A Areia Vermelha escrita por Phantom Lord


Capítulo 3
Capítulo 3, O pássaro flamejante




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Eu a vejo ao longe. Suas roupas estão pegando fogo. Um traje elegante e muito criativo, admito. Um rosto bonito banhado por uma cascata de fios negros. A multidão ruge ao vê-la adentrar as entranhas da minha cidade.

_ Katniss Everdeen!_ anuncia Flickerman.

Então esse é o nome da garota que se ofereceu como tributo para salvar a irmã. Comovente, se não me parecesse algo tão dramático. Mas a Capital parece sensibilizada por esse fato. E ver Katniss Everdeen entrar em chamas para a apresentação dos tributos os deixaram loucos. Estão vibrando de alegria e excitação.

O telão dá um close na carruagem do distrito 12. O rapaz ao lado dela está sorridente e confortável, muito mais do que ela própria. Ele parece mais sincero. Não por estar ali, mas por segurar a mão de Everdeen. Mas ela me desperta o humor. Sorri e manda beijos. Não digo que ela não está incrivelmente bela e chamativa, mas seus gestos são um tanto artificiais. Os ingênuos habitantes da Capital reconhecem aquilo como sendo um ato genuíno e quase se explodem de tanta empolgação. Agora até chamam pelo nome dela.

Katniss aparenta ser esperta. Mais do que as crianças burras e egocêntricas do distrito 2, que me aparecem por aqui em todas as edições dos jogos. Me pergunto se ela poderia sobreviver a esta edição. Bem, se acontecer, ela será uma nova versão de Finnick Odair. Ah, sim, ela será. A garotinha adorada da Capital será um troféu para aqueles que a desejarem.

As carruagens começam a se alinhar na Cidade Circular. Os cavalos negros do doze arrastam Everdeen e o rapaz Mellark até diante de mim. A música silencia e é minha vez de falar.

_ Bem vindos, tributos. Sejam todos muito bem vindos à Capital. Todos nós estamos contentes em recebê-los aqui, para a septuagésima quarta edição dos Jogos Vorazes. Que a sorte esteja sempre a seu favor.

Os tributos das primeiras carruagens sorriem. Mas alguns apenas me fitam com um olhar intenso e eu não sei traduzir suas expressões em palavras. O hino de Panem explode e a câmera continua se movimentando em torno da carruagem de número doze. Eles estão apaixonados por Katniss Everdeen e Peeta Mellark.

As carruagens mergulham no Centro de Treinamento e desaparecem de vista. Os moradores da Capital ainda rugem, choram e até gritam desesperadamente. É tudo muito ridículo. Me esforço para não expressar meu desprezo por aquela gente e mergulho na mansão.

O gosto amargo retoma minha boca e eu tiro um lenço de meu paletó. Cubro a boca com ele para limpá-la. Tanto tempo se passou desde que eu tomei do veneno de minhas adoráveis rosas brancas, mas a ferida não cicatrizou. Jamais.

As pessoas dentro da mansão também comentam sobre Katniss Everdeen enquanto brindam a abertura dos Jogos. Eu estou zonzo e cansado. A idade me alcançou. Meus cabelos já estão inteiramente tomados pelo branco-papel e eu estou velho. Velho mas não estou morto. Meu poder não foi reduzido. Minha flor ainda brilha em minha lapela.

Eu engasgo. Não acontece frequentemente, mas é terrível quando acontece. De alguma forma meu sangue queima meu interior e eu começo a tossir sangue.

_ Senhor presidente..._algumas pessoas se aproximam, preocupadas mas eu as afasto com o braço, cobrindo a boca com o lenço.

Me apresso em direção ao banheiro, sem parecer desesperado ou muito doente. Mas somente quando chego lá é que vejo a deterioração de Coriolanus Snow refletida no espelho. O lábio inchado está coberto de sangue. O cabelo desgrenhou-se no esforço de conter a tosse. E um rosto muito vermelho encara a si mesmo com melancolia.

Muitas lembranças explodem em minha mente. Desde meu extravagante casamento, festejado durante uma semana, até a morte de meu filho, Thomas. Sim, ele está morto. Seu assassino agora lamenta pela morte dele. Porque seu assassino sou eu.

Meu pobre Thomas tomou do soro da morte que servi a tanto tempo atrás. Ele já não era mais uma criança quando eu o matei. Era grande e inteligente como eu. Bem, ser como eu por si só já é uma ameaça. Se Thomas fosse tomado pela ambição de se tornar um presidente e se tornasse um conspirador, seria fácil demais me eliminar. Afinal, ele tinha total acesso a mim. Meu filho.

Não tenho remorsos. Aquilo foi necessário. Qualquer um que representa perigo deve ser eliminado. Não existem exceções para conspiradores. Nenhum deles representa o que eu represento. Eu construí Panem do modo como ela é hoje. Uma nação firme sob meu controle. Qualquer outro governante permitiria que a centelha se tornasse uma fogueira e depois um incêndio incontrolável. Revolução. É disso que eu estou falando.

Medito sobre isso enquanto me encaro no espelho exuberante do banheiro da mansão. Embora a porta esteja fechada eu ouço a música alta no salão e muitas vozes agitadas conversando empolgadamente sobre algo. Enxáguo o interior da minha boca e quando a água toca minhas feridas incuráveis lá dentro, sinto uma dor aguda. A simples ideia de que estou vulnerável me deixa furioso e eu enxugo meus lábios inchados e marcho de volta para a festa.


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