Reckless escrita por Moony, Bela Barbosa


Capítulo 10
Capítulo 10 - O Namorado da Lizzie


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, pra me desculpar pelo último capítulo que veio curtinho e todo bugado, aqui tá um dos melhore (na minha opinião) pra vocês! Gostaria de dedicar este cap pra Isa e pra Brandi, as duas leitoras que, com seus reviews, me deram cada vez mais motivação e inspiração pra escrever! Vocês são demais! Agora, please, gostaria de pedir que nossos outros quase 60 leitores deixassem reviews e comentários com tanta frequência quanto essas duas lindas... boa leitura!
PS: LEIAM AS NOTAS FINAIS!



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— Não se preocupa, Claire. Vou ficar bem e juro que te entrego sua casa em perfeito estado. Valeu por ter me chamado - Falei, sorrindo amigavelmente para ela.

Claire sorriu de volta e então nós duas olhamos ao mesmo tempo para o Daniel. Eu caminhei até ele, já exausta em relação às suas infantilidades que custavam todo o meu tempo disponível. Às vezes, ele realmente agia como se meu tempo fosse integralmente seu.

 

~o~

 

— Me diz, você tem merda na cabeça? - Indaguei empurrando Daniel para dentro da casa, morrendo de dor nas costas por tê-lo ajudado a caminhar até lá.

A impressão que tive é que ele havia ganhado peso, inclusive.

Bati a porta com força, nervosa devido àquela situação. Já Daniel cambaleou algumas vezes até se acomodar sobre o sofá, me olhando quase que pedindo desculpas. Ele não havia dito uma palavra sequer desde a hora do bar.

— O que você estava pensando, hein? - Lancei outra pergunta quase berrando com ele.

Passeei os olhos pela casinha adorável de Claire somente nesse momento. Era um lugar adorável. Tinha três sofás na sala que formavam um rack perfeito com o rack da televisão. A casa estava bem escura, porque, mesmo tento janelas, estas estavam todas obscurecidas por cortinas artesanais de cor escura. Aliás, Claire parecia bem fã de artesanato: a casa era cheia de tapetes estampados, enfeites e quadros nas paredes e no teto e alguns penduricalhos e incensos davam todo o charme ao ambiente. Se eu não estivesse com tanta raiva, me jogaria agora mesmo naquele sofá verde super convidativo e dormiria o dia inteiro.

Já a cozinha era conjugada com a sala, separadas apenas por um balcão de mármore e a porta de entrada, também decorada por adereços com miçangas e algumas placas de boas vindas.

No balcão, jazia um copo enorme de água, como se alguém o tivesse esquecido ali estrategicamente para mim. Peguei o bendito como e virei pela metade o seu conteúdo, buscando me acalmar.

Caminhei até Daniel.

— Você ainda não respondeu nada.

O seu olhar, que estava preso ao chão, voltou-se para mim à medida que respirava fundo.

— Eu só...- balbuciou - fiquei bêbado...

Arregalei os olhos de pura raiva.

— Bêbado? Não, você tava acabado! Agiu sem a menor responsabilidade! Acabou com o dia de trabalho da Claire, se comportando feito uma criança! Você não tem vergonha disso, Daniel? - Berrei.

A cabeça dele continuava levantada observando a versão furiosa de mim, que queria inforcá-lo.

Longos segundos se passaram e Daniel permaneceu em silêncio, indiferente.

Com raiva, joguei o resto da água gelada do meu copo diretamente em seu rosto.

— Me responde! - Gritei.

Daniel tossiu algumas vezes e espirrou. Senti no ar que ele queria me chamar de maluca, mas não tinha coragem para tal.

Fiquei encarando Daniel com minha melhor cara de ódio e observando seus olhos enigmáticos brilharem como se ele tivesse conseguido exatamente o que queria.

— Você não tem a menor consideração, né? - Perguntei, jogando-me no sofá de frente para o Daniel.

Naquele momento, me entreguei completamente aos impulsos que diziam para eu chorar. Talvez porque eu estava muito, muito triste, ou quem sabe simplesmente porque eu precisava desabafar de alguma forma. Respirei fundo e dobrei os joelhos, trazendo-os para perto dos meus seios e afundando minha cabeça ali para poder chorar mais um pouco.

— Poxa, eu... - solucei - Eu não saí pra tomar um café com meu primo desde que cheguei em Southampton! Eu não fui ao shopping com minha mãe pra comer uma pizza, não assisti nenhum jogo da Champions League, não saí pra andar de bicicleta, não fui à biblioteca da faculdade fazer alguma pesquisa, eu nem sei quem vão ser meus professores! - Comecei a desentupir o que estava preso dentro de mim.

Daniel me olhava atentamente com a boca levemente aberta e os olhos bem focados nos meus.

— Desde que eu cheguei aqui, é só você, você e você na minha vida e nem o seu número de telefone eu sei! Eu não posso nem dizer que nós somos amigos, porque, por mais que eu conheça uma parte da sua vida, você simplesmente some e depois reaparece bancando o heroi, mas mal olha na minha cara enquanto fala comigo, me trata mal, é irônico o tempo inteiro e tudo o que eu faço é ajudar você, Daniel! - Balbuciei entre as lágrimas, que não paravam de descer e, por vezes, prejudicavam a minha dicção - Sabe, eu sou grata a você por ter me salvado do Brian aquele dia, mas eu nem tive tempo direito para processar essa informação... Caralho, eu quase fui estuprada! E me dediquei tanto a você, que deixei pra pensar nisso só depois. Antes de vir pra cá, eu tava na cama com o cara mais bonito que eu já vi na vida, prestes a perder minha virgindade com ele, um cara legal, super atencioso, compreensivo e lindo, que me adora, mas eu não consegui transar com ele porque a Claire me ligou, porque você estava gritando meu nome totalmente bêbado no bar em que ela trabalhar! Minha mãe, tadinha, ela tem tantos problemas, e eu tô tentando vê-la há dias, mas não consigo por causa de você! E eu...

Neste momento, minha voz falhou por completo e tudo o que eu conseguia era contorcer meu rosto numa careta de modo que mais lágrimas pudessem sair. Eu tremia e soluçava, abraçando meus próprios joelhos, quando afundei de vez o rosto nas minhas mãos e não consegui falar mais nada.

Era tudo verdade. Eu não reclamaria de um momento gasto com o Daniel se ele ao menos me oferecesse a sua amizade em troca, mas nem isso. Eu não sabia se podia contar com ele em todos os momentos, eu só sabia que ele estaria ali se eu precisasse. 

Para mim, o Daniel parecia uma rajada de vento selvagem. Todo mundo gosta quando o vento bate. Mas ninguém sabe de onde ele veio, para onde ele vai, quanto tempo vai ficar presente ou quando vai voltar outra vez. E me dedicar tanto a alguém sem receber nada em troca estava começando a me machucar.

Foi então que eu senti o assento do sofá abaixar mais um pouco ao passo que um calor humano se colocava bem do meu lado. Fortes e largos braços, cobertos por sua típíca jaqueta de couro preta, me abraçaram de ponta a ponta como se eu fosse o menor ser humano do planeta. Daniel me puxou para o seu abraço e me colocou deitada em seu peito, sussurrando diversos "shhhh" em meu ouvido à medida que afagava minha cabeça e punha meu cabelo atrás da orelha.

Sem sequer pedir permissão, meu me aninhei por baixo de sua jaqueta e chorei diretamente em sua camisa. Daniel me abraçou ainda mais forte.

— Hey, garota... - Disse baixinho, bem perto do meu ouvido - Me desculpe se eu fiz você se sentir assim. Desde que meus pais morreram, eu não estou muito acostumado a fazer amizades ou coisas do tipo. Me desculpa mesmo.

A voz dele soava diferente num pedido de desculpas. Pior que eu gostei. Era mais parecido com o Daniel da Noite dos Reversos.

Vagarosamente, fui me afastando de seu peitoral, ainda soluçando e abraçada a ele, apenas longe o suficiente para olhar em seus olhos.

Passei as mãos pelo meu rosto, secando algumas das lágrimas, e respirei fundo a fim de me recompor.

— Tudo bem. Eu desculpo você. Só precisava que soubesse o que estava acontecendo...

— Eu entendo - Ele respondeu, com um traço de sinceridade no olhar - Mas posso te perguntar uma coisa?

Assenti com a cabeça.

— É sério que você é mesmo virgem? - Indagou com o cenho franzido.

Rolei a cabeça para trás e soltei uma gargalhada.

— É sério que de tudo o que eu falei essa foi a única coisa que você conseguiu captar? 

— Não, eu entendi tudo direitinho, mas é que... não sabia que você era virgem, garota.

Ri novamente. O mais engraçado de tudo é que ele falava tudo isso sério, como se a minha virgindade fosse assunto de noticiário.

— Pois sim, eu sou - Afirmei cruzando os braços em seguida.

Felizmente, já tinha parado de chorar e já tinha até rido um pouquinho. É, o Daniel não é tão mau assim.

— A não ser que a gente tenha feito sexo aquela noite no seu chalé, porque eu apaguei e não me lembro de quase nada daquela noite... - Completei.

Ele arregalou os olhos em resposta.

— Uau, você realmente não lembra de nada?

Balancei a cabeça que não.

— Sabe, seria até legal se você quisesse me contar... - Sugeri.

Daniel riu de lado.

— Em que parte você apagou? - Ele perguntou.

— Na parte em que caímos no sofá, depois de um cover vergonhoso de Under Pressure. Só me lembro até aí. O que aconteceu depois?

Ele mordeu o lábio inferior e estreitou os olhos. Eu não sabia muito bem o que isso significava.

— Não aconteceu nada depois. Depois disso, a gente só entrou pra dormir - Falou, incisivo e seco.

Daniel se levantou do sofá e alongou os braços, estralando a coluna em alto e bom som.

— Hey! - Levantei em seguida e o puxei pelo ombro - É claro que aconteceu! Se não, eu não teria acordado na sua cama vestindo uma roupa sua! Você pode me dizer o que aconteceu de verdade?

Ele respirou fundo e continuou irredutível:

— Não aconteceu nada. A gente rolou do sofá para o chão e quando nos levantamos, você passou mal e vomitou por causa da bebida e do impacto. Te dei uma camisa minha para vestir pra você poder dormir limpa e entrei depois de dar um grau no chão e na cozinha. Foi só isso, garota.

Com os braços ainda cruzados, eu bufei e grunhi um "tá bom". Francamente, não acreditei na versão do Daniel. Minha cabeça não me faria dar tantas voltas imaginando a verdade se ela fosse apenas aquilo. Não acreditei na versão dele, mas, temporariamente, me conformei com aquilo do jeito que estava.

Daniel foi até a geladeira de Claire, tomou dois copos d'água e tirou do bolso de sua jaqueta a chave de seu carro.

— Você vem comigo? Queria te deixar num lugar que sei que precisa ir...

Um leve sorriso se desenhou no meu rosto e eu respondi positivamente. Quando saímos da casa de Claire, tranquei tudo com cautela e fui até o bar devolver as chaves a ela, agradecendo pelo que tinha feito. Obriguei Daniel a agradecê-la também. Saímos de lá e entramos em seu Porsche, o mesmo da última vez.

Pus o cinto e o observei. Ele simplesmente pôs a chave no carro e quando ia dar a partida, nossos olhares se encontraram. Daniel já sabia o que eu queria. Revirou os olhos e bufou, com raiva, cedendo em seguida e finalmente colocando o cinto.

— Você é engraçado - Atestei. - Pensei que nunca ficasse bêbado...

— E eu nunca fico. É que... hoje, eu precisei me dar uma folga. Precisei de uma exceção, me aliviar do stress... Bebi até não conseguir mais. - Ele acrescentou.

— Entendo - Falei - Mas ainda não me explicou por que estava falando o meu nome, assim, do nada...

Daniel bufou.

— Você deve ter a síndrome do pequeno príncipe. Só sabe fazer perguntas! - Exclamou.

Ri com a referência feita por ele.

— Tudo bem, então é sua vez de perguntar.

Daniel passou alguns segundos pensando. Virei para o observar. Algo nele era incrivelmente mais sexy que o normal quando estava dirigindo, dava uma certa satisfação de apreciar a vista de onde eu me encontrava.

— Sei lá, por que não transou com o cara em vez de vir me socorrer? Se ele era tão gato e maravilhoso assim, por que não ficou lá com ele? - Indagou.

Dei umas boas gargalhadas antes de responder. Ele entonou a voz de um jeito muito engraçado ao pronunciar os adjetivos pra falar de Jason.

— O nome dele é Jason. Jason Michigan. Você deve conhecê-lo, ele estuda e trabalha na Universidade... 

— O Jason? - Daniel perguntou, freando bruscamente.

Me salvei graças ao incrível sistema de segurança daquele carro, mas nem isso me impediu de gritar e tomar um belo susto com a atitude do Daniel.

Em seguida, antes que eu pudesse me expressar, Daniel começou a rir compulsivamente.

— Eu não acredito que tá namorando aquele cara... Ele é um babaca! Um mimadinho idiota que ninguém dá a mínima...

— Hey! - Grunhi, dando um tapa em seu ombro - Não fala assim do Jason! A gente nem sequer tá namorando, a gente só... se viu algumas vezes e marcou de sair. Não é nada sério. Mas isso não torna ele um babaca mimado. Caso não saiba, ele também perdeu os pais num acidente, que nem você!

Cruzei os braços irritada. Daniel não ia falar mal de Jason, não perto de mim!

— Tá, ele pode não ser tão otário... Mas ele está longe de ser metade do deus grego que você definiu. Ele não é nem o cara mais bonito do curso dele, imagina do Reino Unido! Fora que ele passa horas dentro de uma academia pra tentar impres...

— Já entendi, Daniel! - O interrompi - Já entendi, o Jason é feio, nada atrativo e idiota, tá, supera isso! Já vi que não gosta dele, vamos só mudar de assunto...

Bufamos em coro. O silêncio constrangedor se estendeu por alguns minutos. De fato, ele não estava disposto a se desculpar. Resolvi, então, mudar a situação por mim mesma.

— Desculpa, Daniel. Não quis ser grossa com você - Falei, sinceramente.

Ele me olhou de canto e balançou a cabeça como se já estivesse tudo bem.

— Quer me ensinar mais sobre bebidas? Eu realmente curti suas margaritas... - Sugeri.

Daniel lançou-me um olhar desconfiado.

— Sério?

— Aham - Respondi.

— Bem, eu... como eu te disse, eu adoro whisky. A área da química que eu queria trabalhar era, inclusive, na área de indústria de whisky ao redor do mundo, pra você ter uma noção... Eu me lembro de passar várias e várias noites...

E ele seguiu falando sobre suas paixões no mundo dos gostos, dos estudos e das bebidas. Eu o olhava, mas ele nem percebia. Estava tão impolgado... Achei aquela uma cena bonita: um homem de poucas e frias palavras se desfez e deu espaço a um homem que tinha sonhos, paixões e sentimentos. Eu gostava desse lado dele. Por mais que não entendesse nada da sua área, gostava de simplesmente escutar o que ele dizia. 

Ele prosseguiu falando e falando por mais ou menos uns 6 minutos até que o próprio Daniel se poliu e me avisou:

— Já estamos chegando onde eu queria. Desculpa ter ficado alugando seus ouvidos esse tempo todo.

— Fica tranquilo - Sorri -, um dia eu quero entender tanto de alguma coisa como você entende de whisky.

Daniel sorriu de volta.

— Sabe, você é uma boa pessoa - Ele disse - Mas acho que está na hora de sermos realistas. Ficar perto de mim é algo que te deixa em perigo e te consome muito... não é algo que tem te feito bem.

Aonde ele queria chegar com isso? Estreitei os olhos e comecei a pensar. Ele não pode ter entendido que, por aquela conversa, eu queria enxotá-lo da minha vida... na verdade, eu só queria a amizade dele em troca de todo o meu esforço. Mesmo que ele não fizesse por onde, eu gostava de Daniel. É a primeira vez que assumo isso para mim mesma, mas é a verdade. Por alguma razão, eu queria vê-lo crescer novamente na vida, queria vê-lo bem e tinha prazer em ajudá-lo. A única dificuldade era não ter sequer sua amizade em retorno.

— Daniel, se foi isso que você entendeu por aquela nossa conversa, eu...

— Garota - Me interrompeu -, eu já sei o que vou fazer. É melhor se, de hoje em diante, nós dois não nos encontrarmos mais, ok? Se alguém, de qualquer lugar do mundo te perguntar se você me conhece, você tem que negar. Você já não está mais no foco dos russos. Agora está segura. E é melhor que a gente fique longe, pra manter isso. Tipo colegas de campus, pode ser?

Não. Não pode ser. 

Por algum motivo, eu me senti como se estivesse num término de namoro. Estava contrariada. Mas eu sabia, lá no fundo, que se eu precisasse, o Daniel estaria ali para mim, assim como ele esteve quando temeu que os russos fossem atrás de mim. Então, pela segunda vez naquele dia, me conformei com uma situação e assenti, como se tudo estivesse bem.

— Pode ser. E, que mal lhe pergunte, já estamos quase chegando aonde? - Indaguei, fazendo pouco caso do que ele havia dito.

— Na casa da sua mãe. Achei que gostaria de vê-la.

Ele olhou para mim pelo canto do olho e sorriu com ternura. Provavelmente, a primeira vez que eu via aquele sorriso. Meu coração doeu: só alguém que não tinha mais o amor materno poderia conhecer tão bem a falta que faz um abraço de mãe. Daniel tinha esse juízo em sua mente.

De fato, eu já estava começando a reconhecer o local. As árvores, as cores das casas... Ele deveria virar precisamente em uma esquina. E foi o que Daniel fez. Mas, em vez de enxergar a adorável casinha de madeira em que eu e minha mãe morávamos agora, eu só enxerguei dezenas de vizinhos em suas portas espiando uma van branca parada em frente ao lugar que deveria estar a minha casa.

Eu e Daniel olhamos confusos para aquela cena. O que estava acontecendo?

— Daniel, você sabia disso? - Perguntei - O que tá acontecendo?

— Claro que não. Não tenho nada a ver com isso, mas já vamos descobrir.

Ele acelerou o carro e parou com tanta brutalidade, que cantou os pneus do carro, deixando uma marca no asfalto. Naquele momento, precisamente, eu não me importei com isso. Saímos correndo, desesperados do carro, a fim de ver o que estava acontecendo ali.

Assim que pus os olhos na van, olhei o logo "Casa de Repouso Shady Oaks", uma espécie de asilo, manicômio, para onde mandavam pessoas intratáveis. Mil e uma interrogações passaram pela minha cabeça. Quem havia levado eles até lá? Será que minha mãe achou que eu a tinha abandonado? Será que ela mesma resolveu se internar? Por que iria se internar se estava tão bem ultimamente? Quem havia dado permissão para irem até em casa arrancarem ela de lá sem nenhuma testemunha? O que estava acontecendo?

Minha respiração se acelerou junto aos meus batimentos cardíacos. Eu só queria minha mãe. 

No meio de toda aquela confusão, em que eu olhava para os lados, encarava os vizinhos e encarava o Daniel, tão chocado quanto eu, reconheci um jaguar estacionado bem atrás da van. Eu sabia muito bem de quem era aquele carro.

— Filho da puta! - Exclamei.

Saí correndo em direção à casa, mas nem precisei entrar nela para achar quem eu queria. Um homem alto, magro, extremamente branco e com o rosto polvilhado por sardas tão laranjas quanto seu próprio cabelo dentro de seu típico terno xadrez. Meu pai. 

— O que você tá fazendo aqui? - Rosnei na direção dele, cerrando os punhos e mordendo os lábios de raiva.

Isso tinha a cara dele.

— Filha! - Exclamou, como se estivesse emocionado, e me envolveu num abraço não correspondido.

— Até que enfim eu cheguei, vim te livrar de viver com essa doida... - Acrescentou ele - Você está bem?

Ele perguntou ao mesmo tempo em que passava as mãos pelos meus ombros e meu cabelo, como se estivesse certificando-se de que eu estava bem.

Francamente, eu tinha nojo daquele homem.

— O que você está fazendo aqui? - Repeti a pergunta pausadamente.

— Vim para internar sua mãe e te levar de volta pra sua casa. Você não pertence a este lugar, Lizzie, você não é garota de interior. Vamos voltar pra Birmingham e ser de novo a família que éramos, nem que sejamos só nós dois.

Quando terminou de falar, agarrou meu pulso e caminhou, como se fosse me tirar de lá feito uma criança. Contudo, sua mão escorregou quando eu continuei estática, o olhando cada vez com mais ódio.

— Qual família? A que você fez questão de destruir, Garry? - Retruquei ironicamente.

Meu pai franziu a testa. Se eu bem conhecia seu gênio autoritário e seu jeito de esfinge, ele havia ficado muito irritado.

— Lizzie, eu sou seu pai! Você me deve respeito! - Ele grunhiu com o dedo levantado apontado para o meu rosto.

— Eu não respeito você. Eu odeio você. Eu tenho nojo de você.

Meus olhos, à essa altura, estavam marejados de lágrimas que eu, sob hipótese alguma, derramaria na frente dele. Garry não merecia meus sentimentos.

— Vamos pra casa comigo agora! Você só está dizendo essas asneiras porque sua mãe colocou isso na sua cabeça, Eliza! 

Com raiva, cheguei ainda mais perto dele e pus o dedo indicador tão perto que quase toquei seu nariz.

— Você não tem o direito de falar da minha mãe em voz alta! Seu estúpido! Ela pode ser louca o quanto for, mas sempre terá o juízo que você nunca teve! E ao menos ela merece o amor da filha de vocês.

Se havia algo que eu adorava era irritar o meu pai. O "General de Ferro", como eu chamava quando era criança, odiava qualquer demonstração de contrariedade em relação a ele. Mas depois do que ele fez a mim e à minha mãe, esse era o melhor tratamento que eu poderia oferecer a ele. E, naquele momento, ele me pareceu mais enraivado do que eu jamais havia visto.

— Pelo visto, está tão louca quanto ela - Afirmou, levantando sua mão num golpe certeiro que atingiu uma de minhas bochechas, num estalo altíssimo.

Com o impacto do tapa, ele me lançou para longe dele e eu caí, provavelmente com a marca de sua mão estampada em meu rosto com clareza. A primeira lágrima, então, caiu.

Ele prosseguiu caminhando na direção em que eu estava lançada ao chão, com toda a sua brutalidade e sua tradicional carranca, provavelmente para me obrigar a ir com ele, mas tanto eu quanto o próprio Garry fomos surpreendidos por um homem de porte atlético e alta estatura que se colocou entre mim e ele e o empurrou tão forte, que o fez bater de costas no seu jaguar e estatelar-se no chão.

— Se você tocar mais um só dedo na Lizzie - Daniel rosnou, preparando as mãos para um novo golpe - eu juro que acabo com você.

Ele estava de costas para mim. Mesmo assim, eu imaginava a expressão de Daniel nesse momento. Seus ombros mexiam-se freneticamente, como se aquele momento fosse pura adrenalina para ele. Nunca eu o tinha visto com tanta raiva.

Ele se virou para mim e de repente sua feição de ódio e nervosismo se transformou em face de preocupação e desespero. Daniel abaixou-se até onde eu estava e rapidamente tirou sua jaqueta, com a qual ele me envolveu e, em seguida, me abraçou.

— Garota, você está bem? Ele não te levar a lugar nenhum, ok? Eu prometo, ele não vai te tirar daqui, você vai ficar bem, nós vamos tirar sua mãe dessa - Falou engolindo algumas vogais, devido à pressa e ao nervosismo, bem baixinho no meu ouvido, para que só eu escutasse.

Sua adrenalina era tanta que eu pude sentir seus braços tremerem e o suor de sua testa pingar em meu cabelo.

Daniel afastou-se um pouco de mim, beijou minha testa e pôs seu rosto colado ao meu, encarando-me bem nos olhos.

— Você vai ficar bem. Entrá lá e ajuda sua mãe, que eu resolvo as coisas aqui fora. 

Eu assenti. Não sabia nem o que dizer nesse momento. Um "obrigada" definitivamente não expressaria tudo o que eu sentia.

Daniel me deu sua mão e me colocou de pé, ao lado dele. Eu vesti sua jaqueta e sequei as lágrimas com as mãos. Quando olhamos na direção do meu pai, ele já caminhava até nós dois, furioso como eu nunca tinha visto.

— Quem você pensa que é pra me tratar assim, seu moleque? - Garry indagou, com ódio na voz.

— O namorado da Lizzie - Daniel respondeu com convicção.


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Notas finais do capítulo

Por favor, comentem com opiniões, críticas e sugestões! Ah, e quem puder recomendar a fic, eu agradeço!
Aaaah, alguém me perguntou sobre o casting da fic numa msg, vou deixar aqui pra vocês:
Eliza - Emma Stone
Daniel - Aaron Johnson
Jason - Liam Hemsworth
Claire - Dianna Agron
Benjamin - Kevin Zegers



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