Tentando não demonstrar qualquer incômodo, Wanda pegou uma bandeja pouco abastecida de biscoitos amanteigados e balbuciou qualquer desculpa para sair da sala e se direcionar à cozinha, onde todos os pratos de Natal preparados por Sarah Wilson foram adiantados mais cedo.
Sem pensar muito, apenas deixou a bandeja sobre a bancada de pedra clara do armário e atravessou o cômodo grande, saindo pela porta lateral da casa simples, mas aconchegante que parecia ter feito parte da infância de Sam. Ele fizera questão que confirmasse presença e depois insistira que, realmente, não deixasse de ir, pois sabia que Wanda estava sozinha. Todos sabiam disso sobre ela - “vamos lá, irmã, aqui não deixamos ninguém sozinho nessa época do ano”.
O novo Capitão era tão como Steve Rogers que o escudo no porta-malas no carro, que vira mais cedo quando a buscara no aeroporto, jamais poderia ser considerado um acaso - havia alma demais em Sam, assim como percepção sobre a realidade de todos ao redor. Ainda que não tivesse qualquer super poder, parecia complicado esconder qualquer coisa dele por muito tempo, engoliu em seco apertando os dedos em torno do pescoço tenso.
Havia estado ali por todo o dia, tentando interagir normalmente com a família de Sam, pessoas absolutamente normais, que, diferente deles, possuíam rotinas absurda e invejosamente comuns. Sarah trabalhava no barco da família, seus dois filhos iam à escola, brincavam com outras crianças, faziam atividades extracurriculares na comunidade, viviam num lar seguro e o novo namorado, Mason, ainda tentava se encaixar na dinâmica caótica de todos - especialmente com Sam e Barnes, aparentemente um agregado permanente, combinando comentários internos o tempo todo.
Porém, ainda que fizesse seu melhor para se colocar por inteiro naquele dia, naquela energia que parecia transpor a todos no único dia do ano em que os problemas eram colocados de lado em nome da comida, dos presentes, da familiaridade, das músicas e do espírito natalino, sentia-se presa em sua própria mente - lembranças de seu antigo e inexistente lar em Sokovia se misturando à realidades idealizadas por sua própria mente envolvendo Billy e Tommy, principalmente devido às brincadeiras e provocações de AJ e Cass.
Eles a lembravam tanto suas próprias crianças que, em certo momento, vê-los brigando no tapete da sala por um jogo qualquer de videogame fez seu peito comprimir em vazio e falta. Se fechasse os olhos, como fazia naquele instante, podia sentir a exata textura dos cabelos de Billy como se deslizasse por seus dedos e o perfume de Tommy, quando ele a abraçava forte pela cintura, tão mais sentimental que o irmão. Nesses momentos, não conseguia mensurar como dois seres criados unicamente pelo poder de sua mente poderiam ser tão insubstituíveis, tão seus em essência.
— Você sabe que não neva no Natal da Louisiana, não é?
O tom tranquilo a fez abrir os olhos abruptamente, em contraste. Tentando ignorar as sensações que quisera deixar para trás, na sala, afinal ainda teria o resto do fim de semana para se acostumar à toda aquela dinâmica familiar natalina, se virou à figura sucintamente apoiada contra o batente da curta varanda lateral que dava para a cozinha. Barnes era sempre silencioso, especialmente em comparação à dinâmica espontânea da família de Sam, porém, parecia sempre ter uma opinião afiada e bastante firme sobre tudo ao seu redor - inclusive sobre ela, sabia.
— Posso fazer nevar.