Os olhos carmim rodaram por sobre o quarto bagunçado. Levou as mãos finas e frias até as mechas albinas e as bagunçou, levemente. Quantos anos havia agora, dezessete? Ah, sim. A foice demoníaca esfregou os olhos e bocejou, decidindo levantar logo da confortável e tão chamativa cama.

Maka estava como sempre: uniforme branco e azul, os dois típicos rabos de cavalo e aquele sorriso doce e simpático no rosto. Havia terminado de preparar os típicos ovos mexidos e as três panquecas como café da manhã. A Albarn cumprimentou o jovem e sentou-se ao seu lado. Puxou a cauda e com toda a diversão do mundo, desenhou uma carinha em sua panqueca, logo seguindo para a panqueca do companheiro e da bruxa felina. Ah, como Soul havia acostumado com as manias da parceira. Com as idiotices da gata e a loucura grátis de seus colegas de classe. Mas lembra-se quando nem tudo era tão fácil assim? Quando Maka era uma tábua; Black Star era humano; Kid era só um garoto... Ah, nostalgias horríveis.

Hoje era o último dia no Shibusen. O novo shinigami resolveu dar uma festa em comemoração à derrota de seu irmão e por seu formado. Soul seria o último Death Scythe, já que as armas agora estavam proibidas de comerem almas de bruxas, por ordem de Kid. O Shinigami, dizendo suas honrosas palavras e manias, convidou-o para tocar a última música. Obviamente o albino hesitou. Por isso, ele precisou procurar rapidamente entre a plateia o rosto de sua tão amada parceira. E lá na frente, ao lado do azulado convencido e da amiga solidária encontrou o sorriso tão reconfortante da loira. E isso foi o bastante para transformar sua perna em seu clássico piano e tocar a mais doce das melodias: a melodia dela.

A festa seguiu normalmente, sendo levada para o salão de celebração do Shibusen. O albino de olhos sangrentos continuou ali, sentado, olhando o céu estrelado. Chutava ser umas oito ou nove da noite. Sentiu a vibração da alma de sua parceira coincidir levemente com seu corpo. Olhou-a de canto, sorrindo, Maka fazia questão de sorrir também, olhando o céu.

– Hey, Soul.

O garoto apenas continuou olhando o céu, forçando sua voz num murmúrio para a parceira ao lado. Maka deitou no chão e soltou um riso baixo.

– Chegamos tão longe, não é? Lembra-se quando éramos mais novos e nunca nos dávamos tão bem assim? Eu adorava ouvir suas canções e você sempre odiava que eu as ouvisse, até mesmo nas lutas. Nossas almas desregulavam no meio da sincronização de almas e blé... Ia tudo embora. – Soul sorriu. Não era novidade que agora aquelas lembranças tão nostálgicas de sua adolescência com a menina fosse aparecer. – Nunca acreditaram que daríamos certo, lembra?

Maka se sentou e sorriu. O albino riu baixo, voltando seu olhar ao dela.

– E pensar que viemos tão longe assim...

A mão quente da garota encontrou-se com a pele gélida do albino, apertando-a forte.

– Vai conseguir se virar sem mim?

Maka o olhou com os olhos mais caridosos do mundo. Estava perdendo um irmão, uma paixão, um amante e parceiro por o qual sempre conviveu. Soul certificou-se de lhe dar o melhor sorriso esnobe do mundo, mostrando a fileira de dentes afiados e perfeitamente brancos, de causar inveja.

– Aposto que sim, Albarn. O problema mesmo é você se virar só com a Blair aí.

A loira riu e levantou-se, decidira voltar à festa. O albino olhou a pequena lembrança da menina em suas mãos. Ah, como aquele dia tinha sido terrível em tirar aquela foto. A primeira missão. O primeiro dia juntos. Maka era a pior parceira que alguém poderia querer ter tido.

E como aquilo era perfeito. Com certeza passaria noites em claro olhando a foto. Ah, como nostalgias são horríveis.