Eram 3 da manhã e eu acordei sem motivos, a insônia me dominou por completo. Reyna estava ao meu lado dormindo confortavelmente e eu senti uma pitada de inveja, pois eu também deveria estar daquele jeito.

Depois da discussão com o meu querido-não-tão-querido-assim Jason Grace, eu corri para o quarto e chorei por horas até pegar no sono. A ideia de que eu pudesse voltar a me apaixonar por ele invadia a minha mente, porém não acho que fosse uma possibilidade. Era como um filme em que eu era a garota em perigo e Jason era o vilão disfarçado que revelava sua personalidade no final fazendo da garota em perigo sua refém. Eu já vivi esse filme e não estou disposta a rebobinar a vida para recomeçá-lo outra vez.

Levantei da cama e segui para o banheiro. O meu reflexo por um minuto me assustou. Meus cabelos lisos estavam revoltos e presos na trança quase desfeita em um parte do meu cabelo, o resto solto faria uma bela peruca cosplay da Samara de O Chamado. Meus olhos caleidoscópios eram invisíveis e opacos se observassem as olheiras profundas e escuras em contraste com a pupila vermelha de tanto chorar. Meus lábios estavam um rosa opaco e apago, muito diferente de hoje de manhã. Aquela parecia comigo quando tudo entre ele e eu acabou. Prometi não voltar a ficar com essa aparência de novo por causa dele, mas ele conseguiu isso também.

Passei água fria em meu rosto sabendo que a aparência melhoraria em pouquíssimos e discretos detalhes. Refiz um trança em meu cabelo, mas não deu certo e optei por amarrá-lo em um coque.

A possibilidade de continuar naquele quarto até que o dia amanhecesse não me era tentadora, ficar em espaços confinados que me impediam de fazer o que eu realmente queria (dormir) não me era agradável e como uma garota inocente e indefesa mais uma vez, eu andei até o cais.

O vento frio que passava perto do cais me trazia um cheiro bom, o cheiro de flores de vegetações próximas. Meu pijama não era de fios grossos para usar durante invernos rigorosos, na verdade eram tão finos que cada vez que a brisa passava era como se eu recebesse uma facada fria. Mas eu não me importava, pra mim aquilo era confortável, eu via as estrelas e me lembrava das noites em Oklahoma com meu pai nas raras vezes que ficávamos juntos. Era lindo.

– Insônia? - perguntou Leo atrás de mim.

Eu assenti com a cabeça.

– Pensei que isso fosse exclusividade minha, mas pelo visto, me enganei.- falei indicando um lugar ao meu lado para que se sentasse na posta do cais.

– Insônia tem muitos motivos, e qual seria o seu, Beauty Queen?

– Dormir durante a aula de Hera. - falei. Parecia uma boa ideia falar aquilo, e não era mentira, mas não era verdade. - E você?

Ele suspirou cansado. Estava claro que não era algo fútil, parecia ser algo que eu senti tempos atrás. Paixão.

– Sua amiga com o cosplay da princesa daquele filme da Disney. - ele falou e ficou óbvio que ele escondia a dor com o humor.

– Qual?

– Frozen. Ela é aquela rainha que controla o gelo. Fria. Com medo do amor. - ele deu um riso desanimado.

– Acho que isso é culpa minha.

Ele me olhou incrédulo.

– Como assim?

– Eu contei minha história pra ela. Antes de vir pra cá um cara me humilhou por causa de uma aposta, ele namorou pra me usar. Nunca vou perdoar ele. - falei a última frase num sussurro.

– Eu vou tentar adivinhar. - ele falou com o humor falso. - Jason?

Eu não deveria. Mas assenti.

Ele se levantou e me olhou antes de partir.

– Talvez você tenha a traumatizado com essa história, mas nada é igual, Beauty Queen. Sinto por Jason ter feito isso contigo, mas eu vou concertar minha história com Reyna.

Ele não me olhou com ódio, ele me olhou com determinação. Jason poderia ter sido assim comigo, mas Reyna merece Leo.

– Ela está dormindo. - falei dando um sorriso discreto.

– Então acho que quando ela acordar vai pensar que continua sonhando, como eu disse antes, eu sou Leo Sedução Valdez.

Eu ri e ele saiu correndo em direção ao dormitório das meninas. Eles mereciam ter um final feliz. Mais do que eu.

Continuei a observar as estrelas pensando nelas. Foi quando eu olhei pra lua. Solitária, com seu brilho emprestado do Sol, uma estrela dependente de algo, apreciada por algumas pessoas, mas no final todos sempre preferem o Sol. Eu era como a lua, dependente de tudo e no final trocada pelo Sol.

– Por que isso está acontecendo comigo? - falei pra lua. Sabia que era ridículo a ideia de conversar com alguém que não iria te responder, mas a situação estava fora do controle e a única pessoa com o mesmo estado que eu, a insônia, estava correndo para lutar pelo que queria antes mesmo de eu desabafar.

Galhos foram quebrados suavemente enquanto eu ainda olhava para o céu. Me virei de leve.

– Se você quiser a resposta, sugiro que tente o yahoo! mas não é tão confiável assim. - falou Jason se aproximando. - Mas se quer uma resposta agora, sinceramente, acho que é por minha causa.

– Nem tudo gira ao seu redor, a não ser é claro, coisas que vão para o lixo, tipo você.

Ele riu do meu comentário.

– É meio cedo para você começar com seu "ódio eterno" por mim. - ele falou fazendo aspas imaginárias no ÓDIO ETERNO.

O empurrei para longe quando ele se aproximou demais.

– Mantenha distancia, não estou a fim de pegar suas pulgas.

– Você não falou isso quando nos beijávamos no tempo de namoro. - ele falou sarcástico.

– Isso foi no passado. Não existe mais nada entre nós agora.

Ele se aproximou de novo de mim. A sensação da sua presença me dava nojo.

– Podemos recomeçar.

– Só quando eu estiver bêbada e cá entre nós, você sabe que eu não bebo.

Ele riu novamente.

– 1 de setembro, festa na casa do Deimos. Você bebeu tanto que quase fez uma dancinha sensual.

– Acontece que isso foi uma exceção, porque você me embebedou.

– E posso embebedar de novo. Você estava sexy naquele vestido amarelo.

Aquela fora a gota d´água. me virei novamente para o cais e desvirei rapidamente logo em seguida o pegando de surpresa e jogando-o dentro do lago.

– MCLEAN!!- ele gritou enquanto saía encharcado da água.

Ele voltou a se aproximar de mim. Antes que eu pudesse processar seus movimentos, ele prendeu a minha cintura, segurou minha nuca e me beijou.

O beijo trazia lembranças, lembranças boas de quando eu o vi pela primeira vez e pensei que ele não se interessaria por mim. Lembranças que me levaram até o nosso primeiro encontro no cinema pra ver Bob Esponja - O Filme. Ele me fez coisas inesperadas, do início ao fim. Foi aí que eu me lembrei, eu fui a aposta.

Jason me tocava de jeito inocente e inesperado para um bad boy, eu gostava do seu toque, mas a última lembrança rondava a minha cabeça sem limites de replay. Eu como reação atrasada o empurrei. Meu pijama estava úmido, mas eu não me importei.

O importante no momento eram seus olhos. Em seus lábios havia o típico sorrisinho de bad boy, mas em seus olhos. Em seus olhos haviam um misto de esperança e surpresa. O passado invade, mas o presente permanece. A cena me tirou do choque depois de alguns segundos.

– Você não pode simplesmente me beijar assim - digo furiosa com ele.

– por que? - Jason me pergunta.

– Por que você magoou minha melhor amiga- falou Leo atras de Jason com Reyna ao seu lado.

– E se você não sair agora vou ser obrigada a por em pratica minhas aulas de luta com você, Grace! - fala Reyna ameaçadora.

Ele se virou pra mim e me olhou com aqueles olhos azuis que me levavam pro passado, o passado que eu pensei que fosse verdadeiro.

– Apenas lamento que você não seja mais minha Mclean, você é especial em todos os sentidos não se esqueça disso.

Não sabia como Leo e Reyna vieram tão rápido. Mais aquilo não importava. O que importava era o beijo, o beijo que ele me deu.

– Você está bem? - perguntou Reyna me dando um abraço. Leo me abraçou logo em seguida.

Assenti com a cabeça.

– Então vamos a quedarnos na cama, o que acham? - perguntou Leo.

– Dormir agora seria ótimo. - falei conseguindo sorrir.

A lembrança do que acabara de acontecer não parava de voltar a minha mente, mas me dei um desconto e voltei para o quarto atrás de Leo e Reyna que estavam de mãos dadas. Sorri com o gesto inocente e amoroso dos dois.