Querida Beth escrita por lovemyway


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Querida Beth,

Às vezes, você perde tudo.

Às vezes, você não perde nada.

É engraçado, não é? Como a vida pode ser como uma montanha-russa? Num momento, você está tão alto que sente que pode tocar o céu. No outro, o mundo despenca. Você começa a descer, rápido demais, e há aquele frio na barriga. Aquela sensação que parece nunca acabar. De que não há mais nada pelo que lutar. De que tudo perdeu o sentido. A cruel verdade é que você está apenas desistindo.

E é tão fácil. Desistir. Não requer esforço algum. Você só diz a si mesma que "não era pra ser", que não era "boa o suficiente", mas, no fundo, você sequer tentou. Apenas fingiu. Fugiu. Esquivando-se do verdadeiro problema, porque se você chegar à raiz da questão, vai descobrir que a culpa não é do mundo. A culpa é sua. Sempre foi. E uma vez descoberta, a verdade não pode ser encoberta. Ao menos, não de nós mesmos. E isso nos destrói. Somos fracos assim. Um simples sopro, e tudo vai ao chão.

Querida Beth, o mundo não é um lugar horrível, embora, à primeira vista, é exatamente isso o que possa parecer. Não há pessoas boas e ruins. Há só pessoas. Elas cometem erros. Elas acertam, também, e fazem coisas tanto belas quanto terríveis. É difícil compreender o ser humano. Por isso, eu parei de tentar. Eu aceitei. Aceitei quem sou. Aceitei que tenho um lado bom, e um ruim. Aceitei que as pessoas que amo não são perfeitas — foi quando percebi que as amo justamente por suas imperfeições. Que graça teria se todos fôssemos iguais? Se todos gostassem da mesma coisa? Falassem sobre o mesmo assunto? Tivessem uma aparência semelhante? Seríamos como robôs. Sobrevivendo, sem nunca viver.

Querida Beth, era uma vez uma garota chamada Quinn. Ela tinha quinze anos, e não sabia nada sobre a vida. Ela sobrevivia todos os dias, sentindo parte de si se esvair a cada entardecer. Seus cabelos eram bastante amarelos, como os raios de Sol, e seus olhos verdes, como o oceano. Era tão bonita — mas nunca conseguiu ver isso. Ela não conseguia aceitar. Ela não sabia amar. Chegou até a pensar, num momento de delírio, que sequer sabia sentir. Ela só via o lado ruim. De si mesma. De todos ao seu redor. Então, ela fugia. Escondia-se. Perdia-se dentro de si mesma, com medo de encarar o mundo. Com medo de encarar o espelho. Ela vivia na escuridão.

Houve uma noite, contudo, que foi diferente das outras. Quinn não sabia dizer ao certo o que mudara, mas podia sentir acontecer. Até a Lua parecia mais brilhante. Até as estrelas pareciam ter aumentado de tamanho. Ela quis ignorar. Quis mesmo. Tentou fugir, mas acabou sempre no mesmo lugar. Tentou se esconder, mas não havia mais para onde correr. Foi quando aconteceu. Os primeiros raios de Sol surgiram no céu, e tudo se iluminou. A escuridão foi embora. E ela estava em pé, sozinha, exposta, sentindo os olhos de uma multidão invisível sobre si.

Foi quando ela apareceu. A última pessoa pela qual ela poderia esperar. Uma garotinha. Cabelos loiros, olhos castanhos, sorrindo. Ela vinha carregada nos braços de outra pessoa — uma bem baixa, morena, cabelos pretos e olhos que pareciam ser feitos de chocolate. A pessoa entregou a Quinn a garotinha, e disse:

— É sua.

E ficou lá, parada, sorrindo. Quinn segurou a garotinha em seus braços, e ela era tão quente que aqueceu seu coração. Foi quando Quinn percebeu o quanto estava com frio. Tinha se acostumado, quando não havia nada para aquecê-la, mas agora tremia, despertando para a vida. Todos aqueles sentimentos que ela fingiu não ter. Toda a dor que ela fingiu não sentir. Todo o amor que ela tentou esconder — escorregou pelo seu corpo, pela sua alma, e estava fora.

A garotinha se foi. Desapareceu de seus braços. Quinn se sentiu triste. Parte de si, entretanto, sabia que era para melhor. Sabia que aquela garotinha merecia mais. Merecia alguém mais experiente, alguém que já tivesse enfrentado o mundo, e não uma pessoa que acabara de descobri-lo. Mas ainda havia ela. Ainda parada a sua frente. Ainda sorrindo. Com a mão esticada em um convite. Um convite que ela sempre teve medo demais para aceitar.

Querida Beth, era uma vez uma garota chamada Quinn. Ela viu a escuridão se transformar em luz. Ela aceitou o convite de uma estranha conhecida. Ela segurou sua mão, sentindo todo o frio ir embora, e sorriu, também. Então, ela andou. Passos tímidos. Receosos. Mas andou. Sem destino. Apenas por andar. Apenas para sentir seu corpo se movendo em um ritmo desconhecido. Para conhecer a si mesma. Para aprender sobre si mesma.

Houve, uma vez, uma garota chamada Quinn. Ela cresceu. Não teve mais medo. Não se escondeu. Não fugiu. Ela aceitou. Aceitou coisas sobre si mesma que nunca havia aceitado antes. Encarou-se no espelho e sorriu. Sentiu-se satisfeita por ser quem era. E então, descobriu a felicidade.

A vida não é fácil. Ninguém nunca disse que seria. Mas vale a pena ser vivida, se você encontrar algo pelo que viver. Seu olhar muda. Você se sente mais leve e mais pesado, com vontade de rir e de chorar. E é bom. Você percebe isso com o tempo. Você passa a apreciar a sensação de saber que o sangue está correndo pelas suas veias, e que seu coração está batendo no peito, firme e forte. Você encontra um propósito. E você quer mudar. Mudar todas aquelas coisas que você pensou que jamais poderiam ser mudadas.

Era uma vez uma garotinha. Seu nome era Beth. Ela nunca conheceu a mãe biológica. A única vez que elas se viram foi naquele momento, logo após o parto, em que Quinn a segurou em seus braços pela primeira e última vez. E Quinn a amou. Mesmo que Beth não soubesse. Mesmo que Beth fosse pequena demais para entender o que era o amor.

Querida Beth, meu nome é Quinn. Eu sou sua mãe biológica. Eu cometi mais erros do que você possa imaginar. Fui medrosa. Fui covarde. Escondi-me quando deveria ter me arriscado. Fugi quando deveria ter ficado. Eu mudei. Eu fui ensinada a mudar. Por ela. Rachel. A garota que me estendeu a mão. A garota que me ensinou a acreditar. E eu acreditei.

Mas há um motivo por trás de tudo, Beth. O meu motivo é você. Você é o raio de Sol que me guia nos dias mais escuros. Você é a perfeição que surgiu de um ser imperfeito. Você é tudo o que eu tenho de mais precioso, embora sequer seja realmente minha.

Querida Beth, um dia você vai crescer. Vai ter quinze anos, como eu tive, e vai sentir que não sabe qual é seu lugar no mundo. Isso é perfeitamente normal. Só peço, por favor, que não cometa os mesmos erros que eu cometi. Não tenha medo de viver. Tenha medo de morrer sem jamais ter vivido. Arrisque-se. Seja quem você quer ser. A hora é sempre agora, porque nunca sabemos se realmente haverá um amanhã.

Querida Beth, apenas no caso de não haver um amanhã, há algo que eu quero que você saiba. Algo que eu sempre quis que você soubesse. Algo que eu imploro que você nunca esqueça.

Eu te amo.

Afetuosamente,

Quinn.


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Notas finais do capítulo

:)



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