Além da morte escrita por Williane Silva


Capítulo 2
Pulseira de prata!


Notas iniciais do capítulo

gente desculpa a demora mais tá ai o segundo capitulo.



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Nevava. Era como se estivesse nevando há semanas, há meses, há uma eternidade.

– Você devia dar uma chance a Aro.- comentou minha melhor amiga, Alice. Estávamos na lanchonete da universidade, tomando café.- Ele adora você há um tempão!

“ Há um tempão” significava o período anterior a minha ida para a Nigéria. Eu e Aro tínhamos cursado juntos a faculdade de biologia. Ambos havíamos perdido as respectivas mães no mesmo ano, fato que uniu ainda mais nós dois. Ele acabou se apaixonando e não fez segredo de seus sentimentos na época. Como também não fazia agora.

– Eu estou lhe dando uma chance.- eu responde.- Vamos jantar de novo na sexta-feira.

Alice era uma mulher linda baixinha de cabelos especados, a principal assistente chefe de departamento de biologia. Era direta e franca, do tipo que falava tudo o que lhe viesse à cabeça.

– Ele sempre a leva para sair, Bella. Posso saber quando é que você vai convida-lo para entrar?

Eu franzi a testa.

– Como assim?

– Eu quero dizer, quando é que você vai convida-lo para entrar na sua casa, na sua vida... na sua cama?

– Minha cama?- repeti incrédula. O pensamento de fazer amor com ele era completamente absurdo, até um pouco obsceno.- Aro?

– E por que não? Posso saber o que há de errado com ele? O rapaz é brilhante, confiável e está completamente apaixonado por você!

Eu não olhei Alice nos olhos.

– Bem, ele não é muito excitante...

Alice balançou a cabeça com firmeza.

– Excitante? Ora, Bella? Francamente! Meu primeiro marido era excitante. Aliás, tão excitante que eu tive que chamar a polícia uma porção de vezes. Acredite em mim, querida. É muito melhor ter um marido confiável do que excitante!

O primeiro marido de Alice havia sido um engenheiro com cara de galã, um homem tão agressivo quanto infiel. Agora, ela era casada com um executivo lindo loiro e alto, um autêntico apaixonado que idolatra o chão que ela pisa.

– É que eu... não sinto nada por Aro, Alice.

– Bem, então é melhor tratar de sentir alguma coisa por alguém o quanto antes. Não se esqueça de que o tempo voa, querida. Um dia, você poderá acordar e perceber que se transformou numa mulher de meia idade, sem ter uma alma viva para lhe fazer companhia. Acredite em mim. A solidão é uma coisa muito triste!

Eu forcei um sorriso.

– Eu não estou sozinha. Tenho um gato, já se esqueceu?

O gato, eu pensei, um tanto confusa. Sombra. Já fazia um mês que ele apareceu, silencioso e elegante, à minha porta.

– Mas eu pensei que o gato estivesse perdido.

– Ele apareceu novamente.

– E onde ele esteve durante esse tempo todo?

– Não faço ideia.

Eu fiquei olhando para minha xícara de café durante um longo tempo. Precisava falar com alguém a respeito do gato, mas o problema é que eu não sei por onde começar. Decidi tentar.

– Ele desapareceu duas vezes.- contei.- Na primeira, passou dois dias fora. Na segunda, quase uma semana.

Alice tomou um gole de café.

– Deve haver alguma outra pessoa tratando muito bem dele. Os gatos são assim mesmo. Felinos e humanos...

Eu franzi ligeiramente a testa. O assunto não era fácil.

– Não, Alice. Ele não saiu. Continuou dentro da casa.

– O quê? Mas isso é impossível! Como é que o gato pode ter se perdido, dentro de casa?

Eu me senti um pouco tonta. Procurei me concentrar.

– Eu sei que parece meio estranho, mas a verdade é essa mesma. O gato não sai de casa, desde que começou a nevar. Ele não gosta de pisar na neve. Por isso, fica ali dentro. O tempo todo.

Alice ficou pensativa.

– Então quer dizer que o gato se perdeu... dentro de sua própria casa?

Eu dei um sorriso meio sem graça.

– É que é uma casa muito grande...

– É verdade. Muito grande. Aliás, tão grande, que não sei por que você ainda a conservar. Francamente, Bella aquela casa sé serve para lhe trazer más lembranças! Coloque-a a venda!

Eu dei d ombros.

– Já coloquei. Só que ninguém se interessou em compra-la.

Alice não pareceu muito convencida.

– Conversa mole.

Eu dei um longo suspiro.

– O engraçado é que, seja lá para onde o gato vai, ele nunca volta com fome. Nas duas vezes, eu lhe dei um tigela cheia de comida. Ele olhou pra mim e se afastou.

Alice levantou a sobrancelha.

– Ei, espere um pouco. Você está dizendo que ele desapareceu, dentro de casa, por uma semana e quando voltou, não estava com fome? Minha amiga, seu porão deve ser infestado de ratos!

Eu engole em seco.

– Se eu lhe contar uma coisa, você promete que não vai achar que estou ficando maluca?

As sobrancelhas de Alice ficaram ainda mais levantadas.

– Mas por que eu acharia uma coisa dessas? O que está incomodando você, Bella? Vamos, pode falar! Sou sua melhor amiga!

Eu hesitei. Então, acabei contando.

– Eu... fiz aniversario na semana passada. E minha tia me mandou flores.

Alice fez sinal para que eu continuasse.

Eu endireitei meus ombros.

– Tia Kriste é a única parente que tenho. A irmã caçula da minha mãe. Como detesta fazer compras, ela sempre manda flores. E dessa vez, me mandou um buquê de rosas amarelas.

– Certo.- disse Alice.- E aí?

Eu percebi que eu segurava a respiração. Soltei devagar.

– Eu coloquei as rosas no vaso que há sobre a mesa da sala de jantar. Sombra gostou tanto delas, que vivia pulando ali em cima, a fim de sentir o seu perfume. Enato eu apanhei uma das rosas, cortei o talo e a prendi na coleira em volta do pescoço do gato. Quanto ao vaso, resolvi tira-lo de cima da mesa e o coloquei numa prateleira, para que ele não conseguisse mais alcança-lo. Uma hora depois, como eu disse, ele tinha sumido. E só voltou uma semana depois.

Parei de falar. Era difícil de continuar.

Alice insistiu.

– Pelo que eu posso perceber, a historia não termina por aqui.

Eu concordei com a cabeça.

– Quando ele voltou, a rosa ainda estava presa em sua coleira. E não podia estar mais fresca. As outras, naquela altura, já estavam completamente murchas.

Alice não estava acreditando muito naquela historia. A coisa toda era absurda demais.

– Pare com isso, Bella. Você está me assustando. Com certeza imaginou esse caso e...

– Não! Eu não imaginei! Aconteceu mesmo! Eu juro! O gato desapareceu por uma semana e a rosa ainda estava fresca em seu pescoço!

– Olhe para mim.- pediu Alice.

Com relutância eu levantei os olhos e encarei minha amiga.

Alice inclinou a cabeça sobre a mesa.

– Sabe o que aconteceu, minha querida? Você ficou tanto tempo sozinha naquele casarão mal assombrado, que começou a imaginar coisas. Saia de lá e comece uma vida nova, pelo amor de Deus! Estou falando sério!

– Alice.- eu protestei.- Eu não imaginei nada disse! Não sei onde o gato se meteu durante esse tempo todo, mas, seja lá como for, a rosa não morreu!

– Você faz ideia de onde ele possa ter ido?

– Não.

Alice voltou a se endireitar na cadeira, embora continuasse a me encarar com os olhos cheios de preocupação.

– Venha jantar conosco essa noite. Por favor. Você sabe que Jasper te adora. Além disso, ele está louco de vontade de servir sua nova invenção para um convidado: camarões flambados no conhaque. Que tal? Você gosta de camarão?

Eu respirei fundo.

– Alice, eu juro que não estou sentindo solidão. Vejo centenas de pessoas todos os dias e...

– E.- ela me interrompeu.- Se você não quer mesmo nada com Aro, vou lhe dizer o que fazer. Jasper me disse que há um novo professor no departamento de direito. Muito simpático, por sinal. Pretendo convidar vocês dois para jantar no sábado, juntamente com mais algumas pessoas, para não dar muito na vista. Excelente ideia, você não acha?

– Eu sabia.- murmurei desanimada.- Você está achando que eu fiquei maluca!

– Não é nada disso, amiga. Eu não acho que você esteja ficando maluca. Só acho que já perdeu muito tempo chorando pelos mortos e que chegou a hora de parar. Comece a viver novamente.

Começar a viver novamente, pensei com desânimo. Como se aquilo fosse muito simples.

– É isso aí.- insistiu Alice com voz gentil, mas firme.- Esqueça os fantasmas. Chegou a hora de se juntar aos vivos.

Eu acabei concordando em jantar com Alice e Jasper naquela noite. Os camarões no conhaque estavam realmente magníficos.

– Você é um excelente cozinheiro, Jasper.- eu o elogiei.- Nunca comi nada tão gostoso na vida!

– Eu não disse que você iria gostar?- perguntou uma animada Alice, dando um beijo no rosto do marido.- Jasper é o máximo!

Eu sorri e observei o casal se abraçar. Jasper e Alice se amavam muito, mas era um amor calmo, tranquilo e relaxado. Ambos gostavam da companhia um do outro. Era agradável ficar ao lado deles. Não excitante mais gostoso.

De qualquer modo, não posso nem pensar em viver um tipo de relacionamento parecido com Aro, ou com qualquer outro homem. Depois do que tive com Edward, tal tipo de vida me parecia insuportável.

Entretanto, ao chegar em casa à noite, um terrível sentimento de solidão apareceu para me assombrar. O gato estava ali, em cima do sofá, mas se limitou a me receber com um olhar pouco amistoso.

Eu já tive outros animais de estimação, quando criança e adolescente. Eu era filha única e nasce quando meus pais já tinham passado dos quarenta. Por isso, eles haviam me comprado uma porção de bichinhos de estimação ao longo dos anos, de modo que eu não me sentisse solitária. Mas jamais eu tinha conhecido um animal tão pouco amoroso e estranho quanto Sombra.

O engraçado é que ele nunca miava. E seu silêncio total o fazia parecer ainda mais esquisito. Eu prende um sininho em sua coleira, mas o gato se movia com tanto cuidado, que ele quase nunca tocava. Era como ter um bichano fantasma, não real.

Talvez Alice tenha razão. Quem sabe eu devesse mesmo sair desta casa, começar a reparar outros homens, me divertir um pouco.

Alice me contou uma vez que eu estava sofrendo de carência sexual.

– Você é uma mulher jovem e saudável.- ela havia me dito.- E o sexo é uma parte importante da vida. Uma parte poderosa. Não dá para fingir que ela não existe!

Alice e Jasper tinham insistido para que eu fosse á casa deles no sábado, a fim de conhecer o tal professor que entrou no departamento. Jasper disse que também ia convidar um amigo de nome Sam, que havia acabado de ser transferido para sua firma. Um homem extremamente, simpático, conforme suas palavras.

Eu fiquei tentando imaginar os dois homens sem rosto, conhece-los melhor, ir para cama com um deles.

Então, olhei para o gato. O bichano me encarava com olhos desaprovadores, como se estivesse lendo meus pensamentos. No momento seguinte, ele se levantou do sofá, pulou no chão, saiu da sala e desapareceu de vista, mais uma vez.

– Sombra?- eu chamei.- Onde você está? Ei, gatinho, vamos, apareça?

Eu procurei pela casa toda. Nada. Ele havia desaparecido de novo. Eu respirei fundo. Sabia que o animal acabaria aparecendo de qualquer maneira, na hora em que jugasse conveniente. Mas aonde ele se esconde? Como é que podia sumir daquele jeito? Eram perguntas para quais eu não tinha respostas.

Quando o gato não reapareceu na manhã seguinte, eu me forcei a não me preocupar. Ele acabaria parecendo. Mas não foi o que aconteceu. Ele continuava desaparecido durante dias. Era como se eu jamais tivesse tido um gato.

– O bichano se foi de novo.- eu contei para Alice, quando ambas tomávamos café na lanchonete.- Sumiu na segunda-feira à noite, depois que saí de sua casa e não apareceu mais depois disso.

Alice se recostou na cadeira.

– Se esse gato fosse meu, eu o expulsaria de casa assim que ele aparecesse de novo. Mas que folgado! Por que não arranja um cachorrinho? Quem sabe um Poodle...

Eu só vi o gato novamente no sábado à noite. Eu tinha acabado de voltar da casa de Alice e Jasper. Para minha grande surpresa, eu tinha me divertido e rido bastante.

Sam keats, o homem que trabalhava na firma de Jasper, era tão ruivo e sardento quanto eu. Conversamos durante muito tempo e sua companhia me pareceu muito agradável. Ele pediu o numero de meu telefone e eu dei, sem nem um momento de hesitação.

Marcus Martinson, o novo professor de departamento, era mais reservado, tão formal que chegou quase a ser antipático. Era um homem bonito de aparência nórdica, que pareceu me estudar durante a noite toda.

De qualquer maneira, ele deu um jeito de sair no momento exato em que eu sai, me acompanhou até meu carro e me convidou para almoçar na semana seguinte. Eu aceitei.

Agora, ao entrar em casa e pendurei meu casaco, cheguei à conclusão que Alice ficou muito satisfeita. Eu conhece dois homens e um deles, Sam Keats, pareceu ser o tipo que valia a pena tentar.

Apaguei a luz da sala e me dirigi para meu quarto, o menor dos seis, e foi aí que o vi.

O gato estava no topo da escada, silencioso e imóvel, como se fosse feito de bronze. Apenas seus olhos verdes estavam cheios de vida. Parecia estar muito bem alimentado e cheio de saúde.

Eu segurei a respiração, um pouco tensa devido àquela súbita aparição. Então, reparei que alguma coisa nele estava diferente. A coleira com o sininho preso tinha desaparecido. No lugar, ele usava uma prateada.

– Posse saber por onde andou, Sr. Misterioso?

O gato me ignorou e começou a se lamber. Eu subi a escadaria e me ajoelhei diante dele.

– E isso, o que é? Quem lhe deu essa nova coleira? Pelo visto, alguém mais está cuidando de você, não é?

Eu continuei a olhar para a coleira de prata e, de súbito, percebe que não podia mais respirar. Meu coração começou a bater com violência, enquanto lágrimas surgiam em meus olhos.

– Não...- eu sussurrei, quase que em estado de choque.- Não pode ser...

O gato continuava a me encarar, com os olhos impassíveis. Com as mãos trêmulas, eu tirei a coleira do seu pescoço. Segurei nas mãos.

Não era uma coleira. Era uma pulseira masculina, de prata. E havia algo gravado nela. Um nome: Edward M. Cullen. E uma mensagem. “para Edward, o amor é eterno. Te amo muito, Isabella.”

Eu continuei ali durante um longo tempo, olhando para o objeto de prata. Era o presente de casamento que dei a Edward. Não havia a menor dúvida.

A pulseira que ele usou quando morreu. E quando seu corpo foi cremado.

Era uma pulseira que não existia mais. Porém, estava ali, sólida e real, em minhas mãos.


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Notas finais do capítulo

gente mais misterios vem por ai.



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