A ceia estava silenciosa, o que não era nenhuma novidade. Todos ao meu redor estavam com o semblante sério, e Elizabeth continuava com aquela carranca desagradável que fazia o favor de mostrar à todos. Exceto Sammuel, meu irmão caçula de apenas 6 anos, que estava absorto ao ambiente sem vida, a julgar pelo seu rosto, parecia que estava tendo um ótimo dia, diferente de mim que fitava o nada, como quem não tem o que fazer, o que era verdade, ser uma lady implicava em ter uma certa “mordomia”, mas isso não me agradava, muito pelo contrário, me irritava ficar todos os dias sendo tratada como uma rainha, quando na verdade eu era apenas uma garota doente.

A comida à minha frente estava intocável, nem mesmo meu vinho preferido eu sentia vontade de apreciar. Parecia que a fome havia se esvaído de mim pelos poros.

– Care, não irá comer? – indagou meu irmão, me olhando com sua face angelical e despreocupada.

– Estou sem fome, Sammy. – respondi, o chamando pelo seu apelido que eu dera desde quando ele ainda era um bebê, e que irritava Elizabeth profundamente.

– Pois trate de comer, não gastamos tanto dinheiro para nada. – Liz disse dura, sem me fuzilar, o que me deixou mais aliviada. Fitei meu pai como forma de pedir ajuda, mas o mesmo apenas me olhou e voltou a comer, como se nada tivesse acontecido. Céus... Como eu odiava o poder que minha mãe tinha sobre meu pai! Ele mais parecia um escravo submisso à suas ordens! – Caroline, estou falando com você. Coma. – ordenou insistentemente. Que escolha eu tinha? Peguei o talher e com um suspiro fundo, comecei a tomar o café da manhã, que descia como pedra por minha garganta fechada que se recusava a aceitar alguma comida.

Meu pai sorriu felizmente ao ver que eu havia terminado de me alimentar e pediu para Joana retirar os pratos.

– Filha, tenho uma boa notícia! – Boa notícia? Desde quando eu não recebia uma boa notícia? O fitei curiosamente, esperando que ele falasse. – Temos um baile para ir! – De todas as pessoas do mundo, Bill sabia mais que ninguém, talvez menos que Katerina, o quanto eu odiava bailes. – Ora, Caroline, não faça essa carranca! Será divertido, irá gostar! – disse empolgado.

– O que será dessa vez? – questionei tensa.

– Trevor passou aqui para entregar um convite de aniversário, um lorde de muita importância estará comemorando seus 22 anos. – Elizabeth disse, pela primeira vez parecia presunçosa. Virei-me para Katerina e sorri.

– Quer vir? – perguntei animadamente. Só eu sabia o quanto ela adorava bailes.

– De modo algum! Ela é uma governanta, irá nos envergonhar! – Liz recusou apressadamente. Virei-me e encarei meu pai, sem implorar com os olhos.

– Tudo bem, eu ficarei aqui com ela, podem ir. – levantei-me da mesa, jogando o pano de limpar os lábios na mesma.

– Caroline...

– O que, papai? – questionei. – Katerina faz parte família agora, se ela não for, eu também não vou. Assim evitamos discussões. – sibilei irritada. – Ou vocês a levam ou eu não irei. A escolha é de vocês.

–Tudo bem, pode ir Katerina, afinal, foi tu quem foi a convidada formalmente. – meu pai disse com um sorriso reservado. O encarei incrédula com a declaração e soltei, sem pensar.

– Por favor, não me diga que ouvi isso! Iriam deixa-la aqui quando na verdade ela quem foi a convidada?! Sinceramente, pai... eu pensei que tivesse coração.

– Caroline, volte aqui! – Elizabeth disse alterada quando dei as costas. Ignorei-a e subi para meu quarto, nervosa.

Eu estava certa, a democracia havia passado correndo às pressas por aquela casa!