A casa continuava ali, a placa de ‘Vende-se’ também... E ele também.

            Ele se mexeu lentamente, procurando uma posição mais confortável, espreguiçou-se ouvindo alguns ossos estalarem e voltou a olhar a placa caída no chão, as letras estavam quase completamente cobertas por terra e ele quis ir até ela para limpa-la, mas não foi, não podia, não podia alterar aquela paisagem, temia que tudo desaparecesse se ele interferisse, a casa, a placa, o muro onde estava sentado, a história dele, a história deles...

                        - Eu gosto muito de você...

                        - Eu te amo.

            Quanto tempo havia se passado? Dezessete anos... Na verdade, dezessete anos, dois meses e quinze dias, que se passaram rápido demais para ele... Os ecos da discussão de seus pais ainda estavam em sua cabeça, uma borboleta pousou sobre a placa

                        Os gritos ecoavam pela casa do outro, eles estavam encolhidos num canto do quarto, abraçados e escutando a discussão dos adultos na sala ao lado.

                        “...Eles são garotos, isso é inaceitável...”

                        “...Meu filho é um maldito gay...”

                        “...Isso não pode acontecer...”

                        - Hey... – ele abraçou o outro com mais força, escondendo o rosto no pescoço dele e deixando algumas lágrimas caírem – Me promete que não vai me deixar?

                        - Eu... Prometo que, seja o que acontecer, eu ainda vou estar com você – pelo rumo que a discussão dos pais deles estava indo, prometer que nunca o deixaria era algo muito... Incerto

            Ele encarou a casa abandonada. Por que era tão difícil aceitarem? Foi por esse preconceito que eles brincaram de planejar fugir no dia seguindo depois da aula...

                        - Por que ele não veio hoje?

                        - Ele se mudou, você não sabia? Os pais vieram retirar a matricula dele hoje cedo. Parece que ele estava namorando um menino amigo dele, nojento, não?

            Dezessete anos se passaram, a casa nunca havia sido comprada, e todos os dias ele estava lá, saia do trabalho e seguia diretamente para lá, apenas para ficar sentado no muro da casa. Aguardava o retorno do outro, afinal ele havia prometido que ainda estaria com ele, certo? Dezessete anos podiam ter se passado, mas ele prometeu que voltaria, e o que era um dia a mais para quem já havia esperado tanto tempo?

            Ele colocou a mão no bolso do casaco e tirou um recorte de jornal de lá, ignorando a noticia enquanto passava seus dedos levemente pela foto, sentindo algumas poucas lágrimas descerem por seu rosto.

                        “Acidente de carro mata dois adultos e um adolescente”