Pergunte à água escrita por Virgo no Aries


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Haruka é um personagem essencialmente lacônico mas que sofre uma mudança de comportamento por causa de seus amigos e o convívio com eles. Essa mudança sempre é acompanhada pelo elemento principal dessa bela estória. A água. Haruka sempre se expressa melhor por meio dela e aí surgiu essa fic. Espero que gostem ^^Boa leitura!



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Nadar sempre me pareceu ser algo natural.

Nadar, para mim, era como voltar ao ventre materno.

Voltar àquele lugar úmido e escuro em que nos encontramos sozinhos e, ainda assim,

Acolhidos.

Um lugar em que poderia ser eu mesmo.

Um lugar em que me sinto livre.

Free!

Talvez, por isso, eu tenha decidido frequentar, quando criança um clube de natação próximo à escola primária Iwatobi na qual estudava. Eu queria sentir novamente aquela sensação embora ainda não soubesse descrevê-la na época.

O tempo e minha performace na natação sempre foram elementos secundários. Nada disso tinha importância ou merecia atenção de minha parte. Até que eu o conheci.

Matsuoka Rin.

O que pra mim era secundário para ele era prioridade. Não poderíamos ser mais antagônicos. Nós éramos como os polos opostos de um mesmo imã. Havia algo que nos separava e, de alguma forma, nos unia sempre que nos encontrávamos.

A água.

E era dentro da água que a presença dele mais me perturbava. Era o lugar onde revolvia e criava turbulências na paz que eu buscava ao nadar na piscina.As borbulhas de ar se avolumavam umas as outras de forma rápida e agressiva ao nadarmos lado a lado.

Ele me instigava a competir.

A seguir suas regras e desejos.

Demandava atenção de mim.

E a única pergunta que me fazia nesses momentos era...

Por que eu tinha que conviver com uma pessoa como ele?

Não era isso que eu procurava na água.

Não era essa a sensação que eu almejava.

Eu queria ser indiferente a ele.

E, por mais que quisesse, eu não conseguia.

– Eu quero nadar numa piscina com flores de cerejeira. – foi o que Rin disse no primeiro dia de aula.

O que ele poderia saber sobre a água? E, por que me irritou ver um sorriso de deleite e olhar nostálgico nele aquele dia?

Eu não...

Sabia.

Porém, me assustei ao pensar que ele poderia saber mais dos segredos da água do que eu.

Que pudesse senti-la da mesma forma...

Como eu.

Se isso fosse verdade teríamos algo em comum.

Não! Eu não queria ter algo em comum com ele!

Não quando tinha descoberto que Rin iria para a Austrália e não havia revelado isso a ninguém até o dia anterior ao torneio de natação naquele ano.

Novamente ele queria que eu seguisse suas vontades. Como ele podia ser tão egoísta?! Por que ele dizia que ia embora?!

– Você tem que nadar no revezamento, Nanase. É a última chance de nadarmos juntos. Se você nadar comigo vou te mostrar uma coisa que você nunca viu antes.

As flores de cerejeiras tremularam ao vento enquanto ele abria um sorriso enorme como quem guarda um grande segredo. E movido pela curiosidade...

No dia seguinte, eu participei do revezamento na natação junto com Makoto, Nagisa e Rin e ganhamos o torneio. Não sei ao certo o que tinha acontecido ali mas a cena tão familiar da mão de Makoto estendida ao final da prova me trouxe algum conforto.

Nossos dedos molhados se tocaram e a pegada em minha mão, puxando-me para fora da piscina, me deu a certeza de que ele estaria sempre comigo. Eu não sabia como... No entanto, sentia. E como um furacão o abraço de Rin envolveu a nós três enquanto ele bradava a plenos pulmões nossa vitória.

Queria reclamar ao ruivo que ele estava fazendo muita pressão em meus ombros mas minha voz foi suplantada pelos sorrisos e gritos de felicidade deles, bem como as lágrimas brilhantes que desciam dos olhos de Nagisa. De repente, nadar com Rin, Makoto e Nagisa ganhou um significado novo que permanece até hoje em meu coração.

Não, eu ainda não sabia denominar esse sentimento naquela época, entretanto, eu sabia que Rin tinha sido o responsável por me mostrar isso.

Por me mostrar algo que eu nunca tinha visto.

A água naquele dia passou a ser sinônimo de “diversão”.

Depois disso Rin foi embora para a Austrália e eu não o vi por quase um ano inteiro. Ele sequer havia mandado notícias. Nenhuma ligação telefônica, carta ou e-mail.

– Seria embaraçoso. – ele disse, mostrando algum arrependimento e esquivando o olhar ao nos encontrarmos na linha férrea, por acaso, antes dele me convidar para uma disputa na água em nosso antigo clube de natação para saber quem seria o mais rápido.

Novamente ele queria fazer prevalecer as suas vontades.

Ah, Rin... Eu não ligava pra isso.

Mas você...

Sim.

Rin perdeu a corrida pra mim e eu o vi chorar pela primeira vez.

Fiquei estático com os olhos arregalados diante da cena. Por que ele estava chorando? Por que as lágrimas dele me pareciam tão...

Sofridas?

Tão diferentes das de Nagisa no dia do torneio.

Por que você não estava sorrindo como sempre fazia... Rin?!

Por que está fugindo de mim?!

– Você está agindo estranho, Rin! O que houve?! – segurei o braço dele tentando entender o que se passava. Meu coração batia ansioso por uma resposta pela qual eu não estava preparado.

– Eu desisti de natação. – Rin respondeu com a voz embargada antes de se livrar da pegada da minha mão. Essas poucas palavras fizeram algo se quebrar dentro de mim. Não consegui impedi-lo de sair correndo do clube. Correr para longe de mim e minha vista embaçada.

Sequer havia percebido a única lágrima que deslizava por meu rosto quando me vi, finalmente, só.

Eu te magoei... Rin?

Eu não...

Não...

Nadar sem você...

Não faz sentido.

Essa era a única lógica que fazia sentido para explicar o que eu sentia naquele momento.

Se eu tivesse permanecido sem competir.

Se eu não tivesse participado do revezamento.

Se não tivesse aceitado mais uma das disputas de Rin.

Tantos “se”.

Rin...

Você ainda estaria aqui?

Naquele dia as lágrimas de Rin deram outro significado à água.

Ela agora significava “remorso”.

Pouco tempo depois saí do clube de natação e parei, definitivamente, de nadar em campeonatos e torneios. Mais alguns anos se passaram e, já no ensino médio, reencontrei-me com um entusiasmado Nagisa que queria participar do time de natação do nosso colégio.

Ele queria reviver o antigo significado da água que era tão caro a mim.

Não achei que conseguiria sem ele...

Sem Rin.

Foi quando eu, Makoto e Nagisa conhecemos Rei.

Rei não sabia nadar.

A água não devia gostar dele.

Era a única explicação plausível para ele afundar como um submarino toda vez quando tentava nadar, não importando o estilo de natação que ele praticasse. Até que Rei tentou nadar o estilo borboleta e milagrosamente conseguiu voar sobre a água.

Rin também nadava borboleta.

Mas Rin não queria mais nadar.

E Rei...

Rei demonstrava no olhar o mesmo brilho que Rin tinha quando éramos crianças.

Será que eu poderia voltar a nadar com eles novamente sem sentir...

Remorso?

Foi preciso pararmos numa ilha no meio do oceano para treinar e Makoto quase se afogar no meio das ondas para eu entender que a água ainda tinha algo a me ensinar.

Quando carreguei Makoto nas minhas costas e o coloquei na areia, o pulso fraco e a respiração frágil do escorpiano me deixaram apreensivo. A pele molhada pela água salgada, as unhas quase roxas. Frio. O vento frio e congelante da tempestade tropical no oceano.

Ali a água que caia numa chuva fina e intermitente do céu nublado ganhou outro significado.

A água agora era espelho do...

“Medo”.

Medo de perder Makoto.

Como eu havia perdido Rin.

Tinha que ajudá-lo. De alguma forma. De qualquer forma. Faria inclusive respiração boca à boca se necessário. Até que ele recobrou a consciência por si só. O alívio percorreu meu corpo. Ele, apesar do susto, estava... Bem.

E como esquecer, que foi ali dentro do farol abandonado, o local onde nós quatro nos abrigamos da chuva, que escutamos a chuva tilintar nos vidros quebradiços do lado de fora sem parar.

Lembranças que não consigo esquecer.

Quando a chuva cessou e saímos do farol, nossos pés encontraram uma imensa poça de água que refletia as estrelas cintilantes no céu negro. Pequenos pontos de luz que se juntavam como vagalumes e iluminavam o chão úmido, formando um brilho ao mesmo tempo tão distante e tão perto. Ao nosso alcance.

Ali a água me mostrou que eu ainda podia ter “esperança”.

Eu entendi que poderíamos voltar a ser realmente um time junto com Rei. Foi a iniciativa de Nagisa em nos manter unidos e sua insistência em criar o time de natação iwatobi; foi Makoto superando seu receio do mar; foi Rei se tornando nosso mais novo membro e apreendendo a nadar que eu...

Eu senti vontade de nadar.

Não mais sozinho.

Mas com eles.

Em uma competição.

Em um revezamento de natação.

Até ganharmos o torneio de natação de nosso distrito, nas preliminares, eu ainda não tinha, realmente, entendido que isso era possível.

Saber que Rin estava ali nos observando daquela vez, justamente na hora em que eu ia fazer minha volta de crawl no revezamento foi uma surpresa. Eu senti uma palpitação no peito. A água vermelha chamada 'sangue' efervescia lentamente em minhas veias. Não, eu não precisava responder as dúvidas que ainda tomavam meus pensamentos agora.

Elas seriam respondidas pela água no torneio regional de natação. Ali a água me mostrou o significado da palavra “confusão”. A mesma confusão que eu havia sentido, Rin parecia experimentar quando o vi perder a prova dos 100 metros livres, ficando na última posição e sem forças para levantar seu corpo no parapeito da piscina. Vê-lo daquele jeito me deixou em choque, embora eu jamais admitisse em palavras, e minhas pernas se levantaram por si próprias, como por instinto, para se encontrar com ele mais uma vez.

O que aconteceu, Rin?!

Você tinha feito uma promessa...

Não foi?

De que iría nos mostrar o quanto o time da Samezuka era bom.

Ainda que a água tenha me ensinado outro significado chamado “vazio”, quando você disse de forma tão satisfeita e arrogante que não iria mais nadar comigo após me vencer no torneio de natação distrital. E, embora, tivesse me deixado tão confuso ao ponto de eu não entender mais qual era motivo de eu nadar sem objetivos claros ou para superar limites, deixando-me perdido em mim mesmo...

Eu...

– Eu claramente não sou bom o suficiente! É por isso que não fui escolhido para o revezamento. Eu desisto! Chega de natação! - Rin vociferou, chutando o balde de lixo no corredor do ginásio aquático antes de virar-se e ir embora. De repente, a mesma cena de anos atrás se repetia a minha frente. Por quê?

Minhas pernas não conseguiam me sustentar devido a esmagadora sensação de remorso que mais um vez me envolvia e tive que apoiar minhas costas na parede. Acabei deslizando até o chão, escondendo o rosto entre meu braços. Eu queria chorar.

Mas como eu podia fazer isso se...

Eu era o culpado?

Chorar seria um alívio que não me era permitido.

Eu não poderia mas nadar com Rin.

Meus olhos represaram as lágrimas que se formavam em minha vista embaçada.

A água tinha virado sinônimo de “decepção”.

Foi naquele momento que Rei nos contou o verdadeiro desejo de Rin. E um novo entendimento perpassou em minha mente, tocando profundamente meu coração. Ele não havia desistido de praticar natação no ginásio porque tinha perdido uma corrida para mim. Mas, sim, porque tinha duvidado de sua capacidade quando estava na Austrália. O que eu temia na infância havia se transformado num certeza com essa revelação. E Rei foi capaz de prever claramente o que se passava em meu íntimo assim como Makoto fazia.

– Você está aqui porque tem alguém com quem quer nadar junto! - Rei disse enfático, olhando-me de forma compreensiva.

– Eu quero nadar com Rin. - transformei em palavras o sopro gentil da chama que ainda preservava em meu coração por tanto tempo.

Era de certa forma injusto o que eu dizia. Rei não merecia ouvir isso de mim. Nós fazíamos parte do mesmo time agora. Era como se eu o estivesse preterindo perante Rin. Eu não estava sendo egoísta? No entanto, Rei cedeu ao que poderia ser um sentimento caprichoso de minha parte. Ali eu descobri que a água fez conhecer um novo “amigo”. Por um momento eu não me senti digno dessa amizade. Desse presente.

O sorriso confiante no rosto de Rei, no entanto, fez com que eu não mais hesitasse.

Eu precisava dizer a ele. Eu precisava dizer a Rin...

Nos dividimos e fomos procurar o aquariano. Eu não sabia onde ele poderia estar, porém, antes de entrar no centro aquático eu vi aquela árvore. Aquela árvore tão parecida com a cerejeira de nossa escola primária. Corri até lá e ...

Encontrei Rin, olhando-a perdido em si mesmo. Tão distante... Assim como eu também fiquei. Eu entendia agora. Eu entendia o que você sentia, Rin.

Acusações raivosas.

Voz trêmula.

– Acalme-se, Rin!

– Cale-se! O que você sabe?! - o ruivo respondeu irritado, preso em sua dor.

– Eu sei. - queria desesperadamente fazê-lo entender o que eu dizia. O que eu sentia! - É divertido nadar com nossos amigos. É divertido nadar um revezamento juntos! Foi você que me ensinou isso, Rin! - eu, finalmente, podia contar isso a ele. Os meus verdadeiros sentimentos. Eu não sabia como ele reagiria, entretanto, eu aceitaria as consequências. Quaisquer que fossem. - Você é a razão de eu...

– Calado! - ele gritou segurando minha jaqueta com raiva. Os rubis confusos encontrando os meus olhos. Não, eu não poderia silenciar o que guardei dentro de meu peito durante tanto tempo. Não mais.

– Eu entendo agora! Eu encontrei a resposta! O motivo pelo qual eu nado! Pra quem eu estou nadando! - como eu queria libertar essas palavras seladas em minha boca. E agora eu tinha essa oportunidade. Como eu pude aprisioná-las dentro de mim? Não me olhe assim, Rin. Eu também não entendia. Mas agora...

– Eu falei pra calar a boca! - havia certo desespero na voz dele. Suas ações bruscas suplantavam qualquer tipo de conversa. Nós nunca fomos muito bons em nos expressar para os outros, não é? Assustava-me como sendo tão diferentes eu podia ver agora tantas semelhanças entre nos dois. Segurei o punho dele tentando impedí-lo de me acertar e rolamos pelo chão. De repente, ele estava sentado em cima das minhas pernas e seus olhos estavam fixos no chão, observando na areia aquele que era seu lema quando criança e havia se tornado minha inspiração.

“For the team”

– Essa árvore se parece com a cerejeira que estava no pátio da nossa escola. Não é por isso que você está aqui? - perguntei calmo, vendo os galhos da árvore fazer um sombra difusa sobre nós e iluminando seus cabelos ruivos com o sol da tarde.

Até que elas apareceram.

Lenta e timidamente.

Eram pequenas e cálidas como pérolas encontradas dentro das ostras no oceano.

As lágrimas de Rin.

Ali a água que deslizava de seu rosto mostrou a sintonia de nossos corações. Sorri.

Ali a água significou “saudade”.

E, não. O que tínhamos vivido não seria apenas uma lembrança.

Já estava decidido. E nós iríamos fazê-los juntos. Mais uma vez.

– Rin, vamos! É minha vez de te mostrar algo que você nunca viu antes! - estendi o meu braço em sua direção. Nós iríamos nadar juntos no revezamento medley masculino no torneio regional de natação.

Era loucura. E desrespeitava as regras do campeonato? Talvez. Não tínhamos certeza. No entanto, era o que faríamos. Por que era o que nós considerávamos... Certo.

Um após o outro caíamos dentro da piscina. Eu seria responsável pela última volta, nadando o crawl. E quanto mais estica meus braços na água mais ficava absorto em mim mesmo. Era como se eu estivesse num lugar muito escuro e úmido onde o silêncio imperava. Lembrava um pouco uma certa sensação... Mas não sabia decifrar qual era. Eu queria ficar ali. Era familiar.

Era... Acolhedor.

– Haru!

Abri os olhos. Essa voz... Makoto?

– Haru-chan! - você sabe que não gosto de que use, '-chan' no meu nome, Nagisa.

– Haruka-senpai! - Rei você está aqui? Todos vocês sempre estiveram aqui?

– Haru!!!

Rin você também está aqui? Levantei o olhar incrédulo mal acreditando que sua voz me alcançava como uma luz. Não era muito longe. Eles sempre estiveram aqui. Como eu nunca percebi? Balancei as pernas, nadando ao encontro deles.

Ah, eu também estou aqui. Agitei minhas pernas e braços com vigor criando uma passagem na água para meu corpo. A respiração ficando mais acelerada. Até que a ponta dos meus dedos tocaram algo sólido e eu imergi, respirando com dificuldade.

A mão de Makoto se estendeu em minha direção e com sua ajuda saí da piscina. Uma curiosidade persistia em minha mente. Nós tínhamos ganhado a competição? A resposta veio nas lágrimas de Nagisa como da primeira vez em que nadamos.

E então, braços me envolveram firmemente como num casulo. Era como se estivesse sendo envolvido pela água da forma que sempre imaginei. Ao abrir os olhos me deparei com fios vermelhos. Rin... O que você esta fazendo? Ele nunca havia me tocado daquela forma antes. Era estranho mas... Não era ruim. Makoto e Nagisa se juntaram a ele. Em minha surpresa eu nem havia percebido que a “diversão” ensinada pela água quando era criança estava ali novamente de forma implícita.

Surpresa essa que se transformou num brilho de alegria incontido em meus olhos ao escutar de Rin palavras tão doces. Palavras que não pensei algum dia ouvir dele.

– Haru, você me mostrou o que sempre quis ver. - ele confessou baixinho perto do meu ouvido. O hálito fresco tocando como uma brisa meu pescoço. E acrescentou ainda mais baixo de modo que somente eu pudesse escutar, fazendo meu coração se aquecer. - Obrigado.

Os percalços que vivemos não foram fáceis. Nossa amizade tinha sido posta em xeque. Tínhamos tudo pra dar errado. Lembrei-me da cena em que brigamos no torneio de natação. Eu não tinha dito a ele tudo o que queria. Talvez fosse melhor assim. Retirei algumas roupas da mochila, enquanto os outros membros da Iwatobi não tinham entrado no vestiário após o fim do treino coletivo alguns depois do torneio regional de natação.

– Rin, o que está fazendo aqui? Pensei que tinha ido embora com a Samezuka. - disse ao virar e perceber que não estava sozinho como imaginava. Ele não respondeu apenas me olhou profundamente antes de trincar os dentes e se aproximou lentamente.

Não sabia dizer o motivo, porém, a cada passada que ele dava eu me afastava na mesma proporção. Até que me vi encurralado contra a parede. A intensidade de seus olhos me incomodou por um segundo. Senti minha garganta seca. Queria um copo de água gelada naquele momento. Aquela mirada que ele me dava... Uma mão se apoiou logo acima de minha cabeça e o seu rosto ficou a milímetros dos meu.

Coloquei a mão em seu peito tentando afastá-lo. A forma que ele estava agindo...

– Não vou mais fugir de você, Haru. - ele estreitou o olhar e seus lábios encontraram os meus. Isso... Fechei a mão sobre seu casaco com força e como resposta ele aprofundou o beijo. Eu podia sentir os dentes afiados dele mordiscarem meu lábio com vontade. A sua língua se enroscando languidamente na minha. E eu...

Eu correspondia.

Eu já disse que não consigo ser indiferente a ele?

Seus beijos desceram suaves pela minha mandíbula até encontrarem a reentrância entre meus cabelos e meu ombro. Muito perto. Precisava afastá-lo. Precisava...

– Ahh!!! - gritei e dei um empurrão nele ao sentir que me mordia. - Ficou louco, Rin?! O que deu em você pra fazer isso?! - disse passando os dedos pela marca que ele tinha feito. Um vinco de reprovação se formando entre minhas sobrancelhas.

– Uma marca. - Rin disse sem se alterar. E estendeu os dedos tocando minha bochecha para depois acariciar a marca que fizera com os dentes com uma delicadeza que eu não estava acostumado vindo dele. Essas ações dele tão opostas e constrangedoras estavam dando um nó na minha cabeça. Definitivamente precisávamos melhorar nossa comunicação.

– Uma marca para mostrar a todos que eu te quero, Haru. Uma marca para te chamar de meu e de mais ninguém.- o-o que?! Do que ele estava falando?! Era o que minha mente se perguntava embora eu já fizesse alguma ideia do sentido de suas palavras. Abri a boca pra falar mas fui interrompido. - Não me dê uma resposta agora. Não aqui. Pense. - ele colocou as mãos dentro da jaqueta antes de se inclinar e dar um selinho como um pedido de desculpas no exato em que havia me mordido e acrescentar com sinceridade num sussurro o que poderia ser impensável até então.

– Eu te amo, Haru. - e sem dizer mais nada ele saiu me deixando com o coração palpitando e com um novo significado para a água em minha língua. Um novo sabor chamado “desejo”.

Demorou algum tempo para eu entender que os sentimentos de Rin eram como um reflexo dos meus. E quando permiti que ele visse isso Rin me correspondeu de forma abrasadora...

Na cama.

Os beijos molhados, as mordidas que me marcavam assim como os arranhões que eu deixava em seu corpo em protesto pelos excessos que ele cometia. Ah, sim, mordidas que me faziam corar vergonhosamente ao ponto de evitar os treinos de natação e brigar com ele. Contudo, minha raiva cessava parcialmente quando ele novamente tomava meu corpo e eu sentia o cheiro de suor e sexo nos envolver entre os lençóis brancos.

Eu o perdoava ao provar as gotículas de suor sobre sua pele. Eu me entregava quando nossos olhos se encontravam extasiados e nossos corpos se amoldavam, encaixado-se com perfeição. O prazer libertou-se de minha garganta e a fina camada de água que nos envolvia em noites tórridas passou a se chamar “paixão”.

Cada pequena descoberta, cada pequeno gesto ou discussão era revelador. Era um pedaço de mim que deixava aos poucos ele conhecer. Conhecer o meu mundo para transformá-lo em nosso.

– Você nunca disse. - Rin falou sentado na piscina, observando-me com os olhos cerrados. Ele parecia incomodado.

Pisquei os olhos sem entender realmente.

– Do que fala? - fui direto.

– Você sabe do que estou falando! Quer realmente me fazer dizer isso em voz alta?! - bem, você já estava falando alto... baka. - Tsc! - Rin estalou a língua e olhou pro lado, passando a mãos sobre os fios ruivos meio irritado. - O que você sente por mim, Haru? - e seu semblante ficou sério como daquela vez em que ele se declarou.

De dentro da piscina eu o mirava procurando uma resposta. Sorri minimamente.

– Pergunte à água.

– Hã???? - ele disse incrédulo. Provavelmente estava pensando que eu desviava do assunto ou como estava sendo insensível. Será que a resposta não parecia óbvia?

– A água sempre responde tudo o que eu sinto, Rin. - levantei o braço e joguei a água na direção de seu rosto sem hesitar. - Agora me diga o que ela te diz? Acha que pode me vencer numa corrida? - o desafiei e antes que pudesse nadar pra longe, ele pulou na piscina me agarrando debaixo d'água e beijou meus lábios. As bolhas de água subiram até a superfície e ali eu vi o sorriso dele, com nossos dedos entrelaçados. Sim, a água havia me mostrado, finalmente, aquilo que sempre procurei.

Com Rin eu era finalmente...

Free!


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Notas finais do capítulo

N/A: Essa é minha primeira fic de Free! e a escrevi com meu OTP. Rin e Haruka ♥ Incrivelmente o estilo dessa fic se parece com outra que fiz pra Saint Seiya. A ideia surgiu quando acordei de amanhã e percebi que tinha que escrever algo em que a água ganhasse um significado especial. Afinal, ela norteia todo o enredo original do anime. E eis o resultado. Espero que tenham gostado. ^^Elogios e críticas construtivas são sempre bem-vindos! ^^Até a próxima!Virgo no Áries