Olhei freneticamente para os lados, ansiosa por encontrar alguém que tanto queria. Sabia que Katerina sempre ia à cidade para comprar novos tecidos e linhas para suas costuras, e talvez pudesse encontrá-la ali e fazê-la ir para casa comigo. Longe daquele rapaz esquisito que era Lorde Niklaus. Longe daquele homem que perturbou meus sonhos.
Era final de tarde, e toda a cidade se preparava para entrar em suas casas aconchegantes e se esconder da escuridão da noite. E aqui estava eu, tentando proteger minha amiga de um mal desconhecido por mim.
Andei, andei e andei, e ela não estava entre as pessoas.
Desesperançosa decidi voltar para meu cavalo amarrado a alguma árvore, rezando para que ela estivesse bem.
Perdida, era como eu estava. Becos e vielas imundas, cheiros fétidos estavam começando a me causar pânico. Maldita teimosia! Maldita hora para se procurar por alguém! E como se não bastasse, entrei num beco sem saída, uma muralha se estendia atrás, com lixo, e pela luz fraca do sol que já estava se despedindo, pude ver ratos amontoados em cima da nojeira. O cheiro ruim era intenso e repugnante.
Tapei o nariz e a boca com um pano de seda, e recuei, pronta para sair dali e encontrar meu cavalo, mas algo duro se chocou contra minhas costas e me virei num átimo, empalidecendo ao ver que não era uma outra parede ou algo do tipo.

– Você! - exclamei numa voz fraca, recuando, agora de encontro aos ratos.

– Ora, Lady Caroline, é claro que sou eu. Esperava por outra pessoa? - perguntou cinicamente, Lorde Niklaus, com um sorriso torto.

– Katerina. - balbuciei atordoada. - Aonde ela está?

– Katerina está aonde deve estar. Comigo. - disse agora, perdendo todo o ar da falsa graça que tinha.

– O que você fez com ela? - questionei. Ele se aproximou de mim e recuei. - Fique longe de mim, monstro. - um sorriso diabólico preencheu seu rosto magro e arfei ao ver que sua face estava se transformando, como o monstro dos meus sonhos.

– Eu recebi as cartas que você mandou para ela. Devo admitir que fiquei surpreso com seu recente descobrimento.

– Se ousar fazer algum mal à ela...

– Preocupe-se com seu pai, Caroline. Vejamos se ele ainda estará vivo quando chegar na sua casa.

– O que? - minha voz não passou de um sussurro.

– Veja por si mesma e aprenda a não se intrometer em assuntos de adultos. Até breve. - sorriu ele mais uma vez, e sumiu rápido demais para que eu enxergasse.
Não pensei, não fiz delongas, apenas puxei a barra do vestido e sai em disparada. Era claro que suas palavras eram de pura ameaça. E se meu pai... Oh, não!
Corri o que pareceu ser uma maratona, não encontrando meu cavalo. Correr agora era uma questão de sobrevivência, e foi o que eu fiz, corri até que o folêgo me faltou, corri até que meus pulmões arderam, até que minhas pernas queimaram.
Já era noite quando atravessei os portões do castelo de minha casa, e corri até a escadaria, ofegante.
Empurrei as portas bruscamente, e tudo o que pude ver foi o escuro, nada além disso.

– Papai? - chamei, respirando fundo. Nada. Nenhum barulho... nada, até que tropeçei em algo que me fez cair no chão. Molhado, era como estava. Confusa me levantei, tomando cuidado para não cair novamente, e tateando às cegas, fui até o armário aonde estava as velas e os fósforos, e acendendo a luminária, iluminei o local.

– Pai?! - perguntei num fio de voz ao ver que no que eu tropeçara, era nada mais do que Bill, caído ao chão, morto, com uma poça de sangue escarlate que vazava de seu pescoço.