Ryans Tales escrita por rumpelstiltskin


Capítulo 2
Segundo Conto - O Conto das Primeiras Lembranças




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#Segundo Conto#: O conto das Primeiras Lembranças.

         Existiam muitas coisas que George tinha aprendido com o tempo o quanto amava o seu pequeno e tinha visto as coisas que era capaz de fazer quando alguém ou alguma coisa ameaçava sua vida a dois, com ele. Porém talvez tinha descoberto tarde demais. Talvez ele nunca mais pudesse dizer ao seu amado o que sentia e tivesse que se contentar com as migalhas para sempre. E mais, talvez o chegaria a ver com uma garota e fingir não estar acontecendo. Entretanto, esse não era mais Ryan. Ele simplesmente diria tudo quando tivesse chance.

         Eram seis e meia da manhã quando Ryan chamou Bden que não gostava de dormir na cama de Ryan porque sabia que o mais velho não dormia quando isso acontecia. Isso sempre era prejudicial, pois Ryan – ainda – era o único que trabalhava naquela casa. Tinha que estar em pé cedo para conseguir o sustento.

- Só mais cinco minutos...? – Brendon rolou na cama enquanto Ross sorria ao ver a cena. O menor se retorcia, relutando para não acordar, porém em meio aos seus ímpetos de dormir, lembrou-se que Ryan não dormia quando ele estava no seu quarto. George respeitava cada um dos seus gostos, das suas preferências, das suas exigências e afins.  – Você ficou sem dormir de novo, não é?

- Não tem problema, Brend. Já estou acostumado. – Ryan usou de doçura enquanto sentava na cama e fitava o menor. Queria ter, mais uma vez, mais um momento, guardado para si. Para sempre. Queria ter aquilo como um motivo a mais para se ferir, para acabar consigo mesmo por que não ia ter mais dele para si. Apenas amizade. – De qualquer forma, eu gostaria que fizesse algo para o Charles comer.

- Não gosto que fique sem dormir. Prejudica seu desempenho como médico.  – Brendon disse, teimando com Ryan que apenas sorriu para o garoto. Seu argumento era realmente imbatível. As noites que passava acordado, chorando por causa dele, ele ficava pior no horário de trabalho. Ele conseguia ser mais arredio, mais mandão e tratava pior as pessoas, porém os pacientes eram atendidos com o cuidado e respeito de sempre. – Enfim, vou só tomar um banho e preparo o lanche do Charles.

- Ok. – Confirmou, apesar de odiar – muito – o fato de não ser chamado mais de RyRo ou qualquer apelido carinhoso do tipo. Porque aquele simples gesto demonstrava o carinho que ele tinha pelo maior. Agora a falta daquilo ajudava a matá-lo.

#Flash Back#

     E faria um ano que Brendon estava em coma e já estavam até querendo declará-lo como morte cerebral. George não deixava, não queria aceitar que estava morto e que tinha que deixá-lo partir. Ele tinha se arrependido muito de como eram coisas antes do acidente, tinha aprendido a lição. Brendon iria orgulhar-se dele agora... Era um ótimo ser humano, um nerd de primeira, devo ressaltar.

Estava na hora de deixar a família a par das coisas que poderiam acontecer com Bden. Era hora de encarar as reais possibilidades, as reais condições de Urie e parar de enrolar a família. Deixar o coração doer ali, sozinho.  O pior é que Boyd e Grace nunca foram maleáveis, principalmente se tratando do relacionamento de Brendon e Ryan. Ele andava em passos pequenos até os familiares. Procurava palavras, mas elas pareciam ter morrido junto com seu coração.

- Ryan – Disse a mulher, pausando depois do nome do médico. O olhar arredio dela perguntava, ao mesmo tempo, condenava o homem – Já se passaram um ano que nos evita. Por quê? O que há com Brendon?

- Um ano longo, Sra. Urie. – Respondeu Ryan antes de centrar-se na difícil missão. – Senhores Urie, eu realmente não queria ser o canal que vai lhes entregar essa notícia, mas se sou eu, vamos logo ao assunto. Seu filho teve uma lesão cerebral séria causada por um traumatismo craniano. Nós fizemos as cirurgias necessárias e ele está em coma induzido. Porém esse coma está durando muito e eu preciso alertá-los do que pode realmente acontecer. Eu não sei se um dia o Brendon vai acordar. Se um dia ele acordar ele...

A voz fraca do mais magro ali faltava. Dentro de seu ser era como se o relógio não tivesse corrido e os dias não fossem mecânicos.  Sem ele. Sem luz. Sem doçura...

- E...? – Perguntou o pai de Brendon, mas sua aflição era mais forte e exibida nos olhos. – Ele não melhorou nada?

- Infelizmente, não. Está na mesma. – Respondeu tentando ser profissional. Grace Urie pôs as mãos nos ombros do doutor e olhou no fundo dos olhos dele. De um jeito que reprimiu o doutor e todos os seus sentimentos. Um olhar carregado de dores, de culpa. Olhar acusador.

- É culpa sua e você sabe. – Disse a jovem senhora. Ryan não discordava dela, pelo contrário, Ryan concordava e sempre concordaria. A final, era – mesmo – sua culpa e ele não conseguia se perdoar. Não se perdoaria nunca.

- Eu, realmente, sinto muito. – Disse, segurando as lágrimas o jovem médico, mas era quase impossível. Ele era avaliado com olhos devoradores, porém se mantinha frio, firme na missão designada a ele. Na promessa de ser médico quando eles sonharam, juntos, que seriam mais que amigos, mais que namorados, mais que casados. Decidiram ser um. Ele tentava manter a postura de bom médico, mas estava quase desmoronando. – Eu... Preciso terminar de passar aos senhores.

A mulher afastou-se, dando ao outro plena liberdade de se movimentar, embora ele não conseguisse. Estava pregado no chão como se ali tivesse algum tipo de cola. Ele apenas pôs as mãos nos bolsos do jaleco branco.

- E do que se trata? – perguntou Boyd, mais aflito que nunca. – Fala logo! – O rosto cansado do homem só tinham algumas lágrimas que escapavam. Ele lutava contra certas emoções e ao mesmo tempo queria extravasá-las.

- Pessoas que ficam muito tempo em coma, como o seu filho, tende a ter amnésia que pode ser, ou não permanente. Isso quer dizer que... Devem se preparar para quando ele acordar não...

Ryan fraquejou. Ainda estava difícil aceitar e cada vez mais achar motivos para se culpar. Para se sentir a pior pessoa do mundo. Ele perdia toda a fala, porque jamais pensou que perderia seu amado dessa forma. Era difícil imaginar que teria que conquistá-lo de novo e ele estava disposto. Mesmo que dilacerasse sua alma ele continuaria amando e, agora, desejando ser amado.

- O que...! O que, caramba? – Gritou o homem, fazendo Ryan voltar a si dos seus devaneios sobre conquistar Brendon de novo. Ele voltou a ter a postura clínica.

- Se o Brendon um dia acordar pode não se lembrar de nada e nem de ninguém. Dependendo do tempo que ele ficar assim terá que reaprender a falar e andar. O mais provável é que ele venha a ficar completamente sem memória e mal se lembrará de quem é... De quem foi, dos familiares e... Ele não vai lembrar de mim. – A última frase foi num tom inaudível. Como se ele fizesse isso para encarar a realidade. A realidade de verdade. A dolorosa e cruel.

- Você... Você mente! – Exclamou a mãe desesperada e qualquer tentativa de extrapolar os limites da raiva parecia não atender aos pedidos desesperados dessa mãe.As lágrimas começaram a contornar o rosto daquela mulher e ficavam cada vez mais grossas. Elas morriam no queixo, caíam no chão frio e encontrava seu destino final. A voz mecânica do Doutor George Ryan Ross estava presa na sua garganta. Assassinada pelos sentimentos que ele não conseguia expressar.

Tomada por uma emoção superior ao que ela estava acostumada, Grace atacou o médico com toda a força de seu ser e começou a socá-lo. Ele não se mexeu, não tinha forças para isso. Desesperado, Boyd chamou uma equipe de médicos que sedou sua esposa.

Foi nesse momento que, pela primeira vez na vida, George deixou uma lágrima cair. Ele não fez questão de limpá-la porque estavam em público. Deixou que ela delineasse seu rosto com um trilho cristalino. Um trilho de culpa, dor, autocrítica. Não deu um passo por falta de forças. Então Boyd entendeu que entre Ryan e Brendon não seria só uma fase. Que não passaria. Que Ryan não era insensível, mal educado, arrogante que todos pensavam. Era só um garoto tentando sobreviver dia após dia para deixar aquele por quem sobrevive vivendo.

Boyd abraçou George que não se mexeu por ainda estar em estado de choque e o mais velho entendeu. Ali se selava um princípio. Um dos sonhos de Brendon realizados, mesmo que ele não pudesse ver acontecer.

#Fim do Flash Back#.

Charles estava animado. Tinha acordado bastante elétrico e com um sorriso no rosto. O uniforme da escola era maior que ele e os óculos sem lentes que Ryan tinha dado para ele brincar compunham o figurino do pequeno. Aquilo arrancou um sorriso doce de Brendon que colocou na mesa o cereal do menino e leite.

- Bom dia, pa... Tio Bden. – Se segurou para não chamá-lo de papai. Charles tinha sido orientado, até que Brendon pudesse se lembrar quem era, a chamá-lo diferente. – Fez panquecas?

- Não, hoje eu acordei tarde. – Brendon deu um beijo carinhoso no topo da cabeça do garoto.

O chalé não era luxuoso, mas abrigava bem a família Ross-Urie. Tinha três quartos, sendo um suíte, um banheiro social, uma pequena sala, cozinha e área de serviço. Tudo ali era aconchegante.

- Mas o meu papai vai comer o quê? – Perguntou o pequeno garoto  - Se você não fez panquecas, o papai vai ficar dodói.

Charlie era um menino realmente lindo. Seus olhos grandes refletiam a inocência e ao mesmo tempo a maturidade de ter vivido em um orfanato. Os ossos pequenos e longos de seus braços se cruzaram na frente do peito, repreendendo Brendon por não ter feito café da manhã para Ryan. Aquele ato conquistou de vez o coração de Bden.

- Meu papai não pode ficar dodói. Ele é quem cuida das pessoas. Ele é um herói.

Nesse exato momento, Ryan entrou na cozinha e ficou orgulhoso de ouvir o filho falando assim dele. Ao vê-lo, Charles deixou o cereal e correu para abraçar as pernas do neurologista. Brendon olhou a cena com um sorriso doce nos lábios. Era um ótimo pai, concluía. Uma ótima pessoa, com certeza.

- Bom dia, campeão. – Sorriu. –Dormiu bem de noite?

- Dormi. – Afastou-se dele – Tinha um monstro enorme e feio no meu armário, mas você disse que eu era grande e forte então... Eu dei uma surra nele. – O menino deu de ombros, surpreendendo muito os dois adultos que se entreolharam e riram. Charles ajeitou os óculos e voltou a sentar-se na mesa.

- Sério? – Disse Brendon, convidando Ross com o olhar a se sentar, porém sem se mover um milímetro de onde estava. Ele se apoiava na pia com as duas mãos escondidas em sua retaguarda. Ryan andou até o menor e lhe deu um beijo acidentalmente – apenas para Brendon – no canto de seus lábios. Urie chegou a prender a respiração apenas para sentir o toque.

- Bom dia, Brend. – Sussurrou ainda com os lábios perto da pele de Urie que se perguntava se soltava a respiração ou se curtia o toque. O mais velho pegou o pão que estava em cima da pia e afastou-se. Brendon soltou a respiração, estava trêmulo, ligeiramente corado. Charles olhou a situação ‘embaraçosa’ com um sorriso no canto dos lábios. Ele sabia que Urie logo se entregaria ao sentimento forte que brincava com suas reações. – Você dormiu bem?

- Hm... Ah, claro. Ótimo. – Brendon disse, se enrolando nas palavras. Charlie engoliu o riso e comeu um pouco do cereal. – Só fiquei irritado que você não tenha dormido.

- É, mas isso não importa agora. A gente está atrasado e... Droga, eu não poderia chegar atrasado à clínica hoje.

- Eu nem quero mais comer. – Charles disse, empurrando a pequena tigela. O menino correu até Brendon e o abraçou.- Bom dia tio Brendon.

-Bom dia, pequeno.

-Tchau, Brend. – E Charles e Ryan foram cada qual para seu caminho.

#Flash Back# (Brend)

Eram seis e meia da tarde e Brendon estava deitado. Na verdade, estava cansado de estudar com Ryan para recuperar uma das notas em Biologia. A franja jogada nos olhos, insistia em querer tapar a vista que ele tinha do rosto fino de Ross. Com um sorriso pequeno no rosto, porém feliz.

George usava os cabelos castanhos compridos e boinas. Sempre gostou de chapéus na realidade. Quase lhe faziam como marca registrada. Urie inclinou um pouco a cabeça para o lado e contemplou o rosto do maior que tinha fechado os olhos, mas não estava dormindo. A porta do quarto estava muito bem trancada e por isso Brendon analisava cada detalhe do outro sem pudor nenhum.

Ryan estava sem camisa e a boina estava jogada em cima dos livros de biologia. Estavam ambos sem camisa e Brendon perdia seus olhos no peitoral liso e livre de pêlos. Por um momento, desejou. Então, deitou sua cabeça no peitoral dele e Ryan ajeitou as mãos para que acolhessem o menor mais confortavelmente.

- Você é tão lindo, sabia? – Disse Brendon, brincando com os dedos no peitoral de Ryan.

- Que nada – respondeu frio – Estou muito irritado, isso sim. Queria ir à porcaria do show do Green Day.  – Rosnou baixo e pegou uma bola de futebol americano e ficou jogando para cima apenas para se distrair. Eles eram adolescentes e já se amavam, de vez em quando eles trocavam alguns beijos, mas nada era sério, ainda, apesar de – para Brendon -, ter a mesma importância.

- Você não vai? Merda! – Brendon então, percebeu  o que estava realmente acontecendo. Eles tinham combinado de ir para comemorar o primeiro ano juntos. – Mas cara, a gente combinou de ir juntos... – Um bico se formou nos lábios do menor e o outro deixou a bola de lado para acariciar o rosto de Brendon que manteve os olhos manhosos que Ryan nunca sabia resistir. – Você disse que iria, poxa!

- Ah... C’mon, Bden. Sem bicos, vai. – Ryan sorriu, apertando a bochecha do outro. – Mas você sabe como é, meus pais falam que o que eu ouço, me deixa revoltado com o mundo. Que vai influenciar minha brilhante carreira em engenharia.

- Você ainda não contou que você entende de biologia e não de matemática? – Brendon arqueou a sobrancelha, quase desfazendo o abraço, mas não conseguiu. Era bom demais estar ali, curtindo aquele carinho todo. – Ah, como você é otário, Ross. Muito, muito, muito otário.

- ‘Tá querendo ficar viúvo antes do tempo, é? – Ross o olhou falsamente irritado arrancando um sorriso largo do menor.  Ryan virou seu corpo para ficar mais perto ainda do jovem estudante ao seu lado e mordeu os lábios. – Depois que eu for aceito em alguma universidade bem conceituada de medicina eu conto pra nossas famílias sobre a medicina e sobre nós. Está me cansando ouvi-los dizer que nossa amizade vai acabar um dia.

- E você concorda? – Perguntou Brendon, agora sim desfazendo o abraço. Ryan sentou-se na cama, com um impulso, Ross puxou o outro totalmente para si e começou a beijá-lo repetidas vezes até que Bden começasse a rir muito.

- Eu nunca concordei com isso, nanico.

         Em pensar que eles eram adolescentes e essa história só estava começando.

#Fim do Flash Back#

O pôr-do-sol estava maravilhoso. Ryan segurava a vontade de fumar para relaxar e tirar um pouco do cansaço causado pelo trabalho puxado na clínica. Ross pegou o seu carro e seguiu para uma outra clínica, mas dessa vez, uma clínica de repouso que abrigava anciões.

Ele contemplava o pôr-do-sol da janela do quarto de um de seus grandes amigos. Um dos poucos que ele tinha na realidade.  Alex McWay era o único homem que conseguia compreender a dor dele nos mínimos detalhes. O mal de Alzheimer tinha levado a sua mulher há alguns anos.  Ela tinha se esquecido completamente das coisas que amava, de quem era e no final da vida, tinha se esquecido de respirar. Alex presenciou cada passo da doença sem cura.

O senhor McWay era um homem bastante bonito para sua idade. Ele tinha mais ou menos uns sessenta anos, magro, alto e um pouco debilitado. Isso tornava a sua pele amarelada e sem vida.  Foi Alex que ajudou Ryan a lidar com a falta de memória de Brendon sem que ele agisse com espanto. Ele nunca deixou Ross desistir de Urie e jamais deixaria enquanto tivesse vida. McWay se tornara um pai para Ross e cada vez mais os laços se estreitavam.

- Olá, filho.  – Disse Alex com a voz bastante fraca, mas audível. Ryan caminhou até a cama do homem, com um sorriso pequeno no rosto. Ross estava triste e estava de novo a ponto de desistir.

- Olá, Alex.  Eu só acho que está na hora de soltar o Brendon e que... Esteja na hora de esquecer quem o Brendon é na minha vida. Ele já devia ter lembrado de algo.  Ao menos já devia ter mim.

- Sh... Sem isso agora. – O homem repreendeu o doutor de forma bastante dura, porém eficaz. Ryan abaixou a cabeça e sentou-se ao lado da cama do melhor amigo.  – Eu nunca deixei de aproveitar nenhum dos momentos de lucidez da minha mulher quando ela esteve comigo. Sabe, você já passou pelo pior que era quando ele tava em coma, agora é só reconquistá-lo e, esqueça o passado, faça-o ter novas lembranças e mostre a ele que você é o melhor homem que ele pode querer ter.

- E se eu não estiver conseguindo? – Ryan contestou, deixando o semblante ficar mais triste que o normal – Por que eu não noto mudanças nele, eu não consigo me sentir correspondido, mesmo quando temos pequenos momentos como os de hoje de manhã. Eu tenho medo de ficar sem ele ou de ter que entregá-lo a outra pessoa.

- Você vai conquistá-lo de novo, homem.  Se não está funcionando seja o Ryan de antes. O Ryan que o conquistou. Vocês se amam desde a adolescência, desde sempre. Só porque a memória dele tirou férias o coração dele tem que deixar de ser seu?  Olha, Ryan, por mais que ele não saiba quem é, o coração tem memórias que amnésia nenhuma consegue apagar.  E se eu estiver errado, deixe-o ir, porque tudo o que é livre, volta.

- Eu não vou ser o Ryan imaturo de antigamente. Eu cresci, felizmente. Do pior jeito possível, mas eu cresci.  – suspirou. – Mas quem sabe você tenha razão em dizer que as coisas livres sempre voltam.

- Você só não pode se dar por vencido em uma luta que você tem tudo para ganhar. Só ter um pouquinho de paciência.

E Ryan ficou aliviado e ao mesmo tempo estava triste. Não estava  pronto para soltá-lo e nem estaria pronto nunca. Eles tinham uma vida toda juntos e essa vida que ele não abriria mão. Ele tinha mudado para fazer Brendon feliz, para ter seu menino de volta, mas às vezes, isso não basta.

- E o que eu faço agora? Os contos não estimulam a memória, os jogos que fazíamos antes nunca deram efeito... Um álbum? Um vídeo? Uma declaração romântica? – Perguntou Ryan a si mesmo, mas Alex tomou a liberdade de responder:

- Faça um diário, um álbum... Qualquer coisa que armazenem lembranças. Ele quis ficar com você e isso é um sinal de que ele aprendeu a confiar em você e que o laço que une vocês desde a adolescência não morreu, não se desfez. Isso não se rompe com facilidade.

E Ryan voltou a assentir com a cabeça. Conversar com Alex era sempre reconfortante.  Eram mais de oito da noite quando Ross voltou para casa. Bden estava sem camisa e assistindo jogo de futebol americano enquanto segurava uma garrafa de cerveja  na mão direita.  Não desviou o olhar quando Ryan entrou, manteve-se firme olhando para a TV.

- Ei. – disse Ryan, retirando o sobretudo. Fechou a porta atrás de si e sorriu ao ver Bden – supostamente – concentrado no jogo. Era uma das coisas que ele fazia sempre, era quase um fanático por futebol americano – Quem está jogando?

- Hm... O time de New York contra Nevada. – Deu de ombros, bebericando a cerveja já quente, mas parecia não ter importância agora.  – Eu... Eu tive uma pequena lembrança hoje. Não foi nada relevante, mas...

- Do que se lembrou, hm? – Ryan deu um pequeno sorriso esperançoso. Estava precisando ouvir alguma coisa parecida com “lembrei que você é o homem da minha vida desde meus quinze anos”, porém era pedir demais. Ele sabia que era pedir demais.

- Eu estava tomando uma bola de futebol americano de...Um cara que eu não sei bem quem é e no final das contas a gente se beijou no meu quarto. Ele e eu éramos adolescentes. Não deve ter sido algo importante em ambas as vidas.

- Você tinha dezesseis anos. – Sussurrou quase inaudível para si mesmo enquanto Brendon mentia. Por medo de não ter significado nada na vida de Ryan, ele decidiu deixar as coisas encobertas. – Eu fico... F-fico feliz por você.

Brenny voltou a assentir.  Estava com medo de falar e ficar sozinho no mundo. Não que ele não soubesse reconhecer as pessoas, mas não sabia o que elas significaram em sua vida e isso ficou cada vez pior. Ross conhecia Urie. Sabia de seu medo só pelo olhar e, então, deixou de lado toda aquela dor que sentia por dentro e sentou-se ao lado dele. Soltou a maleta no chão e abriu um sorriso para confortá-lo.

- Ei, você não precisa ter medo. De verdade, eu sempre estarei aqui por você.

Com essas palavras, Brendon o abraçou com força e não teve pressa de soltá-lo e quando o fez, recebeu um beijo em sua testa e um novo sorriso, deva vez, acolhedor. Brendon tinha se encantado com aquele ser em sua frente... Se encantado ainda mais, muito, muito mais. Em momento nenhum, George tinha aberto a boca para dizer qualquer coisa que não fossem palavras confortadoras. Naquela hora, só importava o bem estar de Bden e toda a sua felicidade.

- Obrigado. – Brend agradeceu com sinceridade. – Charles foi para casa de seus pais, Ry. Algum problema?

- Não. – George assentiu – Meus pais adoram aquele pirralho. O único problema é que ele sempre volta mimado da casa dos meus pais. Enfim, quer comer alguma coisa?

- Não. Estou sem fome. – Brendon respondeu de forma rápida. – Queria ouvir mais de Alec e Joshua.

- Okay... Seu direito. – Respondeu Ryan, dando uma leve mordida em seus lábios – Aonde foi que eu parei, hm...?

- Na adoção do menino. – Pôs a cerveja que segurava no chão e se ajeitou no sofá.

- Claro... Ótima hora para parar. – Suspirou e olhou para Brendon com doçura – Tinha um pequeno problema na adoção do garoto.  Brendon, Josh era o verdadeiro obstáculo a ser vencido.. Alec chegava em casa muito cansado, porém com um pequeno sorriso nos lábios. Isso aconteceu no mesmo dia que Charles e Alec se conheceram.

O que mais mexia com Joshua era que Alec não sabia sorrir, ele era bastante fechado e isso sempre fazia seus sentimentos passarem despercebidos, porém Josh só pensava no pequeno atraso do namorado. Era um dia especial.  O aniversário de Joshua e – realmente – Alec tinha esquecido de comprar algum presente.

- Hey, baby. – Alec era um pouco mais velho, tinha alguns poucos centímetros a mais de altura, olhos menores e menos expressivos. Ele tinha também olhos e cabelos castanho, pele branca e magro. Excessivamente magro.

- Está atrasado e com certeza esqueceu que dia é hoje. – Alec fechou os olhos por um instante e moveu a boca para dizer qualquer coisa, mas a voz não saía de jeito nenhum. – Você esqueceu, não é?

- Não. Eu não pude vir mais cedo, não deu para comprar nada. Estava em cirurgias com meus superiores.  E depois, o médico residente pediu para que eu fosse a um orfanato com ele. – Justificou Alec, mas no lugar de melhorar sua situação perante Joshua, mas não adiantou nada. Mesmo com o sorriso no rosto do mais velho, Josh não se comoveu.

- Sinceramente não tem como acreditar, Alec.  Agora você vai me dizer que adotado uma criança sem que eu estivesse presente, no dia do meu aniversário? Isso era uma coisa que devíamos fazer juntos.

- Eu fui a trabalho ao orfanato, Joshua. Eu trabalho num orfanato uma vez por mês, lembra-se? De qualquer forma eu me encantei com menino e de verdade queria que vocês se conhecessem.

- Um menino?  - Pasmou Joshua. Ele não queria adotar um menino, queria uma garota. – Mas de jeito nenhum eu vou adotar um moleque. Eu quero uma menina, recém-nascida, Alec. Nada de meninos meio criados. 

- Pra quê? Para você invejar por querer ser igual? – Ironizou Alec de forma cruel. Ele arqueou a sobrancelha. A ironia de Alec foi, com certeza, a morte da conversa. O mais novo estava muito indignado com que tinha ouvido. Alec o segurava pelo braço esquerdo com tanta força que chegava a doer.

O mais velho encarava os olhos do outro com firmeza, mas tinha – bem lá no fundo da expressão – uma ponta de tristeza. Ele fechou os olhos por um longo tempo e soltou o braço do outro. Subiu as escadas e foi tomar banho, sabia que dessa vez ia ficar devendo a Charles, que seu namorado era um caso perdido.  O conhecia, apesar de ser distante, de não ser expressivo, o conhecia.

Passaram-se algumas horas e Joshua subiu. O outro estava deitado na cama, quase sem roupas. Ele estava com um livro qualquer sobre cardiologia e com os óculos do namorado. Parecia estar bastante concentrado naquilo.  Joshua entrou, sentou-se no outro lado da cama e sorriu de leve ao ver sua armação retangular vermelha sendo usada pelo namorado.

- Odeio quando a gente vai dormir assim... Com você bravo comigo.

- Odeio quando você age como uma criança mimada, mas principalmente, odeio quando você é injusto. – Alec sequer desviou os olhos do livro, o que deixou Joshua sentido. Ele também o conhecia. Conhecia muito bem o seu jeito durão, inexpressivo, mas que sempre deixava sinais de aborrecimento ou falta de contentamento. – Mas diga, o que quer?

- Primeiro quero que você entenda que você pegou pesado comigo, okay? – Josh se aproximou e suspirou. A concentração do outro no livro chegava a lhe dar nos nervos – Quero dizer que você foi um idiota e que me machucou por não ter dito nenhum ‘feliz aniversário’, mas que principalmente entenda que meninos sofrem mais preconceito por ser adotados por homossexuais. Porque meninos vão zoá-lo o resto da vida por ser filho de homossexuais, mas para deixar você feliz, eu vou conhecer o moleque e talvez, nós o adotaremos.

Alec fechou o livro e desviou o olhar para o namorado que abriu um sorriso sincero. Aquilo arrancou um brilho muito especial dos olhos do maior. Um brilho tão encantador que Josh começou a enchê-lo de beijos ali mesmo. Apesar das brigas, eles se amavam acima de qualquer coisa. Após de todas as brigas internas, eles passaram por todos os obstáculos juntos para ter a guarda do pequeno encantador Charles.

--

Eram mais ou menos três da manhã quando Ryan pronunciou a última frase da história e Brendon bocejou. George teve medo de perguntar se aquilo lhe lembrava alguma coisa e teve vontade de falar para ele que era o amor de sua vida, que ele era tudo o que George queria ter de novo.  Urie despediu-se de Ryan dando-lhe um beijo na face. Subiu as escadas e foi para seu quarto dormir.

Ross só queria que o tempo voltasse, que não tivesse existido acidente ou que ele tivesse sofrido tudo isso no lugar do seu amado. George chorou. Chorou sozinho e isso aconteceu por longos minutos. Abraçou os próprios joelhos, até que por fim se deixasse cair no sofá. Aquilo doía como nunca. As lembranças eram lerdas e Ryan estava cada vez mais fraco, cada vez mais sem ter forças e sem saber de onde puxá-las. Talvez Alex estivesse errado, talvez fosse a hora de realmente desistir de tudo ao menos para retomar suas forças, para saber o que fazer ou que rumo tomar. Seria algum tipo de pecado fraquejar? Talvez para ele, fosse.

Foi então que ele ouviu alguns passos em direção da escada. Minutos depois, ele sentiu alguém acariciar seus cabelos com tanta doçura.  Brendon o olhava com carinho e, porque não dizer, com amor. Sentia o coração apertar muito com o choro de quem considerava um herói. O seu herói.

- Sh... Seja lá o que for, vai passar e eu vou estar ao seu lado. – murmurou o menor contra o ouvido do maior que apenas sorriu em agradecimento. Ryan apreciava a proximidade  e cada toque de seu amado, cada detalhe rosto que a televisão  fazia questão de iluminar aquele que já  tinha seu brilho próprio.  – Posso te dizer uma coisa?  - Brendon perguntou hesitante enquanto acariciava os cabelos macios de Ross.

- Yep, diga.

- Eu me lembrei, na verdade, que era você  na minha adolescência. Eu menti pra você mais cedo. Eu sei muito bem que era você, sei bem que – ao menos parecia - , ser muito forte o que sentíamos ali. E-eu queria saber o que aconteceu conosco naquela época?

- Naquele dia nós íamos ao show do Green Day.  Era uma comemoração do nosso primeiro ano juntos.  Seu pai descobriu alguns dias depois o que sentíamos um pelo outro e nos obrigou a nos separar, só que ninguém jamais pôde.

- Sabe... – Falou depois de um tempo em silêncio. – Eu acho que vou deixar minha identidade antiga de lado e viver intensamente o que eu tenho agora. Sei lá, trabalhar, sair para dançar... Eu não quero dar trabalho a você. Chega.

- Sh... você não me dá trabalho. Não diz esse tipo de besteira. – Ryan repreendeu antes que Brendon continuasse falando coisas das quais ele não queria ouvir.

- Só estou sendo sincero. Essa última tarde, essa história de Alec e Joshua me faz pensar que eu estou perdendo muito, então...

- Então...? – Falou Ross, esperando que tudo pudesse vir daquela conversa. Na realidade, ele estava com medo, mas foi então que ele sentiu os lábios macios e grossos do menino colidir com os seus. Um gesto bastante esperado por Ryan e quase desacreditado. Seus olhos demoraram muito para se fechar.

- Quero que me dê novas lembranças. – disse Brendon contra os lábios do outro e antes de qualquer resposta aparecer, voltaram a se beijar com necessidade. George chegou a sentir o corpo tremer de tanto tempo que esperava isso e existiu um certo desespero, além do medo de estar sonhando para ‘estragar’ o momento.

Era o início do dia perfeito que Ryan sonhava em ter.

Start to feel the emptiness

And everything  I’m gonna miss

I know, that I can’t hide.

All this time is passing by

I think it’s time to just move on.

(Começo a sentir o vazio

E vou sentir falta de tudo

Eu sei, que eu não eu posso esconder

Todo esse tempo está passando

Eu acho que é hora de se mover.)

#Fim do segundo conto #



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