A Caçadora - A Supremacia escrita por jduarte


Capítulo 28
Vivacidade - £


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas bonitas, sim, tia Ju demorou UM SÉCULO pra postar,
Sim, não me matem... ahahhaha
Enfim, espero que gostem do capítulo.
Amo vcs,
Ju.



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O suor escorria pela minha testa e por minhas costas, tornando minha pele pegajosa e nojenta e fazendo minhas vestes grudarem ainda mais em meu corpo. Era possível ver os hematomas surgindo na pele clara de meu braço e ainda mais em meus dedos. Os alvos a minha frente estavam completamente destruídos, exceto por um, que teimava em continuar de pé, tentando-me.

Apontei a balestra para sua direção, mirando certeiramente no meio, e apertei o gatilho, vendo o alvo desaparecer.

Palmas eclodiram atrás de mim e eu me virei assustada.

Uma mulher de cabelos loiros escuros e roupas um tanto quanto parecidas com as minhas, me encarava quase curiosa. Quase.

— Foi um ótimo tiro, mas sua mira está desalinhada para a esquerda. Tente pisar mais para fora quando atirar, talvez isso arrume a pontaria.

Engoli seco.

Olhei atrás dela, na imensidão escura que tinha se tornado a empresa, depois de ter ficado tanto tempo até mais tarde, vendo somente uma luz acessa além da do meu lado de treinamento com armas. Eu estava sozinha, ou assim pensava.

— Mas acho que consegue derrubar pelo menos um Berrador com isso. – ela finalizou achando graça, sorrindo de canto. Aquele sorriso fez com que eu respirasse aliviada. – É um prazer finalmente lhe conhecer, Helena. Meu nome é Adelaide, serei sua “instrutora” daqui para frente.

Chacoalhei sua mão estendida para mim e depois limpei o suor da testa.

— Berradores não são derrubados com muita dificuldade. – comentei.

Ela sorriu.

— Nisso você tem razão, mas a certa arma pode facilitar muito mais o seu trabalho e deixar muito menos evidência.

Percebendo minha ligeira confusão, Adelaide foi até a bancada de armas e retirou uma balestra muito parecida com a que eu estava usando, substituindo-a em minhas mãos.

— É igual. – minha voz se perdeu.

— Não. Essa é a Minnie, minha queridinha. A flecha dela atinge 40 km/h e tem pressão o suficiente para fazer um buraco na testa de qualquer demônio que ouse chegar muito perto.

Adelaide tirou Minnie de minha mão e colocou outra arma, desta vez mais pontuda e afiada, com espinhos apontando para diversas direções.

— Esta é KF12, da última demanda que a empresa fez. É para atacar quando a criatura estiver distraída, muitas vezes de costas. Uma vez que enfiar isso no corpo do demônio ou qualquer coisa que queira matar, os espinhos são ativados e se grudam na parte interna do corpo, dilacerando de dentro pra fora.

Meu estômago se remexeu inquieto.

— Isso é meio cruel demais.

Ela descarregou a arma e ela voltou a ser somente igual a outras, insignificante.

— Como matamos um demônio, Helena? – Adelaide perguntou. Sua voz soava como sinos em meu ouvido, mas a resposta perfurava meu corpo todo como mil flechas.

— Com tiros.

— Não só com tiros, Deus do céu. A maioria dos demônios tem uma “reserva” para continuar a lutar mesmo quando estão machucados. Isso acontece porque eles são criaturas imortais – ou parcialmente – e tem que se curar sozinhas.

Coloquei as mãos para trás, mantendo minha postura correta, com as plantas dos pés muito bem apoiadas no chão.

— As pessoas não sabem disso, Helena, mas há muitas maneiras de se fazer um demônio virar humano, ou até mesmo um anjo caído. Apesar de Polux ter sido o último anjo encontrado, fizemos vários testes com um amigo dele, há muito tempo atrás.

Meu coração se apertou quando ela disse o nome, mas tive que me manter imparcial. Não podia estragar tudo, não podia correr o risco de ser mandada embora por traição.

— O que fizeram? – perguntei enquanto engolia o bolo que tinha se formado em minha garganta.

Ela sorriu de canto, mas ainda parecia amargurada.

— Medo.  Eles fizeram o pobre anjo ter tanto medo da morte, que ele voltou a ser humano.

Eu não tinha certeza se gostaria de saber quem era o “eles” que Adelaide se referia, mas algo me alertava que eu não deveria perguntar.

— E depois? O que fizeram com ele depois?

Limpando as mãos na calça enquanto pegava outra arma, desta vez uma espada longa e fina, Adelaide olhou para mim profundamente.

— Fizeram a mesma coisa que teriam feito com você se Polux não tivesse morrido; eles o torturaram o suficiente para que ele implorasse pela morte.

Arrepios de nojo passaram por meu corpo, mas apesar de ter uma vontade louca de devolver a lâmina de onde pegou e continuar seu treinamento em outra sala, sem a interrupção de Adelaide.

— Fitch não faria isso. – minha voz foi mais rude do que eu pretendia, e por isso mesmo me corrigi mentalmente. Não devia deixar nenhuma brecha para suspeitas, e principalmente perto de Adelaide.

Eu não confiava nela.

Adelaide sorriu solidária e tirou a blusa escura que vestia, ficando somente com uma regata branca e um top. Uma cicatriz horrenda que vinha de seu ombro até seu cotovelo, cobria seu braço. Ela não percebeu que eu olhava e eu fiz de tudo para não encarar a cicatriz avermelhada, mas não recente.

— Eu não falei de Fitch, querida. Ele é o menor dos seus problemas.  Estou falando da Ordem. – sua voz era tão impassível que pensei duas vezes antes de virar os olhos para longe de sua cicatriz. Ela não parecia se importar em mostrá-la.

Meu rosto era impassível, mas o turbilhão de sentimentos que percorria minhas veias e se alojavam em minhas entranhas eram incontáveis. Eu não tinha noção da capacidade da Ordem. Tinha sido avisada: “A Ordem não dá segunda chances”.

Coloquei a mão na boca em choque.

— Como sabe dessa história, e das decisões que a Ordem tem? Eu não entendo... – não consegui terminar.

De repente tudo parecia frio demais. Longe demais.

Irreal demais.

— Helena, eu faço parte da Ordem, como uma conselheira. Eu salvei você. – suas palavras me assustavam cada vez mais.

Minhas sobrancelhas se juntaram em confusão.

— Como assim?

— Polux está bem. Está seguro. Ele precisava desaparecer, então eu fiz com que ele sumisse do mapa. – ela mudou de assunto, mas não de tópico.

Apertei meu dedo no lugar onde o anel deveria pesar e meu coração bateu mais forte.

— Mentira. – disse mal escutando minha própria voz.

Adelaide se aproximou de mim calmamente, e eu fiz um esforço enorme para simplesmente não virar as costas e sair correndo. Essa não era uma atitude que uma caçadora deveria ter. E eu não viraria as costas para Adelaide.

— Não seja tola, Helena, acha mesmo que deixariam que enterrassem Polux em um cemitério que todos podem entrar? Que só tem criaturas maléficas e prontas para fazer qualquer trato em troca de um corpo mais jovem? – ríspida, como se estivesse falando com uma garotinha, Adelaida disse. Quase senti sua fúria emanando dos poros, mas a raiva não era direcionada a mim. Era como se ela estivesse frustrada consigo mesma.

Minhas batidas pareciam cada vez mais descompassadas e minha visão ficou turva. Eu tinha quase certeza que minha pressão estava caindo e eu estava prestes a desmaiar. Não me daria ao luxo de apagar quando estava prestes a saber de toda a verdade por trás do acidente.

— Eu vi a lápide dele. Eu chorei em cima dela. Tem um anjo entalhado... – me vi dizendo, com lágrimas nos olhos.

— É tudo fingimento, Helena.

Ofeguei e me obriguei a sentar no chão.

— Polux está vivo, mas se abrir a boca para contar pra qualquer um, não estará mais. Está entendendo meu raciocínio? A Ordem ainda não acreditou que ele morreu.

Abracei meus joelhos em desespero.

— Não vou falar nada. – murmurei.

Ela deu dois tapas de leve em minhas costas, como se estivesse me acalmando.

— Espero que não.

O silêncio que se instalou entre nós era quase irritante. Eu queria perguntar mais sobre o estado de Polux, mas não sabia se era o certo a fazer. Queria perguntar se ele sabia de tudo aquilo o tempo todo, e se já planejava me deixar para trás. Se o anel só foi uma maneira de me consolar por um tempo.

Vazio. Era a definição perfeita para o meu estado no momento.

Eu estava morta por dentro, mesmo com o pingo de esperança que voltava a meu peito, de poder ver Polux, ainda não conseguia acreditar que ele estava bem.

Só ficaria quieta quando finalmente o visse são e salvo.

— Eu quero ver Polux. – disse depois de um tempo.

E hesitando de leve, mordiscando o interior do dedo em sinal de ansiedade mórbida, ela me encarou e disse:

— Ainda não é hora, Helena. Polux não pode ser visto ainda, e com certeza não revelarei o esconderijo dele para você.

Apesar de suas palavras terem machucado, assenti. Eu preferiria ficar mais um tempo sem ver Polux do que deixá-lo à deriva de gente perigosa e que o queria morto.

Não colocaria a vida de meu noivo em perigo.


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Notas finais do capítulo

Continua?



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