A primeira coisa que sentiu quando morreu foi dor – uma dor que sobrepassava qualquer sentimento que ele um dia teve. A segunda coisa foi desespero – desespero que percorria por todas as partes do corpo. E a terceira e última coisa foi tristeza – uma tristeza que o deixou paralisado. Então, sua cabeça foi tirada de seu corpo e tudo ficou preto, todos esses sentimentos se transformando em um só – angústia.

Era somente preto. Sua visão não passava de um preto infinito que parecia tomar todos seus sentidos – não sentia nada, por mais que tentasse se mover. A única coisa que via além da escuridão era seu corpo, algo sem cor e a única coisa que parecia se ressaltar era a grande quantidade de sangue em sua nuca. Seus ouvidos eram preenchidos por uma serena voz que cantava uma música calmamente. A voz mudava de tom várias vezes, e algumas vezes era acompanhada por uma outra voz, aquela lhe parecendo tão familiar...

“O mundo é cruel, patético e lamentável.”

Ele deixou-se relaxar, e viu sua visão se turvar um pouco enquanto caía – porém, sem som ou sentimento algum ao realizar o ato. Não sabia que a morte era uma caixa de música triste, pensou.

“Por isso, tentarei te proteger. Protegê-lo do mundo.”

A canção tomava sua mente, a voz que cantava-a também era tão familiar. Ah, é mesmo. Como ele esquecera dela? Lembrava dessa música no fundo do coração – se é que realmente tinha um coração. A voz falhou por alguns segundos, e tentou proferir algumas palavras – coisa que não aconteceu. - Yukiteru-kun... - forçou a voz pela garganta machucada, a voz saindo mais baixo e rouca do que esperava. - Y-y-yukiteru... - a voz falhou e ele fechou os olhos. “Você me salvaria uma vez?”

Ele sabia que não. Mas mesmo assim, ele tinha esperanças. Foi quando tudo voltou a cor, uma voz gritava seu nome repetidas vezes, em um tom preocupado.

Akise Aru sabia que tudo era um sonho. Que ele não iria vir lhe ajudar.

E a luz ficou mais forte.