A love of porcelain escrita por Cherry Bomb


Capítulo 13
Borboletas




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Voltei para o laboratório e li as anotações de quando eu ainda estava no corpo de uma criança.

Edgard sempre fala que eu demonstrava as coisas, que eu sorria, brincava. Sei que depois do meu primeiro dia na escola mudei muito, eu não queria mais as pessoas daquele jeito perto de mim então talvez o fato de eu ter “desligado” as minhas emoções foi por defesa. Mas ainda sim, porque elas estão voltando agora?

Eu precisava esfriar a cabeça então fui até a sala e coloquei o meu filme favorito. A noiva cadáver. Lembrei de ter dito ao Henry que meu filme favorito era o Tempos modernos, não queria parecer esquisita pra ele, por isso escolhi esse filme, acho que uma garota normal diria ele.

Pulei as cenas do filme para a parte em que a Emily canta a canção “Ele ainda te conhece tão mal”, nunca levei em consideração o que a aranha e a minhoca cantam mas sim no que a noiva canta. Fiquei de frente para a tv sentada no chão, deixei a minha voz se juntar a da Emily.

“ Quando toco a vela acesa eu não sinto dor

Tanto faz se estou no frio ou no calor

O meu coração não bate mas ainda sim se parte

E não deixa se sofrer recusando se render

A morte em mim está mas ainda tenho lágrimas pra dar.”

–Você não tem lágrimas. – Me virei e vi Henry sentado no sofá me olhando.

–Mudou de ideia sobre dormir? –Perguntei.

–Eu até tentei mas quando deitei fiquei pensando em você e em tudo que está acontecendo. Por isso eu decidi que vou te ajudar.

–Como? – A forma como o longo cabelo dele caia pelo peito nu me hipnotizava.

–Vou ajudar a trazer seus sentimentos de volta. –Em questão de segundos Henry estava ajoelhado na minha frente segurando minhas mãos. – Se você quiser claro.

–Isso é muito gentil da sua parte, obrigada. – Eu não sei muito bem como reagir a essa fixação dele em contato físico então peguei uma de suas mãos e apertei levemente.

–Ta legal vamos lá. – Nos levantamos e Henry me arrastou até o banheiro. Ficamos de frente a um dos espelhos presos na parede. – Você tem que aprender a sorrir, seus dentes são lindos, mostre eles. – Ele então sorriu e eu fiquei observando.

Quando encarei o espelho vi o quanto sou diferente dele. Henry não tem desenhos no rosto, não nos vestimos do mesmo jeito, ele não é tão branco quanto eu sou e ele é muito bonito.

–Ta prestando atenção no que eu to falando Margot? –A voz dele me fez “acordar”.

–Desculpas, eu estava pensando em algumas coisas. – Foquei na minha imagem refletida no espelho e então tentei imitar ele. –Assim? –Perguntei com os dentes de cima colados com os de baixo e a boca bem aberta.

–Definitivamente não! O sorriso é algo simples não exagerado como você está fazendo. Já sei um jeito de te fazer sorrir. –Henry colocou as mãos na minha barriga e começou a movimentar os dedos e então gritou. –COCÉGAS!!!!!!

Fiquei parada apenas observando ele fazer aquilo, eu não sabia se devia sentir alguma coisa mas ele pelo menos tentou. Depois de ir para o meu pescoço e meu braço com aqueles dedos Henry desistiu.

–Pra que foi isso?-Perguntei.

–Era pra você ter sentido cocegas mas pelo visto não deu certo. Aproposito o que é isso tão duro na sua cintura?

–Se chama corselet, serve para marcar a cintura e deixar ela mais fina.

–Como você respira nisso ai?

–Não vejo problemas. –Henry saiu do banheiro e foi para a cozinha.

–Senta aqui. – Ele puxou uma das cadeiras e eu me sentei.

Ele foi até a geladeira e tirou um pedaço do bolo de chocolate que eu tinha feito recentemente. Henry colocou um prato na minha frente e se sentou na cadeira ao meu lado.

–Come. –Ele disse tirando uma pequena parte do pedaço dele e comendo.

–Eu não como.

–Por que?

–Da ultima vez que comi fungos nasceram em mim.

–Tudo bem, nada de bolo. –Ele então comeu o meu pedaço também.

–Isso nunca vai dar certo. – Falei.

–Não seja negativa. Quando foi a ultima vez que você sentiu alguma coisa diferente do comum?

–Sinto coisas ruins quando as pessoas me deixam mas coisas boas eu senti quando dançamos. – Henry fez uma cara de quem estava pensando e então do nada seus olhos se arregalaram e suas bochechas começaram a corar. –Você está bem? –Perguntei.

–Estou, é só que eu pensei em algo agora. Mas acho que não pode ser. – Ele se levantou colocou os pratos na pia e fomos até o salã onde tínhamos dançado no outro dia.

–Por que estamos aqui Henry?

–Quero testar uma coisa. –Ele se aproximou e pegou a minha mão.

Henry esticou nossos dedos junto e depois os entrelaçou. Eu podia sentir aquelas gotas se formarem de novo na palma da minha mão. Seus olhos praticamente dourados estavam me olhando seriamente, era quase como se ele estivesse vendo alguma coisa dentro de mim.

Ele pegou a minha outra mão que estava livre e a pousou em seu peito, bem onde está o seu coração. E eu senti aquelas batidas que tanto gosto. Nossos corpos estavam bem próximos e nossos rostos estavam tão perto um do outro que nossas testas encostaram uma na outra. Vi quando Henry fechou os olhos e então fiz a mesma coisa, foi ai que eu senti mais uma coisa. Minha barriga, parecia que tinha alguma coisa dentro dela se movimentando, borboletas pareciam estar voando dentro de mim.

Como se não bastasse as borboletas senti quando os cantos dos meus lábios se levantaram e as partes do meio se separaram um pouco, assim como o Henry sempre fazia.

–Margot? –Abri meus olhos quando ouvir ele chamar meu nome. – Você está sorrindo. –Ele disse enquanto também sorria.

–É eu estou. – Não conseguia mais tirar meus lábios daquela posição. Olhar para o Henry me fez querer abrir meu novo sorriso cada vez mais pra quem sabe assim conseguir mostrar tudo que eu estava sentindo.

–Seu sorriso é lindo. –Ele disse. Nossas testas não estavam mais coladas mas eu ainda podia sentir as borboletas. Então a campainha tocou. –Droga! –Henry falou e então se afastou.

–Quem será? –Falei.

–Merda! Margot você me desculpa mas eu esqueci que hoje eu ia sair. Continuamos amanhã tá? Me desculpas. –Ele então saiu correndo pela porta e me deixou ali.

Henry tinha saído e levou com ele as borboletas que voavam na minha barriga.


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