Ligamos para o restaurante que Sieg havia nos indicado, e ele estava certo, eles pagavam absurdamente bem – $600,00 o dia. E foi apenas dizer o nome da Mari que a voz da atendente mudou completamente, parecia perplexa ao ouvir o nome da azulada, e mais ainda ao ouvir que ela havia lhes pedido um favor.

Quando entramos dentro do restaurante, caminhamos em largos e abafados passos até o balcão.

– Bom dia – sorriu Jin para a atendente - Somos Jin e Amy, falamos com a gerente ontem, viemos indicados pela Mari.

– Ah claro! – disse a atendente meio envergonhada com o sorriso galante de Jin, apertou o interfone e chamou a gerente, que chegou alguns segundos depois.

– Vocês devem ser Amy e Jin – supôs a gerente nos cumprimentando, abrindo um leve, mas autoritário sorriso – Vou lhes mostrar a fantasia de vocês. Aliás – ela deu uma pausa, levantando um dedo – Essa é a semana de Maid Sama, só para vocês saberem.

Jin arregalou os olhos e engoliu a seco. Ele me olhou e abriu um sorriso assustado. Dei uma risada ao olhar pra ele e sussurrei um “Você sobrevive”. Jin passou seus braços sobre meus ombros e me puxou pra junto dele, deu um beijo na minha cabeça e levou sua boca até meus ouvidos:

– Você vai me dever uma, sabia né?

– Só de te ver vestido de garçonete já vai ter valido a pena

A gerente nos levou até uma pequena sala com alguns armários que seriam usados para guardarmos nossas roupas. Haviam também algumas poltronas coloridas em volta da sala, e em uma delas, estavam dois cabides: Um de um vestido pequeno preto com alguns babadinhos rosas – que presumi que seria o meu – com um avental branco na frente extremamente enfeitado. E do lado, um vestido maior preto com alguns outros babadinhos vermelhos , só que um pouco mais comprido que o normal.

– Eu... não vou usar esse troço – reclamou Jin se aproximando dos dois cabides estirados na cadeira

– Sinto muito Jin, mas na semana de Maid Sama não trabalhamos com fantasias masculinas. Essa é sua única opção – interrompeu a gerente.

Jin deu um resmungo.

– Isso vai ficar um arraso em você – peguei o vestido com babadinhos vermelhos e levantei-o na frente do ruivo, que me fuzilou com os olhos

Dei uma risadinha, ele parecia estar realmente frustrado com a fantasia.

– Você vai ter que usar um desses também, garotinha – Jin pegou o outro vestido e o colocou na minha frente

– Mas não vou parecer uma Drag Queen com ele – mostrei a língua, tirando o vestido da mão dele – Agora vai la se trocar

Jin me mostrou a língua de volta, pegou o vestido e saiu pisando fundo até o vestiário, aproveitei e fui me arrumar também. Alguns minutos depois ele apareceu na porta totalmente a caráter. Vestia o conjunto de garçonete e usava uma peruca vermelha com dois rabos de cavalos delicados. Eu não sabia se ria ou ficava impressionada em como o vestido tinha lhe caído bem.

– UAU HEIN! - abri a boca

Ele estava incomodado com o vestido, a cada segundo começava a puxa-lo para baixo tentando ajeitar.

– Nem começa com isso, Amy

– Eu preciso tirar uma foto disso – comecei a andar até a minha bolsa, segurando a risada - Cadê meu celular...

– AMY! Nem vem! – gritou Jin se jogando em cima do meu braço

–SAI JIN! Me deixa tirar! – dei um grito abafado enquanto tentava tirar o ruivo de cima de mim

Quando eu fui tentar puxar o celular de volta, Jin se desequilibrou e caímos em cima do puff ao lado. Com dificuldade, ele saiu de cima de mim ainda olhando o celular - que tinha deslizado para o chão quando caímos. Trocamos olhares e pulamos em cima dele:

– SOLTA! – gritei segurando um lado do telefone

Jin deu uma risada alta e puxou ele da minha mão e colocou dentro do vestido.

– Já era Amyzinha. Mais sorte na próxima

– Eu ainda vou conseguir tirar a sua foto, vai ver... – semicerrei os olhos

Quando Jin se virou para ir em direção da porta, peguei um impulso e pulei em suas costas. Não deu nem alguns segundos para Jin pensar no que estava acontecendo quando eu entrelacei minhas pernas em sua volta e tapei seus olhos com as mãos

– Não vai me dar o celular é?

–Amy! Eu não to vendo nada – gritou abanando as mãos tentando se equilibrar – Se cairmos no chão de novo a culpa vai ser sua!

– Então me devolve a droga do celular! – choraminguei

Jin tirou minhas mãos de seus olhos, virou de costas e deitou de costas em cima do puff, me fazendo agonizar com seu peso em cima do meu corpo. Depois se virou de frente para mim, segurando meus braços para que eu não tentasse nada.

– Sinto muito Amy, dessa vez não

– Droga Jin... – virei o rosto emburrada

Jin deu uma risada, e quando ele ia falar alguma coisa para provocar, percebemos como nossos rostos estavam incrivelmente perto, e por alguns segundos, senti meu corpo todo gelar e meu rosto ficar absurdamente vermelho. Jin percebeu e acabou ficando vermelho também.

– Ah desculpa! – exclamou Jin saindo de cima de mim.

Balancei a cabeça rindo, dizendo que não tinha sido nada. Logo a gerente entrou no vestiário e nos encarou.

– Já terminaram?

– Terminamos – disse Jin passando a mão na nuca

– Caramba, esse vestido realmente lhe caiu bem – disse a gerente totalmente chocada

– Eu te disse que você estava arrasador – dei de ombros, sorrindo para ele, que me olhou com uma cara mortal.

A gerente então nos guiou até a porta da cozinha onde estavam vários pedidos organizados em uma coluna enorme. Logo do lado, haviam alguns pratos de petiscos já prontos.

– Eu já expliquei pro Jin no telefone como vocês deveriam atender os clientes, há crianças sem os pais aqui também, então sejam pacientes – advertiu – Vocês dois vão ficar com o salão A hoje, a parte da direita é do Jin, e a esquerda é a da Amy, e não se preocupem, há uma cortina separando os dois lados para vocês dois não se confundirem. Alguma pergunta?

Jin e eu balançamos a cabeça negativamente, mostrando que tínhamos entendido tudo.

– Ótimo – confirmou a gerente – E mais uma coisa, já que vocês estão aqui a pedido da Mari, ela me pediu para que déssemos um bônus especial, então conversaremos no final sobre isso.

– Sim senhora – respondeu Jin, e eu assenti concordando.

– Agora vão – a gerente abriu a porta da cozinha que dava para um salão enorme, que já havia sinal de crianças chegando com os pais.

– Boa sorte Jin – passei pela porta nervosa

– Pra você também, Amy – Jin deu um aperto de leve na minha bochecha e foi para seu lado do salão.

Respirei fundo e comecei a andar. Algumas mães com vestidos de grife e gigantes óculos de sol começavam a entrar com seus filhos e as babás, claro. As crianças chegavam animadas, olhando tudo em volta com a nova decoração da semana, e seguiam para o meu lado do restaurante com as babás. Já as mães iam para o lado do Jin, que aparentemente estava aliviado de não ter que lidar com as crianças.

– Esse dia vai ser longo... - suspirei

Passei a andar entre as mesas que ficavam perto da cortina transparente que separava os dois lados da sala A. Ao passar por uma mesa de um garotinho sentado junto à uma babá baixinha e uma garotinha pequena no carrinho de bebê, o menino olhou para o outro lado da cortina e avistou Jin, ele se inclinou na cadeira para vê-lo melhor e franziu a testa, passando os dedos no queixo e analisando o ruivo. Ele voltou a sua posição inicial e olhou para a babá totalmente inocente.

– Tia Tally, por que aquele moço ta vestido de mulher? Ele é um travesti?

– Fica quieto menino! – disse a babá constrangida, pondo uma colher de bolo na boca do garoto.

– Mufh – resmungou o garoto engolindo o bolo – Eu só queria saber porque ele ta de vestido...

Botei a mão na boca abafando a risada. O garoto olhou para mim e riu, acenando com a cabeça mostrando que achava aquilo engraçado também.

Decidi ir ver como Jin estava se saindo na outra parte do salão. Comecei a caminhar até o outro lado do salão, sorrindo sozinha ao lembrar de como Jin tinha ficado com aquela roupa, e de como seria engraçado vê-lo agora. Estar com ele significava me divertir, esquecer o resto e dar risada. E a medida que eu ia chegando perto da cortina, mais eu apressava meus passos e meu sorriso aumentava. Ultrapassei o pano transparente e comecei a olhar em volta, procurando o ruivo. Apertei os olhos e enxerguei a peruca vermelha dele. Levantei as mãos sorrindo esperando que ele me visse, mas fui as descendo devagar ao ver ele escorado no balcão, no canto do salão conversando com uma garota. Eles riam e sorriam um para o outro, aumentando o nível da conversa.

Suspirei pesadamente e cruzei os braços, fechando os olhos de leve. Olhei mais uma vez Jin e Lin antes de voltar para minha ala.

– Pelo menos tem alguém aqui se divertindo...

Depois de algumas horas andando pelas mesas do salão, enxerguei um rosto familiar sentado na ultima mesa lendo um livro com um rosto sério. Comecei a andar mais devagar pra saber quem era. O rapaz mostrava um cabelo laranja espetado. Cheguei mais perto e meu coração bateu forte.

Droga!

– Licença, licença – comecei a correr no meio de algumas crianças tentando sair dali o mais rápido possível antes que ele me visse, coloquei a bandeja na frente do meu rosto tentando chegar na cozinha, entretanto o garoto reparou na minha correria.

– Ei moça! Eu queria fazer meu pedido! – chamou o alaranjado, que parecia não ter percebido quem era a “moça”. Fingi que não ouvi e comecei a correr o mais rápido possível.

Entrei dentro da cozinha correndo e escorei na porta totalmente ofegante. Jin ergueu os olhos me perguntando o que tinha acontecido. Encarei o ruivo e desabei.

–POR QUE TODO MUNDO RESOLVEU APARECER NESSA DROGA DE LUGAR JUSTO HOJE? – explodi pegando uma colher que estava em cima da mesa e jogando pra longe

– Calma Amy, a colher não tem nada a ver com isso – riu Jin passando as mãos nas minhas costas – Relaxa!

– Jin, eu vou relaxar como? – comecei a andar de um lado pro outro desesperada, até que parei e olhei pro ruivo – O RYAN TA AQUI!

– Ryan quem? – perguntou Jin mudando de expressão

– O Ryan, Jin... Já te falei dele – respondi não ligando para a pergunta do ruivo, e voltei a andar de um lado para o outro – Não acredito que ele vai me ver desse jeito!

– Esse maldito garoto de novo – grunhiu Jin fechando os punhos, depois me analisou do pé à cabeça e franziu a testa – Ele não pode te ver desse jeito

– Não mesmo! – concordei agoniada

– Vou colocar uma burca em você, ai quem sabe ele não te vê nunca mais – sorriu Jin aprovando a ideia

– Jin – cruzei os braços e suspirei – Sem gracinhas agora, por favor.

– Gracinhas? Só estou te poupando dos olhos de lobo daquele garoto – respondeu inconformado – Olha a pouca roupa que você ta vestindo! – ele analisou de novo, mas corou um pouco ao fazer isso e desviou o olhar

– A questão nem é essa – rebati me encostando na parede ao lado da pia – E eu não estou com pouca roupa, ela só é um pouco curta – mostrei a língua, puxando a saia um pouco para baixo

– Continua sendo pouca roupa – resmungou Jin mostrando a língua de volta – E eu não vou deixar você sair desfilando na frente dele desse jeito

– Quer parar de ciúmes, Jin? – coloquei as mãos na cintura

– Ciúmes? – perguntou Jin engasgando- Não estou com ciúmes, só estou te protegendo.

– Me protegendo? – franzi a testa, me desencostando da parede– Me protegendo do que?

– Do Ryan se apaixonar por você –respondeu se encostando ao meu lado, como se aquilo fosse uma resposta obvia – Nós temos um casamento, lembra?

– Ah! Não me venha falar em casamento agora – retruquei fechando os olhos, respirei fundo e os abri – Não era eu que estava ali no canto conversando como se fosse o namorado da Lin, rindo e sorrindo que nem um idiota – bufei cruzando os braços e virando a cabeça – Se quer um casamento, que se case com ela! – explodi - E além disso, por que ela estava aqui?

– Quem é que tava com ciúmes mesmo? – Jin começou a rir, olhou pra mim e alargou um sorriso– Amy, ela só veio aqui para buscar a prima dela e me reconheceu com essa fantasia. Ficamos conversando normalmente, apenas isso e...

– Olha Jin, eu não quero saber – interrompi irritada, cruzando os braços

– Fica fria, Amy – riu balançando a cabeça.

– Agora eu só preciso arranjar uma maneira de me esconder do Ryan, porque eu acho que morreria se ele me visse assim – suspirei levando meu olhar a porta.

Jin ficou em silencio por alguns segundos e depois se virou para mim.

– Eu dou um jeito pra você

– Sério?

Ele assentiu com a cabeça.

–Pode crer

–Você é incrível – sorri

– Eu sei – sorriu de volta

Jin então andou até a porta e adentrou na minha ala. Corri até a janelinha da porta, arrastei um banquinho e subi em cima para ver o que ele iria fazer.

Ele caminhou até a mesa em que Ryan se encontrava e abriu um enorme sorriso:

– Boa tarde senhor, deseja fazer o seu pedido já?

Ryan ao olhar para Jin, pareceu ter ficado decepcionado, passando rapidamente o olhar pelo salão

– Desculpe... mas não era uma outra garota que estava atendendo esse lado do salão?

Jin hesitou por alguns segundos pensando na resposta, e disse:

– Uma outra garota?

– Eu jurava que era uma garota que eu conheci – Ryan suspirou desanimado – Queria vê-la de novo...

Me deu um aperto no coração ao saber que ele queria realmente me encontrar, ele era uma pessoa incrível, e ver que eu tinha causado algum efeito nele me fez ter uma vontade súbita de ir vê-lo.

– Desculpe, mas ela acabou de entrar no horário de descanso – sorriu Jin, tentando ser compreensivo – Tem certeza de que era ela?

– Aqueles cabelos rosados não me enganam, e por alguns segundos pude ver o sorriso dela. Aquele sorriso é inconfundível – sorriu Ryan

Jin pareceu meio incomodado, mas não deixou transparecer.

– Faz tempo que vocês se conhecem?

– Não muito na verdade – deu de ombros, encurvando os lábios – Mas foi o suficiente para eu querer me encontrar com ela uma outra vez

Jin estava decidido a tentar fazê-lo esquecer essa história, porque assim que ouviu isso, se sentou na cadeira a frente de Ryan – que levou um pequeno susto com o gesto do ruivo – E apoiou seus cotovelos sobre a mesa

– Acho que você está se preocupando a toa, talvez essa nem seja a garota que você está procurando

– Por que está tão disposto a me fazer esquecê-la? – perguntou Ryan colocando os cotovelos sobre a mesa, encarando o ruivo com suspeita

– Estou te fazendo enxergar a realidade – respondeu Jin

– Isso não faz nenhum sentido – disse Ryan, se encostando na cadeira – Você nem ao menos nos conhece

Jin deu um sorrisinho e se levantou.

– Nada disso vai fazer sentido – deu uma pausa – Não agora

Ryan pareceu meio confuso, mas deu de ombros. Jin já estava se afastando quando ouviu o alaranjado o chamar

– Só mais uma coisa – disse sem hesitar

– Pode dizer

– Qual o nome dela? – continuou – Da garota que trabalha aqui

Jin ficou perplexo com a pergunta, não esperava ter que dizer que eu estava realmente ali, limpou a garganta e cruzou os braços, percebi que ele estava disposto a mentir.

– Olha, o nome dela...

Mas antes que Jin pudesse continuar, abri a porta da cozinha fazendo um pequeno barulho. Os dois olharam em minha direção.

– Ryan... – pronunciei indo devagar até eles

Jin me olhou com uma cara frustrada, me perguntando o que é que eu estava fazendo. Apenas dei um pequeno sorriso assentindo que estava tudo bem, ele ignorou e fechou a cara. Ryan não se conteve de felicidade

– AMY!

Ryan se levantou da cadeira largando o livro sobre a mesa, seu sorriso estava radiante. Abri um largo sorriso também, fazia um tempo que eu queria mesmo revê-lo. Jin permaneceu calado.

– Nem acredito que você esta realmente aqui – disse Ryan entre sorrisos

Ergui a voz para responder, mas fui interrompida.

– JIN! Finalmente te achei! Eu não tenho nada nessa noite mesmo, a gente pode sair sim! - gritou uma garota vindo atrás de nós

Quando eu e Jin olhamos para trás, estava Lin com um sorriso no rosto, mas logo ele se desfez ao me ver. Encarei Jin por alguns segundos, ele pareceu nervoso ao me olhar de volta e desviou o olhar.

– Desculpe, eu... - Lin pareceu meio nervosa com a situação

– Perdi alguma coisa? – dei um sorriso para os dois