Reckless escrita por Moony, Bela Barbosa


Capítulo 6
Capítulos 5 e 6 - Noite dos Reversos (Bônus)


Notas iniciais do capítulo

Galera... Eu passei TANTO tempo sem postar, que agora vieram dois capítulos juntos pra vocês. Cês não tem ideia do tanto que foi triste, mas incrivelmente necessário, esse tempo afastada da história. Prometo a vocês (prometo mesmo) que jamais deixarei isso acontecer de novo. Estou com PC, internet e celular agora tudo funcionando. E nas notas finais tem surpresa... agradeço de coração aos que me mandaram msg motivando a continuar Reckless. Vocês não sabem o tanto que vocês e essa história, a minha preferida, tem importância na minha vida. Eu sonhei muuuuuuuuito com a Eliza, o Daniel, o Jason, a Claire, o Ben e até o Andrew, que é um personagem novo da segunda temporada. SIM, vai ter segunda temporada! Eu já estou escrevendo a segunda parte da história da Lizzie... conto com vocês me acompanhando e prometo de coração jamais passar mais de uma semana e meia sem publicar aqui. Obrigada e me perdoem ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/442729/chapter/6

Jason era definitivamente um cara interessante. Ele gostava de filmes antigos, música country e atividades ao ar livre. Me contou sobre duas viagens que fez, uma ao Brasil e outra à Ibiza. Me maravilhei com tantas histórias legais que ele tinha para contar! Parecia ter vivido muito mais do que seus 20 e poucos anos denunciavam.

Me deixou em casa numa moto esportiva muito bonita da Harley Davidson. Segundo ele, eu fui a primeira garota a andar na garupa daquela moto, o que me fez sentir um tanto importante.

Ao me deixar, perguntei se ele não gostaria de descer e ver o Ben, mas Jason alegou estar muito cansado depois do dia de trabalho. Quando tirei o capacete para devolver a ele, o moreno tirou o seu também e antes que eu me despedisse, me puxou para um selinho rápido. Corei quando isso aconteceu.
Ainda com a mão em meu cabelo, me desejou boa noite e pediu para eu não esquecer do encontro sexta à noite.

Assenti com a cabeça e logo entrei em casa, alegre até demais com o fim do meu dia. Conhecer Jason tinha mudado um pouco o jogo.
Agora, lá estava eu acenando para ele da janela, já que ele fez questão de me esperar entrar em segurança para ir embora. Jason acenou de volta e deu a partida na moto para sair.

Suspirei contente perto da janela gerando uma certa neblina no vidro enquanto o homem moreno e bem encorpado que me dera carona virava um pontinho aos meus olhos.

— É o mesmo que te trouxe de carro aquele dia? - A voz de tia Maisie se fez ouvir e me tirou abruptamente dos meus pensamentos que envolviam eu, Jason e nenhuma camisa nele.

Ajeitei uma mecha de cabelo atrás da orelha pensando numa boa resposta.

— Aham - balbuciei - é o mesmo cara!

Dei um belo sorriso amarelo para completar. Ela pareceu ter caído na minha mentira.

— Que bom que já tem ao menos um amigo! - sorriu como uma mãe.

Tia Maisie se preocupava comigo e sempre disse que eu devia namorar. Apesar de nunca ter tido um namorado sério, era sempre a ela que eu contava quando estava a fim de um garoto. Estava me sentindo mal por mentir dessa vez.

— Que ele é bonito, eu já sei. Mas qual o nome dele?

Quando ela perguntou, eu instantaneamente me lembrei de Daniel. Foi ele quem ela viu no carro há alguns dias e provavelmente ela se lembraria do rosto dele. Não dá pra culpá-la, afinal, mesmo todo ensanguentado ele ainda tinha um "quê" de sensualidade e beleza. Até eu me lembraria daquele rosto se só o tivesse visto uma vez.

— Dan - comecei a frase imediatamente lembrando-me que não podia dar o nome de Daniel -...son. O nome dele é... Damon. Damon Meyers.
Damon? Parabéns, Eliza. Só sua criatividade supera sua burrice!
— Damon é um garoto de sorte. Quando vão se ver de novo? - Perguntou parecendo realmente interessada.

Ela deu um gole na sua xícara de chá e sentou-se numa poltrona bem de frente pra mim. Pelo jeito, ela queria mesmo conversar.
Meu estoque de mentiras já tinha acabado, então resolvi contar ao menos um pouco da verdade. Afinal, tia Maisie não é o tipo de pessoa que merece ser enganada.

— Na sexta à noite. Combinamos de ir ao Burguer King. Ele é realmente bem legal, tia.

Ela sorriu animada e bateu palmas no ar.

— Ah, e falando em sair... Sua mãe pediu para você ir dormir lá hoje. Ela disse que está com saudades.

Tinha passado os últimos dias tão atribulada com meus pequenos problemas que nem lembrava da minha mãe, que estava sozinha. Minha consciência pesou muito e eu achei mesmo que era bom passar um tempo com ela. Só me restava esperar que seu humor estivesse um pouco melhor...

— Eu estava mesmo pensando em passar lá, tia. Acho que vou dormir lá e ficar durante o dia amanhã, então não se preocupe. Vou pegar um metrô para não incomodar o Ben, ok?

— Expliquei meus planos e ela assentiu.
I

a ser bom ficar um tempo com a mamãe. Por mais conturbada que fosse nossa relação, ela era a melhor companheira do mundo para assistir Friends.

Fui até o quarto em que estava hospedada na casa da tia Maisie e coloquei numa mochila um pijama, um short jeans e uma regata branca. Roupas básicas sempre e sempre! Até meu pijama era um short e uma blusinha ambos pretos sem nenhum detalhe, exceto pelo acabamento em renda.

Dei um beijo na testa da tia Maisie antes de sair e confirmei que voltaria no dia seguinte à noite. Saí em direção à estação de metrô mais próxima, que devia estar a menos de três esquinas. Ao menos o metrô eu sabia usar para chegar na minha casa...

Southampton era uma cidadezinha agradável. Tinha menos de 280 mil habitantes e todas as casas pareciam iguais e adoráveis, sem contar o fato de que o ar era muito puro devido às árvores. A cidade era muito famosa por seus portos, por isso era fácil encontrar casas com a bandeira da Inglaterra na frente e o símbolo da marinha inglesa, o qual eu sempre achei muito chique.

Após andar mais ou menos uma quadra, eu estava decidida que era ali mesmo que eu queria morar, sem todo aquele ninho de luzes e neons de Birmingham. Outra coisa legal era poder andar pela cidade umas 9:30 da noite e ouvir apenas silêncio.

Aliás, silêncio até em excesso... Comecei a olhar para os lados a fim de verificar se as ruas estavam seguras. Parecia tudo em ordem, ninguém nas calçadas, nenhum carro à vista... Exceto por um Porsche prata que acabara de passar na minha frente. No mesmo instante, comecei a me perguntar se esse não seria o mesmo carro que eu tinha visto quando cruzei a última esquina.

Meu coração começou a acelerar e eu resolvi apertar o passo. Faltava só uma quarteirão e meio para chegar no metrô, não deve ser tão perigoso.

Ironicamente, ouvi uma vozinha na minha cabeça se sobressair naquele silêncio: "Eles vão perseguir você, vão achar você, vão matar você". As palavras de Daniel sobre a máfia russa atravessaram minha mente como uma flecha flamejante e nesse momento, eu senti que aquele silêncio não era por acaso. Entrei em pânico e comecei a literalmente correr. A essa altura, eu já estava com aquela estranha sensação de estar sendo observada por todos os cantos e morria de medo daquele Porsche aparecer novamente e me raptar.

Como se pensar no carro o atraísse, o Porsche apareceu do nada na minha frente na última esquina antes da estação.

Meu coração palpitou mais rápido e minha respiração fazia tremer todo o meu corpo de desespero. O carro estava bem à minha frente enquanto a estação deveria estar a uns 50m de mim. Não sabia bem se correr seria pior, mas essa não era uma opção: travei por completo.

O vidro fumê do carro começou a abaixar e eu vi algo reluzir naquela escuridão. Olhos. Um par de olhos praticamente cinzas no banco do motorista. Daniel.

— Está esperando um convite formal pra entrar?

A voz dele soava desdenhosa como sempre. Eu não conseguia entender a razão de ele estar ali, mas por algum motivo, todo o medo havia ido embora.

Foi como se saber que era ele o tempo todo me trouxesse segurança, o que era um tanto estranho, mas não vou mentir, também era bom.

— O que... - eu tentava achar as palavras, mas elas simplesmente se escondiam de mim - O que está fazendo aqui?

— Posso te dizer assim que entrar no carro. Mas caso você queira virar acompanhamento frito pros russos tomarem com vodka, não vou me opor se você ficar - falou com indiferença.

Mordi os lábios um tanto duvidosa sobre a presença dele ali. Eu olhava para os lados e não via nenhum movimento nem de russo e nem de inglês algum. Mas eu já havia confiado em Daniel antes e terminou tudo bem. Por isso, deduzi que dessa vez não seria diferente.

Abri a porta do carro e me sentei no banco do carona, ao lado de Daniel. Ele usava um all star, calça jeans e um moletom cinza bem despojado. As cicatrizes superficiais do seu rosto eram agora traços avermelhados, como se alguém o tivesse arranhado com muita força. Isso o deixava levemente mais sexy.

Quando fui puxar o ar para perguntar a ele a razão de estarmos ali naquele momento, notei que Daniel não usava o cinto de segurança. Ninguém anda comigo sem o cinto de segurança.

— Daniel, põe o cinto de segurança - Pedi.

O moreno de olhos azuis acinzentados juntou as sobrancelhas em confusão e deu um sorriso desdenhoso.

— O quê?

— Estou pedindo pra você colocar o cinto.

— Eu nunca coloco o cinto, garota - Respondeu colocando a mão sobre a marcha do carro.

Antes que ele desse a partida, coloquei minha mão sobre a dele o impedindo de tomar qualquer atitude. O toque foi como um choque elétrico. Enquanto minha mão era quente, a dele parecia um pedaço de gelo. Devo admitir que aquilo me deixou um tanto curiosa.

— Ficou maluca? Eles podem estar aqui em qualquer lugar, não fica empatando nossa saída!

— Coloca. O. Cinto. - Grunhi pausadamente para que ele me ouvisse com clareza.

Se tem uma mania que eu não nego, é fazer todo mundo que tá perto de mim andar de cinto!

Daniel rolou os olhos e bufou se dando por vencido. Tirou sua mão de baixo da minha e finalmente colocou o bendito cinto de segurança. Sorri, vitoriosa.

— Você não é tão durão - Afirmei.

Era engraçado, mas não deixava de ser verdade. Ao menos das vezes que nos encontramos, ele só era durão até eu ser bem séria e incisiva. Estava dando certo até então.

— Vai sonhando... - Resmungou, virando o rosto para a janela.

Daniel me lembrava uma criança que vivia emburrada porque os pais não lhe davam o que ele pedia. E tinha uma mania que eu odiava: falar sem olhar nos olhos.

— Tá, agora me explica... Eu já tô dentro do seu carro, só me diz por que você está aqui. Ou melhor, por que eu estou aqui.

— Digamos que os russos sabem quem você é e sabem quem é sua família. Grampeiam ligações e tudo mais, que nem nos filmes de suspense que sua mamãe deve gostar de ver - Falou fazendo pouco caso de mim.

— E eles vieram atrás de mim? - Indaguei, ignorando a provocação.

— Talvez sim, talvez não... Mas não era seguro deixar você onde estava. Precisamos sair da cidade por algumas horas. Ao menos até eles observarem os lugares que você frequenta e não te encontrarem.

Assenti enquanto minha mente ligava os pontinhos. Quer dizer, então, que o senhor "não olho na sua cara quando falo com você" estava a essa hora com seu belo Porsche indo na minha casa apenas para me proteger?! Uau... Se eu estivesse nos meus melhores dias, acreditaria que ele estava sendo gentil. Mas, como não sei bem o que esperar do Daniel, que me lembra muito um cubo mágico - quando você decifra um lado, o resto continua incompreensível -, decidi acreditar que era apenas um desencargo de consciência para ele não ficar mal caso os russos me matassem. No máximo, um agradecimento pelo curativo que havia feito nele mais cedo.

— Como ficou sua barriga? - Perguntei

— Bem, eu acho. Não incomoda muito. Você fez um bom trabalho - Palavras boas, tom seco.

Dei de ombros. Ele não era de muito papo, ao menos não comigo. E não havia nada que eu pudesse fazer, ao menos agora, para mudar isso. Por essa razão, aceitei que estava ali apenas para ser protegida e não para fazer amizade com um traficante. Continuei pensando na analogia entre Daniel e uma criança mimada até sentir minha cabeça desacelerar e minhas pálpebras pesarem toneladas.

~o~

— Merda! – Praguejou Daniel com raiva iminente.

Esse e outros palavrões que ele berrava, enquanto dava pancadas no volante e fazia caretas horrorosas, me despertaram de um sono leve no qual caí uns minutos antes. Ele parecia realmente enfurecido e eu, apenas bocejando e piscando bem os olhos para sair do estado morto-vivo.

— O que houve? – Perguntei quando notei que estávamos parados no meio da estrada sob uma chuva torrencial.

— Você é cega ou o quê? Não está vendo a tempestade que tá caindo? – Indagou, ríspido.

— E o que é que tem? Não te contaram sobre os guarda-chuvas? – Devolvi com sarcasmo.

Ele bateu novamente com força no volante.

— Porra! Você não para de ser chata nem por um minuto? Estamos presos de madrugada numa auto-estrada a milhas da sua casa ou da minha sem nenhum meio de comunicação e com uma tempestade lá fora! O carro parou de funcionar, nem o farol dele tá ligando... A gente tá muito ferrado.

Passei as mãos no cabelo colocando-o para trás e me perguntando o que seria melhor do que suicídio naquele momento. Daniel tinha razão. Estamos ferrados.

—Tudo bem, me desculpa – Falei assumindo para mim mesma que, ao menos por essa noite, eu teria de suportar Daniel sem criar caso - Você não conhece algum lugar aqui perto? Um hotel, um amigo, nada?

— Quem é que mora no meio de lugar nenhum? – Ele rolou os olhos ao responder.

— Está bem, está bem... Mas não tem uma praia aqui perto?

Lembrei da praia nos arquivos mais longínquos da minha mente. Por alguma razão, me recordei das férias com o Ben e o Matt, nas quais nós sempre tomávamos banho de mar numa praia que, se eu estava certa, não deveria estar muito longe.

— O que você sugere, que a gente tome um banho de mar enquanto a chuva não passa? – Perguntou, irônico.

Grunhi feito um cachorro irritado. Meu limite estava quase sendo atingido por aquele petulante, arrogante e nariz em pé do Daniel!

— Eu perguntei se não tem uma praia, deixa de ser grosso.

— Não tem uma praia aqui perto. Tem uma praia aqui. Estamos bem na frente dela agora – Daniel respondeu.

Balbuciei um “deixa eu ver” enquanto me esquivava para tentar enxergar a praia. A noite havia ficado realmente escura e, como eu estava no banco do carona, tive que me alongar toda para tentar enxergar algo, mesmo que tivesse que praticamente ficar em cima de Daniel.

— O que você ta fazendo, garota? Para de apoiar as mãos nas minhas pernas! – Reclamou.

Bem... Eu estava fazendo algo que me ajudava e ao mesmo tempo o estava irritando. Adorei. Vou continuar fazendo.

Quando Daniel já estava completamente acuado em seu banco, com as mãos pra cima para me dar mais espaço e bufando insistentemente, meu rosto quase tocava a janela do motorista. Eu estava quase conseguindo enxergar algo quando de repente um raio caiu exatamente na areia da praia, me permitindo visualizar a mesma por meio milésimo de segundo. Estávamos mesmo bem na frente da praia, e esse era o lado bom. O lado ruim é que eu definitivamente não esperava que um raio caísse a tão pouca distância de nós.

Me desesperei com o clarão e me desequilibrei totalmente da posição em que estava, o que fez com que eu me agarrasse desesperadamente ao moletom de Daniel e lançasse meu corpo contra o dele. Isso tudo, é claro, acompanhado de um gritinho.

— Hey, nunca viu um raio antes? – Ele perguntou rindo, parecendo achar graça do meu medo.

Mas, hey, esse é meu ponto fraco. Odeio raios e trovões, odeio!

Daniel ainda estava rindo. Fechei a cara para ele sem soltá-lo. Por que era tão engraçado ver uma garota de 17 anos se segurar nas suas roupas quando ela está com medo de um raio no meio de uma chuva torrencial? Não há nada de errado nisso!

— Você é... – Comecei a falar, sendo interrompida por um estrondoso barulho sobrenatural que fez o carro em que estávamos chacoalhar com tamanha força

Um trovão. Um puta trovão.

Eu e Daniel gritamos em coro e, involuntariamente, procurei me agarrar à primeira coisa que me transmitia segurança ali: ele. Nossos braços e corpos começaram a lançar-se uns contra os outros, de maneira que o susto culminou numa cena um tanto inesperada: eu sentada no colo de Daniel, com nós dois abraçados um ao outro de forma desesperada e calorosa. Minha cabeça estava no peito dele e a dele, no meu ombro. Estávamos praticamente cobertos por seus braços enormes, já que os meus, finos, estavam rodeando a cintura dele. Minha respiração batia em seu tórax, que também seguia um movimento apressado de vai-e-vem devido à sua respiração ofegante. Sentia o nariz dele roçar no meu cabelo, assim como sua boca. Eu detestava, detestava mesmo me encolher toda e agarrar o primeiro ser humano vivo que estivesse à frente por causa de um trovão, entretanto, naquele momento, aquilo pareceu certo e fez eu me sentir segura e aquecida no abraço de Daniel.

Nossas respirações corridas passaram a seguir o mesmo ritmo, mas nenhum de nós disse nada por alguns longos minutos, nos quais apenas nos abraçamos.

— Garota, você está bem? – O moreno perguntou me apertando um pouco mais forte.

Apenas balancei a cabeça positivamente. Estranhamente, eu não queria que aquele momento acabasse. Poderia passar a noite toda lá.

Daniel foi me soltando aos poucos ao mesmo passo em que eu levantava os olhos. O breu total havia se desfeito e a chuva, passado. Por causa da lua, consegui enxergar um par de olhos cinzentos brilhar na escuridão.

Daniel sorriu.

— A chuva passou agora, não precisa mais ter medo, ok? – Assegurou-se.

Respondi que sim e sorri de volta para ele. Por que estava sendo legal comigo? Bem, melhor não perguntar. Vai que acaba...

— O que fazemos agora? – Indaguei.

— Bem... – Ele deu um sorriso pretensioso como se estivesse tramando algo e pude jurar que, pela primeira vez, vi uma faísca de brilho nos seus olhos, algo quase como alegria – Acho que vamos para um lugar que não vou há muito tempo.

~o~

— Espera, deixa eu entender... Você tinha uma casa na praia e fez a gente ficar morrendo de desespero naquele carro esse tempo todo? – Perguntei abismada.

Permita-me explicar: Daniel estacionou o carro com uma plaquinha fosforescente para indicar a pane do veículo e descemos à praia. Como fica à beira da estrada, muitas pessoas constroem chalés por lá ou até mesmo casas de veraneio. Para a minha surpresa, Daniel tirou um molho de chaves do bolso e parou em frente a uma casinha de madeira branca com duas janelas azuis e um toldo vermelho, um chalezinho adorável igual aos de filme. Minha surpresa maior veio quando ele abriu a pequena casa. Sim, ele abriu a casinha! Era dele! Aquele lugarzinho adorável e super convidativo pertencia ao Daniel, que não era lá... a pessoa mais fofa que eu conhecia, digamos assim.

Ele entrou, acendeu as luzes e estávamos lá. Por dentro, a casa da praia era ainda mais rústica e agradável do que eu imaginava. Bem na entrada, havia um jogo de três sofás brancos, um tapete felpudo de estampa indígena com um rack onde deveria ter uma televisão, mas na verdade, havia um bom equipamento de som e uma coleção de CDs clássicos. Do outro lado, uma pequena cozinha com um fogão de duas bocas, alguns armários feitos de madeira pura e uma geladeira pequena. Havia também um balcão entre a cozinha e a sala, no qual jaziam dois banquinhos vermelhos que nem os de bar. Mais à frente, duas portas uma de frente para a outra, que deduzi levarem ao banheiro e a um quarto. Era tudo adorável e pequeno naquela casa, como se fosse feita sob medida para apenas uma pessoa. E o toque da madeira em todo canto, davam a ela uma calorosa recepção. Eu estava particularmente encantada.

— Você é dono disso aqui? – Perguntei ainda na porta da casa, boquiaberta.

— Sim, eu sou. E se você não entrar, vai congelar aí fora.

Imediatamente, lembrei que eu não estava usando roupas adequadas para um frio intenso, como o que havia se instalado após a chuva. Entrei na casa, fechei a porta e bati os pés. Dá pra acreditar que tinha até tapete de boas vindas?

— Confesso que estou surpresa por essa ser sua casa – Desabafei apoiando-me no umbral da porta e admirando o teto, piso e paredes todos de madeira maciça – Quer dizer, eu esperava que você empalhasse crianças indefesas e pendurasse na parede ou arrancasse a cabeça de ursinhos de pelúcia para decorar o sofá.

Daniel riu. Incrivelmente raro, o som de sua risada era elegante e um pouco sexy. Talvez eu cogitasse a idéia de fazer mais piadas perto dele a partir de agora.

— Essa não é bem a minha casa. O lugar onde eu moro fica em Southampton mesmo, aqui é só o lugar que venho quando preciso espairecer ou fugir de alguma coisa. Essa praia é... – Daniel perdeu-se em suas reticências e parecia procurar um adjetivo para descrever a paisagem natural.

— É, eu sei, é deslumbrante. Vinha aqui sempre quando era criança. Costumava catar conchinhas e fazer colares.

Terminei a frase sorrindo com as memórias que fluíam através das palavras. Eu tinha vivido bons momentos ali naquela praia.

Caminhei até o sofá e me sentei um pouco. Era bem mais confortável do que o carro no qual passei as últimas... quantas horas haviam se passado mesmo?

Daniel estava na cozinha quando eu comentei sobre minhas lembranças. Ouvi-o rir sarcasticamente de lá.

— Uau... Eu ia até preparar umas margaritas agora e te oferecer, mas acho que a mocinha que fazia colares de conchas não bebe, não é? – Ironizou.

Rolei os olhos e bati uma almofada na minha própria cabeça.

— Não sou uma mocinha! – Resmunguei – E meu nome é Lizzie, por sinal.

— Acho incrível sua persistência em me dizer seu nome se sabe que não vou decorá-lo - Devolveu.

Não precisava nem estar na cozinha para detectar o sarcasmo em sua voz. Bufei e senti o coração palpitar de raiva. Qual é, eu tenho um nome e a menos que ele seja Carmeleuda, eu gostaria de ser chamada por ele! Caminhei apressada até a cozinha até chegar no balcão, encarando Daniel, que tirava algumas garrafas de bebida da geladeira, bem de frente para mim.

— Que bicho te mordeu nos últimos 10 minutos? Achei que a gente tava sendo legal um com o outro! Achei que estávamos ao menos jogando Noite dos Reversos... – Balbuciei emburrada, cruzando os braços.

O moreno dos olhos azulados franziu a testa e me olhou confuso.

— Noite dos Reversos? – Questionou.

— É, Noite dos Reversos... – Imediatamente me senti uma boba por estar fazendo menção a um jogo que jogava, provavelmente, aos 11 anos, mas agora já tinha falado... era cair de cabeça na história! – É quando as pessoas combinam e fazem exatamente o oposto do que geralmente fazem. Tipo você ser legal comigo e vice-versa.

Daniel arqueou uma sobrancelha e sorriu com deboche no rosto.

— Você não está falando sério, está? Meu Deus, isso é tão infantil! – Terminou com umas boas gargalhadas que, nesse momento, me irritaram profundamente.

Rolei os olhos e rangi os dentes de nervosismo. Ele não vai me tratar assim.

— Escuta, eu não sou obrigada a ficar aqui ouvindo seus desaforos, ok? Vou tomar um banho rápido e depois venho me deitar no sofá – Falei caminhando em direção às duas portas no fim da casa, mas Daniel me segurou pelo pulso antes que eu saísse.

— Espera... Achei que fosse tomar ao menos uma margarita antes de se deitar...

— Você sabe, eu não bebo. Sou uma criança – Devolvi com uma pontada de ironia na voz.

Daniel parecia um pouco pensativo agora. Como se quisesse que eu ficasse, mas fosse orgulhoso demais para pedir isso a mim. Mas, claro, essa não era a situação, afinal de contas, ele e aqueles seus olhos impermeáveis eram imprevisíveis e imprudentes.

— Mas... Estamos jogando Noite dos Reversos, não estamos, garota?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente, lembra que eu disse que tinhas surpresa? Então... Eu aprimorei meus conhecimentos e aprendi a fazer trailer de fanfic (quem quiser pedir um, só entrar em contato), e queria saber se vocês aprovam minha ideia de publicar o vídeo. O que acham? Ah, e outra coisa... Tô pensando em mudar o nome e a sinopse da fic. Vou dar a vocês alguns spoilers para que possam entender meus motivos: Mais à frente, a Lizzie vai receber na faculdade um trabalho muito importante, no qual ela deve escrever sobre um grupo de pessoas marginalizado na sociedade e deve tentar se infiltrar, compreender e reumanizar esse grupo. Adivinhem quem ela escolher para se aproximar? Sim, o Daniel. Ele se torna a primeira matéria dela. Por isso, estava pensando em mudar o nome da fanfic para "O Furo Perfeito", e mudar também a capa e a sinopse. Caso a mudança seja vista como positiva pra vcs, no próximo capítulo (que será postado depois de amanhã), eu me comprometo a divulgar a capa e a sinopse mais prováveis. Ok? Quero saber o que acham! E também quero uma fic mais interativa... Quero que respondam nos comentários o que acharam do cap e o que querem que aconteça na "Noite dos Reversos" da Lizzie e do Danny. Muuuito obrigada desde já!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Reckless" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.