Peeta voltou para casa há uma semana. Violet nunca entendeu direito o porquê de o pai ter ido embora –eu também nunca expliquei- mas ela está toda animada de tê-lo em casa no dia dos pais. Fico olhando-a quando ela abre a porta e dá de cara com ele. Peeta reduziu o horário da padaria e colocou vários funcionários, assim ele sempre está em casa quando ela chega. Ele passa muito mais tempo com nós duas.

Violet entra correndo em casa e pula no colo de Peeta. Ele a coloca para cima e a roda no ar. Fico feliz que o velho Peeta esteja aqui de novo. Brincalhão, bobão e cheio de amor.

–Para papai! Vou derrubar seu presente no chão- Violet grita rindo.

–Então eu vou parar- ele a coloca no chão e fica-a encarando com um sorriso no rosto.

–Feliz dia dos pais! –ela diz entregando uma caixinha nas mãos dele- a gente fez isso na escola sexta-feira, mas eu e a Becca combinamos de entregar só hoje, no domingo- Violet começa a tagarelar sobre como é difícil esconder uma coisa, nem Peeta e nem eu estamos prestando atenção. Ele está olhando o presente, pasmo. Violet desenhou numa caneca um retrato de Peeta e ela decorando bolos. Dá para entender nitidamente o desenho. É incrível como uma garota de cinco anos fez algo tão bem elaborado.

–Caramba! –diz Peeta- Ficou muito bonito garota. Obrigado –ele sorri ela dá um beijinho em sua bochecha- mas agora já é tarde e você tem que ir dormir.

–Ah papai!-ela fica emburrada, mas acaba subindo.

–Feliz dia dos pais- eu digo baixinho entregando uma caixinha a Peeta.

–Por que você está me dando um presente de dia dos pais? –pergunta ele. Faço uma cara forçada de quem não sabe de nada. Ele abre a caixa e faz cara de quem não está entendendo nada. Quando ele tira o teste de gravidez de dentro, as coisas parecem se encaixar - Você tem certeza Katniss?!

–Tenho –digo com o rosto escondido por um envelope do hospital. Peeta abre o envelope e lê rapidamente. Ele começa a me beijar e depois nos abraçamos. Apoio a cabeça em seu ombro e sinto seu calor irradiar pelo meu corpo.

–Que Violet não me escute –ele começa a sussurrar- mas esse é o melhor presente que eu poderia ganhar.

–Quando nós vamos contar a ela? –pergunto com um pouco de medo

–Logo –ele responde. E assim nós fazemos logo depois que Violet voltou da escola na segunda-feira nós dissemos a ela. Ela ficou radiante de felicidade. Disse para todo mundo na escola que seria irmã mais velha. Parece que eu tive medo à toa.

Peeta não parece acreditar muito na capacidade do hospital no Doze de modo que no meu quinto mês ele me obriga a fazer os exames na Capital. Talvez ele esteja certo, a Capital possui mais recursos.

Chegando ao hospital, sinto falta da simpática doutora que me auxiliou quando estava grávida de Violet. O médico que veio fazer meu ultrassom é um homem carrancudo que fica o tempo inteiro calado.

–É um menino –diz ele sem emoção e sai da sala.

–Um menino? –Peeta parece radiante com a notícia- Isso é o máximo.

–Sorte sua que a Violet ficou na casa da Madge. Você pagaria caro por esse comentário –digo rindo. Todos nós sabemos que Peeta ama Violet, mas a ideia de ter alguém como você deve deixá-lo extasiado. Eu sei bem como é isso, me senti assim ao longo dos anos, quando Violet crescia. Hoje sei que ela se parece demais comigo. Não só a aparência, mas principalmente o fato de ser teimosa. Enfim, acho que Peeta vai poder saber o que é isso.

Peeta começa a dar ideia de diversos nomes na viagem de volta, para ser sincera não gosto de nenhum deles, quero algo que faça lembrar Peeta, um nome parecido com o dele.

Quando chegamos ao Doze vamos direto à casa de Gale e Madge para buscar Violet, e aproveito para fazer uma proposta.

–Por mais que eu saiba que isso vai deixar Effie completamente chateada –começo em tom explicativo- eu queria que vocês dois fossem padrinhos do nosso filho.

–Então é um menino? –pergunta Gale. Peeta faz que sim com a cabeça

–Mas é claro que a gente aceita Katniss –diz Madge empolgada. Gale ri e murmura algo como “já que você já se decidiu” para mim. Disfarço a risada.

Acordo de madrugada passando mal. Peeta levanta assustado achando que já está na hora, mas o tranquilizo dizendo que não tem nada a ver, estou apenas de sete meses. Pela manhã o mal-estar continua e Peeta me leva ao hospital logo depois de deixar Violet na escola.

Eu sinceramente não aguento mais esperar. Peeta andando de um lado para o outro no meu quarto do hospital não está ajudando muita coisa. Faço-o sentar na poltrona ao lado da cama. Ele começa a entrelaçar os dedos e logo depois desfazê-lo. Sua respiração chega a estar ofegante. Ele está muito mais nervoso do que eu.

–Peeta –eu o chamo baixinho- não é nada demais. Vai ficar tudo bem, sério- ele apenas balança a cabeça em concordância, mas percebo seus dedos ainda ativos. Por fim uma enfermeira entra no quarto.

–Tenho uma boa e uma má notícia –congelo, mas logo o fato de existir uma boa notícia me faz deixar para lá o medo de perder meu filho. Aparentemente Peeta não tem a mesma certeza – a boa é que o bebê está ótimo –Vejo a expressão de alívio no rosto de meu marido. Eu mesma fico aliviada por ter certeza. Peeta explode

–Qual é a má notícia?!- pergunta ele sem paciência.

–Bem, a senhora Mellark está apresentando grandes oscilações de pressão. Basicamente a pressão dela pode ficar muito alta e cair de uma hora para outra. A gravidez é de risco- vejo o choque no olhar de Peeta, seja lá o que ele imaginava que seria, ele não esperava por isso, nem eu. A enfermeira nos deixa a sós.

–Quero ver minha mãe- digo num tom de desespero- No Distrito 4, ela trabalha lá ela vai saber o que fazer- Peeta ainda está anestesiado, mas concorda comigo.

Recebo autorização dos médicos para fazer a viagem, Violet fica um pouco chateada por ter que ficar um tempo longe de seus amigos, mas logo compreende. Isso ela também herdou de mim. Proteger quem ela ama, independente das consequências. Pensando bem, Peeta também tem muito disso.

Minha mãe me dá toda a assistência possível e Peeta se recusa a sair um minuto de perto de mim. Até Violet entendeu a gravidade da situação. Não digo a ninguém, mas estou com medo. Já senti uma vez a dor de quem ama alguém que nunca veio ao mundo. Não quero sentir isso de novo.

Quase nunca consigo dormir, mas nas poucas noites que isso acontece, acordo assustada agarrando a mão de Peeta como se fosse quebrá-la.

Oito meses e meio se passam e minha mãe muito sabiamente decidiu que eu vou passar o fim da gestação no hospital. Isso é muita sorte, porque quando começo a sentir dores intensas e contrações fortes não espero quase nada antes de entrar no centro cirúrgico.

Acordo me sentindo um pouco fraca. Peeta está sentado na poltrona ao meu lado. Ao mesmo tempo que ele segura minha mão, seus olhos se concentram no pequeno ser no berço ao lado.

–Olá –digo me dirigindo aos dois.

–Oi –Peeta responde sorrindo- quer segurá-lo?

–Estou me sentindo um pouco fraca para isso. Traz ele para perto de mim? –Peeta pega nosso filho com o maior cuidado do mundo. Seu cabelo é loiro como o de Peeta e pelo que consigo enxergar, seus olhos são castanhos. Ele é adorável –Ele é lindo –digo. Percebo que Peeta tem uma lágrima presa aos olhos – Lindo como você –completo. Vejo-o sorrir.

–Você já escolheu um nome Katniss?

–Sim, nenhum daqueles que você me disse. Eu quero que nosso filho tenha um nome parecido com o seu. Juro que pensei em colocar o mesmo nome, mas ia ficar confuso –Peeta ri- Achei que ele seria parecido com você então precisaria de um nome parecido também. Agora eu tenho certeza. Ele pode muito bem se chamar Peter Mellark. É lindo não é?

–Eu acho perfeito –diz ele pausadamente. Peeta me encara com um sorriso no rosto por um tempo, até que decide colocar Peter de volta no berço. Ele lhe dá um beijo na testa e ouço-o sussurrar- Eu te amo meu filho.