A Areia Vermelha escrita por Phantom Lord


Capítulo 16
Capítulo 15, O Mockingjay




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_ Não vão acontecer? Como assim não vão acontecer?!

É Juvia quem protesta, extremamente irritada, batendo o pé diante da minha mesa. Eu suspiro, olhando-a com severidade, mas aí está alguém que não teme por desafiar o presidente em pessoa. Juvia não se dobra aos meus olhares e, ao que parece, não se dobraria nem mesmo se eu eu chamasse a segurança nacional.

_ Calma, Juvia.­_ pede uma moça de cabelos muito curtos e desenhos de videiras na pele branca. Esta é mais esperta e me olha com certa preocupação, conhecendo o risco de se discutir com um presidente.

_ Quer que eu fique calma, Cressida? Quer mesmo?_ lágrimas brotam das beiradas dos olhos de Juvia, mas eu procuro não olhar para nenhuma delas. Estou suspirando e cultivando a paciência dentro de mim, mas a cada vez que ouço a voz dessa Juvia, tesouras afiadas de jardineiro a aparam.

Há uma terceira, nos fundos. Uma jovem e bonita, de cabelos azul-turquesa e uma tira em espiral que lhe cobre as partes íntimas. Exceto por essa tira, nada mais a veste. O estilo bizarro da Capital me incomoda às vezes, mas essa é uma das poucas vezes que me faz rir.

_ Katniss Everdeen virá em breve para a Capital, Srta. Juvia._ digo com um tom calmo mas que evidencia o meu cansaço._ Mas não será para o casamento. Não acho que ela mesma se importará com isso, agora que terá de treinar para competir com velhos vencedores e talvez até contra o próprio marido.

Juvia me lança um olhar de espanto, me encarando com certo horror. Cressida, por outro lado, não parecia surpresa. Ela queria fazer com que Juvia se calasse a todo custo, mas a outra se esquivava de suas mãos e a respondia com arrogância.

_ Cressida, você não entendeu? Demoramos todo esse tempo para organizar tudo, você teria a oportunidade única de fazer a cobertura completa da cerimônia, mas ela não vai existir! E quanto à Katniss e Peeta? Eles...eles...

Ela começa a fungar e lágrimas se derramam de seus olhos brilhantes. Eu nada digo, é claro, na verdade, ignoro-a completamente e baixo o meu olhar para um livro aberto em minha mesa, fingindo lê-lo com atenção. Estou determinado a impedir que Juvia arruíne o meu bom humor, mas ela diz palavras que me deixam extremamente zangado.

_ Talvez...talvez as pessoas estejam corretas em se rebelarem!

Esse é o primeiro sinal de que existem pessoas sendo lentamente contaminadas pelo veneno chamado Revolução. Estou tão zangado que expulso Cressida e a mulher de cabelos azúis e fita enroscada no corpo. Quando elas passam pela porta, eu a fecho e me viro para Juvia, que se encolhe como um pobre esquilo medroso, temendo pela raiva que inflama o meu corpo. Minha boca se enche de sangue e eu não o engulo. Logo, gotas de líquido vermelho brilhante escorrem pelos meus lábios e mancha meus dentes. Sei que é uma cena bizarra quando vejo o rosto de Juvia se contorcer em uma careta de terror. Então eu me aproximo e uso a palma da mão direita com violência no rosto da organizadora de eventos. Ela vira abruptamente, e a cascata de cabelos vermelhos gira com ela e enquanto ela cambaleia desequilibrada e dolorida, eu digo em um tom suficientemente alto para que só ela escute, fazendo sangue respingar no chão.

_ Quem você pensa que é para me desafiar desse jeito? Você está em minha casa, de pé à frente do presidente de Panem. Eu poderia mandar matá-la se quisesse.
Merchas cobrem-lhe o rosto choroso, que acaricia a área vermelha onde minha mão acerta. Ela parece ter machucado o pé também, porque manca quando tenta andar e emite grunhidos de dor. Percebo que ela está sobre sapatos de salto e um deles está partido.

_ Presidente Snow, eu...
Antes que ela termine a frase, eu golpeio seu rosto com outro tapa, dessa vez no outro lado do rosto. Ela começa a soluçar, afastando os cabelos do rosto para me olhar com olhos manchados.

_ Sua criatura miserável._ digo olhando-a nos olhos. Ela é mais alta do que eu, mas está se curvando por algum motivo, talvez como um pedido de perdão silencioso ou por que a dor no calcanhar a faz se contorcer.

Ela cessa os soluços por um segundo e eu estou furioso demais, desejando jogá-la da janela. Como é que alguém pode me desafiar dessa forma? Qualquer um pensa que pode me olhar com caretas e alterar o tom de voz para mim? Não permitirei que o erro de Katniss seja visto como motivação.

_ Eu posso contar para..._ ela começa em tom de ameaça, mas eu agarro sua garganta e pressiono meus dedos contra ela. Ela começa a se engasgar, arfando e e move a boca, implorando por misericórdia, mas nada sai de sua boca exceto os estranhos sons da sufoco.

_ Para quem?_ pergunto._ Para alguma autoridade maior? Eu sou o presidente, sua tola. Seu ato de rebeldia à colocará numa forca, em breve. Ou quem sabe, numa câmara de incineração.

Me canso de ouvi-la arquejar e se contorcer e solto sua garganta, jogando-a com força no chão. Ela chora, desencorajada a dizer qualquer coisa ou fazer qualquer ameaça. Berro pelos seguranças e dois homens altos e robustos invadem meu gabinete.

_ Peguem-na e levem lá para baixo._ ordeno.

Os homens agarram Juvia pelos braços e a arrastam para fora. Cressida e a garota de cabelos azúis estão do lado de fora, estupefatas com o estado deplorável em que a mulher é levada para minhas masmorras. Elas lançam um olhar breve de medo para mim e depois seguem atrás dos seguranças, perguntando algo que não descubro o que é porque suas vozes são abafadas pelo hino da Cornucópia que começa a tocar no televisor holográfico, que acaba de se iniciar sozinho.

De algum modo, a TV chia com alguma interferência no sinal. Acontecera raramente, mas desta vez, não é como nenhuma outra. A holografia se desliga sozinha e o brasão de Panem oscila antes de desaparecer. Teria sido imperceptível para qualquer pessoa, mas não para mim. Eu sei quando há algo errado.

Werk Jones, um rapaz com o rosto manchado de sardas vermelhas analisa para mim essa propaganda suspeita, um pouco mais tarde. Ele faz isso à meu pedido e secretamente, num laboratório nas profundezas da mansão.

_ Amplie o brasão. E pare o vídeo no momento da interferência. Então, dê um jeito de aumentar a nitidez. Faça o mesmo com o áudio.

Jones gira e aperta vários botões. Quando o hino começa a tocar e o brasão de Panem se amplia na tela negra, há um breve chiado em que o símbolo pisca e a tela fica preenchida por estática. É neste momento que Werk Jones interrompe o vídeo, pressionando outro botão.

Ambos somos tomados por algo que nos faz arquear os pares de sobrancelha. Eu abro a boca para respirar melhor, por que todo o ar foi arrancado brutalmente de meus pulmões. Pelas paredes da minha boca, escorrem mais uma vez o detestável líquido amargo que deveria estar correndo em minhas veias e não vazando pelas minhas feridas. Não importa agora. Não me importo que o sangue pule de minha boca em gotas densas e vermelhas sobre o impecável painel de botões negros da sala de edições de vídeos da Capital. Não me importo que vejam que eu estou doente porque neste momento, exatamente neste momento, eu me sinto doente e vulnerável e sinto que não posso impedir a ruína. Werk Jones olha para mim assustado e confuso, me perguntando se aquilo tinha algum significado para mim.

No telão que se projeta na nossa frente, sob três linhas de estática e sobre um mar de chamas vermelhas e douradas está o broche do Mockingjay de Katniss Everdeen.


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