–- ...Então todos foram condenados a viver presos dentro de um espelho e acabou.—Terminou com som de alívio.

–- Nossa que história. Dessa vez você se superou na rapidez. – O comentário não escapou.

–- Ei, eu sou um bom contador de histórias. – Marcus tentou entrar na brincadeira soltando o deboche.

–- Sei... – Jogou aquele olhar de desconfiada.

–- Já está tarde. É melhor você ir dormir.

–- Acho que você que está precisando de uma boa cama - comentou.

–- Então boa noite. – Sorriu. Inclinou-se um pouco e beijou-lhe a testa.

–- Boa noite, pai. -- Disse a pequena Laura depois de ter escutado a velha história fantástica de sua vó.

Depois de um tempo só ouvindo, Laura respira fundo, se inclina um pouco e dá um leve beijo de despedida em seu pai que está quase caindo ao seu lado na cama de sono.

Logo que ele foi embora, ela rapidamente retirou seu diário do criado mudo e começou a escrever tudo o que estava sentindo.

“ Querido diário,

Acredita que novamente o meu pai me contou aquela história louca que a minha vó contava para mim? Então, por incrível que pareça eu me lembrei muito dela durante o dia e me deu vontade de escutar essa história que a tanto tempo que não ouvia. O engraçado é que ele estava com tanto sono que acabou ficando chata.

É, eu sempre dizia isso quando ela insistia em contar história justamente no momento em que eu estava com sono. Ainda me lembro de quando ela me deu o meu colar. Eu sei que depois disto nunca mais quis tira-lo. Quando estou com ele sinto que ela está perto de mim, me protegendo. Bom, o meu dia basicamente foi isso, lembranças. “

Ao terminar de escrever em seu diário Laura o fecha com calma e o coloca novamente no criado mudo que fica ao lado de sua cama. Depois de ter apagado a luminária dormiu profundamente. Durante a noite sonhos a invadiram fazendo que ela acordasse todos durante a madrugada.

–- O que houve minha filha? - Violeta bateu a porta. Ao chegar mais perto passa a mão na cabeça da garota e logo Marcus aparece abraçando as duas.

As lágrimas de Laura escorrem pelo pequeno rosto. Ela está em choque e a única coisa que consegue fazer é chorar. Sem conseguir falar direito, tenta dizer alguma coisa:

–- Eu...eu...sonhei...

–- Com quem? – Questionou. -- Laura o que aconteceu? – Disse Marcus sentando-se ao seu lado e segurando a sua mão.

–- Com...a minha vó... – Gaguejou

Ainda assustada aos poucos tenta tomar um pouco de chá que foi trago por sua mãe para tentar se acalmar. Depois de alguns goles, Marcus meio confuso, questiona Laura sobre o sonho, para saber o que estava acontecendo com sua pequena.

– Laura, como foi esse sonho?

Achando estranho, Laura respirou fundo e começou a falar:

– Bom, eu estava em um bosque com uma trilha e andava sem parar até que eu avistei um castelo e entrei nele. Eu andei um bom tempo dento do castelo e acabei achando um lindo jardim com um pátio no meio. Fiquei lá por um bom tempo. Fiquei distraída olhando para a entrada até que de repente senti uma mão me tocando. Quando olhei para ver quem era, vi a minha vó. Ela estava diferente com umas roupas de época medieval. Ela se sentou ao meu lado no banco que eu estava e começamos a conversar. Ela me disse muitas coisas que eu não entendi direito – Terminou olhando seriamente para Marcus.

Laura não conseguia terminar falar o que tinha acontecido no sonho, pois estava confusa de mais. Porém Marcus a deu confiança para continuar.

–- Ela disse alguma coisa?

–- Eu só me lembro disso. – Ficou em silencio. - Pera! – Se levantou um pouco - Ela disse uma coisa.

–- E o que era?

–- Ela me falou que o mundo de Galampéia estava em perigo e que precisava falar isso para você pai. – Marcus ficou intrigado - O que eu achei mais estranho foi que ela disse também que eu precisava ficar em segurança. E mais, eu precisava proteger a todo custou o meu colar. O que isso quer dizer?

Sem demonstrar nervosismo Marcus abraçou a filha.

–- Fique calma. Não é nada. Foi tudo um sonho. Está tudo bem. Volte a dormir. – Arrumou o cobertor e se levantou.

–- Mas eu não quero dormir sozinha. – Laura segurou a mão do pai.

Ele olhou para Violeta. Pareciam que diziam algo um para o outro só com o olhar. Nisso Marcus se decide:

–- Então eu durmo com você. Está bem? – Ele a olha.

–- Sim. – Laura abre grande um sorriso e abraça o pai que retribui.

Violeta voltou a seu quarto e deixou Marcus e Laura sozinhos no quarto da garota. Já quase dormindo novamente Laura abraça o pai, diz em um sussurro:

–- Pai.

–- O que foi Laura? – diz com os olhos fechados.

–- Obrigada por ficar aqui comigo.

–- De nada minha queria.

Ela adormeceu ao seu lado abraçada ao seu edredom. Foi à primeira vez depois da morte de sua avó que Laura tinha sonhado com ela.

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Quatro meses se passaram desde aquele dia. Violeta consegui um novo trabalho na secretaria do hospital onde evoluiu de cargo rapidamente. Seu esposo não ficou longe. Marcus se viu encurralado com o fato de seu pai ter morrido e precisava subir ao trono de direito, então inventou que teve transferência e tinha ficar longe. Laura aceitou numa boa, porém um vazio surgiu com o tempo.

Passaram-se dois anos depois daquele sonho terrível. Muita coisa mudou durante esse longo período.

Marcus já não parava mais em casa com a desculpa que tinha inventado, falando que estava cheio de trabalho e quando Laura perguntava a mãe qualquer coisa sobre o pai, Violeta desviava do assunto.

Laura continuou sonhando algumas vezes com sua avó que contava coisas loucas sobre aquela mesma velha história. Sentiu que tudo aquilo a tinha influenciado bastante e acabou se acostumando com a presença dela em sua mente. Porém a rotina continuou a mesma: escola, casa, amigos e seu diário.

“ Querido diário,

Eu nunca soube muito bem sobre a origem da minha família. A única pessoa da minha família que eu conheço era minha avó Selena que só aprecia no meu aniversário e que ainda antes de morrer me deu um colar. A minha família é um mistério total e meu pai nunca fala sobre isso. Para ele é só nós três. Hoje fiquei encucada com isso depois de uma pergunta sobre árvore genealógica. Eu não soube responder nada. Acho que a única coisa que sei é que a minha mãe foi abandonada quando criança e que tinha uma avó que só aparecia no meu aniversário para me dar coisas estranhas.”

Quando terminou de escrever Laura colocou seu diário de volta ao seu lugar e foi se deitar.

Durante a noite sonhos invadiram em sua mente a dominaram...

“Onde estou? O que estou fazendo aqui? Que lugar é esse? Acho que já estive aqui. Não sei quando, mas... Já sei é o mesmo lugar em que falei com a minha vó. Mas a onde ela está? Tenho que acha-la.”

Cada vez mais que sonhava Laura entrava mais em transe fazendo tudo tremer.

Pensando onde ela poderia estar novamente sentiu uma mão toca-la suavemente. Quando se virou viu o rosto familiar e logo abriu um enorme sorriso...

“ -- Vovó! Que saudade!- Laura deu um forte abraço em Selena.

–- Também senti muita sua. – Selena passava a mão carinhosamente na cabeça de Laura.

Laura ainda abraçada com sua avó observa o lugar e percebe que sempre que sonha elas continuam naquele mesmo jardim. A curiosidade de Laura a faz questionar sobre tudo o que esta acontecendo então decide perguntar:

–- Como viemos parar aqui? Eu queria ter te perguntado isso naquela vez em que nós nos encontramos.

–- Laura esse lugar é o seu mundo.

–- Que mundo?- Disse sem acreditar no que escutava.

–- O mundo do seu pensamento. Ele só existe dentro de você e está conectada a ele fortemente.

–- Mas como eu posso conversar com você se está morta? Por que você está aqui?- Perguntou tentando compreender toda essa conversa.

–- Porque você está pensando em mim. Eu só posso entrar aqui quando você pensa em mim e me deseja por perto.

–- Eu não entendo. – Laura se afasta.

–- Você ainda é muito nova para entender minha querida. Você não tem noção do poder que você possui.

–- Poder? Como assim? Não pode ser. – Continua afastada andando sem rumo de um lado para o outro.

–- Sim, poder. Um poder muito grande que habita dentro de você e que está louco para explodir. O fundamental é aprender a controla-lo. E para isso preciso que confie em mim.

–- Não acredito nisso que a senhora está falando.- Afirmou.

–- Laura na hora certa você acreditará e saberá o que fazer. E nesse momento quero que me procure novamente, pois sou a única que pode te ajudar. Muitos querem o que você protege. Uma raça inteira quer você morta e querem possuir o colar que você carrega. Por isso preciso que acredite no que eu digo.

–- E se eu não acreditar? O que pode acontece? – Deu de ombro.

–- Eu não sei o que pode acontecer com você e não sei se sobreviverá.

–- Isso não pode ser real.

–- Mas é. Pergunte a sua mãe sobre tudo o que falamos. Quero que questione seu pai sobre Galampéia, sobre a estratégia de guerra que eles estão montando com os magos em Naravis...

–- Naravis?

–- É uma fortaleza que os antigos governantes criaram para controlar tudo. Lá só fica os altos comandantes de primeira linha e os representantes mais poderosos de todo mundo de cada raça. É o lugar mais protegido de todo mundo de Galampéia. Seu pai fica lá quando fica fora de casa.

–- Se isso tudo é verdade, eu quero saber mais.”

Laura despertou do seu sonho com a luz do sol batendo em seu rosto claro e acabou iluminado seu olho azul céu depois de um belo som de despertador que deixou tocando até parar.

Ao levantar-se da cama, ela relembrou de tudo o que tinha acontecido no sonho e as revelações. Aquilo parecia ser tão real que nem chegava a ser apenas um sonho qualquer. As informações pareciam que estavam gravadas em sua memória como se fossem fatos. Tentar esquecer com certeza seria a melhor escolha, mas isso só seria possível se elas não ficassem martelando em sua cabeça sem parar. Porém a vida tinha que continuar, então deixou de lado toda aquela história, levantou-se, tomou um bom banho e foi se arrumar já que estava atrasada para o colégio.