Fazia mais de meia hora que as meninas haviam entrado na casa, e eu ainda não tinha notícias. Andrea insistiu que conseguiria convencer Shelby, e eu confiei isso à ela. Olhei para minhas unhas, me certificando que todas estavam perfeitas, bocejei e olhei para a rua à minha frente, vendo um gato cinza correr atrás de um pássaro.

– Não mesmo! – ouvi Shelby gritar. – Não posso deixar minha filha só com três garotas!

Ouvi alguém reclamar algo, me aproximei da porta e tentei prestar atenção.

– Rachel não sabe se cuidar! – Shelby novamente gritou, me fazendo revirar os olhos. – E se ela precisar de mim?

– Nós saberemos cuidar dela. – pude ouvir Quinn dizer.

– Rachel não vai.

– Por favor, Shelby. – Brittany pediu, choramingando. – Por favor...

– Por favor... – Andrea se juntou à loira.

– Eu prometo ficar de olho nela.

– Não adianta. – Shelby disse, autoritária. – Rachel não vai ir.

Senti uma enorme vontade de entrar e implorar para Shelby deixar Rachel ir, mas eu não podia estragar o plano.

– Eu quero ir! – Rachel gritou, tão alto quanto Shelby.

– Você não vai! – me aproximei da janela, querendo ver algo. – Não quero você sozinha em um lugar desconhecido!

– Meus pais estarão lá. – Andrea mentiu.

– Mesmo assim, eu não conheço seus pais, e não deixarei Rachel ir sem mim.

Ouvi o grito de Rachel soar alto, a porta se abriu rapidamente e vi Rachel correr para fora, o mais rápido que ela podia, logo parando perto do carro de Andrea. Ignorei todo o resto da conversa dentro da casa e corri atrás de Rachel, que chorava sem parar, apoiada no carro.

– Está tudo bem, Rachel. – murmurei, me aproximando dela. – Você vai conseguir ir conosco.

– Mamãe não quer deixar. – ela choramingou, escondendo seu rosto em suas mãos. – Eu só queria ver a praia...

– Eu cuido disso.

Corri rapidamente para dentro da casa, assustando Shelby e as meninas, Quinn se levantou rapidamente, e tentou me segurar.

– O que você está fazendo aqui? – Shelby perguntou, olhando de mim para as meninas.

– Você não pode deixar Rachel presa à você! – gritei, me esquivando de Quinn. – Rachel está prestes à entrar em sua maior idade, não é mais uma criança, sabe se cuidar!

– Saia da minha casa!

– Eu não sairei, até você deixar Rachel ir à casa de praia de Andrea!

– Ela também irá? – Shelby perguntou, olhando para Quinn. – Vocês mentiram para mim e...

– Me poupe, Shelby! – parei em sua frente, apontando para ela. – Rachel quer tanto ir a esse lugar, mas você não consegue enxergar que sua filha não precisa mais de você!

– Ela precisa de mim! Ela sempre precisará de mim!

– Ela não precisa de você, Shelby! Ela precisa viver!

– Ela não pode...

– Rachel sabe se cuidar, sabe viver sem você!

Shelby fechou os olhos, parecendo começar a chorar, Quinn deu um passo à frente, querendo abraçar a mãe de Rachel, mas eu não deixei.

– Eu não aguentarei ficar sem ela... – Shelby murmurou, sentando no sofá. – Rachel é minha única filha, ela é autista e...

– Rachel sabe o que deve ou não fazer. – parei em sua frente. – E ela precisa aprender mais, aprender à passar dias sem as suas asas, porque... daqui à cinco, ou até dez anos, ela não estará mais morando com você.

– Eu nunca a deixarei ir.

– Isso não depende apenas de você, Shelby. Rachel quer isso. Ela quer crescer. Ela quer ser independente.

– E se ela ter algum ataque? – ela levantou seu rosto, parecendo assustada. – E se ela sofrer algum acidente? E se...

– Esqueça os “e se...”. Se você confia em sua filha, solte-a.

– Não será por anos, Shelby. – Andrea disse. – Passaremos uma semana lá e...

– Eu não estarei aqui para recebe-la. – Shelby reclamou.

– E isso é ótimo! Você sabe como ela fica feliz ao realizar alguma coisa que todos possam dizer ser impossível, e voltar para casa, sabendo que você não estará aqui, apenas a dará mais um motivo para ela se cuidar, aprender a viver sem sua dependência.

Quinn parou ao meu lado, segurando minha mão, parecendo me dizer algo, Shelby desviou seu olhar para a porta, assim nós seguimos seu olhar, Rachel entrava lentamente, secando suas lágrimas.

– Então? – Andrea perguntou.

– Não... – Shelby murmurou, me fazendo suspirar. – Não deixem de me ligarem quando chegarem lá. – Rachel arregalou seus olhos, assim como Brittany. – Se algo acontecer com Rachel, vocês deverão voltar rapidamente, e Rachel irá para a Inglaterra.

– Nós cuidaremos dela. – Quinn garantiu, sorrindo.

– Obrigada, mamãe. – Rachel cantarolou, indo até Shelby. – Eu vou me cuidar.

Shelby sorriu para Rachel, ainda tentando controlar suas lágrimas, Rachel olhou para mim e sorriu mais ainda, me fazendo morder meu lábio inferior. Rachel correu até mim e, antes de pular em meus braços, parou rapidamente e olhou em meus olhos, para logo me dar um rápido selinho, me fazendo rir.

– Eu vou à praia...

– Nós iremos à praia... – sussurrei, segurando uma de suas mãos. – Juntas.