atropelada por uma bicicleta?

_ Posso assinar no seu gesso?

Enquanto todos estão em cima de mim, vejo Andrei com o meu violão e a minha mochila andando de cabeça baixa em direção a sala de teatro.