A Garota dos Meus Sonhos escrita por Meire Connolly


Capítulo 5
Meu querido ex-futuro-assassino ou o ex namorado da garota do meus sonhos




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Fiz um X no dia 24 do meu calendário de bichinho de pelúcia (a loja deu de graça, oras!). Já fazia um mês que eu não via a loira. Sim, meus caros. Um mês. Tem noção do que é ficar um mês longe da garota dos seus sonhos? Todo o dia (logo após aquela minha mancada do caramba) eu ia, às oito horas, em ponto, no beco onde ela havia me salvado. E, todos os dias, não via ninguém, não encontrava ninguém.

Foi assim todo esse mês. Eu, super longe dela. Minha semana de férias do Sontag já havia acabado, e eu já tinha realizado mais cinco encomendas de outros clientes. Nenhum deles era Trecck, o que me fez agradecer a Deus com todas as forças. Acho que ele percebeu que eu não fazia parte de um filme e nem queria fazer.

Dei mais uma mordida em meu lanche e olhei pelo vidro. Estava numa lanchonete, as quatro da tarde, pensando em um modo de rever minha loira. De ter minha loira de volta. Isso era uma coisa meio difícil, já que eu só sabia onde ela morava.

Mordi mais uma vez o lanche e deixei o resto de lado. Como eu iria reencontrar minha loira? Eu poderia pedir o telefone dela para Sontag. Eu já fiz isso, meus caros! Não sou tão burro assim! Eu já pedi, já implorei, já fiz de tudo (praticamente tudo) por Sontag, mas nada, nada dele me dar o telefone dela. Como se fosse uma coisa impossível. Acho que Sontag tinha ciúmes de Raio de Luz. E isso me fez ficar profundamente irritado com ele.

Eu já pensei na possibilidade de pular a janela da loira, mas, cá entre nós, isso seria meio estranho. E, se de repente, ela não morasse ali? E, se fosse outra pessoa? E, se ela morasse do outro lado, e a coincidência tivesse sido grande demais? Suspirei, pular a janela não seria muito legal.

Foi quando eu tive a pior ideia do mundo, mas a única que poderia fazer com que eu me reencontrasse com a loira. Bem, eu não tinha certeza se realmente a veria, ou se ela me deixaria, mas, não custava nada tentar, né? Deixei o lanche de lado e sai daquela lanchonete, indo em direção a minha casa.

O plano era o seguinte. Rapunzel havia aparecido pela primeira vez em minha vida, me defendendo de Trecck e sua quadrilha. Ela foi namorada dele, então, isso contribuiu para me ajudar.

Eu não poderia pedir para Sontag fazer um negócio, pra no máximo, uma semana, com Trecck (eu tinha pressa em vê-la, ta ok?). E, eu não poderia fazer um negócio com Trecck. Então, precisaria fazer um jeito dele sair correndo atrás de mim.

Eu sabia que Trecck fumava com seus amigos toda a noite numa pracinha. Acho que as oito, ele já estaria lá, fumando. Então, era só eu chegar, irritá-lo, e fazer com que ele corresse atrás de mim. Eu sairia correndo até o beco, onde Rapunzel veria que eu estava em apuros e me salvaria. Ai então, eu poderia conversar com a loira, poderia vê-la, poderia abraçá-la, poderia beijá-la. Poderia dizer que ela havia sido escolhida para ser a garota dos meus sonhos (reforçando a hipótese de que eu não havia sonhado com nenhuma garota).

Tudo sairia perfeito.

Ou era o que eu achava.

Assim que cheguei a casa, procurei algum jeito de irritá-lo. Eu sabia que Trecck não gostava de mim, e sabia também que ele não ligava para insultos, muito pelo contrário. Se, começassem a xingá-lo, ele devolvia tudo e ainda de uma forma pior. Sabia também que Trecck era justo (existe justiça num mundo de roubos e tráficos?) e que odiava ser enganado. E, eu sabia que ele foi namorado de Rapunzel.

Atingi o que eu queria. Eu tinha beijado Rapunzel, tinha uma proximidade com ela, e isso já havia corrido pelo mundo das drogas (sim, eu já tinha ouvido alguém dizer sobre Cara de Neve estar começando uma relação com Raio de Luz), e isso poderia atingir Trecck.

O plano estava perfeito. Tudo estava perfeito. Como, era a quarta vez que nos encontraríamos, resolvi deixar uma boa aparência, de verdade. Fiz a barba, tomei um bom banho, peguei meu moletom azul (que havia sido lavado, bate aqui), peguei dinheiro, e por fim, a pulseirinha que ainda estava em meu quarto.

Você acreditaria se eu dissesse que eu simplesmente não conseguia dormir sem aquela pulseira? Acho que ela era meu porto seguro. Toda a vez que eu ia dormir, ou sair, pegava a pulseira e ficava com ela. Idiota, não? Mas, é real. É verdadeiro. Eu me sentia extremamente seguro com aquela pulseira.

Olhei no relógio. Sete e meia. Quinze minutos para chegar à pracinha, quinze minutos para correr até a casa da loira. Eu iria conseguir. Sai de casa, e fui andando pela rua enfeitada. Estávamos no dia 24 de dezembro, a véspera do natal. Vou lhes dizer uma coisa. Eu nunca tive um espírito natalino legal. Nem antes de me mudar para Corona eu curtia o Natal. Gostava mesmo era de receber os presentes e de comer de graça nas festas, mas, depois que as coisas pioraram, Natal virou algo insignificante.

Na minha rua, a minha casa era a única que não tinha enfeites de Natal, e algumas pessoas da rua não gostavam disso. Porque toda Corona tinha que estar enfeitada, até a minha casa. Quem eles pensam que é? Não existia uma lei que impusesse isso. Então, eu não tinha que enfeitar a minha casa, nem ser julgado por não enfeitar. Oras!

Avistei a pracinha ao longe e sorri assim que vi Trecck sentado com alguns amiguinhos a sua volta. Ótimo, estava mais do que perfeito. Eu chegaria lá, irritaria Trecck, sairia correndo, e então, eu voltaria a ver Rapunzel. Bem, pelo menos eu achava que sim.

Sinceramente? Não havia pensado na possibilidade dela não querer me salvar e estar pouco se lixando para mim. Eu iria morrer, já que, provavelmente, a única coisa que eu falaria para Trecck, faria com que o mesmo fosse meu assassino, e a profecia (idiotice da parte. Trecck acha que será meu assassino. Blé. Eu tenho certeza de que um dia ele irá me matar. Ai, a profecia se cumpre, eu morro, e quem sabe, Trecck começa a trabalhar para Sontag. E, se duvidar, Sontag morre também. Ah, como eu queria estar vivo para poder ver Sontag morto...) se cumpriria. Eu não havia pensado nisso. Acho que, a vontade de ver Rapunzel era tão grande, que eu não tinha alternativa, a não ser partir pelo lado desesperado. E, se ela não me quisesse ver, ou se ela não estivesse em casa, eu era um homem morto.

Peguei um cigarro e um isqueiro. Coloquei o cigarro entre os lábios, e rapidamente o acendi. Traguei uma vez e soltei aquela fumaça cinza e sem expressão. Com o cigarro entre os dedos, e tragando de vez em outro, fui em direção a Trecck.

Assim que me aproximei, o mesmo me encarou carrancudo.

– Ih, olha quem apareceu! – um menino ali falou soltando uma risada. Ignorei-o. Estava focado em Trecck.

– E ai, Trecck? – perguntei tragando uma vez. Trecck me olhou desconfiado e tacou o cigarro fora, se levantando em seguida.

– O que você quer? – perguntou se aproximando. Dei um meio sorriso e me sentei onde ele estava, tragando mais uma vez e sorrindo enquanto soltava a fumaça.

– Conversar, amigo. Conversar...

– Não temos nada para conversar – Trecck grunhiu. Eu já estava com uma desconfiança, de que Trecck sabia que Cara de Neve havia andado com Raio de Luz, quando eu cheguei. Mas, quando ele mostrou-se mais irritado perante a minha presença, eu tive certeza.

– Oh, temos sim – afirmei sorrindo e tacando o cigarro fora. Tinha que começar a me preparar. Levantei-me de onde estava e andei em sua direção. – Preciso de umas dicas ai.

– Para que? – perguntou visivelmente irritado. Sorri. Era só tocar no nome da loira e ele partiria para cima de mim.

– Ah Trecck! – falei sorrindo. – Tenho certeza de que sabe.

– Se eu soubesse não teria te perguntado, idiota! – Trecck retrucou voltando a se sentar no banco de cimento. Suspirei.

– Certo. Você deve ter ouvido, tenho certeza de que ouviu, sobre eu e a Raio de Luz, certo?

BINGO!

Não, eu não ganhei o bingo, foi só um jeito de comemorar mesmo. Trecck me encarou tão furioso, que achei melhor sair correndo. Mas não fiz. Ele ainda não correria atrás de mim. Esperei com que ele assentisse com a cabeça, ou até então, negasse, mas, ele não fez nada. Pelo menos, toquei em seu ponto fraco. Devo ter reaberto uma ferida em seu peito. Na verdade, não faço ideia se aquilo iria realmente irritá-lo.

– Então, eu meio que preciso de ajuda, sabe? Preciso saber como dar o passo certo, fazer as coisas de uma forma certa – fui cuidadoso com as palavras, mas deixei claro o que eu queria. Chegar ao ex namorado da garota dos seus sonhos e falar que você queria transar com ela resultaria num belo soco, e eu sei bem que nem correndo eu conseguiria fugir.

– Isso não é da minha conta, Cara de Neve – resmungou enquanto pegava outro cigarro de dentro de seu casaco. Mas que droga! Que horas que ele correria atrás de mim?

– Não, realmente não é. O negócio agora é Raio de Luz e eu. Eu e Raio de Luz. Mas, como você foi namorado dela, eu realmente queria ajuda – falei da forma mais calma e cuidadosa que eu tinha naquele momento. Ao mesmo tempo em que eu queria que ele começasse a me perseguir, eu não queria. E, se ele parasse no meio do caminho?

– E o que você quer, hein? – perguntou se levantando. Recuei um passo. – Quer que eu simplesmente te fale como é beijá-la? – beijá-la? Sério? Achei que ele falaria algo como transar, mas tudo bem. Foi quando eu me dei conta. Trecck poderia não ter transado com ela. Oh! Acho que irei cutucar mais ainda a ferida!

– Não, não, eu já beijei-a – falei calmo e com um sorriso de canto. Observei Trecck cerrar os punhos e se aproximar. Preparar para correr. – Eu queria saber como eu faço para transar com ela – falei aquilo com tanta calma, que nem eu sei de onde consegui aquela calmaria. O importante foi o que eu atingi o que eu queria.

Trecck cerrou os punhos mais ainda (se isso fosse possível, né), rosnou e partiu para cima. Bem, ele veio para cima, pronto para me socar a cara. Foi quando eu fiz o que qualquer um faria, e o que eu pretendia fazer durante o dia todo, sai correndo.

– Volta aqui idiota! Vamos acertar as contas! – não sei por que ele falou aquilo. Mas soube, que, se ele me pegasse, eu realmente morreria. E dessa vez, não teria ninguém para me socorrer. Se Rapunzel demorasse o tempo que ela demorou na primeira vez em que nos vimos, quando ela chegaria lá, eu já estaria morto.

Virei minha cabeça, ainda correndo, e vi que somente Trecck corria atrás de mim. Achei aquilo bom. Pelo menos seria uma luta justa, eu e Trecck. Sem mais ninguém do bando dele para ajudá-lo a me matar.

Aumentei os meus passos, e de vez em outra, virava a cabeça, me certificando de que ele ainda me seguia. Assim que virei a esquina daquela rua, uma sensação nostálgica me acertou no peito, que quase me fez parar de correr. E, quando eu virei no beco, várias lembranças me acertaram em cheio. Eu com Rapunzel, rindo, se divertindo, nos despedindo, e por fim, a última vez em que nos vimos. Quando eu dei aquela mancada de falar uma afirmação como se a estivesse pedindo em namoro.

Parei de correr próximo ao muro. Virei meu corpo na entrada do mesmo, e olhei para cima, para aquela janela de que eu suspeitava ser da loira. A luz estava apagada. Ela não poderia estar ali. É, foi bom conhecer todos vocês, ok?

Vi Trecck entra no beco e me encarar, como se estivesse pedindo uma explicação para tudo aquilo.

– Porque correu até aqui? – perguntou parando de andar a alguns metros de mim.

– Segui o meu instinto – menti. Não falaria toda a verdade para ele, né?

– Seu instinto é ridículo – ele arfou e então abaixou a cara.

Agradeci a Deus por ele ter fumado antes de correr atrás de mim. Trecck, provavelmente, teria fumado vários cigarros antes de vir atrás de mim, assim, como deveria ter se drogado. Isso o havia deixado mais cansado, mais exausto. O mesmo arfava e ofegava.

– O que você quer realmente? – Trecck perguntou me encarando.

Dei de ombros, como quem não quer nada.

– Hoje é véspera de Natal – comentei.

– E daí? – o rapaz perguntou. Outro sem o menor espírito natalino. É, eu não era o único, viram?

– Nada – falei.

Cadê a conversa, cadê? Porque quando eu realmente precisava falar e puxar assunto, nada me vinha em mente. E cadê a dona Rapunzel? Alguém quer me ajudar? Sabe Deus, pensando melhor, me coloque em um filme sim, viu. Assim, eu poderia criar super poderes e lutar contra o mal (que no caso, seria o Trecck).

– Você quer morrer, né? – o rapaz perguntou. Trecck poderia estar enrolando a nossa conversa. Ele já não parecia mais cansado, e sim, pronto para matar qualquer um. No entanto, seu corpo permanecia no lugar onde ele sempre esteve. Era como se ele soubesse do meu plano deste o começo. Era como se ele não quisesse me matar.

– Não – falei sincero. Eu não queria morrer, só queria voltar a ver a loira.

Trecck me fitou. Ele deu um passo, e eu recuei o quanto eu podia, me encostando ao máximo naquele muro frio e úmido. Eu sei, seria muita covardia se eu não lutasse, mas, recuar era uma coisa que eu sabia fazer muito bem.

A porta se abriu. Virei meu rosto, imediatamente, para a porta, de onde a loira surgia. Ela me olhou assustada, e depois se virou para Trecck, também assustada. A menina tinha um envelope enorme em mãos, e usava uma roupa simples. Calça jeans, coturno e um casaco enorme por cima. Estava sem maquiagem e assustada, nos encarando como se realmente não esperasse a nossa presença.

– Pronto, já conseguiu o que queria – Trecck resmungou e saiu do beco. Cara, se ele sabia do meu plano o tempo todo, não poderia ter facilitado as coisas? A gente poderia ter vindo de táxi, sem suar, sem fazer nada que me deixasse tão cansado.

Fitei a loira, que ainda parecia estar atordoada com a situação. Observei enquanto a mesma voltava a me fitar, e pude ver seus olhos se encherem de lágrimas. Oh não, não, não. Eu era tão insuportável assim?

– O que faz aqui? – sua voz saiu fria, e a garota apertou mais o envelope em suas mãos. Aproximei-me dela com passos lentos e calmos, mostrando que eu não queria nada de mais.

– Vim te ver – falei dando um sorriso logo em seguida. Eu realmente esperava que ela me desse um sorriso e falasse que isso fora muito fofo da minha parte. Mas a única coisa que ela fez foi falar:

– Perdeu tempo.

Com essas duas palavras, ela andou até a lixeira que tinha ali e começou a rasgar o envelope. Ainda, atordoado com sua fria resposta e com sua frieza em relação a tudo, fiquei parado na porta.

– O que eu fiz? – perguntei ainda de costas para ela. Esperei uma resposta fria, digna de seus sentimentos agora, mas, o que recebi foi melhor.

– Você não fez nada, Jack – era tão bom ouvir sua voz doce e calma, com nada de frieza, e sincera, da forma mais gostosa possível. Ouvi seus passos e virei minha cabeça de lado a vendo ali, parada, com seus olhos lotado de lágrimas. – Eu que fiz.

– Você não fez nada – falei enquanto ficava de frente para a menina e lhe enxugava uma lágrima que escorria. – O que a garota dos meus sonhos teria feito de errado? – perguntei sorrindo. Rapunzel soltou um sorriso, e junto com ele, três gotas escorreram de seus olhos.

– A garota dos seus sonhos fumou – a loira deu um sorriso triste. – Foi isso que ela fez.

Arquei uma sobrancelha não entendendo aonde ela queria chegar. Coloquei minha mão direita em sua bochecha, enxugando mais uma lágrima que havia escorrido.

– Eu também fumo – retruquei. Rapunzel balançou a cabeça de um lado para o outro, como se não fosse aquilo o que ela queria dizer.

– Não Jack. Não é isso – a menina ergueu a cabeça e me encarou. Seus olhos verdes brilhando por conta das lágrimas e da lua que era refletida no mesmo. Rapunzel engoliu em seco como se o que ela fosse-me falar mudaria a minha vida para sempre. – Eu estou com câncer.

Quatro palavras. Quatro pequenas e sinceras palavras. Eu estou com câncer. Sabe, se ela não estivesse chorando ali, eu juro que teria rido. Sei que seria totalmente insensível da parte da loira falar que estava com câncer e eu rir, mas, sei lá. Era meio impossível eu acreditar.

Entretanto, assim que eu vi a mesma abaixar a cabeça e várias lágrimas caírem no chão, eu soube que era verdade. E, por um segundo, por dois, três segundos, eu desejei imensamente nunca ter conhecido Rapunzel.

Minha mão morreu de câncer. Ela tinha câncer no intestino. Ela realizou várias radioterapias, mas, ela não conseguiu. O médico deu a ela uma semana de vida a mais, e, nós a aproveitamos ao máximo. No entanto, quando a semana acabou, minha mãe continuou viva. O médico não entendia como aquilo tinha acontecido, e falou que era um verdadeiro milagre. Entretanto, assim que saímos do hospital e começamos a caminhar em direção a uma lanchonete, minha mãe caiu no chão. Morta.

A partir daquele dia, eu tive que me virar sozinho. A primeira coisa que eu fiz, foi me mudar de cidade. E, me mudei para Corona, para onde a garota dos meus sonhos estava, para onde eu reviveria as lembranças que eu queria tanto guardar no fundo do meu coração, bem lá no fundo da minha memória, para onde, eu sentiria meu coração rachar pela segunda vez.

Encarei Rapunzel, ainda com a cabeça baixa.

– E, você já está cuidando disso? – perguntei segurando o choro dentro de minha garganta. Rapunzel fungou.

– Eu já realizei todos os exames possíveis – a menina ainda tinha a cabeça baixa, e num impulso, peguei sua mão – mas, o médico falou que é impossível ter uma cura.

Senti o mundo tremer por dois segundos, e quase cai. Bambeei para um lado, e depois para o outro. Rapunzel ergueu a cabeça e seus olhos já estavam vermelhos. Não, não, não... Isso era um pesadelo só pode, um pesadelo, por favor.

– Não, nós temos que achar uma cura! – gritei já nervoso. – Tem uma cura sim! Nós vamos a todos os hospitais, nos melhores, mas iremos achar uma cura! – senti as lágrimas virem a tona e não as segurei, deixei com que elas escorressem. – Nós vamos achar uma cura! – meu grito saiu com dor, com sofrimento ao extremo. Senti Rapunzel me fitar com curiosidade e devolvi seu olhar. – Nós vamos rodar o mundo em busca de uma cura – falei mais calmo. A loira negou com a cabeça, com as lágrimas escorrendo por todo o seu rosto.

– É impossível Jack. Eu comecei o tratamento tarde demais e...

– Eu não posso te perder! – exclamei. Rapunzel passou sua mão em minha bochecha. – Eu não posso perder a garota dos meus sonhos – falei soluçando. – Eu não posso.

– Você não irá – ela falou sorrindo de uma forma carinhosa. Como ela poderia sorrir? A garota depositou um beijo em minha bochecha.

As lágrimas me invadiram depois disso. Abracei Rapunzel como se ela fosse embora daqui a algumas horas. Era impossível ter de aceitar aquilo. Era estranhamente ridículo e idiota. Você começar a se apaixonar por uma garota, e então, descobre que a mesma tem câncer por culpa de um vicio, que você também tem. É ridículo, é idiota, é besta, é triste, é depressivo, é fraco, é... É... É simplesmente ruim.

Parecia que Deus estava brincando comigo. Perdi a única pessoa que realmente se importava comigo por culpa daquela maldita doença. Depois, irei perder a segunda pessoa que eu realmente me importava. O mundo estava girando ao meu redor, as palavras, todas elas pareciam cair por cima de mim, pedras pareciam me atingir em cheio, e o coração parecia falhar a cada segundo. O mundo parecia estar morrendo, ou então, era somente eu com todos aqueles sentimentos negros e ruins me rodeando.

Inalei o cheiro do cabelo de Rapunzel. Um cheiro doce e suave. Apertei seu pequeno corpo contra o meu, tentando marcar esse momento em minha mente, para que ela ficasse viva comigo o tempo todo.

– Quanto tempo? – sussurrei em seu ouvido, quando eu já havia parado de soluçar e de chorar desesperadamente. Se ainda teríamos tempo, era isso que importava. Eu tinha que curtir todo esse final com ela ao meu lado, com os sentimentos bons nos rodeando.

– Eu não sei – respondeu. – Os exames saem semana que vem.

Pelo menos eu tinha certeza de que teríamos uma semana juntos. Terminei o nosso longo abraço e enfiei a mão em meu bolso, pegando a pulseira que eu havia comprado para ela no nosso primeiro encontro oficial. Coloquei em seu pulso, e a menina me encarou. Vi seus olhos se encherem de lágrimas e beijei o topo de sua cabeça.

– Vamos aproveitar cada momento que ainda sobra – sussurrei. Rapunzel deu um meio sorriso e colocou sua cabeça em meu ombro. – Eu te amo, loira – sussurrei. Não sabia se aquele era o momento certo, mas, eu tinha que falar. Eu não sabia se estragaria tudo como estraguei da última vez, mas, eu tinha de tentar. Eu queria que Rapunzel soubesse disso, assim, como eu queria deixar claro a mim mesmo que eu realmente a amava, e ela não era somente a garota dos meus sonhos, era a mulher da minha vida.

Eu não havia pensado nas consequências, nem no que aconteceria depois. E, por mais que isso seja meio egoísta da minha parte, eu queria uma resposta dela. Não havia pensado em mais nada, quando pronunciei aquelas três palavras. E, para minha surpresa, ela respondeu.

– Eu te amo, albino.


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Notas finais do capítulo

UOUOUOUOUOUOOOOOOOOOOOOOOUOUOUOUOOOOOOOOOOOOOOOUOUOUOUOUOUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUOUOUOUOUO oi
Enfim, devo lembrar a todos, pigarreia, eu não li A Culpa é Das Estrelas (ou seja qual for o nome do livro). O único livro que eu li e que tem câncer é o 'Amor Acima de Tudo' (acho que é assim) e ele fala da construção do Hospital do Câncer de Barretos. É... Então, adeus. Ou até mais.