Outubro escrita por Return To Zero


Capítulo 6
Capítulo 6




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– O quê?

A voz de Oliver pôde ser ouvida em quase todo o hospital. Ele não conseguia conter a raiva e a frustração.

– Ela precisava de atendimento imediato. O senhor demorou muito para trazê-la.

Oliver correu os dedos pelos cabelos longos e lisos, escutando atentamente o que o medico dizia. Ela precisava ser operada imediatamente.

– Infelizmente, nossos cirurgiões se negam a operá-la. O caso é delicado demais. - o médico dizia num tom humilde, mas sem perder o tom profissional - Se o senhor encontrar algum outro que aceite, o hospital estará de portas abertas…

Ele não esperou o outro terminar de dizer. Saiu apressado pelas ruas, a mente enevoada por tantos pensamentos que ele nem mesmo conseguia se encontrar. Dirigiu até uma casa em particular. Não era muito afastada e já estava enfeitada para o Natal.

Oliver desceu do carro decidido e bateu varias vezes na porta.

E continuou batendo até um homem alto e loiro atender. Parecia incomodado, amarrando o cinto do roupão.

– O que você quer justo agora? - o loiro bocejou, esfregando os olhos e se assustando com quem estava a sua frente - Oh, Oliver. Você por aqui?

– Chierri, lembra de como eu consegui que você entrasse pro hospital… Lembra de como você me devia uma? - Oliver mordia o lábio inferior, desesperado. O francês assentiu, preocupado - Você pode me pagar agora.

Sem entender muito bem, Chierri foi arrastado para o carro de Oliver enquanto se trocava lá mesmo por algo mais apresentavel. Jeans e uma camiseta pólo.

– Como assim, sua namorada precisa ser operada? - Chierri repetiu, descrente - O que você fez com ela?

– Ela tem um tumor, ela não me contou, aquela… - Oliver fez uma curva fechada, mordendo o lábio inferior para conter a frustração - Eu preciso que você a opere. Não… Eu imploro que faça isso!

Chierri passou os dedos pelos cabeços louros e bem cuidados. As mãos já estavam tremendo.

Correram pelos corredores do hospital. Oliver bateu com as mãos no balcão da recepção, assustando a moreninha que estava ali.

– Eu trouxe. Ele está aqui.

Oliver estava quase ofegante. Rapidamente levaram Chierri para a sala pré-operatoria, logo após Oliver quase ajoelhar, pedindo que desse seu melhor nessa cirurgia.

– Se ela sair viva, vai ter que me dar a presidência do hospital. - brincou Chierri com um sorriso de canto de boca. Ele já sabia a consequencia.

As horas se arrastaram sem pressa alguma. Oliver bagunçava os cabelos, se controlando para guardar as lagrimas e usá-las no reencontro alegre que ele tinha certeza que aconteceria.

Mas quando o sol se pôs, deixando o hospital todo a ser iluminado pela luz artificial, suas esperanças foram lentamente se esvaindo. Ele caminhava de um lado para o outro, e a recepcionista o olhava com pesar.

Os olhos inchados de chorar, e os círculos escurecidos ao redor dos olhos. A marca dos dentes no lábio.

Não havia mais ninguém na sala de espera. Um silencio mórbido absorvia o hospital todo e ele se sentou novamente para chorar.

Olhou no relógio. Já era Natal.

Da porta dupla surgiu Chierri. A cabeça baixa, a mascara pendurada em uma das orelhas. Oliver se levantou, sorridente. Se aproximou mas hesitou.

Chierri retirou a touca verde que envolvia seus cabelos e a jogou no chão. Por onde ele caminhou, carregou consigo um rastro de derrota que podia ser notado de muito longe.

Passou reto por Oliver. Seu sorriso murchou imediatamente.

Chierri foi seguido por um enfermeiro alto e de feições graves. Este lhe tocou o ombro com suavidade e, quando os olhos vermelho e inquisitivos de Oliver se encontraram com os seus, ele negou silenciosamente.

Oliver cobriu a boca com a manga do casaco que estava usando, tentando evitar o grito. Mas não deu muito certo. Uma sensação ruim lhe subiu pelo estomago, algo que ele nunca havia sentido antes. Sentou-se nas cadeiras da sala de espera e pôs-se a chorar novamente.

Ele simplesmente não podia acreditar. Seu coração descompassado queria que ele acreditasse que tudo aquilo fosse um sonho. Que quando ele acordasse, encontraria a pequena loura deitada ao seu lado, envolta pelo abrigo cinzento que ele havia dado.

As mãos se apertavam ao redor dos joelhos. Ele não sabia explicar. Ele queria se jogar no chão e espernear, gritar, implorar para quem quer que a tenha tirado dele, que a trouxesse de volta.

Mas ele não poderia ficar daquele jeito. Logo alguns homens o encheriam de perguntas. O que ele responderia? Que a encontrou num beco enlameado e decidiu ficar com ela?

Pediu papel e caneta para a recepcionista e rabiscou alguns números e mais algumas palavras. Entrou na sala de pós-operatorio mesmo com alguns enfermeiros alertando-o de que a entrada não era permitida.

– Chierri… - O loira estava arrasado. Tão arrasado quanto o próprio Oliver

– Eu… Sinto muito. Estava num estado muito avançado e eu…

Oliver abaixou a cabeça e retirou um cartão dourado da carteira, depositando-o na mão do francês junto com o papel - Por favor, tome conta disso por mim.

Chierri contraiu os lábios secos e assentiu. Oliver acenou com a cabeça e desapareceu naquela madrugada de Natal.

Oliver nunca soube onde Merrydan foi enterrada. Oliver nunca soube quem Merrydan era. Oliver apenas sabia que a amava, como nunca amou alguém.


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