Outubro escrita por Return To Zero
Pouco antes do almoço, Oliver chegou em casa e descobriu Merrydan mais uma vez na cozinha, usando o mesmo abrigo, tentando localizar uma segunda panela.
– Não acha que já fez comida demais? - Oliver se abaixou e sussurrou no ouvido dela, fazendo-a se sobressaltar e acertar a cabeça no marmore da pia - ‘Tá tudo bem? - ele perguntou meio preocupado, meio divertido
– Estou sim, não foi tão forte. - a loura respondeu, desistindo da panela - Não faça isso de novo, qual o seu problema?
Oliver riu, ajudando-a a pôr a mesa em silencio. Curiosamente, as nuvens de chuva haviam se dissipado e o dia amanheceu ensolarado, sem deixar vestígios de que um grande tempestade assolou aquele lugar.
A toalha de mesa era alegre, que combinava com o estranho sorriso que Oliver exibia. Ele não havia percebido, mas Merrydan sim, e perguntou antes da primeira garfada:
– Teve algo de bom no trabalho hoje?
Ele deu de ombros.
– Não, foi uma manhã normal. Por quê?
– ‘Tá sorrindo desde que chegou.
– Hm, mesmo? - ele pareceu surpreso, tentando suprimir o sorriso sem muito sucesso. Ele realmente não sabia o motivo dele.
Após analisar o terno de bonito corte que Oliver vestia, Merrydan contraiu os lábios, com o estomago dando reviravoltas.
– Que hora vai me levar?
– Pra onde?
– Pra casa dos meus pais.
E Oliver descobriu o motivo. O sorriso esmoreceu e os ombros caíram enquanto ele bebericava a água do copo, visivelmente incomodado.
– Pretende ir mesmo?
– Sim. - ela disse, convicta - Não posso ficar aqui pra sempre.
Na verdade… Ele pensou em falar, mas manteu-se quieto. Checou o relógio.
– Bom, tenho uma hora e meia de almoço. Quando terminarmos de comer, nós vamos. - ela assentiu - Tudo bem? - ela assentiu novamente e comeram a comida em silencio.
Merrydan já estava trocada e aproveitando o sofá da sala quando Oliver apareceu do banheiro com a boca ainda molhada pela escovação. Ele se esforçava para manter o sorriso de antes, mas só saiu um arco torto e tremulo em seus lábios.
– Vamos? - ele perguntou, torcendo para que ela desistisse
Pegou as chaves do carro e se dirigiram para a garagem de portão branco que havia do lado da casa, que Merrydan nunca havia percebido. Oliver tirou um carro de cor escura, que a loura não soube identificar o modelo. Talvez nem se importasse em saber, já que não ficaria ali por muito tempo.
Entraram no carro, silenciosos, e enquanto Merrydan explicava as direções, Oliver se aprofundou em pensamentos enquanto tentava digerir o fato de que ela estava indo embora. As mãos grudadas no volante, e sem nunca desviar os olhos para os lados, agora se perguntava porque sugeriu essa ideia.
Por que ela não podia ficar? Porque tinha sua própria vida. Porque alguém a esperava em casa. Mas se esperavam, por que ela estava naquele beco?
– Por que estava naquele beco?
– Hm?
Ele repetiu a pergunta e, após um breve e profundo silencio, ela respondeu, sem muita emoção.
– Não tem porque você saber agora.
Ele bufou, se tornando impaciente agora. Parou bruscamente em qualquer lugar e mirou Merrydan, que estava com os olhos azuis arregalados de espanto.
– Eu não quero que você vá. - disse de uma vez, mordendo o lábio inferior - Eu disse porque é o melhor pra você, mas não quero que você vá. Eu passei tanto tempo sozinho, eu nunca encontrei alguém que conseguisse me fazer sorrir pelo simples fato de estar vivendo. Eu… - ele pausou, observando que a loura estava retirando o cinto e se preparando para sair - Está me ouvindo, Merrydan?
Aparentemente, não. Estavam diante a um conjunto de casas de tijolos vermelhos e quintais bonitos, com escadas que levavam para as portas. Ela marchou decididamente para uma delas enquanto Oliver ainda chamava seu nome.
Ele a observou bater algumas vezes, e esperar. Uma pequena senhora se aproximou dele de forma sorrateira, e tocou seu ombro. Ele deu um salto, assustado.
– Está com ela?
– Sim.
Ela suspirou, desolada.
– Os eles foram viajar. Não estão aí.
– E ela não sabe?
– Pelo visto. - a velha se arrastou até o banco que havia embaixo da árvore em seu quintal - Leve ela com você, ela não pode mais ficar aqui.
Oliver franziu o cenho, curioso. - Por quê?
– O padrasto a expulsou de casa há alguns dias, trocaram até a fechadura. Então, leve ela com você.
Lançando um último olhar para Merrydan que ainda batia na porta, sentou-se ao lado da vizinha, ainda curioso.
– E a mãe dela?
– Morreu há alguns anos. O padrasto ficou com os dois filhos e se casou logo depois, e como eles não tinham outro lugar pra ir, ficaram por aqui mesmo. - ela explicou, com sua vozinha frágil e rouca - Eu sempre cuidava deles, eram boas crianças. Merrydan estava quase terminando a faculdade, mas nunca mais pisou os pés lá depois disso.
– Mas por que expulsaram ela? - Oliver olhou Merrydan novamente, ela continuava lá
– A garota tem um certo problema… Hm… - a velha resmungou algo, coçando as costas - Parece que envolve muito dinheiro, e o padrasto não pode pagar. - ela se apoiou na bengalinha, se levantando do banco - Ele também disse que não quer ninguém doente na casa dele e a expulsou.
Oliver olhou-a mais uma vez, espantado. Correu até ela e a pegou pelo pulso, arrastando-a para o carro novamente. Assentiu para a velha, que sorria suavemente, antes de partir. Não notou os olhos inchados e vermelhos de Merrydan enquanto guiava para sua casa com pressa, antes que perdesse o horário.
– O que aquela velha te disse?
– Por que não me contou que tinha problemas de saúde?
– Por que você quer saber?
– Porque você vai morar comigo.
– Não, eu não vou.
– Ah, você vai.
Quando ele parou em um semáforo e ela fez menção de sair, rapidamente, Oliver trancou as portas e suspirou, tentando se acalmar.
– Você é a primeira que me cativa em ano, e eu não vou deixar você ir embora. - ele aproveita os poucos segundos do sinal fechado para puxar o rosto da garota de encontro ao seu - Eu vou cuidar de você, Merry.
Por alguns segundos ele se perdeu naqueles dois orbes azulados, que de inicio o olharam de forma amedrontada, mas que se acalmaram e se misturaram ao olhos escuros dele.
A buzina dos carros os trouxeram de volta à realidade e Oliver dirigiu para sua casa mais uma vez, com o sorriso de antes estampado em seu rosto.
Oliver apenas deixou a garota em casa e partiu para o trabalho novamente. Merrydan passou um longo tempo deitada no sofá, refletindo sobre o que estava acontecendo. Esperava terminar a faculdade para finalmente sair daquela casa. Tendo seu diploma, podia fazer qualquer coisa, segundo ela.
Agora ela teria que fazer qualquer coisa para se distrair, até Oliver voltar.
Conforme o começo da tarde se aproximou, varias nuvens escuras se juntaram no céu, anunciando mais chuva. Merrydan observou-as por um tempo até ouvir o barulho do carro de Oliver. Correu até à sala.
Oliver entrou carregando uma pequena caixa branca de papelão que exalava um cheiro deliciosamente conhecido. Abriu um sorriso involuntário ao ver Oliver lhe cumprimentar com um beijo na testa.
– Ficou bem aqui?
– Sim, eu fiquei.
– Então, olha só o que eu trouxe. - ele abriu a caixa de papelão, revelando um disco de massa coberto por queijo - Pizza!
Merry fez festa e levaram a pizza para a cozinha, ajeitaram os pratos e comeram muito alegres, tomando cada um, uma taça de vinho.
– Ainda não me disse o que você faz. - Merry comentou a esmo
– Você já tem idade pra beber? - ele perguntou, rindo suavemente
– Claro que eu tenho.
– Eu trabalho em um… Escritório. É, mais ou menos isso.
Merrydan elevou as sobrancelhas, bebericando o resto do vinho.
Quando terminaram, Oliver recolheu pratos e copos e pôs-se a lavá-los, recomendando um banho para Merrydan, que aceitou.
Bem silencioso, Oliver foi até seu carro e apanhou outras sacolas rosadas, deixando-as sobre a cama de seu quarto. Ligou a televisão e espero que a loura deixasse o banho.
Alguns minutos depois, Merry caminhou para o quarto com passos hesitantes, pressionando a tolha pela cabeça para secar os cabelos. Entrou no quarto e descobriu um conjunto de quatro sacolas sobre a cama. A primeira que olhou continha algumas caixas de sapatos, e ela apertou os olhos, controlando o choro. Não conseguia deixar de pensar que tudo aquilo era por pena.
Abriu outra sacola e, em meio a outras coisas, encontrou um pano leve e rosado. Identificou como uma camisola, bonita demais por sinal. Vestiu-a como se não fosse merecedora daquilo e caminhou até a sala.
Oliver a esperava com um copo na mão, contendo gelo e whiskey. Merrydan suspirou, caminhando até o centro da sala e girando em torno de si mesma, mostrando a camisola.
– Ficou perfeita em você, sabia?
– Eu acho ela… - suspirou novamente, cruzando os braços e olhando o chão - Sei lá…
– Escuta. - ele deixou o copo sobre a mesinha e se levantou, tocando o braço de loura de forma suave - Eu sei que foi muito brusco, mas eu realmente quero que more comigo.
– Está fazendo isso por pena, Ollie.
– Não, eu realmente não estou. - ele sorriu, correndo os dedos pelos cabelos úmidos dela - Eu sinto algo por você, e eu quero que fique aqui até que eu descubra o que é. Se não for egoismo demais, por favor, aceite.
Ela piscou varias vezes antes de levantar o rosto com um olhar hesitante.
– Você esqueceu de perguntar se eu quero.
– E você quer?
Houve um silencio em que Merrydan se aproximou de Oliver, tocando seu lábio inferior com o lábio superior.
– Eu acho que quero.
Oliver sorriu e esperou uma outra ação, porém ela se manteve parada, apenas mirando-o com um olhar penetrante.
– Ahn… Quer fazer alguma coisa?
– Eu sempre achei que a gravidade fazia essas coisas. - respondeu em tom baixo, finalmente encaixando seus lábios nos dele.
O beijo foi retribuido de forma calma, seguido por um abraço que durou um pouco mais. Merrydan fechou os olhos e apertou-o contra o peito. Oliver manteve os olhos fechados, imaginando o que ela estaria escondendo dele.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Wee, capitulo babaquinha, mas finalmente consegui dar um rumo pra historia, wee.